sábado, setembro 30, 2017

OSCE revela o armamento pesado das forças russo-separatistas

No dia 28 de setembro a Missão Especial de Monitoramento da OSCE na Ucrânia (SMM OSCE) detetou e revelou a localização de uma grande base militar das forças russo-separatistas na região de Luhansk, à uma distância de apenas 15 minutos da linha da frente.
Os equipamentos, alguns dos quais nunca estiveram em uso das Forças Armadas da Ucrânia (FAU) foram detectados na localidade de Myrne, fora da zona proibida pelo acordo de Minsk-2, não em armazéns, como preconiza o acordo, mas em prontidão combativa e à uma distância de apenas 30 km da linha da frente.  

No total, o drone da OSCE detetou na base russo-separatista os seguintes equipamentos militares:
Blindados de infantaria (BMP-1 e BMP-2) – 41 unidades;
Morteiros de calibre 120 mm – 9 unidades;
Morteiros de calibre 82 mm – 6 unidades;
Metralhadoras pesadas antiaéreas ZU-23-2 – 4 unidades;
Canhões autopropulsados de 122 mm (2S1 “Gvozdika”) – 4 unidades;
Canhões pesados de 122 mm (D-30) – 6 unidades;
Canhões antitanque de 100 mm (MT-12 “Rapira”) – 6 unidades;
Além disso, foram detetados os rebocadores blindados MT-LB, viaturas de engenharia (de desminagem e de abertura de trincheiras) e camiões:
No total, entre 17 à 23 de setembro de 2017,  a Missão da OSCE observou 283 unidades de equipamentos militares “fora das linhas de retirada, mas fora dos locais de armazenamento e à 15 minutos de condução até a distância de disparos”.
No dia 26 de setembro, as forças russo-separatistas também retiraram a sua guarda armada junto à base da OSCE na cidade ocupada de Horlivka.

Bonus

Recentemente, num artigo de opinião no jornal português “Público”, o deputado do Partido Social-Democrata (PSD), Prof. José Pacheco Pereira, à respeito da problemática da Catalunha tentou manipular a opinião pública portuguesa, nomeadamente, falando sobre “a guerra civil nos Donets”.

As imagens divulgadas pelo drone da OSCE mostram a realidade dessa mesma “guerra civil” em que os equipamentos militares russos, seu combustível e as munições entraram no território ocupado da Ucrânia através da fronteira russo-ucraniana, na sua parte fora do controlo da Ucrânia e sob o controlo total e efetivo da federação russa.
Sua Excia. Embaixadora Inna Ohnivets
As alegações do Prof. Pacheco Pereira rebatidas pela Sua Excia. Dra. Inna Ohnivets, a Embaixadora da Ucrânia em Portugal, num texto intitulado: Sobre o conflito internacional-militar no leste da Ucrânia.   

