Os
fãs da URSS acreditam que União Soviética era um “país de alta moralidade”, intocado
pelas mazelas do “capitalismo putrificado”: sem prostituição, assaltos ou maníacos,
mas com muito vento, céu azul e sorvete mais saboroso do mundo.
Isto,
naturalmente, não era verdade, na URSS eram ativos vários maníacos – simplesmente
a comunicação social soviética nunca revelava a sua existência, criando na população
soviética a imagem distorcida da vida no seu próprio país – na verdade, na
União Soviética, tal como no “Ocidente decadente”, existia a prostituição,
assaltos sonantes e assassinos em série, como o inglês Jack, o Estripador.
Ler mais |
Os
fãs da URSS também costumam dizer que tudo isso apareceu apenas na década de 1990,
com a Perestroika, mas isso também não é verdade – nos anos 1990 a imprensa soviética
foi a mais livre possível e começou a falar sobre todos os assuntos, que era
tabu durante a ditadura comunista.
É
interessante notar que, nos casos de muitos maníacos soviéticos, a crueldade de
todo o sistema soviético pode ser claramente discernida – o próprio sistema comunista
contribuiu, de alguma forma, aos futuros maníacos a se tornarem maníacos, ou então
cometeu vários erros na sua busca e captura. E às vezes ambos, como no caso de
Andrei Chikatilo.
Hoje
falaremos sobre os três maníacos soviéticos mais famosos e terríveis,
conhecidos em todo os espaço soviético e pós-soviético, e mesmo na cultura
ocidental.
«Abrem
porta, é da MosGaz!»
Vladimir Ionessian conhecido
como “MosGaz” é considerado um dos primeiros assassinos em série, cujos crimes
tornaram-se públicos, apesar do esforço do governo soviético em escondê-los – possivelmente
porque que o assassino operava em Moscovo, e não em algum lugar longínquo.
O
maníaco recebeu o seu nome porque tocava as campainhas das portas das suas
vítimas, passando-se pelo representante o Departamento de Serviços Habitacionais
(ZhEK) №13 ou então dizia que é de MosGaz, serviço municipal de gás da cidade
de Moscovo. Entrando no apartamento, ela matava as suas vítimas com um machado.
“MosGaz” matou 6 pessoas, foi preso no inverno de 1964 e sentenciado à pena
capital. Segundo a lenda urbana, o próprio Khrushchev veio à prisão onde estava
mantido o maníaco, ordenando: “que em duas semanas ele já não esteja aqui!”
A
sua biografia tem um detalhe curioso – na juventude era um aluno talentoso, possuía
o diploma da escola de música e até foi admitido sem exames ao departamento
vocal da Escola Superior de Musica de Tbilissi. Depois disso, segundo uma das versões,
Ionesian foi julgado e condenado pela “evasão de cumprir o dever militar”,
cumpriu o termo prisional na cadeia do regime leve na cidade georgiana de Gori –
onde possivelmente enlouqueceu. O sistema soviético “ajudou-o” a se tornar um
maníaco...
Andrei
Chikatilo: «Stepan foi comido, vão te comer também»
Andrei Chikatilo talvez
foi um dos mais famosos e mais temidos maníacos soviéticos – ele cometeu o seu
primeiro assassinato comprovado em dezembro de 1978 e antes da prisão em
novembro de 1990, tinha brutalmente assassinado 53 pessoas [confessou 55, mas pelos
dados da polícia soviética, cometeu 65 assassinatos]. Antes de prisão, a
polícia soviéticas já tinha prendido várias pessoas sob suspeita, um deles, sob
tortura, chegou a confessar os “crimes”, sendo condenado pelo tribunal e
fuzilado. Já o próprio Chikatilo era sempre tido como cidadão soviético
exemplar, era membro do PCUS desde 1960, chegando à “ajudar” apanhar o maníaco –
participou nas patrulhas nas estações de caminhos-de-ferro, inserido nos Grupos
de Vigilância Popular (DND).
