sábado, abril 19, 2025

Primeiro monumento às vítimas do Holodomor instalado em Israel

Em Jerusalém, no Jardim das Rosas (Wohl Rose Garden), entre o Knesset e a Suprema Corte de Justiça, foi erguido o primeiro monumento em Israel às vítimas do Holodomor de 1932-1933.

Foi o resultado da cooperação da Cidade de Jerusalém, da Fundação Timertei, da Embaixada da Ucrânia, do HREC e da Autoridade de Desenvolvimento de Jerusalém. A autora é uma artista canadense de origem ucraniana, Ludmilla Temertey (junto com David Robinson, como mostra a placa), outro monumento dela, quase idêntico ao de Jerusalém, foi erguido em 1983 em Edmonton, no Canadá, para assinalar o 50º aniversário da tragédia ucraniana. 
A placa explicativa em hebráico, inglês e ucraniano

A importância deste evento é a maior possível, e a gratidão a todos os envolvidos é imensurável, escreveu Lesya Hasidzhak, a directora do museu do Holodomor em Kyiv. 

Monumento do Holodomor da Ludmila Temertey em Edmonton

Zoryan Kis, o director do Centro cultural da Ucrânia em Tel Aviv e 1º secretário da Embaixada da Ucrânia em Israel explica que o monumento ainda não foi inaugurado oficialmente, pois o parque Wohl Rose Garden ainda está em reconstrução. Definitivamente a data e a hora da cerimônia será anunciada nas páginas da Embaixada da Ucrânia em Israel e do Centro Cultural Ucraniano em Tel Aviv. 

Vale ressaltar que as autoridades israelenses, por enquanto, oficialmente não reconheceram Holodomor de 1932-1933 como genocídio do povo ucraniano.

Fotos de Jerusalém: Ludmila Kerbel

Ucrânia revela os nomes dos mercenários do Quirguistão

O centro ucraniano «Quero viver» continua a publicação de listas dos mercenários estrangeiros, lutando ao lado da federação russa. Hoje é a vez dos mercenários de Quirguistão, um país pobre da Ásia Central. 

Oficialmente, na guerra entre rússia e Ucrânia, o Quirguistão assume uma posição neutra, mas a rússia livremente recruta os quirguizes, bem como outros cidadãos dos estados da Ásia Central pós-soviética, para compensar rapidamente as perdas dos primeiros meses da invasão e da contra-ofensiva ucraniana na região de Kharkiv no outono de 2022. 

Consultar a lista

As fontes dentro do exército russo forneceram a lista de nomes de 360 ​​cidadãos do Quirguistão que assinaram um contrato com o exército russo. A lista está incompleta, o número real de mercenários é maior. O mais novo da lista tem 18 anos (assinou o contrato quase imediatamente após atingir a maioridade), o mais velho tem 63. 

Pelo menos 38 pessoas desta lista já morreram, existem informações sobre a data da sua morte e o local do sepultamento (recorde são 12 dias do momento da assinatura do contrato até a morte). 

Assim como no caso dos cidadãos do Cazaquistão, os quirguizes são recrutados por meio de enganos, promessas vazias de «salários altos», além de ameaças e coerção. Há muitos cidadãos do Quirguistão entre os emigrantes na federação russa, muitas vezes ilegais. Muitos deles mordem a isca na forma de promessa da cidadania russa ou se tornam vítimas das rusgas da polícia russa. 

Alisher Tursunov estava visitando seu filho na rússia, em Ryazan. Ao ir à loja para comprar kefir, ele foi sequestrado pela polícia russa. Os agentes, ao notarem um rosto “não russo”, agarraram o homem para enviá-lo à morte certa. Para a realidade russa isso já se tornou comum. 

Tursunov, de 57 anos, foi levado para um centro de detenção, onde foi espancado e forçado a assinar um contrato com o Ministério da Defesa russo. Então, em poucos dias, ele se viu na linha de frente em algum lugar na região de Luhansk.

