sábado, outubro 30, 2021

A jovem estuprada por Béria perseguia os dissidentes

Condenada em 1950 sob acusação de “declarações caluniosas sobre alguns membros do governo soviético”, a jurista Nina Gnevkovskaya notabilizou-se na década de 1970 pela repressão e perseguições contra os dissidentes soviéticos. 

Nascida em 1926, em Tachkent no Uzbequistão, no momento da sua prisão Nina era estudante do Instituto Jurídico à Distância da União, filha do general do MGB. Pela decisão da Reunião Especial do MGB em 29 de julho de 1950 foi condenada aos 7 anos de GULAG. Cumpriu a pena na cidade russa de Vyatka, trabalhou no campo de concentração como cozinheira. Foi totalmente reabilitada pelo Conselho Judiciário do Tribunal Supremo da URSS em 20 de janeiro de 1954. Nos materiais de reabilitação foi indicada a razão real da sua condenação: “Ao longo de vários anos foi violada/estuprada pelo Lavrenti Béria, após a perca do interesse por este foi presa”. 

Em agosto de 1968, a investigadora sénior do Gabinete do Procurador de Moscovo/u, a Conselheira Júnior da Justiça, Nina Gnevkovskaya, foi nomeada para investigar o caso da “Manifestação de 25 de Agosto de 1968 ”.. Várias vezes interveio com condenações nos processos políticos contra os dissidentes na década de 1970, dizia (de acordo com vários testemunhos), que foi condenada no passado “devido a viatura” do Béria. Participou, pessoalmente, nas buscas e interrogações de muitos dissidentes e dos seus parentes, casos do Vadim Delaunay e Lyudmila Alekseeva. 

Ficou perdida na história até a década de 2000, quando em 29 de maio de 2001, num programa da TV russa “1º Canal” (ORT) profere a frase: “Esses chamados defensores dos direitos humanos não precisam nem de liberdade, nem os direitos humanos. Eles simplesmente não queriam trabalhar, nem estudar, mas queriam viver à custa dos fundos que lhes pagavam os países antissoviéticos, Itália, Israel, e outros”.

Fonte

sexta-feira, outubro 29, 2021

Os bens do consumo no “mercado paralelo” soviético

O mercado soviético sempre foi caraterizado pela falta gritante de bens mais elementares do consumo popular. As piores situações se verificavam no ramo do calçado, roupas, eletrodomésticos e viaturas.  

A tabela demonstra a falta gritante de vários bens do consumo no mercado soviético (comparação feita entre os “mercados paralelos” das cidades de Tartu na Estónia e de Moscovo, em janeiro-fevereiro de 1990): uma viatura custava 2-3 vezes acima do seu preço oficial. A máquina soviética de lavar a roupa “Vyatka" (uma cópia pirata da “Indesit” italiana) oficialmente custava 550 rublos, no mercado paralelo 2-3 vezes mais.

Os preços de eletrodomésticos ocidentais eram absolutamente proibitivos, mesmo assim constituíam o sonho da elite soviética e serviam de uma espécie de status social dos seus detentores.

É de notar que em 1990 o salário mínimo soviético era de 70 rublos. Salário médio (na educação e serviços) era de 150 rublos. Um dólar valia 0,59 copeque no câmbio oficial e 2-3 rublos no câmbio paralelo. Desde 1921 o estado soviético proibiu aos seus cidadãos todas as operações privadas com as divisas, punindo os prevaricadores com as penas entre 3 à 15 anos de cadeia efectiva com ou sem o confisco de bens. Em alguns casos a lei soviética previa a pena da morte pelas operações com as divisas estrangeiras.

Também é de mencionar que na Ucrânia os preços poderiam estar 20-30% abaixo dos praticados em Moscovo. E que os preços altos de Tartu poderiam ser explicados, parcialmente, pelo nível da vida mais alto na Estónia ainda soviética.  

Imagem original da tabela de preços @Janosh Tadeysh

quarta-feira, outubro 20, 2021

Ucrânia lança o Museu virtual da agressão russa

Ucrânia lançou um museu virtual dedicado exclusivamente à agressão russa, perpetuada, desde 2014, contra o Estado ucraniano soberano.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros / das Relações Exteriores da Ucrânia, juntamente com outras instituições estatais/duais, ativamente se juntaram à criação de um museu virtual de agressão russa. Fatos específicos e evidências de crimes da Federação da Rússia são agora coletados online e disponíveis em ucraniano e em inglês.