sexta-feira, setembro 29, 2017

25 anos de GULAG por amar um americano

Em setembro de 1947, a popular atriz soviética Zoya Fyodorova foi condenada aos 25 anos de GULAG por causa da sua ligação amorosa ao adido militar da embaixada americana em Moscovo, o futuro vice-almirante da marinha dos EUA, Jackson Tate.
Jackson Tate e Zoya Fyodorova em 1945 @Wikipédia
Atriz conheceu capitão Tate em 1945 numa recepção oficial e aos 13 de janeiro de 1946 (quando o adido já foi declarado a pessoa non-grata e teve que abandonar a URSS) desta relação amorosa nasceu a futura atriz Victoria Fyodorova (1946-2012). Na época, a legislação soviética proibia aos cidadãos soviéticos de se casar com estrangeiros, por isso, tentando esconder a paternidade, atriz se casou com o compositor Alexander Ryazanov.
Zoya Fyodorova num dos papéis no cinema soviético
Apesar disso, em 27 de dezembro de 1946 Zoya Fyodorova foi detida e após a prisão preventiva nas cadeias de Lyubianka e Lefortovo (onde recebia das autoridades o tratamento bastante desumano e humilhante), foi condenada pela “espionagem” aos 25 anos de prisão severa no GULAG (substituída pela prisão na cadeia central da cidade russa de Vladimir). Entre as hipóteses prováveis deste tratamento todo, dado ao regime soviético à atriz, cita-se a recusa da Zoya Fyodorova de satisfazer os avanços sexuais de todo-poderoso Lavreniy Beria, na altura o chefe máximo do NKVD-MGB. Além disso, o tribunal decidiu o confisco de todos os seus bens e a deportação de todos os seus familiares. A sua irmã Alexandra foi condenada à deportação intemporal junto com os seus filhos (Nina e Yuri) e a sobrinha Victoria; a irmã Maria foi condenada aos trabalhos forçados numa fábrica de tijolos na cidade de Vorkuta, onde morreu em 1952.
Zoya Fyodorova na sua casa na década de 1970 (?)
Zoya Fyodorova foi libertada da cadeia em 1955, já após a morte do Estaline, cumprindo 8 anos de condenação simplesmente absurda, em fevereiro de 1955 ele se reuniu com a filha Victoria e até conseguiu voltar ao cinema, onde nas décadas de 1960-1970 teve vários papéis pequenos, mas marcantes.
Victoria Fyodorova
Em 1976 as autoridades soviéticas deram a permissão para que Zoya Fyodorova visite os EUA, onde ela novamente se reuniu com o seu amado Jackson Tate. Após a morte do Tate em 1978 ela mais duas viajou aos EUA, onde visitou a filha Victoria, que emigrou da URSS em 1975, atriz também tinha planeado deixar a União Soviética para sempre.
A edição americana do livro biográfico da Victoria Fyodorova (1979)
Aos 11 de dezembro de 1981 Zoya Fyodorova foi executada na sua casa no centro de Moscovo com um disparo na nuca da pistola alemã Sauer (a sua filha Victoria não recebeu a permissão do governo soviético de visitar o funeral da mãe). O ex-investigador dos casos particularmente importantes da Procuradoria-geral da URSS (1980-1992), mais tarde advogado, o jurista soviético e russo de origem ucraniana, Vladimir Kalinichenko, considera que a responsabilidade maior na morte da atriz cabe ao Ministro do Interior da URSS de então, Nikolai Shchelokov, que por sua vez se suicidou em dezembro de 1984. O caso do assassinato da Zoya Fyodorova não foi desvendado até hoje...

quinta-feira, setembro 28, 2017

Turismo na Ucrânia: restaurante “Patriot” em Lviv (25 fotos)

Neste verão na cidade de Lviv dois veteranos do batalhão “Donbas” abriram o restaurante Patriot, ambientado ao estilo militar. Muitos dos clientes são veteranos ucranianos da Operação Antiterrorista (OAT) no leste da Ucrânia. Nas paredes estão as armas, bandeiras e divisas das unidades do exército ucraniano (FAU), fotos dos militares, vivos e os que tombaram na defesa da Ucrânia.

02. Os donos são Ostap e Yuriy, ambos passaram pela guerra na Donbas. Yuriy [Antonov] (à direita) por 25 anos viveu em Moscovo, quando começou a guerra — voltou à Ucrânia, se alistou às FAU como voluntário, cumpriu SMO e fez duas missões como profissional. No inferno do cerco de Ilovausk conheceu Ostap [Prots] (à esquerda), um galiciano de gema, natural de Lviv. Após a sua desmobilização, os amigos decidiram abrir o restaurante temático.

03. Pátio em frente do restaurante — as caixas de munições e flores, bem ao estilo do Hemingway no seu romance “Adeus às armas”.

04. Interior do restaurante, numa das paredes as bandeiras das unidades das FAU e morteiro RPG.

05. Encontro dos veteranos, muitos dos que serviram na OAT sentem as dificuldades de se enquadrar na vida civil.

06. Seção de fotografias:

07. As fotos nas paredes tiradas na zona de OAT são deixados pelos clientes.

08. Veterano conversa com a sua namorada. Antes da atual guerra russo-ucraniana os veteranos na Ucrânia eram apenas os velhinhos da II G.M. ou então os que passaram pelo Afeganistão do lado soviético.

