sábado, maio 31, 2025

Confirmada a morte de 110 mil soldados russos na Ucrânia

Os jornalistas do serviço russo da BBC e da Mediazona conseguiram identificar os nomes de 110.608 militares russos mortos (dados até o fim do maio de 2025) na invasão russa de larga escala da Ucrânia. 

Em termos de número de vítimas por população entre as regiões periféricas russas, Tuva lidera de longe (120 mortes por 10.000 homens). É seguida pela Buriácia (91 mortes) e pela república de Altai (89). 

Um em cada quatro residentes de Tuva que morreram era um ex-prisioneiro, enviado para a guerra a partir de uma colónia penal. Este número é uma vez e meia superior à média da rússia. Tuva ocupa o primeiro lugar na rússia em termos de criminalidade por cada 100 mil habitantes há mais de 10 anos. Ao mesmo tempo, de acordo com as estatísticas disponíveis, nesta república, mais frequentemente do que noutras regiões da federação russa, as pessoas são condenadas por danos intencionais à saúde, homicídio e tentativa de homicídio. 

Mas a maior categoria de perdas entre os residentes de Tuva são os soldados profissionais, escreve a BBC. Representam um terço de todas as perdas confirmadas na república, o que é 1,5 vezes superior à média russa. 

A 55ª brigada de fuzileiros motorizados está sediada em Tuva, que participou na invasão de larga escala contra Ucrânia desde os primeiros dias e sofreu perdas significativas, observa a publicação. 

“Tuva é uma região pobre e desfavorecida, sem mobilidade social. Além disso, a taxa de criminalidade é elevada. Nesta região, os homens são geralmente mais propensos a comportamentos de risco. E é mais fácil envolvê-los na guerra – de forma voluntária ou voluntariamente forçada”, explicou à BBC um cientista russo especializado em questões demográficas que pediu anonimato devido à sensibilidade do tema. 

Na Buriácia, uma em cada cinco pessoas mortas era um soldado mobilizado. Isto é quase o dobro da média russa. A Buriácia, tornou-se um dos símbolos do modelo de mobilização rigoroso na rússia. Segundo os activistas dos direitos humanos, a região foi uma das líderes tanto no número de homens convocados para o exército, como no número de queixas de familiares e dos próprios recrutas. 

Na república de Altai, a mobilização foi realizada «de forma branda» e as autoridades locais contaram com voluntários, escreve a BBC. Como resultado, nesta região, a proporção de voluntários mortos foi de 47% do total de vítimas, o que representa 1,9 vezes a média russa. 

Para efeito de comparação, os jornalistas citam dados de Moscovo. Aí, há apenas três mortes por cada 10.000 homens. Destes, apenas 10% são prisioneiros, 26% são voluntários, 15% são soldados mobilizados e 20% são militares profissionais. 

Jornalistas do Mediazona e do serviço russo da BBC, com a ajuda de uma equipa de voluntários, têm contabilizado relatos de mortes de soldados russos desde o primeiro dia da invasão russa em grande escala na Ucrânia — nos meios de comunicação social, em sites governamentais ou nas redes sociais. A contagem não inclui as perdas das formações militares das autoproclamadas repúblicas populares, ditas «l/dnr». Desde 16 de maio, quando os dados sobre os mortos foram publicados pela última vez, os jornalistas e voluntários descobriram mais 2.000 nomes de russos mortos. 

Os jornalistas sublinham que as perdas reais do exército russo na guerra russo-ucraniana são maiores, uma vez que nem todos os relatos de mortes de soldados russos chegam às fontes abertas. 

Números reais de baixas russas 

Os números reais de baixas russas são obviamente muito superiores aos que podem ser estabelecidos através de fontes abertas. Os especialistas militares sugerem que a análise dos cemitérios, memoriais de guerra e obituários russos pode abranger entre 45% e 65% do número real de mortos. 

Perdas russas conjuntas (KIA, MIA, WIA, POW)

Isto porque os corpos de um número significativo de soldados russos mortos nos últimos meses podem ainda estar no campo de batalha. Removê-los exige riscos adicionais para a saúde dos soldados sobreviventes, que poderiam ser atingidos por ataques de drones. 

Dada esta estimativa, o número real de baixas russas pode situar-se entre 170.000 e 246.000 pessoas. 