 

Alguns dos que chegaram com Alisher foram enviados imediatamente para o ataque: das 17 pessoas, apenas duas sobreviveram. Ele teve sorte, já que seu grupo foi forçado a cavar trincheiras. Aproveitando o momento após o bombardeio, ele conseguiu fugir, chegando às posições ucranianas e se rendeu. A primeira coisa que Tursunov ouviu dos militares ucranianos foi: «Não tenha medo. Ninguém encostará um dedo em você.» Os ucranianos cumpriram a palavra, deram-lhes algo para beber e comer, e o levaram para um lugar seguro.

As autoridades quirguizes ainda não comentaram a lista publicada. Assim como no Cazaquistão, a participação em conflitos no território de outros estados da República do Quirguistão está sujeita a punição criminal. É verdade que, desde o início da invasão em larga escala da federação russa na Ucrânia, apenas dois cidadãos do país foram levados à justiça, apesar de, somente de acordo com dados abertos, mais de 70 quirguizes terem morrido na guerra na Ucrânia. De acordo com informações OSINT, quer o número de mortos, quer o número total de cidadãos do Quirguistão recrutados pelo exército russo são bastante maiores. 

Beknazar Borugul uulu (esquerda) e Askar Kubanychbek uulu (direita),
condenados no Quirgustão por participação na guerra na Ucrânia.

Lembramos repetidamente que todos os estrangeiros que vão lutar pela federação russa não passam de peças descartáveis para as autoridades russas. Não importa o que um recrutador ou um camarada militar tenha prometido, não vale a pena arriscar sua vida pela guerra de outros longe de casa. Além disso, em quase todos os casos os mercenários são enganados. Mesmo que consigam um passaporte russo, isso não os salva de serem enviados para a morte certa na linha da frente, o que foi provado por vários representantes dos povos indígenas da rússia e outras minorias étnicas. 

  • Salve sua vida e renda-se às FAU: t.me/spasisebyabot
  • Chamadas: +38 044 350 89 17 / 688 (somente números ucranianos)

Uma operação de rotina das forças paramilitares e da polícia russa, dirigida à detenção de cidadãos quirguizes ocorreu recentemente em um dos banhos públicos de Moscovo/ou. Paramilitares não identificados e mascarados detiveram os homens por várias horas até a chegada da polícia russa, que espancava e humilhava os presentes: 

Imediatamente após o aparecimento do vídeo, houve a reação oficial do Quirguistão oficial - o embaixador russo foi chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros / das Relações Exteriores, onde recebeu uma nota oficial, e os deputados quirguizes exigiram ações mais decisivas do seu governo em resposta às ações ilegais do lado russo. Na resposta, a parte russa informou oficialmente, que o ministério do interior russo «agiu dentro da lei».

sexta-feira, abril 18, 2025

Mariupol: «Ashes Settling In Layers On The Surface»

O filme documental “As Cinzas que se Depositam em Camadas da Superfície” (Ashes Settling In Layers On The Surface) é uma co-produção franco-ucraniana, que ganhou um prémio no festival suíço de cinema Visions du Réel e é dedicada ao Mariupol.

Extraídos dos escombros da guerra, o filme conta as histórias trágicas de três gerações de famílias ucranianas em Mariupol, incluindo a da realizadora, Zoya Laktionova. 

Baseado em diários e fotografias encontradas nas casas destruídas durante a guerra da rússia contra Ucrânia, o filme capta as histórias de Mariupol, incluindo a da família da realizadora. Centra-se no valor da liberdade e da própria vida humana, em detrimento das declarações absurdas repetidas pelos regimes totalitários, como se testemunhou ao longo da história da fábrica/usina de Azovstal. 

O filme é uma colaboração entre a empresa ucraniana 2Brave Productions e a francesa Cinéphage. Recentemente, ganhou o prémio no festival de cinema Swiss Doc Fest na categoria Eurimages, Prémio de Desenvolvimento de Coprodução. 