Ucrânia, aposta numa ferramenta da guerra da informação, para poder combater a propaganda e fakes russos através do poder da verdade e dos fa(c)tos. Russos e os seus simpatizantes gostam de perguntar pelas evidências, zombando da realidade, afirmando que “eles não estão lá”. Agora um simples link será suficiente para colocar um ponto em discussões semelhantes.

A página contém uma ampla variedade de dados objetivos e verificados por organizações ucranianas e internacionais, em ucraniano e inglês. Em particular:

·         evidências testemunhais;

·         dados de arquivo;

·         fontes históricos orais;

·         informações da imprensa/mídia;

·         decisões e resoluções de organizações internacionais;

·         evidências de fotos e vídeos.

Consultar o projeto: https://rusaggression.gov.ua/en/home.html

sexta-feira, outubro 15, 2021

A comunidade ucraniana na cidade de Changai

Em setembro de 1932, na cidade chinesa de Changai foi oficialmente formada a organização social “Comunidade ucraniana”, que reunia no seu meio diversos ucranianos étnicos residentes naquela cidade. 

A permissão para o registo da comunidade foi obtida no Consulado francês, que geria uma parta da cidade chamada de Concessão francesa, habitada por cerca de 600 mil pessoas, na sua maioria chineses. Mas alguns meses depois, a polícia francesa anulou a permissão, possivelmente devido ao lobi russo, bastante influente na parte francesa da cidade. Dessa forma a comunidade ucraniana se mudou para a parte internacional de Changai, gerida pela Municipalidade britânica, onde foi inaugurada a nova casa em 26 de Novembro de 1932. Os ucranianos convidaram para a inauguração os representantes georgianos, dos povos do Cáucaso, lituanos e tártaros. 

A comunidade ucraniana em Changai tinha os seguintes objetivos: a) defesa dos interesses culturais e nacionais dos ucranianos; b) preservação da vida sócio cultural normal da comunidade ucraniana; c) apoio material e moral de compatriotas no leste da Ásia com a ajuda da palavra impressa ucraniana. 

Estima-se que no início da década de 1930 em Changai viviam cerca de 5.000 ucranianos étnicos, com diversos graus de consciência nacional e com diversa situação social e económica. 

Em dezembro de 1937 decorreu o novo registo da “Comunidade ucraniana”, foi comprado o espaço de chancelaria, escola e grupo teatral. A comunidade possuía um programa diário regular na rádio local, que era ouvido em Changai e Harbin. 

Dois anos depois, em 31 de Dezembro de 1939 a “Comunidade ucraniana” se transformou em “Colónia Nacional da Ucrânia” (UNK). Que declarava como o seu objetivo a “assistência e proteção de ucranianos na China, em particular, na cidade de Changai”. Os membros da Colónia elegeram o comité representativo, Ukrainian Reprehensive Comittee. A Colónia admitia membros maiores de 18 anos que deveriam «ser dignos representantes da ucrainidade em todas as dimensões da vida e apoiar o bom nome da Colónia Nacional da Ucrânia”. Existia a ala juvenil da UNK, que admitia os membros com as idades de 14–17 anos. As candidaturas eram votadas pelo plebiscito geral dos membros da Colónia. 

Para defender e preservar a sua identidade ucraniana, junto às autoridades chinesas de Changai e no Município da cidade o comité chamado Ukrainian Association in Shanghai. 

Durante os anos da sua existência a Comunidade Ucraniana (mais tarde – Colónia Nacional da Ucrânia, Comité Representativo Ucraniano, Clube Ucraniano) publicou três jornais: Comunidade de Changai (1938), A Voz Ucraniana no Extremo Oriente (1941 – 1944) e The Call of the Ukraine (1941 – 1942, em inglês), tinha um programa na rádio (1941 – 1942), possuía a escola, grupo de teatro, biblioteca. Existia uma unidade ucraniana no sei do Corpo Voluntário de Changai (SVC). 

