A
Igreja Greco-Católica
Ucraniana foi prescrita e dissolvida pelo regime soviético em março
de 1946. Durante 43 anos serviu os fiéis na clandestinidade e foi novamente
reconhecida, pelas autoridades, ainda soviéticas, somente em 1989.
No
entanto, as autoridades comunistas da Ucrânia Soviética não desejavam entregar
à igreja os seus bens, que por decisão do poder soviético foram ocupadas, desde
1946, pela Igreja Ortodoxa russa (IOR). O que levava às situações da grande
tensão, principalmente na Ucrânia Ocidental, onde os greco-católicos contavam
com até 5 milhões de fiéis.
Em
15 de outubro de 1989, à cidade de Lviv voltou do exílio imposto Yuriy
Shukhevch, filho do comandante do Exército Insurgente da Ucrânia (UPA)
general Roman
Shukhevych, que passou cerca de 31 anos da sua vida nas cadeias e campos de
concentração soviéticos. Pela culpa única de ser filho do seu pai, algo que as
autoridades soviéticas não lhe queriam perdoar...
Yuriy Shukhevch (1933), foto de 2012 |
No
dia 29 de outubro de 1989 os greco-católicos ucranianos recuperaram em Lviv a Igreja de Transfiguração
do Cristo, pertencendo-lhes desde 1906, a tornando a primeira igreja
recuperada desde à ida à clandestinidade. Todos entendiam que o passo seguinte
é a recuperação da Catedral
de São Jorge em Lviv, o principal santuário dos greco-católicos ucranianos da
época.
O
poder legislativo local (já dominado pelas forças democratas ucranianas) não se
pronunciava sobre a matéria. Até que no Natal de 1990, a liderança local da IOR
fechou a Catedral, colocando na sua entrada um grupo de babuchkas ortodoxas, que recebiam a tarefa de fazerem muito barulho
quando os ucranianos se aproximassem ao local.
Embora
o poder local prometeu entregar a catedral de São Jorge aos donos legítimos,
não se apressava na decisão prática. O chefe do conselho legislativo da região
de Lviv, ex-dissidente soviético Viacheslav Chornovil
estava propondo a ideia de uma espécie de referendo absurdo, em que cada localidade
da Galiza Ucraniana pudesse decidir à quem deveria pertencer essa ou aquela
igreja, construída e paga pelos fieis greco-católicos.
O
poder comunista da Ucrânia Ocidental estava claramente decidido de impedir o
renascimento da Igreja Greco-Católica, apoiando, para o efeito a Igreja
Ucraniana Autocéfala (UAPC), considerando esta de “mal menor”.
O
primeiro plano da recuperação da Catedral da São Jorge foi traçado em junho de 1990,
usando as forças de jovens greco-católicos, pertencentes à irmandade de São
Volodymyr e à SNUM.
Os ativistas localizaram um mestre em abertura de fechaduras, que fazia este
ofício de forma legal, chamado pelas autoridades estatais sempre que acontecia
alguma situação de emergência com as fechaduras mais complexas, como as portas
dos bancos ou caixas fortes. O mestre, Sr. Volodymyr Volynets, assegurou
que apareceria à primeira chamada à qualquer hora quando forem precisos os seus
serviços.
Metropolita Volodymyr Sterniuk (1907-1997) |
Num
dos dias de junho de 1990, reunindo um grupo de fiéis de cerca de 150 pessoas,
os crentes greco-católicos, liderados pelo Yuriy
Shukhevch, vieram à Catedral, decididos tomá-la à força. No entanto, eles receberam
o pedido de Metropolita greco-católico Volodymyr Sterniuk (1907-1997) para não avançar. Uma delegação da igreja ucraniana viajaria à Roma para visitar o
Papa João Paulo II, e as autoridades soviéticas poderiam impedir a viagem, em
retaliação contra a recuperação a Catedral. Ação foi adiada para uma data
incerta.
Em
agosto de 1990, Lviv recebeu o Congresso Médico e próprio Yuriy
Shukhevch foi informado que KGB sabia das suas intenções de recuperar a
Catedral de São Jorge.
