quinta-feira, agosto 30, 2018

A aguda crise alimentar soviética das décadas de 1960-1980

Em 1960, a URSS foi atingida por uma aguda crise alimentar. Nas lojas desapareceram vários tipos de cereais, massas, manteiga, leite derretido, produtos semiacabados de carne, carne de porco cozida, etc. Surgiram problemas com farinha e pão de trigo. Nas padarias foram impostos os limites na compra do pão, se vendia o pão feito com aditivo da farinha de feijão.

por: Dmytro Chekalkin, Ucrânia

Em dezembro de 1963, o governo soviético compra nos EUA o primeiro lote de 12 milhões de toneladas de trigo, na década de 1970, as importações de trigo são constantes. Em troca, Washington impões ao Moscovo a baixa dos preços de petróleo.

Em 20 de outubro de 1975, entre URSS e os EUA assinam um acordo de longo prazo, segundo o qual a URSS se compromete à comprar, anualmente, 6 milhões de toneladas de trigo nos EUA.

No fim da década de 1970, as regiões da Rússia Central vivem a falta constante do pão, carne, leite e outros produtos alimentares mais básios. A falta dos alimentos obriga os moradores destas regiões se deslocarem às compras nas lojas de Moscovo, Leninegrado e outras grandes cidades. Os alimentos estão disponíveis nos mercados chamados “kolkhozianos”, mas seus preços são demasiadamente altos aos bolsos do cidadão comum.
A intelligentsia citadina soviética na "ajuda voluntária" ao algum kolkhoz "milionário", década de 1980
No início da década de 1980, as compras de trigo nos EUA chegaram aos 16 milhões de toneladas, quando as autoridades norte-americanas impuseram à URSS o embargo comercial, devido à invasão soviética do Afeganistão. URSS foi forçada à recorrer na compra dos cereais aos mercados de Canadá, Argentina e Austrália. Em 1985, as compras soviéticas representavam mais de 15% das importações mundiais de grãos – 44 milhões de toneladas.

Em 25 de agosto de 1983, a URSS assinou um dos maiores acordos de comércio exterior, silenciado, por completo, na imprensa soviética: compra de grãos nos EUA ao preço recorde de 10 bilhões de dólares. Em comparação, a compra de gigantesca fábrica de automóveis Fiat, rebatizados na URSS como VAZ (Lada Zhiguli), que na década de 1970 fabricava mais de metade de todas as viaturas particulares soviéticas, custou aos cofres da URSS apenas 900 milhões de dólares (11 vezes menos).

Em 1984 a URSS chegou à mais um “recorde de construção do comunismo”: pela primeira vez, o volume de importações de grãos ultrapassou 40 milhões de toneladas, representando quase um quarto das necessidades soviéticas (toda 4ª tonelada de trigo era comprada pela URSS no exterior). O “país do socialismo desenvolvido”, tornou-se o maior importador mundial de grãos.

No ano seguinte, 1985, o volume de importações aumentou e atingiu o recorde absoluto de 44 milhões de toneladas. Cerca de 50 anos de experiências comunistas levaram à um colapso completo na agricultura, apesar dos enormes esforços e altos investimentos na produção dos equipamentos agrícolas, em que a União Soviética, em números absolutos, estava em primeiro lugar mundial. Mas nada disso ajudou, o próprio sistema era inviável.
Slogan da década de 1930: "Kolkhozianos, na base da colectivização total liquidaremos kulak como a classe"
As reformas económicas de Khrushchev, que deveriam elevar o país a uma economia mais produtiva, começaram a fracassar. As suas iniciativas, como a campanha de milho, o desenvolvimento de terras virgens, a eliminação das “aldeias sem perspetivas”, uso abundante de agro-químicos (e como consequência, o rápido esgotamento das terras) – tudo isso afetava a quantidade e a qualidade da colheita de grãos.

As estatísticas mostravam: se em 1954-1958 a colheita média do trigo chegou na URSS aos 730 kg por hectare, em 1962 as colheitas caíram aos 610 kg por hectares. Quando a URSS não dispunha de quantidades suficientes da moeda forte, o fornecimento de trigo era pago em suas reservas de ouro. Segundo analistas americanos, na compra de trigo e outros cereais, desde o início dos anos 1960 até os meados da década de 1980, a União Soviética gastou mais de 900 toneladas de ouro. Por ano, a URSS gastava em média, de 12% a 15% de suas reservas de ouro.

Especialistas soviéticos/russos apontam mais uma razão da dependência soviética do trigo americano. Até à década de 1960, na URSS, uma proporção significativa de moagem de farinha e de panificação estava efetuada pelas cooperativas. As padarias estatais existiam principalmente nas grandes cidades, e a sua variedade de pão era extremamente escassa; a maioria da produção de panificação era produzida por padarias pertencentes às cooperativas.
O tal famoso, "sorvete saboroso", que se tornou um meme, décadas de 1970-80
Em meados da década de 1960, a URSS eliminou quase por completo o seu sistema de cooperativas, e as suas unidades produtivas foram nacionalizadas. Nas novas empresas estatais foram introduzidos cargos administrativos absolutamente desnecessários que consumiam a maior parte do seu orçamento, não ajudando a melhorar o desempenho das empresas. Como resultado, o interesse financeiro dos funcionários desapareceu, o que imediatamente afetou a qualidade e o volume dos produtos. Mesmo com reservas suficientes de trigo, as moagens e as panificadoras deixaram de atender às necessidades do país.

Mas por outra, quem é que precisava de pão num país, que produzia o sorvete tão saboroso?
Na foto do arquivo: uma fila feminina (pois homens ou bebiam, ou morreram ou fugiram do kolkhoz) para comprar o pão numa aldeia da Rússia soviética, década de 1960

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