segunda-feira, novembro 30, 2015

Os direitos humanos na Crimeia. Reversão de três séculos

A situação dos direitos humanos na Crimeia deteriorou-se severamente desde a ocupação da península pela federação russa em 2014.

Em particular, as autoridades de ocupação têm como alvo a comunidade dos tártaros da Crimeia, a minoria étnica muçulmana nativa da península que se opôs abertamente à ocupação russa. Ao mesmo tempo, as autoridades incentivam os abusos generalizados implicados nos desaparecimentos, detenções forçados ilegais e maus-tratos de tártaros da Crimeia, ativistas, jornalistas e outros indivíduos que são, genericamente, vistos pelos ocupantes como os pró-ucranianos.

O mapa interativo documenta os abusos descritos acima, se baseia no monitoramento dos conteúdos de mídia confiáveis e relatórios de organizações de defesa dos direitos humanos. Até o momento, o mapa registou 179 casos, cada um, classificado de acordo com as regras internacionais.

Visitar as páginas da “Crimeia SOS”:
https://www.facebook.com/CrimeaSOS

sábado, novembro 28, 2015

Kulak - comunista que liderava “Foice e martelo”

Stepan V. Fil, o comunista que salvava as pessoas
Holodomor, a fome artificial: preparada, organizada e executada pela alta liderança da União Soviética e do PC soviético levou à morte entre 3,5 à 7 milhões de ucranianos. Como qualquer tragédia, o genocídio revelava melhores e piores qualidades das pessoas. Uns, cegamente obedeciam Moscovo e apenas alguns anos depois foram eliminados no decorrer do terror estalinista, outros tentavam salvar os próximos...

O jornal regional em língua ucraniana, publicado na Crimeia, “Perekop Vermelho”, № 195 de 23 de dezembro de 1932, exorta às repressões severas contra os dirigentes que não entregaram ao Estado soviético a quantidade de trigo e/ou outros cereais, consoante o plano estatal predefinido (na maioria das vezes absolutamente irreal e impossível de cumprir sem condenar às pessoas à uma morte dolorosa durante o inverno-primevera de 1932-1933).
Na primeira página, em letras maiúsculos podemos ler: CASTIGO SEVERO AO KURKULS E OS SEUS AGENTES LUTSENKO, FIL, BILINSKY E RUL – se devem aproveitar as células do partido para a mobilização de todos os esforços para a implementação imediata do plano da recolha do trigo.

Deliberação do Bureau do Comité do PC (b) da Ucrânia do distrito Khorlivski de 21-XII de 1932

2. Fil, membro do partido – o chefe do kolkhoz “Foice e martelo” pela resistência aberta à recolha do trigo, pelo encobrimento da área cultivada, pela recusa de executar as deliberações da reunião magna do kolkhoz sobre a execução do plano anual da recolha de trigo, pela resistência de preparação da terra à lavra, pela atitude maliciosa em relação aos animais de lavouro, o que levou ao esgotamento dos cavalos, pelo não registo de 12 285 kg de trigo. Pelo estatuto social – kurkul (kulak) – expulsar das fileiras do partido e prender imediatamente”.

Da exortação pública do jornal até a prisão e deliberação da polícia política, estava apenas um passo...
Extrato do protocolo № 71/945 do Conselho Especial do Colégio do GPU da Ucrânia Soviética de 1933.

Escutaram: Caso № 202/33845, da Direção provincial do GPU (em 1934 dá lugar ao NKVD) de Odessa contra o cidadão Stepan V. Fil, ucraniano, membro do PC (b) da Ucrânia, acusado ao abrigo do artigo 54-14 do Código Penal (artigo 54-14 significava a sabotagem contra-revolucionária, a sentença ia desde a cadeia efetiva no prazo mínimo de 1 ano com confisco total ou parcial dos bens até ao fuzilamento com confisco total dos bens).

Deliberou-se: Deportar Stepan V. Fil, via OGPU para Cazaquistão por um período de 3 anos, ao local de deportação enviar via etapa presidiária, arquivar o caso (fonte documental).

Blogueiro: dado que a novalíngua da época poderá ser facilmente incompreendida pelos leitores mais novos do nosso blogue, eis a descodificação dos “crimes” do nosso herói, o cidadão que apesar da sua condição do dirigente comunista não se esqueceu da sua condição humana e foi castigado por isso.