Cadeia russa pelo poema «Testamento» do Taras Shevchenko

A estudante russa de 19 anos, Daria Kozyreva, foi condenada a 2 anos e 8 meses de prisão por ter colado um pedaço de papel com o poema «Testamento» no monumento de poeta ucraniano Taras Shevchenko em São Petersburgo.
Polícia russa primeiro tapou a folha com o texto do poema
e depois retirou as flores, atirando as ao lixo 

Foi um ato de humanismo liberal sem precedentes na rússia de hoje, o juiz do Tribunal Distrital de Petrogradsky de São Petersburgo condenou Daria Kozyreva à 2 anos e 8 meses de prisão por “desacreditar” o exército russo (Parte 1 do Artigo 280.3 do Código Penal russo), embora o Ministério Público russo exigiu 6 anos de prisão pelo ato da Daria em homenagem ao Shevchenko.

Em dezembro de 2022, Kozyreva, ainda estudante liceal, foi presa por escrever as palavras «Assassinos, vocês a bombardearam. Judas» na instalação «Dois Corações», colocada em São Petersburgo em homenagem russa à tomada da cidade ucraniana de Mariupol, informa BBC.

Testamento, poema do Taras Shevchenko (1814-1861)

Quando eu morrer, me enterrem

Na minha amada Ucrânia,

Meu túmulo ficará sobre um monte elevado grave

Em meio à planície se espalhando,

Assim como os campos, as estepes sem limites,

A margem que mergulha do Dnipro.

Meus olhos já podem ver, meus ouvidos ouvem

O rugido poderoso do rio.

 

Quando os ursos da Ucrânia

lançarem no mar azul profundo

o sangue dos inimigos

Então, eu vou deixar

Esses montes e campos férteis

e voar para longe

Para a morada de Deus,

E então eu irei rezar.

Mas até esse dia

Eu nada saberei de Deus.

 

Depois de me enterrar, levantem-se

E quebrem as cadeias que nos prenderam,

lancem na água o sangue dos tiranos

e comemorem a liberdade

que conquistarão.

E na grande família nova,

A família do livre, do Justo e do Fraterno,

Com fala mansa, e palavras amáveis,

Lembrem-se também de mim.

Tradução livre por Jaime Leitão.

O Código Penal russo, por enquanto, não chegou às leis da monarquia russa, que simplesmente proibiam o uso da língua ucraniana em literatura, jornalismo e mesmo na música (a circular secreta Valuev, emitida em 30 de julho de 1863 ordenava a suspensão da publicação de grande parte dos livros escritos em língua ucraniana em toda a extensão do império russo). No entanto, o poder russo persegue, judicialmente, quaisquer atos públicos, em solidariedade para com Ucrânia. O simples ato de colocação de flores aos monumentos, poucos, de poetas ou escritores ucranianos, pode levar, e leva, às condenações judiciais, com termos de prisão real. O que aconteceu com a jovem Daria, que passará efetivamente 1 ano e 3 meses na cadeia (Daria já passou algum tempo presa preventivamente, este tempo será contado à razão de 1 dia da prisão preventiva equivale aos 1,5 dias efetivos), por ter colado um pedaço de papel com um poema ucraniano. 

Busto do Taras Shevchenko em Borodyanka, na região de Kyiv,
metralhado pelo exército russo durante a ocupação da região em 2022

É de recordar, que em março de 1847, a polícia secreta russa, desmantelou a «Irmandade de Cirilo e Metódio», uma organização política secreta anti-esclavagista. A Irmandade baseava-se nas ideias cristãs e pan-eslavas e tinha como objetivo liberalizar a vida política e cultural no império russo dentro da estrutura de uma união pan-eslava de povos. 

Embora a investigação não tenha conseguido provar o envolvimento de Taras Shevchenko nas actividades da Irmandada, ele foi considerado culpado “das suas próprias acções individuais”. O relatório do chefe da Terceira Secção (departamento de gendarmaria), Alexey Orlov, declarou: 

«Shevchenko… compôs poemas em pequena língua russa do mais escandaloso conteúdo. Neles, por vezes expressava lamentações sobre a escravatura imaginária e os infortúnios da Ucrânia, por vezes proclamava a glória do governo do Hetman e a antiga liberdade dos cossacos e, por vezes, com uma insolência incrível, despejava calúnias e bílis sobre pessoas da casa imperial. [...] Shevchenko adquiriu a reputação de um importante escritor da pequena língua russa entre os seus amigos e, por isso, os seus poemas são duplamente prejudiciais e perigosos. Com os adorados poemas da pequena rússia, pensamentos sobre a felicidade imaginária dos tempos do Hetmanato, poderiam ser semeados e, posteriormente, criar raízes, sobre a felicidade de regressar a esses tempos e sobre a possibilidade de a Ucrânia existir como um estado separado». 