09. Mísseis e morteiro antitanque. As escadas do restaurante são feitas de tijolos autênticos de Lviv:

10. A coleção das divisas das diversas unidades das FAU.

11. A caixa de transporte de munição, cheia de estojos vazios.

12. Decoração.

13. Armas usadas na OAT — RPK-74, PPSh e AK-47.

14. Os clientes. Nem todos são veteranos, aparecem as meninas kawai)

15. Interior do restaurante. Brasão de armas da Lituânia e foto do blindado entrincheirado.

16. Colete de infantaria ucraniana:

17. Cliente com RPK-74 nas mãos:

18. Mísseis:

19. A bandeira de uma unidade especial de morteiros do bat Donbas” :

20. Medalha militar:

21. Bar com logótipo do restaurante.

22. Pinup ucraniana:

23. Fotos:

Fotos @Pierre Corm | Texto Maxim Mirovich

Endereço e contactos:
A entrada principal ao restaurante
Cidade de Lviv, rua Petró Doroshenko № 7 (seguir o restaurante no Facebook).
Ver mais @fotos

quarta-feira, setembro 27, 2017

Mitos sobre Estaline adorados pela esquerda totalitária

Estalinismo, ativamente fomentado em alguns países do espaço pós-soviético e outras paragens, se baseia na mitologia do culto de personalidade do ditador que é visto pelos seus fãs como um habilidoso inteligente, génio militar e geralmente um bom chefão. A história de milhões de vidas, por ele arruinadas, é silenciada ou é justificada como “sacrifícios necessários”.

Na verdade, Estaline não era nem inteligente, nem um génio militar – apenas um homem mau e cruel que chegou ao poder derramando o sangue e assim governou até a sua morte.

1. Mito que camarada Estaline era «um grande cientista»

Camarada Estaline não terminou o seminário teológico (que em si não era o topo da instituição educacional da época), após disso, todo o seu tempo livre o jovem Koba gastava nas atividades criminosas (assaltava as estações dos correios) e depois nas ações e na sua carreira dentro do partido bolchevique. Apesar de todo o seu declarado “confronto com a religião”, o camarada Estaline era uma pessoa profundamente religiosa (no sentido mau/ruim da palavra) – ele dividiu todas as pessoas em dois grupos e acreditava firmemente que todas as “pessoas boas” deveriam entrar num lugar mágico chamado “comunismo” (análogo ao paraíso), e todos os “maus” deveriam ser punidos e exterminados.
Estaline criou um “marxismo-leninismo” primário, vulgarizando o marxismo leninista na medida em que o próprio Lenine vulgarizou o marxismo dito clássico. Estaline tentou, de forma sofrível, colocar toda a diversidade do mundo no quadro da “luta de classes”, que segundo ele, apenas se intensificava no caminho ao “socialismo real”. Nas suas obras, ditador soviético defendia que após destruir todos os “kulaks e exploradores”, a URSS viverá otimamente, enquanto isso o país ficava cada vez mais atrasado em relação ao mundo desenvolvido, em grande parte porque uma grande parte da intelligentsia, que não concordava com as ideias do Estaline foi simplesmente exterminada.

A imagem do “Estaline formado” era diligentemente criada pela propaganda soviética – houve tempo em que no Kremlin, à noite, era ligada a luz numa das janelas, afirmando que ali o camarada Estaline estava lendo e trabalhando. Quando ele terminar, país viveria, certamente, como se fosse no comunismo.

