quarta-feira, agosto 29, 2018

Orest, o Polaco, que defende Ucrânia na linha da frente na Donbas

Antes de completar os seus 18 anos, o cidadão polaco/polonês Orest se mudou para Ucrânia. Com início da guerra russo-ucraniana na Donbas, ele pediu a nacionalidade ucraniana e se alistou no exército da Ucrânia (FAU), para defender a terra dos seus antepassados, escreve a publicação ucraniana Novynarnia.com

por: Anastasia Fedchenko, região de Donetsk, fotos da autora

Orest tem vergonha de usar o capacete. Diz, com os risos, que as suas orelhas ficam fora dele. Ele tem olhos castanhos, é baixo, magro e muito jovem.
O 1º soldado Orest observa com atenção as posições inimigas num dos pontos ucranianos avançados nos arredores de Avdiivka. A vila é defendida pela sua 92ª Brigada mecanizada das FAU: “dois deles foram para algum lugar, então a atenção deve ser redobrada”, explica Orest.

Ele acordou nesta manhã devido ao fogo de franco-atirador inimigo que alvejava as posições ucranianas. A sua unidade conhece as posições dos terroristas, mas não respondem à provocação [mais um cessar-fogo entrou em vigor desde o dia 29 de agosto]. Os militares ucranianos respondem apenas quando o inimigo dispara durante muito tempo e de forma consistente.

Orest é um polaco/polonês. Sua mãe é ucraniana, o pai é polaco/polonês. O jovem nasceu na Polónia, praticamente não falava ucraniano. Depois quis se mudar para Ucrânia, para a casa da sua avó em Lviv. Conta que primeiro ficou com medo da barreira da língua. Embora sendo duas línguas bastante semelhantes, Orest tinha receio de errar e se envergonhar. Então, começou estudar a língua.

Quando começou a guerra russo-ucraniana, ele quis ir para a linha da frente/front. Era um estrangeiro, só poderia entrar num batalhão voluntário. Mas decidiu esperar até receber a cidadania ucraniana. Levou alguns meses, durante os quais Orest aprendeu bem a língua e as tradições ucranianas – ajudaram os seus amigos ucranianos que ele conheceu na Polónia.

Logo que recebeu a cidadania ucraniana, assinou o contrato com as FAU. Tinha apenas 18 anos. Os pais nada sabiam da sua escolha. Orest disse-lhes que foi estudar num colégio militar. Quando falava com os pais pelo telefone, explicava os tiros, dizendo que estão em exercícios militares.

Um dia, quando eles falavam, começou um bombardeio pesado, Orest teve que desligar o telefone e ligou aos pais apenas uma semana depois. Eles perceberam tudo. Não ficaram felizes com a sua decisão, especialmente o pai, mas aceitaram a sua escolha.

Se expressando propositadamente em polaco/polonês, Orest explica que ama Ucrânia e muito: “este é um país digno pelo qual se deve lutar. Se não pararmos o inimigo aqui, este irá até Kharkiv, depois para Kyiv, Zhytomyr, Lviv. Ninguém quer disso, então precisamos estar aqui. E nós não entregaremos a nossa terra, não importa como os russos a desejarem. Nenhum de nos irá embora”.

Segundo Orest, os ucranianos são muito gentis e patrióticos: “estou impressionado com o seu núcleo interior. Por exemplo, meus irmãos de armas. Fosse o que fosse, não importa o fogo inimigo, eles só riem e não deixam as posições”.

Às vezes ele usa sua língua nativa: grita em polaco/polonês em direção das posições próximas do inimigo, às vezes fala em polaco/polonês na rádio. Ele se diverte com a crença cega do inimigo que pela Ucrânia lutam as “legiões da NATO/OTAN” [...]
Os comandantes da unidade, na qual o jovem serve, falam dele como um combatente corajoso, inteligente e responsável.

O seu contrato com as FAU termina em novembro de 2018, e Orest já tem planos claros para o futuro: “Após a desmobilização, quero me tornar um instrutor no campo de treino/treinamento de Yavoriv, para treinar jovens (quando um soldado de 21 anos diz a palavra “juventude”, isso provoca o sorriso do seu interlocutor). Espero que possa ensinar-lhes algo de útil. Do resto, à ver veremos”, – diz ele.

Em nenhum momento Orest lamentou de sua decisão de se mudar para a Ucrânia e lutar pelo país. Perdeu a nacionalidade polaca/polonesa, e nem se preocupa de saber se terá o direito de recupera-la.
Orest e Anastasia Fedchenko
Eu amo Ucrânia, – sorri o menino, – e viverei aqui”.

Blogueiroa história do Orest é muito interessante, principalmente, comparada com a dos brasileiros do grupo Lusvarghi, que vieram à Ucrânia de tão longe para “combater o imperialismo americano” ou para lutar “contra os banqueiros judeus”. Já Orest veio defender a terra dos seus antepassados, sabendo que se o inimigo não for parado na Donbas, certamente, tentará avançar mais, tal, como alias, eram os seus planos da primavera de 2014. Também é interessante a reação dos pais do Orest, como as pessoas normais, eles não ficaram felizes de ver o filho à entrar numa guerra. Posição que contrasta, e muito, com as famílias dos mercenários brasileiros, que dizem, sentir “orgulho” da escolha dos filhos, que sacrificaram a decência das suas vidas para sempre, viajando milhares de quilómetros, apenas para matar os ucranianos e destruir as infra-estruturas da Ucrânia ao troco de uma ideia absolutamente vaga de uma luta imaginária “antiamericana”, “anti-sionista” ou “antinazi”, algo que nem sequer existe na realidade das trincheiras do leste ucraniano...

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