Após o fim da II G.M., o Comité Representativo Ucraniano ficou engajado na evacuação dos ucranianos da China para EUA e Argentina. Com ajuda da congénere ucraniana de Buenos-Aires, cerca de 200 vistos foram atribuídos aos ucranianos de Changai. 

Como o fim de ilusões em relação à possibilidade de voltar à Ucrânia livre de ocupação soviética, a esmagadora maioria dos ucranianos de Changai optou por se mudar aos países onde já havia grandes comunidades de ucranianos, e, portanto, a possibilidade de preservar sua própria cultura – no Canadá, EUA ou Austrália. Assim, o fim da II G.M. e mudanças políticas na China ditaram o fim da presença ucraniana naquela região (fonte).

As mulheres nas fileiras da guerrilha ucraniana do UPA (12 fotos)

O Instituto da Memória Nacional da Ucrânia divulga as fotos únicas de mulheres que combateram pela Independência ucraniana nas fileiras do Exército Insurgente da Ucrânia (UPA) entre 1942 e os meados da década de 1950. 
Kateryna Meschko

As fotos foram apresentadas pela Lesya Bondaruk, a pesquisadora sénior do Departamento regional Ocidental do Instituto da Memória Nacional da Ucrânia. Em todas as fotos até hoje só é conhecida a identidade real de duas mulheres: Olha Kozlovska e Kateryna Meschko (fonte).

Olha Kozlovska











quarta-feira, outubro 13, 2021

O retrato do património ucraniano destruído pela União Soviética

A história incrível de dois cientistas ucranianos que viajavam por quase toda Ucrânia nas décadas de 1920-30, fotografando o país da ápoca pré-Holodomor e registando as suas obras de arte perdidas para sempre. 

Stefan Taranushenko e Pavlo Zholtovsky conseguiram retratar o mundo ucraniano, gradualmente perdido devido as políticas culturais do estado comunista soviético, que pretendia apagar as memórias culturais e religiosas dos ucranianos. Em 1933, os cientistas foram presos e condenados, acusados de pertencerem ao “bloco fascista russo-ucraniano”. 

90 anos atrás, dois estudiosos de arte viajaram por quase toda Ucrânia com as suas câmaras fotográficas, tirando milhares de fotos e desenhos de igrejas e sinagogas, casas, cidades, aldeias e outros monumentos históricos únicos que foram posteriormente destruídas pelo regime soviético. Eles também visitaram as regiões predominantemente ucranianas na província russa de Bryansk. Os cientistas fizeram isso no ponto de viragem da coletivização – antes do Holodomor – no final da década de 1920, no início da década de 1930. Uma incrível história das viagens dos estudiosos permaneceu conhecida apenas entre os cientistas. Radio Liberdade, se baseando nas fotos originais das Taranushenko e Zholtovsky, conta como era Ucrânia antes do Holodomor e o que o país perdeu para sempre. 

De acordo com avaliação do historiador Viktor Vechersky, das mais de 170 igrejas descritos ou mencionados como existente na década de 1930 no estudo de Stefan Taranushenko, apenas 16 sobreviveram até os dias de hoje. 

No outono de 1933 Zholtovsky e Taranushenko foram presos num processo fabricado. Na companhia de outros cerca de 20 museólogos, os cientistas foram acusados ​​de participar no “bloco fascista russo-ucraniano”. Zholtovsky foi condenado aos 3 anos de GULAG, Taranushenko – aos 5 anos. Entre muitas acusações, este último foi acusado de organizar as expedições científicas “para intensificar as atividades da organização contra revolucionárias, na margem direita do rio Dnipro, recrutamento novos membros na periferia”. 

Apenas após o fim da II G.M. aos cientistas foi permitido retornar à Ucrânia. Zholtovsky voltou à cidade de Lviv em 1946,e Taranushenko em 1953 – à Kyiv. Ambos foram politicamente reabilitados em 1958. 