2. Mito que «apenas graças ao génio do Estaline a URSS venceu na II G.M.»

Se a URSS estivesse realmente se preparando para uma guerra defensiva (e não à uma “pequena [guerra] vitoriosa no território estrangeiro”), então, no verão de 1941, Hitler não teria chegado às portas de Moscovo e Leninegrado. Estaline pessoalmente é responsável pela decapitação da estrutura de comando supremo do RKKA na década de 1930 e despreparação absoluta à guerra defensiva, em parte por esta razão, no verão de 1941 a URSS sofreu perdas tão terríveis em pessoal e meios.
As suas ações nos anos subsequentes também estavam longe de ser ideais, as táticas soviéticas continuavam se basear em “capturar as colinas e cidades ao qualquer custo”, criando as enormes baixas nas suas forças armadas. Oficialmente, a URSS perdeu na II G.M. 27 milhões de pessoas, embora recentemente apareceram os novos dados que apontam para 41 milhões – dos quais 19 milhões eram militares do Exército Vermelho.

Nunca existiu no Estaline nenhum “génio militar”. Os diversos autores soviéticos chamaram Estaline, nas páginas dos seus diários e obras não publicadas de “canalha generoso”, devido ao facto de que todas as vitórias militares soviéticas eram alcançadas à custa de perdas humanas colossais.

3. Mito de «respeito pela URSS na era Estaline»

Este respeito simplesmente não existia – a União Soviética era vista como um perigoso marginal do bairro, preferindo não o irritar e, de tempos em tempos, tentando o chamar à razão. No final da década de 1920 e início dos anos 1930, o Ocidente ainda olhava com algum interesse no que estava acontecendo na URSS, mas depois do início das repressões e das “purgas” em massa, e principalmente quando s realidade soviética foi descrita por proeminentes pensadores, como Bertrand Russell – tudo ficou mais claro.
Os estalinistas gostam do mito em que Estaline supostamente foi elogiado pelo Churchill – alegadamente no seu discurso no Parlamento britânico em 21 de dezembro de 1959, ele chamou Estaline de “um génio que liderou a Rússia nos anos de provações mais difíceis”. Este discurso é um simples fake, na edição completa dos discursos de Churchill (publicada na enciclopédia Britannica), não existe o tal “discurso”. Em geral, este discurso não poderia existir dado que em 1959 o parlamento britânico se reuniu na sessão plenária em 17 de dezembro, e a próxima reunião foi agendada apenas em 26 de janeiro de 1960.

A URSS era encarada como uma ditadura perigosa e tóxica, sem liberdades e direitos humanos mais elementares, e todas as suas “realizações e feitios” eram direcionadas apenas à esfera militar e, como consequência, em expansão da sua influência e do seu território.

4. Mito que «Estaline era um altruísta absoluto»

Em todos os seus textos, estalinistas repetem a máxima que quando Estaline morreu, deixou apenas as suas botas, cachimbo, uniforme, alguns objetos pessoais sem valor e nenhuma poupança. É sempre servido juntamente com a frase: “olham aos oligarcas modernos, quanto eles roubaram”, etc.
Naturalmente surge uma pergunta – para que precisava do dinheiro a pessoa que já possuía o país inteiro em regime de uma ditadura absoluta? Ele simplesmente não precisa do dinheiro – fazia o que queria, pois não existia na URSS nenhum poder que o controlasse minimalmente que seja. Além disso, Estaline vivia em mansões e apartamentos com criados, usava as casas de campo e limusines com motoristas pessoais, comia os melhores alimentos e bebia melhores bebidas alcoólicas, era protegido 24/24 horas por vários batalhões do NKVD.

O camarada Estaline custava ao estado soviético milhões de rublos por ano, o que ele não pagava, pois simplesmente era o criador deste sistema. O fato de que ele “nunca pagou nada em dinheiro” significa apenas que ele estava completamente fora do controlo, fazendo tudo o que queria, usando ao seu belo prazer o dinheiro do orçamento do Estado.