Resistência aberta à recolha do trigo: ele não arrancava aos trabalhadores do kolkhoz a totalidade de trigo, percebendo que seguir os mandamentos do partido significaria matar as pessoas de fome; encobrimento da área cultivada: diminuindo a área cultivada na secretaria, conseguia deixar algum trigo para o consumo das pessoas; atitude maliciosa em relação aos animais de lavouro: os cavalos precisam de comer, sem comer não conseguem trabalhar, se trabalham sem comer ficam fisicamente esgotados e porventura morrem; o não registo de 12 285 kg de trigo: não se sabe quantas pessoas faziam parte do kolkhoze, seguramente um pouco de 12 toneladas de trigo poderiam salvar muitas vidas, que não teriam nenhum outro alimento entre o final de safra (agosto-setembro de 1932) e primavera-verão do ano seguinte (maio-junho de 1933).

Não se sabe o destino posterior do Stepan Fil, apenas uma coisa é certa, entre os milhares de dirigentes comunistas que obedeciam as ordens superiores, arrancando o trigo e outros alimentos aos seus, eles ousou desobedecer e sistema comunista do partido-estado o castigou severamente...

Homens e Mulheres da Verdade sobre Holodomor

Eles arriscaram as suas vidas e a sua liberdade, contando ao mundo sobre Holodomor na Ucrânia. Alguns foram presos, outros, como jornalista britânico Gareth R. V. Jones, assassinado em circunstâncias não esclarecidas.

No último sábado do mês de novembro acenda a vela em memória das vítimas do Holodomor – genocídio comunista na Ucrânia!
(As imagens podem ser descarregadas e usadas livremente para os efeitos de recordação do Holodomor e de divulgação da informação sobre o genocídio, entre os falantes do português e por favor, vejam o filme letão "The Soviet Story", na parte dedicada ao Holodomor).
https://www.youtube.com/watch?v=ewY_k-jFlvk

quinta-feira, novembro 26, 2015

O preço humano do internacionalismo proletário

Os militares soviéticos na "estrada da morte" entre Menongue e Cuito Cuanavale, Angola, 1988
Desde a sua criação, a URSS participava ativamente na disseminação do “incêndio da revolução proletária” em redor do mundo. Até o fim da década de 1940, as suas ações se centravam, maioritariamente na Europa, depois o “internacionalismo proletário” espalhou-se pelo mundo em desenvolvimento. Os diversos países da Ásia, Americas e África levaram com a “ajuda fraterna” soviética que quase sempre significava a chegada das AK-47, blindados e RPG.

O custo humano dos países de acolhimento é contabilizado aos milhões de mortos, feridos e refugiados, o preço humano pago pela União Soviética é bastante menor, mas também existencial. A publicação russa “Slon” reuniu os dados dos conflitos internacionais em que a URSS participou desde 1945, usando as fontes oficiais para calcular o número dos seus mortos. Entende-se que os números reais podem ser maiores (sabe-se que desde 1946 à 1990 a URSS participou em pelo menos 32 guerras e conflitos regionais e em outras 6 conflitos após 1991, cujos veteranos são oficialmente reconhecidos pela lei federal russa Sobre os Veteranos”).

Guerra civil na China (março de 1946 — maio de 1950)
Perdas soviéticas: 936 mortos

Guerra na Coreia (25/6/1950 — 27/7/1953)
Perdas soviéticas: 315 mortos (1% do seu contingente militar)
Militar americano junto ao destruído blindado soviético, setembro de 1950, foto @AP/Gene Herrick
Invasão da Hungria (23/10 — 9/11/1956)
Perdas soviéticas: 669 mortos
Equipamentos militares soviéticos nas ruas de Budapeste, outubro de 1956, foto @AP
Guerra civil em Laos (1960–1975)
Perdas soviéticas: 5 mortos

Guerra no Vietname (1/11/1957 — 30/4/1975)
Perdas soviéticas: até 16 mortos (muito difícil de acreditar, tendo em conta que apenas oficialmente, o contingente militar soviético no Vietname era de 6.000 pessoas)
Os militares soviéticos da defesa antiaérea na cidade de Hanói, fevereiro de 1966, foto @Wikipédia
Desminagem da Argélia (1962–1964)
Perdas soviéticas: 25 mortos

Perdas soviéticas: 2 mortos

Guerras árabes – israelitas (1967–1974)
Perdas soviéticas: 49 mortos (outros dados apontam 51 oficiais e 1 general, contingente soviético até 10.000 pessoas)

Invasão da Checoslováquia (21/08 — 11/09/1968)
Perdas soviéticas: 98 mortos
Blindados soviéticos nas ruas de Praga, agosto de 1968, foto @Getty Images / Hilmar Pabel
Conflito fronteiriço sino-soviético (março – setembro de 1969)
Perdas soviéticas: 58 mortos e 98 feridos, a ilha Zhenbao / Damansky ficou na posse da China de facto e desde 1991/2004 de jure.
Soldados Petró Turchenko e Anatoliy Ivanov, foto @TASS
Guerra civil em Moçambique (1976–1992)
Contingente militar soviético em Moçambique
Militar soviético em Lichinga, 1987-1988
Perdas soviéticas: 8 mortos (os dados não oficiais apontam 11 mortes de militares e 21 entre os militares e civis; o contingente soviético que passou pelo país é avaliado em mais de 4000 militares).