No tempo do pós-guerra Pavlo Zhultovsky tornou-se um dos melhores estudiosos de arte da Ucrânia: escreveu dezenas de artigos, publicou várias monografias, recebeu prémios estatais. “Em geral, tudo é amargo e pesado, assim como o feliz, e bonito na minha vida pessoal, lembrava Zholtovsky, está intimamente ligado aos monumentos da antiguidade: quando eles eram destruídos - Eu vim junto com outras figuras da nossa cultura para os campos de concentração: quando terminou a época misteriosamente chamada de “culto de personalidade”, eu tive a sorte de voltar ao meu trabalho outra vez, já como um especialista respeitado”. Até o final da sua vida ele sempre participava nas expedições. Durante uma destas expedições, com 81 anos de idade ele morreu. 

Stefan Taranushenko publicou em 1976 um estudo fundamental chamado “Arquitetura monumental de madeira da região [da margem esquerda do rio Dnipro] da Ucrânia”. No entanto, o texto do seu trabalho foi cortado era ao meio, retirando as informações sobre as igrejas ucranianas da região de Bryansk, e os textos com as descrições das igrejas foram muito reduzidos. No mesmo ano, com idade de 86 ele morreu. Apenas em 2012 e 2014 o seu trabalho foi publicado na versão integral. 

Ler mais sobre os dois cientistas.

terça-feira, outubro 12, 2021

As memórias europeias do GULAG: os depoimentos gravados

De 1939 a 1953, quase um milhão de pessoas foi deportado para o Gulag soviético dos territórios europeus anexados pela URSS no início da II G. M. e aqueles que caíram sob a influência soviética após a guerra: alguns para campos de trabalho, mas a maioria como deportados nas aldeias da Sibéria e da Ásia Central.
Os prisioneiros do GULAG saem do campos de concentração pela amnistia comunista
para ficar à trabalhar na mesma região como deportados forçados
Uma equipa internacional de pesquisadores reuniu 160 depoimentos destes deportados, fotografias de suas vidas, documentos de arquivos e filmes privados e públicos. Muitas dessas testemunhas nunca antes falaram das suas experiências traumáticas no GULAG comunista.
A luta pela comida entre os prisioneiros do GULAG
Dois prisioneiros moribundos são interrogados pelo comandante do campo
Na base destas declarações e desses documentos o Museu das Memórias do GULAG convida você a explorar um capítulo muitíssimo negligenciado da história da Europa (em francês, inglês, polaco e russo).
A página polaca Kresy-Siberia, criada e mantida pelo Clube Polaco/Polonês de Glasgow apresenta depoimentos em vídeo de mais de 700 sobreviventes do GULAG soviético e as suas histórias de repressões e da luta pela liberdade. Com os dados (em inglês e polaco) de mais de 66.000 cidadãos polacos/poloneses, os que sobreviveram e os que morreram na II G. M.

sábado, outubro 09, 2021

Cinema: “Colapso. Como os ucranianos destruíram o Império do Mal”

A série documental “Colapso. Como os ucranianos destruíram o Império do Mal” já pode e deve ser vista online. A série é uma ferramenta de profunda reflexão sobre o passado histórico da Ucrânia nos momentos antecedentes da restauração da sua independência política em 1991.

Os realizadores tentaram usar a linguagem cinematográfica a mais próxima possível de todas as gerações: tanto a geração de participantes e testemunhas oculares dos eventos, quanto aqueles para quem a restauração da Independência da Ucrânia está tão longe como o Batismo de Kyiv ou a Segunda Guerra Mundial. 

Tentou-se desconstruir os mitos de que “a Independência caiu de bandeja aos ucranianos” e “a URSS foi destruída pelos americanos”. 

Foi escolhido um nome um tanto irônico, um tanto provocativo, para que todas essas gerações repensem o processo do colapso da URSS em toda a sua complexidade e polêmica. 

Quem já viu diz que a obra não ficou nada mal. 

Comentem! Divulgue na blogosfera e nas redes sociais! 

1º capítulo. Dia do medo.

2º capítulo. Noite de raiva.

3º capítulo. Sem euforia.

4º capítulo. Default.

5º capítulo. Efeito dominó.

6º capítulo. Independência.

7º capítulo. À beira de uma catástrofe nuclear. Colapso no Natal.

sexta-feira, outubro 08, 2021

Divulgados os nomes dos 159 nazis que fuzilavam os judeus em Babi Yar

Centro Memorial do Holocausto “Babyn Yar” divulgou na Ucrânia os primeiros 159 nomes dos nazis(tas) que matavam os judeus ucranianos na ravina de Babi/Babyn Yar, em Kyiv. Observa-se que durante 80 anos, desde a tragédia e apesar da grande quantidade de evidências coletadas após a II G.M., os criminosos praticamente não foram condenados. 