5. Mito que «Estaline recebeu a Rússia com arado e deixou com uma bomba atómica»

A frase também atribuída ao Churchill no mesmo “discurso no Parlamento” – que nunca tinha acontecido. O autor da citação compara coisas incomparáveis, criando uma falsa aparência de algum tipo de “progresso” soviético. As bombas atómicas que apareceram na URSS não tiveram nada a ver com a qualidade de vida dos cidadãos – os camponeses que estavam arando com arado – continuavam a arar. E não apenas com um arado, mas com um arado puxado pela vaca – já que muitas vezes aos camponeses kolkhozianos era proibido ter o seu próprio cavalo, algo considerado como “sinal de riqueza”.
Nas cidades soviéticas eram construídos os novos apartamentos mais confortáveis, conhecidos como “stalinkas” e destinados à nomenclatura estatal e partidária, e nas aldeias havia uma pobreza terrível e falta absoluta de direitos – os camponeses não possuíam documentos de identificação até a década de 1960 [para impedir a sua fuga do interior] e, de fato, eram escravos estatais. Os mesmos escravos eram trabalhadores fabris – não tinham direitos, não possuíam sindicatos livres e podiam expressar suas opiniões apenas no âmbito do “modelo socialista de construção estatal”.

Nos comentários os nossos queridos leitores pode escrever que outros mitos sobre Estaline conhecem, de repente algum foi esquecido.

Foto @GettyImages | Texto Maxim Mirovich e [@Ucrânia em África]

Bónus

O historiador russo, de origem ucraniana, Oleg Khlevniuk, grande conhecedor da época estalinista descreve este período de seguinte forma:

“— A era Estaline foi o terror em massa. [...] A maioria absoluta dos prisioneiros eram pessoas comuns. A falta de proteção social. Numa população de 170 milhões de pessoas antes da II G.M., na URSS havia apenas 4 milhões de reformados/pensionistas. Somente pessoas selecionadas receberam a reforma/pensão. Nas vésperas da morte de Estaline cada cidadão soviético possuía 4,5 metros quadrados de espaço vital. Ou seja, num qualquer quarto de 18 m², viviam quatro pessoas. Durante todo o período do governo de Estaline, desde final da década de 1920 à 1953, não houve um único ano em que não houve fome. Houve períodos de fome em massa – como em 1932-1933, 1936, 1946 -1947, mas, além disso, todos os anos, pelo menos em alguma região havia fome. E o deficit de alimentos (para não falar dos produtos manufaturados) era um companheiro constante da maioria da população do país” (fonte).

Paloma Faith filma “Crybaby” em Kyiv

A cantora britânica Paloma Faith apresentou o seu novo vídeo musical “Crybaby” (Chorona), filmagens do qual decorreram na cidade de Kyiv na Ucrânia.
imagem @YouTube
As imagens, depreciando uma sociedade distópica orweliana mostram o Museu Nacional da História da Ucrânia na II Guerra Mundial e o famoso monumento da “Mãe – Pátria”, situado no espaço daquele Museu.
As obras monumentais são exemplos do estilo realismo socialista na arquitectura, ambas frutos do fim de era Brejnev, construídos em Kyiv às pressas, para agradar o líder comunista soviético, cuja visita à cidade era programada em 1983.

Bónus
foto @Google+
O nosso querido leitor brasileiro, Paulo “Sexy Nerd” Tartano acredita que “russofobia rola solta por aqui”, pois na sua visão “os países bálticos por séculos forma parte do império russo” (ortografia do original). Bem, querido Paulinho, Angola, Brasil ou Moçambique por séculos formavam parte do império ultramarino português. O que não os impediu de se tornar independentes. E imagine só, este facto histórico hoje não é visto como exemplo de qualquer “lusofobia” ;-)

terça-feira, setembro 26, 2017

Como União Soviética anexou e ocupou Estónia (33 fotos)

Em 1940 a União Soviética ocupou e anexou Estónia. Em 1944, expulsou do país os nazis para de seguida se “esquecer” de sair da Estónia, até a sua independência plena em 1991.

01. A primeira etapa da anexação da Estónia ocorreu em 1939-1940 – o governo da URSS, através de pressão, ameaças e chantagem, conseguiu a permissão dos estónios de criação no país de bases de um grande contingente militar soviético. De facto, era início do fim da Estónia como um país independente.