O caso das atividades de Taras Shevchenko foi conduzido pessoalmente por Alexey Orlov, que relatou ao czar russo Nicolau I que Shevchenko não era apenas um revolucionário que pedia o derrube da autocracia, mas também insultava os czares russos. Shevchenko fez uma caracterização condenatória de Nicolau I: “czar-sargento-mor”, “criador do mal”, “feroz Nero”, “czar sem Deus”, “cruel perseguidor da verdade”. 

Por decisão da Terceira Secção, aprovada pessoalmente por Nicolau I, a 30 de maio de 1847, Taras Shevchenko, de 33 anos, foi destacado para o serviço militar como soldado raso no Corpo Separado de Orenburg “sob a mais estrita supervisão das autoridades”, com proibição de escrever e desenhar. 

A história russa realmente está totalmente cíclica, das proibições de língua ucraniana do século XIX estamos à chegar à proibição das homenagens aos ucranianos notáveis, em pleno século XXI.

quinta-feira, abril 17, 2025

A revista ilustrada «Pu-Gu» e carnaval ucraniano de Carácas

«Pu-Gu» foi uma revista semanal ilustrada, publicada pela Diáspora ucraniana em Augsburgo, na Alemanha Federal de 1947 à 1949, passando, em 1954 à ter periodicidade mensal. Foi a primeira tentativa na Diáspora ucraniana de oferecer aos seus leitores uma revista ilustrada de entretenimento. 

Jornal «Nova Ucrânia», Kharkiv, 1942: sentados: a partir da esquerda — Arkady Lyubchenko, Sofia Tsarynnyk (Shchadkivska), Petro Sahaidachny, Vsevolod Tsarynnyk (editor-chefe).

No Brasil a revista «Pu-Gu» teve um representante especial, o padre greco-católico ucraniano Wasyl Petruk, residente em São Paulo. O editor e chefe da redação da «Pu-Gu» era Vsevolod Tsarynnyk (Charnetsky), membro sénior da OUN(M). É de notar, que apesar de alguns dos seus quadros dirigentes terem a filiação na ala histórica da Organização dos Nacionalistas Ucranianos, a OUN(M), a revista mantinha a linha editorial independente, tentando ser um orgão apartidário, informativo e ilustado, dirigido à toda Diáspora ucraniana, residente em vários países e continentes. 

O carnaval ucraniano de Carácas 

Na sua edição de janeiro-março de 1955, aparentemente a última, antes do fecho, a revista publicou o texto sobre a rainha ucraniana do Carnaval de Carácas, em Venezuela. 

Revista ucraniana «Pu-Gu», edição janeiro-março de 1955, I (82)

Naquele ano a rainha ucraniana do carnaval foi eleita Oxana Evtukhiv, filha dos emigrantes ucranianos*, sob o nome de Oxana I. Nas fotos podemos ver a rainha sentada no caro alegórico, decorrado com tapetes e cercada pelos «súbditos» vestidos de trajas nacionais. 

Oxana Evtukhiv, a Oxana I

Três bravos «cossacos» com bigodes bastante fartos, embora obviamente postiços, estavam acompanhar a procissão. 

A rainha ucraniana foi recebida com a pompa e circunstância na Casa da Ucrânia de Caracas, a escola ucraniana mereceu o destaque na TV local. O autor da reportagem menciona que o projeto do carnaval ucraniano, que chamou tanta atenção da sociedade venezuelana, recebeu os apoios do Venedikt Vasyuk (engenheiro agrícola, Ministro da Agricultura na República Ucraniana dos Cárpatos em 1939), na década de 1950, o líder da Comunidade Ucraniana de Venezuela. Além disso, outros dois nomes merecem destaque na reportagem, como pessoas que fizeram bastante em prol dos ucranianos de Venezuela: metropolita Leonid Lototsky e Yuri Waschenko.