O Centro Memorial Babyn Yar começou a coletar evidências e testemunhos que revelam a verdade sobre a terrível tragédia. E no 80º aniversário das execuções de Babyn Yar, lançando a primeira parte de um extenso estudo sobre aqueles que mataram judeus ucranianos em setembro-outubro de 1941. Então, em apenas dois dias, entre 29 à 30 de Setembro pelo menos 33.771 pessoas foram executados em Babyn Yar. 

Embora os comandantes das unidades nazistas que executaram os assassinatos sejam bem conhecidos dos historiadores, a nova informação divulgada pelo Centro Memorial descreve em detalhes as biografias e testemunhos de comandantes e soldados comuns que mataram judeus, mulheres e crianças., jovens e velhos em Babyn Yar. 

Apesar das confissões, evidências e testemunhos fornecidos na década de 1960 por alguns militares nazis(tas) que cometeram os assassinatos, apenas uma pequena parte dos envolvidos foi julgada por seus crimes terríveis. A fim de identificar todos os que estiveram envolvidos ou tomaram parte direta nas execuções de judeus em Babyn Yar, o Centro Memorial do Holocausto criou um grupo de trabalho científico. 

Centenas de soldados e polícias alemães, alem do pessoal das SS estiveram envolvidos em execuções de Babyn Yar, neste momento o Centro Memorial divulgou a os nomes e as biografias dos primeiros 159 participantes nos fuzilamentos. 

Todos são alemães ou alemães étnicos (Volksdeutsche) nascidos na Alemanha, no império russo ou nos outros países sob o domínio do 3º Reich. Tinham entre 20 e 60 anos. Alguns com a formação superior, outros não. Havia entre eles engenheiros e professores, motoristas e vendedores. Alguns foram casados. A esmagadora maioria voltou à vida normal após a II G.M. Os soldados que cometeram o terrível massacre testemunharam nos tribunais alemães e foram considerados inocentes, com exceção de alguns comandantes e soldados rasos. 

“Alguns mataram, outros tiravam judeus de suas casas e ainda outros levaram seus pertences e bagagens. Alguns entregavam as armas, enquanto outros serviram sanduíches, chá e vodca aos assassinos. Todos eles são culpados de crimes em massa. Qualquer pessoa que estivesse envolvida de alguma forma, direta ou indiretamente, deveria ser considerada culpada”, disse o padre Patrick Debois, chefe do Conselho Académico do Centro Memorial do Holocausto Babyn Yar, fundador da organização Yahad-in Unum. 

É de recordar que no dia 29 de setembro de 2021 assinala-se o 80º aniversário das execuções em massa em Babyn Yar. Esta tragédia se tornou um dos símbolos mais terríveis do Holocausto. 

Anúncio alemão em russo, ucraniano e elemão ordenando os judeus
de Kyiv se apresentar às autoridades alemãs

Durante dois dias, de 29 a 30 de setembro de 1941, a primeira execução em massa de uma população civil desarmada foi executada em Kyiv ocupada pelos nazis(tas). Em geral, de 29 de setembro a 11 de outubro, os nazis(tas) mataram quase toda a população judia da cidade – mais de 50 mil homens, mulheres e crianças. Só nos primeiros dois dias de execuções, quase 34.000 pessoas foram mortas. Nos dias 1, 2, 8 e 11 de outubro – foram executadas mais cerca de 17 mil pessoas. No total, os nazis(tas) executaram em Babyn Yar cerca de 100.000 cidadãos, além de judeus as vítimas eram ciganos, nacionalistas ucranianos pertencentes ao OUN-M, prisioneiros soviéticos do RKKA, doentes do hospital psiquiátrico, entre outros.

terça-feira, outubro 05, 2021

A fuga da Checoslováquia comunista: armadilha de StB

A secreta comunista checoslovaca, StB usava os seus agentes para coagir os cidadãos à emigrarem clandestinamente. Depois estes cidadãos eram presos e condenados como “sabotadores” do regime. 