Em 16 de maio de 1940, Molotov apresentou ao embaixador da Estónia em Moscovo o ultimato em que Estónia foi acusada de violar o “pacto de não-agressão de 1932”, por concordar com a entrada da Lituânia na União defensiva Estónia-Letã. Além disso, o governo soviético exigiu o consentimento estónio para a entrada de mais tropas soviéticas, alegadamente para “impedir os atos provocativos contra as bases soviéticas”.
No dia 17 de junho de 1940, nas margens estónios do Mar Báltico, desembarcaram os fuzileiros navais soviéticos, ao mesmo tempo em Tallinn entraram as colunas dos blindados e de infantaria do RKKA. Na foto acima – a rua Harju na cidade velha de Tallinn, em 1940 a via foi usada pelos tanques soviéticos.

02. A rua Harju é uma das mais antigas de Tallinn e, ao mesmo tempo, uma das mais danificadas durante a II Guerra Mundial. Muitos edifícios que cederam nos combates não foram reconstruídos, os edifícios novos, construídos no seu lugar possuem um estilo arquitectónico bastante diferente do edifícios históricos da rua.
A entrada do contingente de tropas soviéticas 77 anos atrás na realidade não procurava defender as suas bases militares, mas a pretendia efetuar a eliminação total da independência da Estónia. A primeira coisa que as novas autoridades fizeram foi a proibição das assembleias populares e, de seguida, em 24 horas, foi afetuada a apreensão total e absoluta de armas de fogo, pertencentes aos cidadãos.

03. Simultaneamente, os ocupantes liquidaram a autoridade suprema da autonomia estónia, o seu parlamento. O Parlamento tradicionalmente se situava no edifício de Riigikogu, especificamente construído em 1920-1922. O prédio foi ocupado, após o que as novas autoridades soviéticas anunciaram a data das “novas eleições” – 14 de julho de 1940. No período entre a ocupação soviética e as novas “eleições”, o país, de facto foi gerido pela embaixada soviética em Tallinn.
As próprias eleições eram uma farsa. Os cidadãos participantes na votação recebiam um carimbo especial no passaporte, e o boletim era colocado na urna mão pelo eleitor, mas por um membro pró-soviético da comissão eleitoral – ou seja, não houve a eleição secreta. Os candidatos de partidos não comunistas não podiam participar nas eleições, e o partido pró-soviético “União dos Trabalhadores” recolheu 92,8% dos votos. 
Comunistas estónios: "Viva Estaline, Molotov e todo Exército Vermelho"
Assim, o “o povo estoniano entrou voluntariamente e honestamente na família dos povos soviéticos”, ninguém duvidou disso.

04. É de notar um detalhe muito importante: a ocupação armada soviética aconteceu mesmo que o governo estoniano concordou com o ultimato da URSS e estava pronto satisfazer todas as suas condições. Mas a liderança da União Soviética já tinha tomado a a decisão de invadir Estónia e o ultimato do Molotov era uma mera formalidade. Antecipadamente, as tropas do NKVD foram preparadas para receber entre 45 à 70 mil prisioneiros, e o exército soviético estava se preparando para atravessar a fronteira.
Na foto acima – o Castelo de Toompea, cujo complexo inclui o edifício do parlamento da Estónia. Em julho de 1940, a bandeira vermelha foi hasteada na torre mais alta do castelo chamada “Alto Herman”.

05. Logo após a entrada das unidades do RKKA em Tallinn e outras cidades da Estónia, no país entraram as unidades do NKVD, que iniciaram a “limpeza” e deportação de todos os cidadãos que as autoridades soviéticas consideravam como “desleais”. No centro de Tallinn, na rua Toompea, se pode visitar um edifício de vidro chamado Museu de Ocupação, onde se pode conhecer estes eventos mais detalhadamente.
O museu é dedicado às várias ocupações – a primeira ocupação soviética de 1940, a ocupação alemã entre 1941 e 1944 e a segunda ocupação soviética entre 1944 e 1991. Surpreendentemente, nenhum alemão protesta, na Internet ou nas redes sociais, contra a existência do museu, já os diversos usuários russos escrevem algo como “apenas um idiota completo poderia criar o tal lugar”.