O número total de baixas russas aumenta significativamente se incluirmos aqueles que lutaram contra Ucrânia como parte das autoproclamadas «repúblicas populares» de Donetsk e Luhansk. Desde 22 de dezembro de 2022, os separatistas das ditas «l/dnr» deixaram de publicar dados sobre as suas perdas militares. 

Depois de analisar os obituários publicados e os relatórios de buscas por militares da das ditas «l/dnr» que não se manifestaram como vivos durante um longo período, chega-se à uma conclusão de que, entre 21.000 e 23.500 pessoas poderiam ter morrido. 

Portanto, com base nos dados que foram recolhidos, se pode presumir que o número total de militares russos e pró-russos mortos pode estar na faixa de 191.000 a 269.000 pessoas.

Um exemplo da mortalidade russa escondida 

Povoação de Alekseyevka, região de Samara, federação russa. População: 4.380 pessoas em 2021.

Número de mortos:

  • Guerra de Afeganistão (1979-1989): 2 pessoas
  • 1ª guerra na Chechénia (11 de dezembro de 1994 – 31 de agosto de 1996), 2ª guerra na Chechênia (7 de agosto de 1999 – 30 de abril de 2000), fase de insurgência (1 de maio de 2000 – 16 de abril de 2009): 1 pessoa
  • Guerra na Ucrânia (desde 22.02.2022): 34 pessoas

sexta-feira, maio 30, 2025

Crimes de guerra russos: execução dos POW ucranianos

Desde o início da invasão russa em grande escala da Ucrânia, os militares russos executaram, no campo de batalha, no mínimo, 245 prisioneiros de guerra ucranianos – escreve Associated Press, citando os dados da Procuradoria-Geral da Ucrânia.

Sem dúvida, na realidade, estes números são muito maiores. Nem todos os crimes do exército russo são registados, bem como as suas provas, que os russos se esforçam por ocultar e destruir. Por exemplo, os corpos dos civis e militares ucranianos, muitas vezes são entregues ao lado ucraniano em estado de decomposição, quando é quase impossível estabelecer a causa real da morte. Recordemos que só as forças especiais da GUR do Ministério da Defesa da Ucrânia registaram, em vídeo, mais de 150 execuções de prisioneiros de guerra ucranianos.

Consultar a página de Human Right Watch

Segundo a GUR, na absoluta maioria dos casos não se trata de «excesso de zelo do executante», mas sim de ordens diretas e expressas do comando militar russo para matar prisioneiros ucranianos. O coincide com as conclusões da Comissão Internacional Independente da ONU e pela Missão de Monitorização da ONU para os Direitos Humanos na Ucrânia, que investigam as violações dos direitos humanos na Ucrânia — os crimes contra a humanidade cometidos pelos ocupantes são deliberados e sistemáticos e constituem uma política deliberada das autoridades russas. Estes crimes afectam tanto os combatentes, como a população civil da Ucrânia.

O assassinato de combatentes capturados não é apenas uma violação do direito internacional humanitário. É um crime de guerra sem prazo de prescrição. Todos os envolvidos serão identificados e punidos mais cedo ou mais tarde, e não necessariamente em tribunal. Se não se quer manchar a sua consciências com algo deste género, não vá para a guerra, não assine o contrato com um exército de assassinos, violadores e saqueadores.

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Armadilha honey trap das secretas ucranianas

No dia 29 de maio de 2025 na cidade russa de Stavropol foi liquidado Zaur Gurtsiev, que em 2022 era o chefe da unidade aérea de ataque a Mariupol (responsável pelos constantes bombardeamentos aéreos da cidade, entre eles o ataque contra o teatro de Mariupol, que matou cerca de 500 pessoas, muitas crianças), mais tarde ele foi designado como primeiro vice-chefe da administração de Stavropol no âmbito do programa patrioteiro russo «Tempo dos Heróis». 

No dia 29 de maio Gurtsiev se encontrou em Stavropol com um amigo recente, um tal de Nikita Penkov, ex-guarda prisional russo de 29 anos. Logo que os dois estavam próximos um do outro, uma bomba de fragmentação explodiu, e ambos morreram. Aparentemente, Nikita Penkov recebeu e aceitou a tarefa de vigiar Gurtsiev, usando, no seu corpo, o aparelho do tipo bodycam. O engenho explosivo estava dissimulado neste mesmo aparelho. Como escreve o TG canal russo VChK-OGPU, os dois se conheceram numa página de relacionamentos gay, trocando, antecipadamente várias mensagens e imagens (notícia à confirmar). 