О lançamento da primeira pedra na construção de uma nova igreja greco-católica ucraniana dos Santos São Volodymyr e Olga em Lviv |
No
dia 12 de agosto, na cidade de Lviv foi programado o lançamento da primeira
pedra na construção de uma nova igreja greco-católica ucraniana dos Santos São
Volodymyr e Olga. Os jovens da irmandade de São Volodymyr receberam a palavra do Yuriy
Shukhevch para, após a cerimónia, irem, de forma solene até a Catedral. A explicação
que deveriam dar aos “curiosos”, é a vontade de rezar pela devolução da
catedral aos fiéis greco-católicos.
A
entrada do pátio da Catedral foi bloqueada pelo camião/caminhão da polícia de
segurança pública, os ativistas ucranianos receberam a informação que dentro do
pátio estava estacionado o autocarro/ônibus com polícia de choque. No entanto,
a decisão foi tomada, a Catedral será recuperada, mesmo usando a força.
Os
jovens ucranianos formaram uma “cunha” medieval clássica, recebendo a instrução
de derrubar os polícias apenas no caso de estes tentarem usar os cessetetes de
borracha para dispersar os fiéis. A “cunha” que se lançou contra o cordão
triplo da polícia, foi imediatamente apoiada pela multidão ucraniana, rompendo,
com força, mas sem a violência, os três cordões de polícia de Lviv.
É
de notar que polícia não estava muito empenhada na defesa dos interesses
ilegítimos da IOR. A polícia de choque não foi usada de tudo. Após o rompimento
dos seus cordões, os polícias correram até as escadas da catedral, tentando
bloquear o caminho dos fiéis. Quando os ativistas se aproximaram, um dos
polícias tinha sussurrando: “rapazes, empurrem com mais força!” Os ativistas
fizeram este gosto e os polícias finalmente abriram o seu último cordão, as
portas da Catedral estavam livres. Durante o avanço, o mestre de chaves, Sr. Volodymyr
Volynets se perdeu na multidão, mas foi rapidamente achado, conseguindo abrir,
em poucos segundos, a porta lateral da Catedral (a porta principal estava
bloqueada à partir do interior).
Viacheslav Chornovil (1937-1999) |
Inesperadamente,
junto à Catedral apareceu Viacheslav Chornovil, acompanhado pelo Metropolita Volodymyr
Sterniuk. Chornovil iniciou o discurso liberal de que “não se faz assim, sem a
decisão do conselho regional...” Já Volodymyr Sterniuk, líder da Igreja
Greco-Católica Ucraniana entre 1972 à 1991, se dirigiu à multidão dizendo que a
Catedral pertence aos greco-católicos pelo direito, mas pediu os fiéis à não
entrarem no interior, até que uma comissão de inventariação não termine o seu
trabalho. Imediatamente após disso, Metropolita Sterniuk começou celebrar a
missa, ai mesmo, na entrada da Catedral.
Durante
uma semana (!) o pátio da Catedral dia e noite estava cheio de pessoas: os
padres celebravam as missas, confessavam, faziam a comunhão, os leigos decoravam
o pátio e a Catedral à partir do exterior.
19 de agosto de 1990, Lviv |
Até que chegou
o domingo, 19 de agosto de 1990. O Dia da Transfiguração do Senhor, a grande festa
na Igreja da Transfiguração de Lviv. Após a missa, uma grande procissão
liderada pelo Metropolita Volodymyr Sterniuk e vários outros bispos greco-católicos
deixaram a Igreja da Transfiguração, rumo à Catedral de São Jorge. A Catedral e
a praça na sua frente e todas as ruas adjacentes, eram cobertos por um mar de
gente. A Catedral de São Jorge, foi finalmente e oficialmente devolvida à Igreja Greco-Católica
Ucraniana.
Para
que a gente não se esquece do dia 12 de agosto de 1990, quando a Catedral foi recuperada
pelos ucranianos, publicamos essa estória
e essas fotos.
Sem comentários:
Enviar um comentário