* EVTUKHIV Oleksandr (15.02.1898, Kamianets-Podilskyi, região de Khmelnytskyi – 07.06.1966, Caracas, Venezuela). Chefe do Estado-Maior do 1º Regimento Operário dos Cossacos Livres de Kyiv, chefe da guarnição militar de Vinnytsia, o comandante militar da província de Podilsk, chefe militar do 1º destacamento insurgente do Corpo Separado de Choque do Exército da República Popular da Ucrânia (1919), engenheiro, tradutor.

Até mais recentemente viviam na Venezuela cerca de 9.400 ucranianos.

Violência sexual durante a invasão russa da Ucrânia

A ucraniana Dária foi a vítima da violência sexual às mãos de soldados russos durante a ocupação russa em 2022. Agora ela ajuda outras vítimas: «O meu objetivo é tornar estes crimes visíveis», diz ela à DW

“Ele disse que não estava interessado no meu número de telefone, que estava interessado em mim”, recorda Daria. Durante a ocupação russa, uma mulher ucraniana sobreviveu à violência sexual às mãos de soldados russos e agora ajuda outras vítimas. «O meu objetivo é tornar estes crimes visíveis», diz ela. 

A Procuradoria Geral da Ucrânia abriu 155 processos criminais da violência sexual e do género, apenas nos casos em que as suas vítimas concordaram em levar os seus casos a tribunal e testemunhar sobre o sucedido. A grande maioria dos casos levados a tribunal são sobre violência contra as mulheres. Deste número fazem parte de, no mínimo, 11 casos de violência contra menores e 38 casos contra os homens, que também também encaminhados para análise. 

Blogueiro 

Os militares russos da unidade «Espanola», composta, em grande parte, pelos militantes da extrema direita, neonazis e neofascistas russos, explicam, que consideram todos os civis ucranianos como alvos militares legítimos e não fazem distinção entre civis e militares. A única exceção é para aqueles que colaboram, diretamente, com o exército russo.

Neofascistas russos do bando «Espanola»

quarta-feira, abril 16, 2025

Volodymyr Stepankowsky: jornalista da causa ucraniana

Consultar o arquivo online, 15-01-1920 — 24-12-1920

Volodymyr Stepankowsky (1885-1960) foi o ativista político e jornalista ucraniano; muito ativo nos diversos países da Europa Ocidental, na organização de atividades em apoio da independência da Ucrânia. 

Nos primeiros anos do século XX, Stepankowsky foi activo no clandestino Partido Revolucionário Ucraniano e no seu sucessor, o Partido dos Trabalhadores Social-Democratas Ucranianos, o que levou à sua prisão czarista em 1906. Libertado sob fiança no ano seguinte, viajou para Lviv, na altura pertencente ao império austro-húngaro, de onde emigrou para Genebra. Mais tarde, mudou-se para França e depois para Londres. Da Europa Ocidental, contribuiu para várias publicações ucranianas, incluindo os jornais Rada (Kyiv) e Dilo (Lviv). Em março de 1911, em Lviv, fez parte numa reunião, na qual participaram vários emigrantes políticos ucranianos, oriundos do império russo, na qual foram discutidos os planos para a organização de atividades de emigrantes em apoio da independência da Ucrânia. 

Publicação da União de Libertação da Ucrânia, Viena, 5 de outubro de 2014

De 1911 a 1914, em Londres, Stepankowsky promoveu a causa do movimento nacional ucraniano, escrevendo artigos para a imprensa britânica e publicando panfletos como The Russian Plot to Seize Galicia (Austrian Ruthenia) (Londres, 1914) e The Ruthenian Question. Uma exposição (Londres, 1914). Em maio de 1912, em Londres, conheceu o escritor George Raffalovich, a quem deu a conhecer os assuntos ucranianos e com quem, posteriormente, iniciou a fundação do Comité da Ucrânia. 