Bónus

A 132ª brigada russa de fuzileiros motorizados Gorlovka (unidade militar russa Nr. 52892) mantém a sua reputação continuando a humilhar, maltratar e torturar os seus próprios militares. Os soldados da unidade divulgaram um vídeo bastante repugnante (+18) de seus colegas, amarrados a uma árvore, espancados e alvos de tratamentos degradantes. Essa prática russa é usada, habitualmente nas unidades russas, como punição aos seus próprios soldados, pelo facto destes supostamente se recusarem a realizar uma missão de combate – ou seja, marcharem à uma morte certa.


Valsa com o sistema: música popular ucraniana de 1950-60

O filme documental «Valsa com o Sistema» conta como melodias e canções que os ucranianos conhecem e cantam até hoje foram criadas nas décadas de 1950 e 1960: «Duas Cores», «Canção do rushnyk», «Como não te amar, a minha Kyiv», «Cheremshyna» e tantas outras. 

Na primeira parte, o narrador do filme, Yuri Makarov, revela como Ucrânia entrou num período de significativas transformações sociais após a morte de Estaline. O alívio da pressão totalitária coincidiu com a migração em massa de jovens ucranianos rurais para as cidades, o que criou condições únicas para a síntese cultural. Os jovens que se mudaram para as cidades em busca de novas oportunidades trouxeram consigo tradições rurais e começaram a repensá-las num contexto urbano.

 

Na década de 1950, ocorreu um verdadeiro renascimento da canção ucraniana. Surgiram obras que se tornaram símbolos da época: a majestosa «Minha Kyiv», a romântica «Shakhtarochka» (literalmente A Mineirinha) e a tocante «Canção do rushnyk» (a toalha ucraniana bordada). Estas canções nasceram das profundas experiências pessoais dos seus criadores, entre os quais Platon Maiboroda e Andriy Malyshko ocupam um lugar especial. Criavam estas canções não devido as exigências formais do regime, mas a pedido de alma e coração, investindo nelas os verdadeiros sentimentos e experiências das pessoas. 

No entanto, por detrás da aparente liberdade de criatividade, escondia-se o controlo rigoroso dos serviços secretos soviéticos. Documentos dos arquivos do KGB atestam a vigilância constante sobre Andriy Malyshko, suspeito de esconder os «sentimentos nacionalistas». A sua correspondência foi vigiada e violada, as conversas eram escutadas e a sua obra literária foi cuidadosamente analisada em busca de «manifestações antissoviéticas». Isso não impediu ao artista de criar canções que tocaram ao coração de milhões de ucranianos. 

No segundo episódio, o narrador do filme, Yuri Makarov, revela como os anos 1960 foram marcados por uma clara distinção entre criatividade oficial e genuína. Os compositores e poetas eram obrigados a criar canções oficiais sobre o partido e a juventude comunista, o Komsomol, mas a verdadeira arte nascia nos seus tempos livres. Foi então que surgiram canções que os ucranianos queriam e muito cantar e ouvir: sobre o amor, sobre a sua terra natal, sobre experiências e sentimentos pessoais.

 

O progresso tecnológico deste período influenciou significativamente a difusão das canções ucranianas. O aparecimento de rádios portáteis, os discos LP, gravadores, amplificadores, microfones e instrumentos elétricos tornou a música mais acessível ao público em geral. As pessoas podiam ouvir as suas músicas favoritas em casa, gravá-las e trocá-las. Criou-se assim um espaço paralelo da vida musical ao oficial, onde a popularidade de uma canção era determinada não pela sua suposta correcção ideológica, mas pela sua capacidade de tocar o coração das pessoas. 

Os artistas ucranianos aprenderam a trabalhar de duas formas: criaram obras oficiais para satisfazer as exigências do sistema comunista, mas dedicaram as suas melhores forças criativas às canções que compunham para a alma. Estas obras não oficiais, nascidas de uma inspiração sincera, e não à partir de uma ordem partidária comunista, tornaram-se verdadeiros clássicos da música popular ucraniana. Hoje, lembramo-nos delas, e não de canções sobre o partido e o Komsomol, que testemunham o verdadeiro valor da arte criada ao pedido do coração. 

