Antes
de completar os seus 18 anos, o cidadão polaco/polonês Orest se mudou para
Ucrânia. Com início da guerra russo-ucraniana na Donbas, ele pediu a nacionalidade
ucraniana e se alistou no exército da Ucrânia (FAU), para defender a terra dos
seus antepassados, escreve a publicação ucraniana Novynarnia.com
por:
Anastasia Fedchenko, região de Donetsk, fotos da autora
Orest
tem vergonha de usar o capacete. Diz, com os risos, que as suas orelhas ficam
fora dele. Ele tem olhos castanhos, é baixo, magro e muito jovem.
O
1º soldado Orest observa com atenção as posições inimigas num dos pontos
ucranianos avançados nos arredores de Avdiivka. A vila é defendida pela sua 92ª
Brigada mecanizada das FAU: “dois deles foram para algum lugar, então a atenção
deve ser redobrada”, explica Orest.
Ele
acordou nesta manhã devido ao fogo de franco-atirador inimigo que alvejava as posições
ucranianas. A sua unidade conhece as posições dos terroristas, mas não respondem
à provocação [mais um cessar-fogo entrou em vigor desde o dia 29 de agosto]. Os
militares ucranianos respondem apenas quando o inimigo dispara durante muito
tempo e de forma consistente.
Orest
é um polaco/polonês. Sua mãe é ucraniana, o pai é polaco/polonês. O jovem
nasceu na Polónia, praticamente não falava ucraniano. Depois quis se mudar para
Ucrânia, para a casa da sua avó em Lviv. Conta que primeiro ficou com medo da
barreira da língua. Embora sendo duas línguas bastante semelhantes, Orest tinha
receio de errar e se envergonhar. Então, começou estudar a língua.
Quando
começou a guerra russo-ucraniana, ele quis ir para a linha da frente/front. Era
um estrangeiro, só poderia entrar num batalhão voluntário. Mas decidiu esperar
até receber a cidadania ucraniana. Levou alguns meses, durante os quais Orest
aprendeu bem a língua e as tradições ucranianas – ajudaram os seus amigos
ucranianos que ele conheceu na Polónia.
Logo
que recebeu a cidadania ucraniana, assinou o contrato com as FAU. Tinha apenas
18 anos. Os pais nada sabiam da sua escolha. Orest disse-lhes que foi estudar
num colégio militar. Quando falava com os pais pelo telefone, explicava os
tiros, dizendo que estão em exercícios militares.
Um
dia, quando eles falavam, começou um bombardeio pesado, Orest teve que desligar
o telefone e ligou aos pais apenas uma semana depois. Eles perceberam tudo. Não
ficaram felizes com a sua decisão, especialmente o pai, mas aceitaram a sua
escolha.
Se
expressando propositadamente em polaco/polonês, Orest explica que ama Ucrânia e
muito: “este é um país digno pelo qual se deve lutar. Se não pararmos o inimigo
aqui, este irá até Kharkiv, depois para Kyiv, Zhytomyr, Lviv. Ninguém quer disso,
então precisamos estar aqui. E nós não entregaremos a nossa terra, não importa
como os russos a desejarem. Nenhum de nos irá embora”.
Segundo
Orest, os ucranianos são muito gentis e patrióticos: “estou impressionado com o
seu núcleo interior. Por exemplo, meus irmãos de armas. Fosse o que fosse, não
importa o fogo inimigo, eles só riem e não deixam as posições”.
Às
vezes ele usa sua língua nativa: grita em polaco/polonês em direção das
posições próximas do inimigo, às vezes fala em polaco/polonês na rádio. Ele se
diverte com a crença cega do inimigo que pela Ucrânia lutam as “legiões da
NATO/OTAN” [...]
Os
comandantes da unidade, na qual o jovem serve, falam dele como um combatente
corajoso, inteligente e responsável.
O
seu contrato com as FAU termina em novembro de 2018, e Orest já tem planos
claros para o futuro: “Após a desmobilização, quero me tornar um instrutor no
campo de treino/treinamento de Yavoriv, para treinar jovens (quando um soldado
de 21 anos diz a palavra “juventude”, isso provoca o sorriso do seu
interlocutor). Espero que possa ensinar-lhes algo de útil. Do resto, à ver
veremos”, – diz ele.
Em
nenhum momento Orest lamentou de sua decisão de se mudar para a Ucrânia e lutar
pelo país. Perdeu a nacionalidade polaca/polonesa, e nem se preocupa de saber
se terá o direito de recupera-la.
Orest e Anastasia Fedchenko |
“Eu
amo Ucrânia, – sorri o menino, – e viverei aqui”.
Blogueiro: a história do Orest é muito interessante, principalmente, comparada com a dos brasileiros
do grupo Lusvarghi, que vieram à Ucrânia de tão longe para “combater o
imperialismo americano” ou para lutar “contra os banqueiros judeus”. Já Orest
veio defender a terra dos seus antepassados, sabendo que se o inimigo não for
parado na Donbas, certamente, tentará avançar mais, tal, como alias, eram os seus
planos da primavera de 2014. Também é interessante a reação dos pais
do Orest, como as pessoas normais, eles não ficaram felizes de ver o filho à entrar
numa guerra. Posição que contrasta, e muito, com as famílias dos mercenários
brasileiros, que dizem, sentir “orgulho” da escolha dos filhos, que sacrificaram
a decência das suas vidas para sempre, viajando milhares de quilómetros, apenas
para matar os ucranianos e destruir as infra-estruturas da Ucrânia ao troco de
uma ideia absolutamente vaga de uma luta imaginária “antiamericana”, “anti-sionista”
ou “antinazi”, algo que nem sequer existe na realidade das trincheiras do leste
ucraniano...
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