Na
República Centro Africana foram assassinados dois jornalistas russos e um
ucraniano, que estavam rodando o filme documental sobre as atividades mercenárias
da empresa militar privada (EMP) russa “grupo Vagner” neste país.
Os
nomes dos jornalistas foram avançados pela TV russa “Dozhd”, os assassinados são
o realizador russo Aleksander Rastorguev (1971); repórter militar russo Orhan Dzhemal
(1966) e cameraman ucraniano Kirill Radchenko (33). Na RCA eles estavam engajados
no projeto conjunto com o “Centro de gestão investigativa” (tzurrealism);
oficialmente, os seus nomes ainda não foram revelados nem pelas autoridades
locais ou russas, nem pelo MNE da Ucrânia.
Como
informa Reuters
tudo aconteceu nos arredores da localidade de Sibut, localizada cerca de 200 km
a nordeste da capital Bangui. Os jornalistas se dirigiam para a cidade de Bambari,
várias agências noticiosas escrevem que o assassinato aconteceu num dos postos
de controlo na estrada pela qual circulavam os jornalistas.
Henri
Dépélé, prefeito de Sibut, contou à Reuters, que os jornalistas foram
emboscados por volta das 22 horas locais (21h00 GMT) do dia 30 de julho, por
homens armados escondidos na vegetação ao longo da estrada pela qual viajavam; a
viatura deles foi metralhada. Ao contrário dos passageiros, o motorista
sobreviveu e já prestou os depoimentos às autoridades locais.
Um
porta-voz da presidência da RCA, Albert Yaloké Mokpémé, disse que os corpos das
três vítimas “aparentemente européias” foram encontrados perto de Sibut por
soldados do exército regular.
A
fonte da página russa Zona.Media
disse que os jornalistas estavam indo à uma reunião com o fixer – pessoa que deveria
ajudá-los a trabalhar na RCA – e levavam consigo os equipamentos de filmagens caros.
A
porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, informou
aos jornalistas que os diplomatas russos já foram identificar os corpos. A ex-esposa
de Dzemal, a jornalista do jornal russo Novaya Gazeta, Irina Gordienko, disse ao
canal The Bell que identificou o
corpo do marido pela fotografia que recebeu pelos canais diplomáticos.
Quem
são os jornalistas mortos?
Graduado
pela Academia de São Petersburgo de Artes Cénicas, Aleksandr Rastorguev
tornou-se um dos representantes mais proeminentes do novo cinema documentário russo
– nos seus filmes os heróis tinham muito mais liberdade do que era costume na
tradição soviética; as vezes eles recebiam do realizador a câmara, para pudessem
filmar as suas próprias vidas.
Aleksandr Rastorguev | Rádio Svoboda |
Orhan
Dzhemal era filho do conhecido acadêmico e ativista islâmico russo, Geydar Dzhemal
(1947-2016). Geólogo de profissão, Orhan Dzhemal se tornou o repórter militar,
trabalhava para a edição russa de Newsweek. Em 2008, no decorrer da guerra russa
contra Geórgia, Dzhemal estava “acamado” com o batalhão checheno “Vostok”
(Leste), a unidade que em 2014-15 participou nas atividades terroristas no
leste da Ucrânia. O repórter já trabalhou em África, nomeadamente escrevendo
para a Newsweek, Dzhemal passou por uma cadeia na Somália.
Orhan Dzhemal | Rádio Svoboda |
Orhan
Dzhemal criticou a ocupação russa da Crimeia e chamava à si próprio de “ukrop” (literalmente
endro, também é o nome que os russo-terroristas usam para descrever os ucranianos da atual
guerra russo-ucraniana), escreve a página ucraniana Novynarnia.com
Pouco
se sabe sobre o terceiro
morto, o cameraman e cidadão ucraniano Kirill Radchenko. A julgar por suas contas nas redes sociais,
ele tinha 33 anos de idade. Trabalhou numa série divulgada exclusivamente na Internet, colaborava com uma agência de notícias pró-separatista, passou
pela Síria como cameraman, “acamado” com as forças do regime de Damasco.
O cameraman e cidadão ucraniano Kirill Radchenko | Facebook |
O
blogue francês Lignes
de defense escreveu que nos
arredores de Sibut deveriam decorrer os exercícios militares do exército
governamental. Os jornalistas receberam as informações que no local poderiam estar
os assessores militares russos e possivelmente os mercenários do “grupo Vagner”.
O
Instituto Independente da Defesa dos Direitos Humanos (IPIS)
divulgou em dezembro de 2017 o relatório, que afirmava que nas estradas da RCA foram
instalados pelo menos 284 postos de controlo: 115 são controlados por tropas governamentais,
cerca de 150 pela coligação/coalizão de oposição Séléka, os restantes pertencem
aos diversos outros grupos paramilitares.
Diversos postos de controlo nas estradas da RCA |
O
jornal russo Novaya
Gazeta, citando as fontes do francês Le Monde, escreveu no início de junho
de 2018 que os mercenários russos apareceram no país em forma de “instrutores
civis” da unidade de proteção do presidente Alexandre-Ferdinand Nguendet.
Possivelmente um dos elementos do "grupo Vagner" | Foto: facebook.com/presidence.centrafrique |
A
publicação escreveu sobre a chegada à RCA, no início de 2018, de cinco oficiais
russos e até 170 “instrutores civis”. Formalmente todos eles trabalham para
duas empresas militares privadas – Sewa Security Services e Lobaye, Ltd. No
entanto, dizem os especialistas, ambas servem apenas como a cobertura para a
EMP russa “grupo Vagner”, associada ao empresário Eugeniy Prigozhin, conhecido
como “cozinheiro do Putin”.
Possivelmente os elementos do "grupo Vagner" | Foto: facebook.com/presidence.centrafrique |
“Novaya
Gazeta” também escreveu que os mercenários russos foram vistos no Burundi e no Madagáscar,
informação sem a confirmação documental e sempre desmentida pelas autoridades
russas.
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