Na cena final, podemos ouvir a canção do compositor Myroslav SKORYK «Desenha a noite para mim». 

Infelizmente, por enquanto este filme verdadeiramente fundamental, não possui as legendas em inglês. No entanto, o recomendamos vivamente, pois mostra a cidade de Kyiv nas décadas 1950-60, tocando as músicas populares ucranianas daquela época.

Mathias Rust: menino que abalou o império soviético

No dia 28 de maio de 1987, o jovem alemão, Mathias Rust, aterrou com sucesso na Ponte Bolshoi Moskvoretsky, em Moscovo, e deslizou até à Catedral de São Basílio. Após desembarcar, concedeu autógrafos durante mais de uma hora. Depois disso foi detido. Rust passou um total de 432 dias na prisão soviética. A 3 de agosto de 1988, regressou à Alemanha após ter sido amnistiado. 

Aterrando o seu pequeno «Cessna» no centro da capital da URSS, colocou de joelhos todo o propalado sistema militar soviético, cujas tradições, hoje, são mantidas e exortadas pela federação russa.

 

Uma das avaliações mais citadas sobre as consequências da ação de Rust para as forças armadas soviéticas foi feita pelo especialista em segurança nacional norte-americano William Odom: «Após a passagem de Rust, foram implementadas mudanças radicais no exército soviético, comparáveis ​​às purgas do RKKA, organizadas por Estaline em 1937.» Quase toda a liderança do Ministério da Defesa foi substituída, incluindo os comandantes dos distritos militares por onde Rust passou. 

Gorby/Gorba ficou muito irritado nessa altura. Quase teve um ataque apoplético depois de saber todos os pormenores da passagem de Mathias Rust, que sem grande esforço conseguiu enganar o sistema de defesa aérea da URSS. Os soviéticos não gostam muito de recordar esta história. Embora ilustre bem a URSS como um colosso sobre pernas de barro, que acabou por colapsar. A queda do império é, um daqueles pontos positivos que nunca devem ser esquecido. A URSS está morta e a federação russa também desaparecerá. 

Blogueiro 

Naturalmente, logo após o sucedido, KGB e adeptos de teorias de conpiração criaram várias teorias alternativas ao sucedido. Todas baseadas na ideia do que «Rust foi seguido todo o trajeto; poderia ser abatido várias vezes; foi a maneira de Gorby fazer as suas próprias purgas no exército soviético, afastando e assustando os militares neo-estalinistas e colocando nos seus lugares os militares leais à causa da Perestroika». Muito possivelmente, estas teorias têm um ponto verídico, Gorby realmente aproveitou o caso ao máximo, para se livrar de uns tantos neo-estalinistas e para calar de vez tantos outros. Não é por acaso que Gorby era próximo ao Yuri Andropov, o chefe do KGB (1967-1982) e líder soviético no período curto entre 16 de junho de 1983 à 9 de fevereiro de 1984. O pessoal do KGB era muito bem em jogos de aparelho partidário. Mas é uma outra estória...

quarta-feira, maio 28, 2025

Agentes russos em Portugal: PZP, Alex Gue e outros tontos

Imagem ilustrativa AI Art & Universo Ucraniano

Enquanto Ucrânia arde sob as bombas russas e milhões de civis são forçados a fugir das suas casas, há quem, em território europeu, prefira apontar o dedo às vítimas em vez do agressor. Em Portugal, o Partido Comunista Português (PCP) e figuras como o ex-analista dos serviços secretos Alexandre Guerreiro tornaram-se vozes pró-russas — não pela coragem, mas pela conivência com a narrativa de um regime autoritário e belicista. 

por: Yuriy Petko (o título do artigo é de responsabilidade deste blogue) 

O PCP: neutralidade ou apoio disfarçado?

Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, o PCP tem-se recusado sistematicamente a condenar de forma clara e inequívoca a agressão de vladimir putin à Ucrânia. Nas palavras do partido, o conflito é resultado da “expansão da NATO” e da “ingerência dos EUA e da União Europeia”, como se isso justificasse a destruição de cidades, a morte de civis e a deportação forçada de crianças ucranianas.

