No
dia 26 de agosto de 2018 morreu um dos mais brilhantes políticos americanos
contemporâneos – o senador republicano John McCain, que raramente deixava indiferente
o público, principalmente no espaço pós-soviético, devido as suas posições firmes e
declarações vívidas. Nos últimos anos, McCain lutava contra o cancro/câncer, ficando
combativo e ativo até aos últimos dias, mas a doença, ainda assim, o
ceifou.
Em
2000 e 2008, John McCain poderia se tornar o presidente dos Estados Unidos – e quem
sabe como seria o mundo e o espaço pós-soviético se ele conseguisse. Já antes
de sua carreira política, John McCain era conhecido como piloto militar e POW dos
Estados Unidos, que passou cinco anos e meio no desumano cativeiro norte-vietnamita.
Piloto
McCain
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McCain, com os companheiros, último à direita, 1965 | Wikipédia |
John
Sidney McCain III nasceu em 29 de agosto de 1936, na Zona do Canal do Panamá e numa
família com raízes escocesas e irlandesas, cuja linhagem militar incluía um
ancestral que serviu como ajudante do general George Washington durante a
Guerra Revolucionária. O pai de McCain era um oficial da Marinha dos Estados
Unidos e participou da II G. M. como um oficial de submarino que completou o
serviço com a patente de Almirante de 4 estrelas e tornou-se em 1967 comandante
da Marinha dos Estados Unidos na Europa.
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John McCain, 1965 | Wikipédia |
John
decidiu seguir os passos de seu pai e, após a formatura, ingressou na Academia
Naval de Annapolis, onde se graduou em 1958. Em 1958-1960, McCain continuava o
treino de voo no caça-bombardeiro “Douglas A-1 “Skyraider” em várias bases
aéreas nos Estados Unidos. Desde 1967 McCain participa na Guerra do Vietname – efetuando
até o final de outubro do mesmo ano as 22 missões de combate.
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John McCain numa cama de hospital em Hanói, no Vietname do Norte,
depois de ter sido feito prisioneiro de guerra, novembro de 1967 | foto: François Chalais |
Em
26 de outubro de 1967 John McCain foi abatido sobre Hanói, catapultado (com
duas pernas e um braço quebrado), preso e brutalmente espancado pelos norte-vietnamitas.
Desde março de 1968, McCain foi mantido em confinamento solitário. Em julho de
1968, e para os fins da propaganda, ele recebeu a proposta para ser libertado –
mas recusou a oferta, dizendo que será libertado apenas em conjunto com outros militares
americanos que foram capturados antes.
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O ex-oficial soviético que se gabou de abater (o mais provavelmente não foi) o “Skyraider”
do John McCain, moreu em 2009, dependente de álcool e na miséria financeira. |
Em
agosto de 1968, padecendo da disenteria, John McCain era espancado à cada duas horas,
quebrando alguns costelas e novamente o braço, depois disso ele perdeu a
capacidade de levantar as mãos acima de sua cabeça. McCain era forçado à
entregar os nomes de companheiros do seu esquadrão – ele “concordou” e ditou
aos norte-vietnamitas os nomes de jogadores da equipa do futebol americano “The
Green Bay Packers”.
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Os momentos da libertação do John McCain em 15/03/1973 |
John
McCain foi libertado em 15 de março de 1973 – após cinco anos e meio em
cativeiro. Desde 1982, McCain foi ativamente envolvido na vida política dos
Estados Unidos – pela primeira vez ele foi eleito como membro do Congresso pelo Partido
Republicano.
Combatente
contra ditaduras e tiranos
Quase
toda a sua carreira política, John McCain criticava fortemente os governantes
autoritários de diferentes países – de Fidel Castro ao Saddam Hussein – causando
o “arder dos cús” constante no campo dos bolcheviques. McCain defendeu o
fortalecimento do potencial militar dos EUA, fortalecimento das suas forças
armadas e implementação do sistema de defesa antimíssil como garantia de paz frente
às ameaças potenciais.