Desminagem de Bangladesh (1972–1974)
Perdas soviéticas: 1 morto

Guerra civil em Angola (1975–1992)
Região de Cuando-Cubango, 1988, foto @União dos Veteranos de Angola
Angola, década de 1980, foto @arquivo O. Lavrentieva

Comissários políticos angolanos e soviéticos, 1981, foto @União dos Veteranos de Angola
Furriel soviético Nikolay Pestretsov, capturado em Angola pelo Batalhão Búfalo 32,
na foto último à esquerda, foto @União dos Veteranos de Angola
Perdas soviéticas: 54 pessoas (pelas contas da 10ª Direção Geral do Estado-maior das Forças Armadas da URSS, entre 1975 e 1991 pela Angola passaram 10.985 militares soviéticos. Morreram 54 cidadãos, entre eles 45 oficiais, 5 furriéis, 2 soldados e 2 funcionários civis; foram feridas 10 pessoas). Além disso, 1 militar soviético foi capturado pelas forças sul-africanas, furriel Nikolay Pestretsov, na última foto é último à esquerda.

Números não oficiais:
novembro 1975 – novembro 1979: 12 mortos
dezembro 1979 – dezembro 1992: 72 mortos
janeiro 1993 – dezembro 2006: 16 mortos

Guerra de Ogaden  (julho de 1977 — 15/3/1978)
Perdas soviéticas: 33 mortos (dados não oficiais avaliam o contingente soviético em 11.143 militares; dos quais morreram 79 pessoas, incluindo 2 generais e 69 oficiais).
Militar etíope junto ao cartaz que exorta a amizade soviética - etiópe contra Somália, fevereiro de 1978, foto @Getty Images
Guerra no Afeganistão (25/12/1979 — 15/2/1989)
Perdas soviéticas: 15.051 mortos
Helicóptero soviético Mi-17 abatido pela resistência afegã no Afeganistão
Retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, 1989, foto @TASS
Guerra no Líbano (6/06 — setembro de 1982)
Perdas soviéticas: 35 mortos

A URSS desapareceu, mas a herdeira dos seus deveres e direitos, a federação russa, não parou de exercer o seu dever internacionalista fora das fronteiras nacionais...

Guerra de Alto Karabakh (1992 — 12/5/1994)
Perdas russas: 51 mortos
Combates em Hadrut, maio de 1992, foto @TASS
Guerra civil no Tajiquistão (5/5/1992 — 27/6/1997)
Perdas russas: 302 mortos
Militares russos transportam os membros da oposição de Tajiquistão, foto @Getty Images / Chuck Nacke
1ª e 2ª guerras na Chechénia (11/12/1994 – 15/4/2009)
Perdas russas: 11.600 mortos
Militares russos no centro de Grozny, praça Minutka, fevereiro de 2000, foto @Getty Images
Guerra na Geórgia (5 — 22 de agosto de 2008)
Perdas russas: 67 mortos

Invasão da Ucrânia (março de 2014 – até hoje)
Dorzhi Batomunkuev (20), 5ª unidade especial de blindados Nr. 46108 (cidade Ulan-Ude),
número de identificação 200220, caderneta militar 2609999 
Os dados do Ministério da defesa russo revelam que até 1 de fevereiro de 2015, as forças armadas russas perderam na Ucrânia mais de 2.000 militares mortos e outros 3.200 militares foram gravemente feridos (fonte).

Guerra civil na Síria (30/09/2015 – até hoje)

Perdas militares confirmadas: mais de 20 mortos (os primeiros três: o técnico de aviação Vadim Kostenko, que suicidou-se ou foi assassinado; piloto do Su-24, tenente-coronel Oleg A. Peshkov, abatido pela força aérea turca no dia 24/11/2015 e marinheiro (fuzileiro naval) Aleksandr Pozynich, que fazia parte da equipa de salvamento que tentava resgatar o 2º piloto do Su-24 abatido).
Vadim A. Kostenko (19), unidade militar Nr. 20926, morreu / foi assassinado / suicidou-se na Síria 

O turismo de inverno na Ucrânia: Bukovel

O inverno chegou à Ucrânia e com isso o país ficou aberto ao turismo da montanha, pois os Cárpatos ucranianos já estão cobertas pela neve e esperam pelos esquiadores e amantes da natureza.
A página do FB da televisão ucraniana ICTV publica as fotos do resort mais in da Ucrânia, Bukovel, a temperatura é muitíssimo agradável, apenas -3,7ºC no período noturno (não é frio para uma pessoa bem agasalhada e é ótimo para esquiar).

terça-feira, novembro 24, 2015

Holodomor na percepção dos ucranianos e do mundo

Neste momento, 81% dos ucranianos considera Holodomor como acto de genocídio do povo ucraniano, em 2010, a mesma opinião era partilhada por apenas 60% dos cidadãos da Ucrânia.