Cidade de Kyiv após os bombardeamentos russos

Em março de 2022, os eurodeputados comunistas portugueses João Pimenta Lopes e Sandra Pereira votaram contra uma resolução do Parlamento Europeu que condenava a invasão russa. Para o PCP, a prioridade não é a defesa das vítimas, mas a denúncia de um suposto “escalamento militar” promovido pelo Ocidente. Não satisfeitos, os deputados recusaram ainda participar na sessão do Parlamento com a intervenção do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, qualificando o líder de um país atacado como símbolo de um poder “xenófobo e belicista”.

Este tipo de posicionamento, que ecoa diretamente a retórica de Moscovo, não pode ser ignorado. Quando uma força política nacional se alinha com os argumentos do agressor, deixa de ser neutral — torna-se cúmplice.

Alexandre Guerreiro: o ex-espião que serve o Kremlin

O caso de Alexandre Guerreiro é ainda mais grave. Antigo analista do SIED (Serviço de Informações Estratégicas de Defesa), Guerreiro reapareceu como comentador televisivo e “especialista” em relações internacionais. Mas as suas análises rapidamente se revelaram mais panfletárias do que objetivas.

Guerreiro participou em conferências organizadas por instituições ligadas ao Kremlin, como o MGIMO (Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo) e o movimento russofilista internacional. Em 2023, esteve presente num congresso internacional em Moscovo ao lado de figuras como Maria Zakharova e Sergey Lavrov — rostos da propaganda oficial russa. Foi elogiado pelo próprio ministro dos Negócios Estrangeiros da rússia.

Cidade de Kharkiv, bairro de Saltivka, após os bombardeamentos russos, 2024

Nas suas declarações públicas, Guerreiro afirma que “não há uma guerra”, que “a Rússia é uma democracia comparável ao Ocidente” e que “Putin não é um ditador”. Estes delírios, que desrespeitam a verdade e insultam as vítimas da invasão, não são apenas lamentáveis — são perigosos. A Universidade de Lisboa já o afastou de atividades académicas, mas isso não impediu a sua crescente presença nos meios pró-Kremlin.

Apesar de afirmar que não é financiado pela Rússia, o padrão é claro: presença em eventos russos, eco da propaganda oficial, e disseminação de desinformação — tudo sob a capa da “liberdade de expressão”.

Ligações financeiras e ideológicas

Até hoje, não há provas públicas de financiamento direto do PCP por parte do Kremlin. Contudo, a proximidade ideológica é indiscutível. A recusa do partido em apoiar sanções à rússia, a retórica anti-NATO e o isolamento face ao consenso europeu sobre Ucrânia colocam-no num patamar semelhante ao de outras forças extremistas da Europa — de esquerda ou de direita — que servem de caixa de ressonância dos interesses do regime russo.

Cidade de Lviv após os bombardeamentos russos, 2024

Estudos e investigações internacionais apontam para uma estratégia russa de apoio indireto a partidos radicais em toda a Europa, com o objetivo de enfraquecer a coesão da UE e deslegitimar as instituições democráticas. Portugal não é exceção.

O silêncio que grita

A guerra na Ucrânia é, acima de tudo, uma guerra moral. Quando partidos e figuras públicas portuguesas escolhem o lado do agressor, mesmo que o façam com rodeios ideológicos, prestam um desserviço à democracia. A liberdade de expressão não é licença para legitimar tiranias.

Cidade de Sumy após os bombardeamentos russos, 2025

É tempo de fazer perguntas difíceis. Por que razão o PCP insiste em justificar o injustificável? Que motivações tem Alexandre Guerreiro para repetir os argumentos de um regime que persegue jornalistas, reprime a oposição e invade nações soberanas? Sobretudo, até quando o silêncio de muitos vai permitir que estas vozes continuem a falar em nome de Portugal?

Vulgarização da estética da marginalidade criminal no exército russo

Devido ao aumento significativo do número de prisioneiros no exército russo de ocupação, os militares russos iniciaram a campanha especial para adaptar o seu comando militar às especificidades da interação com o contingente criminoso, informa GUR MOU. 