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Os senadores John McCain e Lindsey Graham |
John
McCain costumava criticar a Rússia putinista, considerando que no país chegaram
ao poder os “golpistas rastejantes”, afirmando o seguinte: “o golpe rastejante contra
as forças da democracia e do capitalismo de mercado na Rússia está ameaçando os
fundamentos das relações EUA-Rússia e cria o espectro de uma nova era da “paz
fria” entre Washington e Moscovo”.
Também
é conhecida a sua frase: “Hoje estamos vemos a Rússia liderada por um grupo de
ex-oficiais de inteligência. Eles estão tentando intimidar seus vizinhos
democráticos, como a Geórgia, tentam jogar em dependência da Europa em relação
ao petróleo e gás russo. É necessário reconsiderar a visão ocidental de Rússia revanchista.
Para começar é necessário expandir o [grupo] G8 e incluir nele as principais
democracias de mercado – Brasil e Índia, e também excluir a Rússia”.
Após
a introdução, em 2014, de sanções contra o regime russo, John McCain repetidamente
exigia o seu endurecimento e expansão, afirmando: “A Rússia é um posto de
gasolina grande, que está disfarçado de um país. É uma cleptocracia, cuja corrupção,
e economia dependem inteiramente de fornecimentos de petróleo e gás. Por isso,
as sanções económicas são importantes”.
John
McCain tem sublinhado repetidamente que critica não o povo russo, mas o seu
poder putinista, é conhecida a sua citação sobre o assunto: “Os russos merecem
mais do que Putin, o presidente Putin não acredita que a natureza humana,
baseada na liberdade, pode ultrapassar as suas próprias fraquezas para construir
uma sociedade justa, pacífica e próspera. Ou, ao menos, ele não acredita que isso
pode ser feito pelos cidadãos da Rússia. Por isso ele governa usando essas
fraquezas, com a ajuda de corrupção, repressão e violência. Ele governa para
si, mas não para vocês”.
«Adeus,
amigo!»
John
McCain era conhecido como um amigo firme da Ucrânia, desde 2014, apoiando
ativamente o país. McCain visitou Maydan e repetidamente – a linha de combates
na OAT no leste da Ucrânia. Os ucranianos gostam muito do McCain, e o twitter
ucraniano está cheio de postagens que dizerem “adeus, amigo e muito obrigado
por tudo”.
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John McCain, discursando na Maydan em Kyiv em dezembro de 2013 |
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John McCain na Maydan em Kyiv em março de 2014 |
John
McCain era um defensor do fornecimento de armas letais à Ucrânia, dizendo uma
vez: “Vamos viver com eterna vergonha porque não providenciamos aos ucranianos
as armas para se protegerem”.
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Senador John McCain, presidente Petró Poroshenko e senador Lindsey Graham na linha da frente no leste da Ucrânia |
Em
março de 2014, McCain foi alvo das sanções do governo russo – proibido de
entrar no território da federação russa. Ao que John McCain, de maneira irónica,
respondeu: “Aparentemente, não vou poder passar as férias de primavera na
Sibéria, minhas ações da Gazprom desapareceram e minha conta bancária secreta
em Moscovo está congelada. Contudo, nunca deixarei de apoiar liberdade,
independência e integridade territorial da Ucrânia”.
Bónus
Abatido
sobre Hanói em 26 de outubro de 1967, John McCain foi preso com fraturas na sua
perna direita e em dois braços. Ele recebeu cuidados mínimos e foi mantido em
péssimas condições, que descreve, vividamente num relatório especial. John
McCain passou 5½ anos em cativeiro norte-vietnamita como POW. Seu relato em
primeira pessoa desse calvário doloroso foi publicado no US News & World
Report em 14 de maio de 1973.
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Tenente Comandante McCain sendo entrevistado após seu retorno do Vietname, abril de 1973
Fotos: Wikipédia |
Certa
vez, eles [seus captores norte-vietnamitas] queriam que eu escrevesse uma
mensagem para meus companheiros de prisão na [época do] Natal. Eu escrevi:
“Aos
meus amigos no campo, aos quais eu não tenho permissão para ver ou falar,
espero que suas famílias estejam bem e felizes, e espero que vocês possam
escrever e receber cartas de acordo com a Convenção de Genebra de 1949, o que
não é permitido a vocês por nossos captores. E que Deus vós abençoe”.
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o texto completo em inglês.