Jerry H. Hoffman, The Slavonic and East European Review,
Vol. 50, No. 121 (Oct., 1972), pp. 594-602 (9 pages)

Em 1914, após o início da Primeira Guerra Mundial, Stepankowsky deixou Londres e foi para Viena. No ano seguinte, mudou-se para Lausanne, na Suíça, onde foi cofundador de um gabinete de informação ucraniano que publicou o L'Ukraine (1915-1920), um jornal em francês sobre assuntos ucranianos e, de tempos a tempos, uma versão em inglês, The Ukraine. Em Berna (em colaboração com Dmytro Dontsov, com quem a relação de Stepankovsky se deteriorou mais tarde) — colaborou com «Korrespondenz der Nationalitäten Russlands» (1916-1917, também em inglês e francês). Em 1915-1917, Stepankowsky foi contratado pela Embaixada Alemã na Suíça para fornecer relatórios sobre os desenvolvimentos políticos na rússia, com a qual a Alemanha estava em guerra. Os seus contactos incluíam também um jornalista britânico, Herbert White, através de quem passou informações semelhantes à Embaixada Britânica. Em julho de 1917, viajou pela Alemanha e Suécia até à rússia, com a intenção de fazer uma avaliação em primeira mão da situação do movimento ucraniano. No entanto, foi preso em Petrogrado e libertado apenas após a revolta bolchevique de outubro (7 de novembro no estilo novo). 

A manif da União da Libertação da Ucrânia, Canadá, Ottawa, 1961

Em novembro de 1917, regressou ao Reino Unido, onde se reuniu com altos funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros e dos serviços de informação com o objetivo de persuadir o governo britânico a dar apoio à recém-proclamada República Popular da Ucrânia. Em janeiro de 1918, viajou para a Suíça e depois para a Ucrânia, onde testemunhou a mudanças políticas em Kyiv, que estabeleceram o governo do Hetman Pavlo Skoropadskyi. Em julho de 1918, deixou finalmente a Ucrânia e foi para a Suíça, de onde fez outra tentativa falhada para garantir o reconhecimento britânico da independência da Ucrânia. O último apelo de Stepankowsky ao Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico foi feito em outubro de 1920. Em outubro de 1929, emigrou para os EUA, onde faleceu a 9 de abril de 1960 (outros dados apontam 1957) em Nova Iorque.

domingo, abril 13, 2025

Crime de guerra russo na cidade de Sumy

Sabe-se que 34 pessoas foram mortas em Sumy pelo ataque de mísseis balísticos russos. Entre os mortos estavam duas crianças. Cerca de 117 pessoas ficaram feridas, incluindo 15 crianças. Todos eles estão a receber a assistência necessária. 

É crucial que o mundo não fique em silêncio ou indiferente. Os ataques russos merecem a condenação. É preciso pressionar a rússia para acabar com a guerra e garantir a segurança das pessoas. Sem uma pressão realmente forte, sem apoio suficiente à Ucrânia, a rússia continuará a prolongar esta guerra, escreveu Presidente Volodymyr Zelenskyy.














É já o segundo mês que putin ignora a proposta dos EUA de um cessar-fogo total e incondicional. Infelizmente, em Moscovo estão convencidos de que podem continuar a matar impunemente. É preciso agir para mudar esta situação.

Os ocupantes russos mataram OLENA KOHUT, professora do Colégio Vocacional de Artes e Cultura de Sumy «Dmytro Bortnyansky», organista-solista da Filarmónica Regional de Sumy, artista da orquestra do Teatro Académico Nacional de Drama e Comédia Musical de Sumy «Shchepkin».

RIP Olena Kohut

Em setembro de 2024 os ocupantes russos já tinham atacado a cidade de Sumy. Na altura eles atingiram, com um míssil, o centro geriátrico de Sumy. Ali viviam 221 idosos.Houve feridos, incluindo alguns em estado grave.

«Na verdade, é psicologicamente difícil aos russos matarem os ucranianos, porque somos um só povo».