Explicação de tipos de tatuagens

O Ministério da Defesa russo está a distribuir materiais metodológicos elaborados para o trabalho psico-social com os reclusos. Os manuais para os oficiais do serviço psy-war explicam como decifrar e interpretar o significado das tatuagens de reclusos, analisar as suas alcunhas e perceber a hierarquia «das prisas», explicar as regras de comportamento perante os «chefões», etc. Os «da cunha», «mujiques», «cabrões», «galos» – os oficiais do exército russo aprendem as regras e a terminologia específicas para lidar com contingente vindo dos sub-mundo criminal. 

Significado de tatuagens anelares 

Os autores dos manuais explicativos que devem auxiliar à lidar com bandidos nas fileiras do exército russo admitem que os mecanismos habituais de gestão de pessoal não funcionam nestes grupos, pelo que, para impor a disciplina, os oficiais russos devem procurar uma abordagem especial para com os prisioneiros. 

Significado de tatuagens nas pernas

O aumento do número de condenados nas fileiras das forças russas de ocupação levou a um aumento do número de conflitos internos e de confrontos violentos entre prisioneiros e outros grupos de militares que participam na guerra russa de ocupação contra Ucrânia. A campanha de reeducação dos oficiais russos testemunha objetivamente o aprofundamento da criminalização do exército russo.

terça-feira, maio 27, 2025

Escalada da guerra escolhida deliberadamente pela rússia

A rússia realizou o maior ataque aéreo de toda a guerra de larga escala, lançando 367 drones e mísseis, demonstrando a sua completa rejeição de um acordo pacífico. O ataque matou 12 pessoas, incluindo crianças, confirmando ataques direcionados a civis. 

A rússia atacou a Ucrânia mesmo durante a última grande troca de prisioneiros, efetuada pela fórmula de «1.000 x 1.000», demonstrando desprezo por qualquer iniciativa de paz. 

Em Kyiv, um drone russo atingiu um dormitório de estudantes, provocando um incêndio, o que é mais uma prova de terror contra civis. Na região de Khmelnytskyi, 4 pessoas foram mortas e outras 5 ficaram feridas em consequência de um ataque com mísseis, indicando ataques deliberados contra objetos civis. 

A defesa aérea ucraniana destruiu 266 drones e 45 mísseis de cruzeiro, mas a escala do ataque excedeu as capacidades da defesa, o que enfatiza a necessidade de um maior apoio dos parceiros.

A rússia utilizou táticas de ataque combinadas, tentando sobrecarregar as defesas aéreas ucranianas e infligir o máximo de perdas.

A Polónia activou a sua força aérea em resposta ao ataque russo, indicando uma ameaça à segurança não só da Ucrânia, mas também dos países vizinhos. 

Os ataques russos na véspera do Dia da cidade de Kyiv, que tinham como objectivo quebrar a moral dos ucranianos, apenas fortaleceram a sua unidade e determinação em lutar pela liberdade. Ataques maciços na maioria das regiões da Ucrânia demonstram que a rússia não está interessada na paz, mas procura a destruição completa do Estado ucraniano. 

Os ataques dirigidos a infraestruturas civis são crimes de guerra pelos quais a rússia deve ser responsabilizada. Ucrânia necessita de assistência militar e humanitária imediata para proteger a sua população dos ataques em curso. A comunidade internacional deve reconhecer que a Rússia está a escolher deliberadamente o caminho da escalada em vez da paz e responder adequadamente. 

Enquanto a rússia continuar a bombardear a Ucrânia, qualquer negociação de paz continuará a ser uma ilusão.

segunda-feira, maio 26, 2025

Ucrânia revela os nomes dos mercenários da Sri Lanka

Mercenário cingalês Fernando, agora mais um POW

O projeto ucraniano «Quero viver» continua a divulgar os nomes dos mercenários estrangeiros que a rússia está a utilizar na guerra contra Ucrânia. Na lista temos 732 mercenários da Sri Lanka, 32 foram liquidados pelas FAU, 22 desertaram e 8 estão detidos nos campos ucranianos de POW.
Faça click para consultar a lista completa

Todos eles dizem que viviam na absoluta pobreza, passando as maiores necessidade na sua terra natal e, em busca de uma vida melhor, tentaram encontrar trabalho no estrangeiro. Infelizmente, em vez de trabalharem, aceitaram a armadilha dos recrutadores russos. Como acontece com os mercenários do exército russo, recrutados no Nepal, Cuba ou países da Ásia Central, a rússia atrai cidadãos dos países mais pobres do mundo para a guerra através das falsas promessas e da corsão. Os recrutadores russos prometem empregos legais na rússia e um salário elevado – até 3.000 dólares. Dizem que estão à procura de trabalhadores para o setor da construção civil, seguranças ou motoristas. 