Em outubro de 1951, a atriz checa Jirina Stepnicková recebeu a carta forjada do realizador František Čap, propondo-lhe emigrar a Alemanha Ocidental, para continuar a sua profissão artística. O homem que entregou a carta, Jiří Fiala, era um dos vários agentes-provocadores, ao serviço de StB. 

O grupo, para além da Jirina Stepnicková, era composto por seus amigos e seu filho, Jiří Štěpnička, de apenas 4 anos de idade. Todos foram presos pela guarda-fronteira da Checoslováquia, julgados e condenados às pesadas penas de prisão efectiva. A atriz foi condenada aos 15 anos da cadeia. 

A ficha da atriz na StB após a sua detenção

Libertada em 1961 e reabilitada em 1968, atriz conseguiu voltar à sua carreira artística. No decorrer da sua reabilitação, os investigadores de StB pretenderam perceber melhor o caso, mas alegadamente não conseguiram o desvendar totalmente. O “contrabandista” Jiří Fiala tinha desaparecido, possivelmente era um agente duplo de algum outro serviço secreto. 

@Projecto «Arte repreendida. Cultura nacional aos olhos de KGB/ŠtB: Ucrânia, Chéquia, Geórgia», realizado pelo Centro de estudos dos Movimentos de Libertação (Ucrânia) em conjunto como Gulag.cz (Chéquia) e საბჭოთა წარსულის კვლევის ლაბორატორია / Soviet Past Research Laboratory (Geórgia) com ajuda do programa House of Europe da União Europeia.

sábado, outubro 02, 2021

Minha visita acidental à capital das festas durante a pandemia

A capital ucraniana Kyiv deveria ser uma escala rápida para a o escritora sul-africana Rosa Lyster. Mas a riquíssima vida underground noturna desta “nova Berlim” acabou sendo exatamente o que ela precisava. 

Meu guia de iniciante para Kyiv: há um pátio na cidade velha com um amado velho corvo que vive nele. Endereço: rua Reyterska, uma área de três quarteirões cheios de restaurantes e bares. Nome do corvo: Krum. Idade: pelo menos 25 anos, que é aparentemente muito para um corvo, embora sua idade não seja sua característica definidora. Definindo a característica: ele é visitado diariamente por um fluxo constante de pessoas que entendem intuitivamente que há algo especial sobre o fato desse pássaro neste lugar, de crianças pequenas até as crianças chiques de 22 anos e as senhoras mais velhas que adotam uma determinada postura ao ficar na luz do sol na frente de uma grande gaiola metálica, o suficiente para acomodar a pantera – uma mão na sua carteira, uma mão no quadril, cabeça inclinada interrogativamente enquanto se olha para as sombras em um esforço para fazer contato visual significativo com este grande pássaro idoso. Explicação quanto ao significado desta cena inteira: indisponível. 

A existência do corvo e seus fãs foi uma das únicas coisas que eu conhecia sobre Kyiv antes de chegar em meados de junho. Eu estava viajando por razões essencialmente burocráticas. Eu morava na Cidade do Cabo, na África do Sul, e tinha vendido um livro que me garantiria a possibilidade segura de um ano de viagens internacionais mais ou menos incessantes, assim como as portas para o resto do mundo começaram a se fechar. As regras continuavam mudando e a lista de países que aceitariam alguém que viaja diretamente da África do Sul continuou ficando mais curta. A Ucrânia foi um dos poucos lugares que eu poderia entrar antes de viajar para os lugares que precisava para ir. Eu perguntei a um amigo que conhecia bem a cidade para conselhos sobre como me ocupar pelas duas semanas que eu precisaria ficar lá antes de seguir em frente, e o corvo era uma das duas dicas que entregou sem elaboração. (O outro era que eu deveria verificar um famoso ginásio ao ar livre, construído a partir de sucata nas margens de uma das ilhas do rio Dnipro, que bisetifica a cidade.) Eu fui lisonjeado pela suposição de que era o tipo de pessoa que instintivamente agarrou por que era divertido ou importante olhar para um corvo, mas eu realmente não vi o apelo. Na medida em que eu poderia me despertar para imaginar Kyiv, imaginei isso tão duro e cinzento, com ruas quadriculares forradas com edifícios que não me admitiriam, mesmo quando me inclinei debilmente na campainha. As portas de metrô/o deslizavam na minha face. O sol saísse apenas para olhar timidamente para baixo em uma praça central anônima cruzada por idosos cujos ombros curvados anunciaram a dificuldade de suas vidas. O horizonte seria dominado por edifícios de apartamentos soviéticos padronizados, e eu não seria capaz de fazer isso legal em fotografias. Os cafés fechariam em horas que não entendia, levando-me a comer constantemente em um McDonald's debaixo de uma ponte... 