06. Os tais “idiotas perdidos” contam, por exemplo, como decorriam as deportações soviéticas na Estónia – na maioria das vezes deportavam as pessoas alvos de uma denúncia, ou aqueles que simplesmente eram considerados “desleais”, após um julgamento curto eram enviados aos distantes cantos asiáticos da URSS. Era permitido levar apenas uma única mala, que os deportados tentavam preencher o máximo possível, já que muitas vezes as pessoas eram literalmente atiradas dos comboios/trêm de deportações nos campos abertos.
Essas pequenas malas, que se tornaram praticamente impossíveis de carregar – tornaram-se parte do design de entrada do museu.

07. Os painéis que contam sobre o museu são feitos de alguns cartazes de propaganda soviética.

08. As mesmas malas, mas já reais, podem ser vistas no próprio museu. Com uma dessas malas (na melhor das hipóteses), o deportado era desembarcado em algum inóspito nas estepes do Cazaquistão ou na região dos Urais.
As repressões de massa começaram em 6 de novembro de 1940, quando Moscovo aprovou um decreto para que os “crimes” cometidos nos estados bálticos antes da sua ocupação sejam julgados de acordo com a legislação soviética. A lei recebeu o efeito retroativo – se cidadão viver na Estónia antes de 1940 e fosse acusado de ser “burguês” sob as leis soviéticas, então era julgado por isso.


09. Antes da anexação da URSS, Moscovo promoveu e apoiou os comunistas estónios locais, do partido “União do Povo Trabalhador”, a base do novo parlamento após a ocupação. Após a anexação tanto aos quadros do novo “parlamento independente”, quanto de cidadãos estónios foram surpreendidos pelos planos da URSS em anexar a Estónia na União Soviética, acabando de vez com a sua independência, naturalmente antes de 1940 ninguém falou sobre isso.
Em 21 de julho, na presença de militares soviéticos (Sic!), o parlamento “votou unanimemente” para que a Estónia se junte à URSS. No mesmo dia, o presidente Konstantin Päts foi forçado à apresentar a sua demissão, sendo deportado para região russa de Bashkortostão [em 1942 foi colocado no hospital psiquiátrico da prisão de Kazan sem nenhuma acusação formal; somente em 1952, Konstantin Päts foi condenado aos 25 anos de prisão com confisco de todos os bens, morreu em 18 de janeiro de 1956 em uma clínica psiquiátrica na Rússia Soviética].
Konstantin Päts presidente
e prisioneiro de NKVD em 1941
É muito importante entender como a URSS atuou na anexação de territórios estrangeiros – primeiro uma declaração sobre “perseguições” e uma declaração com desejo expresso de colocar no país as suas tropas. Então, com a ajuda de simpatizantes locais, é criado um “governo” supostamente “independente”, leal à URSS, que, com a “ajuda e apoio” de militares soviéticos, toma o poder. Depois disso, se realiza o controlo direto do país e todos aqueles que têm tempo para se surpreender são fuzilados ou deportados para GULAG.

10. Museu de ocupação tem na sua exposição diversos objetos do quotidiano soviético, pertencentes aos diversos estágios da sovietização da Estónia. Aqui, por exemplo, são reunidos as placas dos quartéis do exército soviético, que estavam localizados no território da recém-criada Estónia Soviética.

11. A edição soviética pós II G.M. do manual de censura intitulado “A lista de informações proibidas à publicação pública”. A informação proibida incluía, por exemplo, as estatísticas reais nas áreas de cultura e economia, qualquer informação recebida fora dos “órgãos oficiais da imprensa soviética”. A distribuição de edições de samizdat era sancionada com a prisão efetiva.

12. O stand dedicado ao início dos anos 1980 e à Perestroika – o retrato de Leonid Brejnev, cartões de racionamento de alimentos, moeda-papel soviética e um uniforme de combate usado pelo Exército Soviético no Afeganistão com um conjunto completo de emblemas do pára-quedista (geralmente eram cinco) e algumas condecorações militares. Acima do exposto é colocada a pergunta simples: para que os estónios precisariam tudo isto?