Assim, o cingalês Anil Madusanka, foi recrutado alegadamente para trabalhar como motorista num hotel. Em vez disso, foi enviado para a frente de batalha na Ucrânia, onde foi ferido. Após disso, conseguiu desertar e chegar à embaixada do Sri Lanka em Moscovo, que o ajudou a regressar à sua terra natal. 

Entrevista com Fernando, cingalês que foi capturado pelas FAU e que está agora no campo ucraniano dos POW (à partir de 2´36´´):

Sabemos de pelo menos 732 mercenários do Sri Lanka que estão ou estavam a lutar no exército russo na sua guerra contra Ucrânia. Sabe-se também no mínimo 22 deles desertaram (dados até junho de 2024) e que outros 32 deles foram mortos, caso do Nipuna Silva, embora estes dados são incompletos, uma vez que o Ministério da Defesa russo praticamente não mantém registos de mercenários. No exército russo, são literalmente soldados “descartáveis”, usados nas operações de assalto. Os cingaleses, assim como outros mercenários, não estão devidamente treinados. Passam apenas por duas semanas de treino muito básico em manuseamento de armas, após o que são enviados para unidades de assalto. Nenhum deles fala russo, embora os comandantes que os enviam para a batalha falem russo. Em caso de ferimentos ou morte, apenas pode ser enviada uma equipa de evacuação não russa, mas na maioria dos casos não é enviado ninguém. 

As autoridades do Sri Lanka sabem que os russos estão a enganar os seus cidadãos para que entrem em guerra. Em maio de 2024, o Presidente do Sri Lanka ordenou o envio de uma delegação especial à rússia para investigar os incidentes de recrutamento. O porta-voz do Ministério da Defesa, Nalim Herat, disse que a Rússia estava a enganar os cingaleses que enfrentavam dificuldades económicas que os obrigaram a procurar trabalho no estrangeiro. A polícia deteve dois generais reformados envolvidos no recrutamento de mercenários, bem como seis dos seus cúmplices que eram responsáveis ​​pela logística. Todos os reclusos enfrentam punições severas. 

Além disso, o Sri Lanka levantou a questão das indemnizações para os cidadãos mortos e feridos durante as negociações com representantes do Ministério dos Negócios Estrangeiros / das Relações Internacionais e do Ministério da Defesa russo. 

No entanto, como estamos a falar de negociações com o lado russo, é pouco provável que os familiares dos mercenários mortos consigam receber sequer os seus restos mortais, quanto mais as indemnizações.

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domingo, maio 25, 2025

Anti-semitismo estatal soviético: KGB à procura do sionismo

Imagens do filme anti-semita soviético «O oculto e claro
(Os Objectivos e os Actos dos Sionistas)», Moscovo, 1973

As décadas de 1960-1990 foram marcadas, na União Soviética, pela luta implacável contra o sionismo e «cosmopolitismo sem raízes». Qualquer manifestação da religiosidade ou de outros elementos de judaismo, eram perseguidos de uma forma bastante paranóica. 

A propaganda estatal soviética rotulou a religião judaica como a «base ideológica do sionismo». «O judaísmo, tal como o sionismo, é uma ideologia reaccionária e nacionalista, imbuída de misticismo e dirigida contra as tarefas revolucionárias internacionais do proletariado», rezava o livro soviético «Judaísmo sem adornos», citado no artigo histórico da página ucraniana Verdade Histórica. 

A minúcia do KGB no combate aos «agentes do sionismo» roçava muitas vezes a paranóia. Sinais de propaganda hostil foram procurados e encontrados até em caixas de doces e decorações de árvores de Natal. 

«Miragem deliriosa»: propaganda visual soviética anti-Israel.
Revista satírica «Crocodilo», 1970.

Entre as maiores «ameaças a toda a humanidade progressista», com que a propaganda da URSS do pós-guerra assustava persistentemente os seus próprios cidadãos, o sionismo ocupava um dos lugares de liderança. A ideologia e o movimento político que visavam o regresso dos judeus à sua terra natal histórica adquiriram características demoníacas na boca das autoridades soviéticas. «Reacionário», «agressivo», «racismo», «imperialismo» e, claro, «fascismo» — estes rótulos estavam abundantemente espalhados em cada um dos milhares de artigos, panfletos e livros da época dedicados ao «nacionalismo burguês judaico». 