A pesquisa do grupo “Raiting” mostra como essa percepção mudou desde 2010, por exemplo, em outubro de 2015, respondendo a pergunta de escolha múltipla “Será que concorda que Holodomor de 1932-33 foi genocídio do povo ucraniano?”, 53% dos respondentes disseram “Claramente sim” e 28% “Mais certo que sim”, contra 4% dos que consideram “Claramente não” e 8% que acham “Mais certo que não”, o mesmo número dos respondentes não tem a opinião formada.

Para fornecer mais informações sobre a tragédia ucraniana, o Instituto da Memória Nacional da Ucrânia preparou uma brochura em inglês, dedicada à maior tragédia ucraniana de sempre.
Faça click para descarregar / baixar o texto em PDF
Blogueiro: claramente, alguém poderá achar que 81% é pouco, concordamos, poderia ser mais. Mas convêm não esquecer, mesmo no Israel vivem as pessoas que negam o Holocausto judaico. Aos “negacionistas” habituais do Holodomor ucraniano, aconselhamos, habitualmente, as leituras da brochura do Raphael Lemkin (o homem que criou o termo “genocídio”), chamada “Genocídio soviético na Ucrânia” (1953). O documento é disponível em 28 idiomas, incluindo o português: 

“Volte”: amor no tempo da guerra

No dia 16 de novembro na Internet foi apresentada a nova curta ucraniana “Volte”, dedicada às homens e mulheres da Ucrânia, os que defendem a sua Pátria com as armas nas mãos e as que os estão esperando em casa (até hoje o vídeo foi visto por quase 240.000 pessoas).

Os realizadores explicam que o seu trabalho é sobre a força da vontade, a fé e a capacidade de esperar, que nunca acaba. E, no entanto, este é um filme sobre o amor.
 faça click na imagem para ver o vídeo
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“Volte” é o primeiro trabalho no formato de curta-metragem do realizador ucraniano Andriy Kirilov, o resultado pode ser visto no canal do realizador no YouTube. A produtora, autora do texto e voz off, Tata Kepler escreveu o seguinte: Muita coisa queria escrever, mas estou tão nervosa que as letras se misturam na cabeça. Filmamos. É a primeira curta na minha vida. O resultado é muito honesto. Agradeço muito aos que acreditaram em nos e aos quem nos ignoraram. Conseguimos e gostamos do nosso resultado” (fonte).

A realização da curta contou com o apoio das fundações Wings Phoenix e Legião Ucraniana.    

Antitela “Nos Livros”
O grupo ucraniano Antitela (Anticorpos) apresentou o seu novo vídeo musical “Nos Livros”, a história do menino ucraniano que espera pelo pai que não voltou da linha da frente.

Na sua página oficial, o grupo explica por que razão considera o vídeo como um dos mais importantes da história da banda: “ele aprenderá todas as cores, números e letras, terminará a escola e a faculdade. Saberá mais sobre o amor e a amizade, alegria e decepção. Pode se tornar um grande inventor ou um famoso comediante, talvez escreverá um programa importante ou salvará a vida de alguém... Mas nunca conhecerá uma coisa – a voz do pai. A guerra tem muitos significados... Mas não pode justificar as lágrimas das crianças. Nunca!” – diz o vocalista da banda, Taras Topolia.
https://www.youtube.com/watch?v=MdnjXyrjG28 (ver a versão oficial)
A realização do vídeo esteve ao cargo do jovem realizador de Lviv, Volodymyr Shurubura (1983), que conta que se inspirou nos relacionamentos com o seu próprio filho de 6 anos e na obra “Um Mundo Perfeito” do realizador Clint Eastwood, escreve Vidia.org.

Bónus

A blogueira ucraniana Liza Bogutskaya explica popularmente as razões da situação complicada em torno de blocada energética e alimentar da Crimeia, a península ucraniana, temporariamente ocupada pela federação russa: “Então, “irmãos” russos, agora perceberam porque “Khrushev bêbado ofereceu Crimeia à Ucrânia”?