Vladimir Kara-Murza (c)

Keith Kellogg sobre ataque russo contra Ucrânia no Domingo de Ramos

MNE de Portugal sobre o ataque russo


sábado, abril 12, 2025

Vladimir Kara-Murza: a face liberal do neofascismo russo

Jovens namorados Danylo Nikitsky e Alina Kusenko, mortos em Kryviy Rih por um míssil russo

Nas décadas de 1960-70, os intelectuais europeus procuravam, desesperados, o «socialismo com a face humana». Hoje, os mesmos intelectuais procuram o «bom russo», imperialista com a face humana. Vladimir Kara-Murza é um bom exemplo disso. 

O liberal moscovita, dissidente do atual regime neofascista russo, Vladimir Kara-Murza sofreu, no passado, dois envenenamentos, em 2015 e 2017, possivelemte orquestrados pelo FSB e em 2023 foi condenado aos 25 anos por acusações de traição, segundo a «lei das fake news» e a colaboração com uma «organização indesejável». Em 2024 libertado, na troca dos prisioneiros, entre EUA e a rússia, em que vários opositores liberais russos foram trocados pelos espiões e até assassinos profissionais ao serviço do Kremlin, detidos nos EUA e em alguns países europeus, como Alemanhã e Polónia. 

Muito recentemente, Vladimir Kara-Murza, falava no Senado francês, na Comissão dos Assuntos Europeus, onde senador Claude Malhuret colocou-lhe a seguinte questão: hoje, a maioria das tropas russas, para além dos criminosos condenados que foram retirados das prisões, são recrutadas entre os representantes das minorias étnicas. Consequentemente, a maioria dos militares russos mortos que regressam em caixões de zinco são enviados de volta para a Daguestão, Inguchétia, Chechénia, e assim por diante.

Qual é a situação nestas repúblicas hoje? Existe a perspectiva de uma revolta, precisamente porque o exército russo está ocupado na Ucrânia? Existe a possibilidade de uma revolta semelhante à revolta chechena da década de 1990? De uma forma mais geral, como define a posição destas minorias, destas repúblicas? Podemos falar de uma situação colonial ou é algo mais complexo a que nós, aqui em França, talvez não estejamos habituados? Temos a nossa própria história colonial, mas é algo diferente com o qual não estamos familiarizados. 

Kara-Murza:

«Quanto à sua questão sobre as minorias étnicas, é absolutamente verdade que muitos militares russos na Ucrânia são oriundos destas repúblicas: do Cáucaso, do Oeste (da Ásia Central?), da Sibéria e assim por diante. As razões são mais económicas. Como dissemos, Senhora Vice-Presidente, estas são regiões muito pobres — muito mais pobres do que Moscovo e São Petersburgo, mas também mais pobres do que as regiões da rússia central.

O Ministério da Defesa russo está a oferecer muito dinheiro para as pessoas irem para esta guerra. E estas pessoas que não têm dinheiro, nem perspectivas, que não têm nada nestas regiões remotas e pobres, muitas delas concordam com este dinheiro e vão para a guerra.

Além disso, como disse ontem em Estrasburgo, na sessão da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, conversei com um colega que trabalha arduamente com prisioneiros de guerra de ambos os lados.

Ela falou bastante com prisioneiros de guerra ucranianos que foram libertados da rússia e com prisioneiros de guerra russos que ainda estão na Ucrânia. E ela disse-me que há outra razão pela qual o Ministério da Defesa russo atrai tantos representantes de minorias étnicas: porque, como se vê, é psicologicamente muito difícil para os russos matarem os ucranianos. Porque somos o mesmo /povo/. São povos muito próximos, como todos sabem. Temos quase a mesma língua, a mesma religião, séculos de história comum. /Momento 6.41-7.00/

Mas se for alguém de outra cultura, supostamente é mais fácil. Foi o que este colega me disse ontem. Eu não tinha pensado nisso antes. Pareceu-me que as razões eram sobretudo económicas. Mas depois das palavras dela, comecei a pensar também sobre o assunto.