Ler mais (link só para os assinantes): https://www.nytimes.com/2021/09/21/magazine/kyiv-partes-coronavirus.html ou teste a sua proficiência em ucraniano.

sexta-feira, outubro 01, 2021

A omnipresença da secreta comunista NKVD na Ucrânia em 1940

Os arquivos da secreta ucraniana SBU, abertos aos historiadores e aos investigadores, permitem avaliar o grau de penetração da secreta comunista NKVD nas estruturas sociais da Ucrânia soviética nas vésperas da guerra nazi-soviética (os dados de 20.01.1940).
NKVD da SSR da Ucrânia
1º Departamento Especial
ABSOLUTAMENTE SECRETO
OS DADOS NUMÉRICOS
sobre a presença da rede de agentes-informadores nas
Direcções regionais do NKVD da SSR da Ucrânia
em 20 de janeiro de 1940
***
cidade de Kiev.
Segundo os dados da estatística oficial soviética, a população da Ucrânia soviética perfazia em 1940 as 41.458.000 pessoas, contando com a população da República Autónoma Socialista Soviética de Moldova (que entre 12 de outubro de 1924 e 2 de agosto de 1940 fazia parte da Ucrânia e onde, de acordo com o censo soviético de 1939, viviam 599.156 pessoas: ucranianos – 50,7%, moldovos – 28,5%; russos – 10,2% e judeus – 6,2%). Os dados do censo de 1936 mostram um quadro muito semelhante: ucranianos – 45,5%; moldovos – 31,6%; russos – 9,7 %; judeus – 7,8 % judeus e alemães – 2,2%.
Total na Ucrânia: 47.357 | NKVD /centro/ 1.717
Região de Kyiv: 3.782 | de Kharkiv: 3.315 | de Zhytomyr: 3.128
de Dnipropetrovsk: 4.147 | de Odessa: 956
Dividindo o total da população ucraniana pelo número dos informadores e delatores do NKVD (47.357 pessoas) chegaremos ao número impressionante de 1 seksot (literalmente funcionário secreto) para 875 cidadãos. Possivelmente, só a famigerada Stasi, secreta da Alemanha Democrática (RDA), teve o rácio maior, já no fim da década de 1980.  
Região de Mykolaiv: 1.989 | de Poltava: 2.220 |
de Stalin (Donetsk): 5.538 | de Voroshilovograd (Luhansk): 2.111
Região de Vinnytsya: 1.775 | de Kamyanets-Podilska (Khmelnytska): 3.921
de Chernihiv: 2.120 | de Kirovograd: 1.557 | de Zaporizhia: 2.191
Como nota o blogueiro allin777, na URSS, no fim da década de 1980 – início da década de 1990, na Ucrânia soviética o número dos informadores — à tempo integral e “fora dos quadros”, afetos ao KGB e ao Ministério do Interior (milícia soviética) chegava, nas grandes cidades, ao rácio de 1 informador por cada 98 habitantes.
Região de Sumy: 2.590 | de ASSR de Moldova: 1.296 | de Lviv: 1.005
de Stanislaviv (Ivano-Frankivsk): 626 | de Ternopil: 430 
Região de Volyn: 429 | de Rivne: 428 |
de Drohobyh (incorporada na região de Lviv em 21/05/1959): 86
Blogueiro: uma questão muito importante, para onde toda essa gente se foi com início da guerra nazi-soviética de 22/06/1941? Uma parte deles fugiu da Ucrânia, outros andaram na clandestinidade e ainda outros serviram o regime de ocupação nazi. Um tema tabu para os historiadores soviéticos, ainda hoje sem muita estatística sobre o número de oficiais do NKVD, MVD (milícia) e dos seus agentes informadores ao serviço do 3º Reich...