Andrei
Chikatilo nasceu em 1936 na Ucrânia, o seu avô foi vítima da luta contra os kulaks/kurkuls, e o seu pai, um
ex-comandante de uma unidade de guerrilha comunista, foi preso e enviado para
GULAG. Chikatilo tinha um irmão mais velho, Stepan, que durante Holodomor de 1932-33,
alegadamente, foi vítima de canibalismo, o que é muitas vezes era recordado
pela sua mãe, que assustava Andrei.
Em
1946, na Ucrânia novamente foi atingida pela fome, e a mãe o proibia
estritamente que sair fora do portão: “não vá lá, Stepan foi comido, vão te
comer também!” — dizia ela. Naturalmente tudo isso influenciou sobremaneira
Andrei Chikatilo – isso se torna especialmente óbvio se nos lembrarmos de ele tentou
comer os corpos de algumas de suas vítimas. Em geral, se não fosse Holodomor e
outros horrores comunistas do século XX — muito possivelmente não haveria nenhum
maníaco Chikatilo.
Ver Andrey Chitatilo na
entrevista:
Maníaco
belaruso e 14 condenados (Sic!) falsamente
O
belaruso Gennady Mikhasevich
estava ativo na região entre as cidades de Vitebsk e Polatsk, por isso foi
chamado de “estrangulador de Vitebsk”. Durante 12 anos de “atividade” ele matou
36 mulheres; 12 delas num único ano de 1984 [o próprio assassino confessou 43 assassinatos].
Mihasevich
vivia numa aldeia nos arredores de Polatsk e era “homem soviético exemplar” – praticamente
não bebia, não fumava, possuía a família, envolvia-se ativamente na vida
pública socialista, era membro das DND e do partido comunista. Nas reuniões
públicas, o charmoso e laborioso Mikhasevich, era habitualmente apresentado como
um exemplo à seguir, em contraste com os foliões e bêbados locais.
Em
parte, a sua vida pública impedia a polícia soviética de achar a trilha do
maníaco, cometendo, a própria polícia, crimes e atropelos à lei mais que vários
– acusados dos crimes de Mikasevich foram presas 14 pessoas (Sic!), muitos deles
foram torturadas, exigindo a “confissão”. Um destes foi fuzilado, outro tentou
cometer suicídio, o terceiro foi preso por 10 anos, quarto cegou na cadeia... Assim
funcionava a justiça soviética. O próprio Mikasevich foi preso em 1987 e
fuzilado em Minsk/Mensk numa date incerta, ora em 25 de setembro de 1987 ou então,
em 3 de fevereiro de 1988.
São
apenas alguns casos mais sonantes. Podemos recordar Nikolay Gridyagin, que estrangulava
as moças e possuía “características totalmente positivas” do seu local de trabalho;
o violador/estuprador e assassino em série Boris Gusakov que
trabalhou como fotógrafo e matou 5 pessoas; maníaco Anatoly Slivko, membro
do partido comunista, detentor do título pedagógico soviético de “Professor
Homenageado da Rússia Soviética” (1977), responsável pela morte de 7 e tortura
de mais de 40 crianças... e isso não é uma lista completa.
Como
podemos ver – na URSS eram ativos bastantes assassinos em série, não menos, e
talvez até mais do que no “Ocidente decadente”. Por vezes, o próprio regime
soviético “participava” na formação de uma identidade viciosa do maníaco (como
no caso do Holodomor ucraniano que definiu Andrei Chikatilo), e a polícia
soviética frequentemente não sabia como conter este tipo de crimes – detendo e
torturando inocentes – como no caso do “estrangulador de Vitebsk”.
Fotos:
arquivo | Texto: Maxim
Mirovich e [Ucrânia em África]
1 comentário:
Há outros maníacos: Lavrenti Beria e Vasili Blokhin.
Enviar um comentário