13. As portas das celas de prisão, onde eram mantidos os prisioneiros políticos.

14. Olho da porta. Era usado pelos guardas para verificar se os prisioneiros estavam mantendo o regime da detenção – por exemplo, em algumas celas era proibido de se deitar durante o dia, os prisioneiros podiam apenas ficar de pé ou sentar.

15. A exposição mostra o equipamento de espionagem, que foi amplamente utilizado para escutas telefónicas dos cidadãos “não confiáveis”, e também para monitorar cidadãos estrangeiros que chegavam à Estónia Soviética.

16. O equipamento era instalado, regra geral, em uma sala especial em um grande hotel – geralmente um agente do KGB estava permanentemente presente, mantendo os registos das conversas mantidas.

17. Um desses hotéis é atual e moderno “Sokos”, que na época soviética era chamado de “Hotel Viru”. Os estrangeiros eram alojados nos andares superiores sob o pretexto de supostamente obterem “uma bela vista da cidade”, na realidade, nestes andares eram instalados os dispositivos de escutas.

18. São os tais andares superiores nos quais KGB realizava as escutas e vigilância. Todos os dispositivos de escuta estavam escondidos e colocados nos quartos, ainda durante a construção do hotel.

19. O principal período de repressão e diversas “purgas” em massa contra os dissidentes ocorreram na Estónia na década de 1940-50. Entre a data de ocupação soviética até o verão de 1941, cerca de 9.500 estónios foram presos e deportados ao GULAG, várias centenas foram executadas. Para a pequena Estónia foi uma grande tragédia – na verdade, foi exterminado todo o estrato cultural da intelectualidade estónia. Aqueles que não foram exilados — foram silenciados.
Na rua Pagari № 1 em Tallinn está situado um grande edifício antigo, construído em 1912 – durante a ocupação soviética nas caves deste prédio estava situada uma prisão do NKVD, e mais tarde do KGB.

20. No interior da cave existem as portas duplas, são originais desde então – a primeira porta da rua, dissimula o complexo em forma de uma cave comum. A segunda, interna – são enormes portas de prisão, trancadas com trincos ferrolhos pesados.

21. Mais recentemente, as caves da prisão do KGB da Estónia foram abertas ao público em forma de visitas gratuitas – antes disso, as instalações estavam simplesmente fechadas.

22. A prisão propriamente dita funcionou aqui de 1940 à 1959. Essa era aparência de uma cela prisional:

23. Uma outra cela. Aparentemente, os ferros na parede seguravam o segundo nível de beliches dos prisioneiros.

24. Lavatório enferrujado:

25. Em algumas celas se pode ver a exposição dos retratos de pessoas que foram vítimas de repressões soviéticas nestas mesmas paredes – muitos dos que foram levados pelos oficiais de NKVD / KGB nunca mais voltaram deste lugar.

26. As portas das celas.

27. Corredor prisional.

28. Cela de interrogações.

29. Nos pisos superiores da casa № 1 na rua Pagari, estão ligadas as luzes – agora é um prédio habitacional. Será que eles sabem o que já estava localizado na cave de sua casa? Seguramente nem todos.

30. A pedra da última foto, de fato, marca o fim de ocupação soviética soviético da Estónia – 20 de agosto de 1991, a pedra protegia a entrada do Conselho Supremo da Estónia Soviética, que decidiu restaurar a independência.
Ironicamente, a pedra está no mesmo lugar, pisado em 1940 pelos tanques soviéticos.

Fotos @Maxim Mirovich e Internet | Texto Maxim Mirovich e [@Ucrânia em África]

Blogueiro: os argumentos preferenciais de esquerda mais ou menos totalitária e dos saudosistas do império russo/soviético tentam desculpar a ocupação soviética pela necessidade de “salvar Estónia dos nazis” e “se não for URSS, vocês ainda hoje falassem alemão”. Quando se questiona por que a ocupação decorreu em 1940, quando URSS e Alemanha nazi eram aliados e porque a URSS ficou no país após 1944, geralmente não há respostas...

E vocês, queridos leitores do nosso blogue, o que acham desta história soviética?