E, como disseste, também há muito mais vítimas de guerra entre estes povos. Os caixões estão a regressar. Vemos que nestes caixões está escrito: sim, como disseste – Daguestão, Chechénia. Mas a Chechénia é uma história diferente. O regime de Kadyrov na Chechénia, na minha opinião, é a pior parte do regime de Putin. Nem consigo encontrar palavras para descrever o que se está a passar na Chechénia.

Mas mesmo noutras regiões do Cáucaso — na Inguchétia e no Daguestão, bem como no Extremo Oriente russo, em regiões como a Buriácia, por exemplo, e a Iacútia — muitos militares vêm de facto de lá.

E, claro, sabemos que cada vez mais soldados estrangeiros estão a aparecer agora. Coreia do Norte, mas provavelmente viu as notícias de ontem sobre a detenção de soldados chineses por ucranianos. Os soldados chineses que estavam com o exército russo na Ucrânia estão contra a Ucrânia.

E, de facto, isto também é indicativo: o facto de Putin ter agora de procurar soldados fora do país. Verificamos que o Ministério da Defesa russo é forçado a aumentar constantemente os montantes dos pagamentos às pessoas que participam na guerra. Diz-me que não há pessoas suficientes dispostas a fazê-lo.” 

Mais uma vez, os liberais russos transmitem, no Ocidente, a ideia de que os bons meninos russos não querem combater, nem querem matar. Que a culpa é sempre daqeles prEtos, de olhos puxados e almas gananciosas, aqueles pretos maus, malignos e sanguinários, que tanto a rússia gosta de usar ao proveito próprio, mas assim que estes mesmos nativos começam à falar de sua autodeterminação, manda lá os seus os bons meninos russos para retalhar, fuzilar, aprisionar, torturar e subjugar…

A literal coincidência com a retórica de putin sobre “o mesmo povo” não incomoda o combatente imperial contra o putinismo pelo mesmo império russo. Por essa lógica, o seu próprio apelido tártaro, torna Kara-Murza psicologicamente mais adequado para matar os ucranianos? 

Refugiados polacos nas colónias africanas da Grã-Bretanha

De 1942 a 1950, quase vinte mil polacos encontraram refúgio dos horrores da Europa devastada pela II Guerra Mundial em campos nas colónias africanas da Grã-Bretanha, incluindo Uganda, Tanganica, Quénia, Rodésia do Norte e do Sul.

A localização geográfica dos campos de refugiados polacos em África

O livro do investigador alemão Jochen Lingelbach «On the Edges of Whiteness» conta a sua história improvável, traçando as múltiplas e complexas relações que se desenvolveram entre os refugiados, os administradores britânicos e os seus vizinhos africanos. Ao mesmo tempo que intervém em debates históricos importantes em disciplinas académicas, este livro oferece também um relato acessível e memorável da sobrevivência e do deslocamento cultural dramático no contexto de um conflito global.
Cemitério polaco/polonês em Rusape, na atual Zimbábue, 2018

Durante a Segunda Guerra Mundial, mais de 700 refugiados polacos (o mais que provável, entre eles vários ucranianos), a maioria mulheres e crianças, que fugiam da Polónia ocupada pelos soviéticos, foram admitidos no campo de Rusape, na atual Zimbábue. Em 1946, o campo de refugiados foi encerrado, e as pessoas foram transferidos para Gatooma, de onde foram repatriados para a Europa.

Embora a absoluta maioria dos 19.200 refugiados do grupo, eram católicos e polacos, também havia no meio as minorias judias e ortodoxas, compostas por belarusos e ucranianos. Por exemplo, um dos relatórios aponta que no campo de Kondoa, em Tanganica, a maioria dos residentes eram belarusos e ucranianos.

A igreja católica polaca em Nyabyeya/Masindi, em Uganda

Jochen Lingelbach é investigador de pós-doutoramento em História de África na Universidade de Bayreuth. Doutorou-se na Universidade de Leipzig e trabalha atualmente no projeto “África na História Global dos Campos de Refugiados” dentro do Cluster de Excelência “África Múltipla” da Universidade de Bayreuth.