«Sionismo vs fraternidade dos trabalhadores». 
Cartoon do livro de Trokhym Kichko «Judaísmo sem adornos», 1963.

Com igual zelo, os porta-vozes do regime soviético «desmascararam» tanto a política de Israel (apoiando constantemente os países árabes que lhe eram hostis) como os verdadeiros e supostos apoiantes do sionismo entre os seus próprios cidadãos. 

O rótulo «sionista» podia ser colado à qualquer cidadão de origem judia, independentemente das suas opiniões. As autoridades sublinharam diligentemente que «não há anti-semitismo na URSS» e até criaram um «comité antisionista», formado pelos «judeus domesticados», uma parte da elite judaica, leal ao regime comunista. 

«Comité anti-sionista do público soviético»

As campanhas «anti-sionistas» soviéticas tornaram-se particularmente agudas durante a Crise do Suez (1956-1957), a Guerra dos Seis Dias (1967) e a Guerra do Yom Kippur (1973), e no contexto da luta dos judeus soviéticos pelo seu direito de emigrar. 

Hoje falaremos de cinco casos mais caricatos em que a caça aos «sionistas» tomou na Ucrânia soviética. Todas as histórias remontam ao reinado de Leonid Brejnev e foram encontradas em arquivos do KGB da RSS da Ucrânia, que estão atualmente armazenados no Arquivo Setorial Estatal do SBU. 

Os documentos são, na sua maioria, em forma de chamadas «mensagens informativas» em que o KGB reportava à alta direção do Partido Comunista da Ucrânia sobre acontecimentos extraordinários que ocorriam na república. 

1. 1968. Na cidade ucraniana de Odessa, o professor local e guia turístico Arnold Vdovets (1937) é detido e preso preventivamente. Vendia, dentro da sinagoga, e ao preço de 50 copeque, as «emblemas sionistas» metálicas.


O documento não especifica o aspeto destas emblemas. Muito provavelmente eram estrelas de seis pontas (estrela «Magen David»). Este símbolo, que tem sido utilizado sob vários nomes por muitos povos há milénios e está localizado na bandeira de Israel, causava uma «alergia» particularmente aguda no regime soviético. 

As autoridades expuseram um «grupo criminoso» de Odessa-Leningrado pela produção e venda de emblemas «sionistas». Foi instaurado um processo-crime contra Vdovets nos termos do art. 148.º do Código Penal da Ucrânia soviética — «Pratica da atividade comercial ilegal», punível de até três anos de prisão efetiva. Mais tarde, e com a ordem expressa do Procurador-geral da URSS, Vdovets foi transferido de Odessa para o Leninegrado, onde o caso seria investigado e possivelmente julgado. O seu desfecho e o destino posterior dos praticipantes é desconhecido. 

O documento do KGB sublinha que não havia nada de «antissoviético» nas ações dos detidos — é puro comércio. Entretanto, na URSS houve casos em que todos compreendiam: uma pessoa era acusada de crimes económicos, mas o verdadeiro motivo da perseguição era a «nocividade ideológica» daquilo que se vendia ou fabricava. 

Não é por acaso que o texto realça que as emblemas eram «sionistas». Por exemplo, na década de 1970-80, centenas de pessoas surdas e mudas (ou que se passavam por estas) vendiam, nos comboios suburbanos os calendários de bolso com retratos de Estaline (e também as imagens eróticas) — dificilmente corriam o risco de ir para a prisão por causa do retrato de Estaline, como aconteceu com Arnold Vdovets.

2. O KGB e os cidadãos vigilantes podiam encontrar «propaganda sionista» não só nas emblemas, mas também nos objectos completamente inesperados. Aconteceu, por exemplo, na cidade mineira de Shakhtarsk, na região de Donetsk. 

O ano novo de 1981 aproximava-se, e as decorações «natalinas» para árvores de Ano Novo apareciam nas prateleiras das lojas locais, como é habitual. Os cidadãos vigilantes repararam numa «estrela de seis pontas semelhante ao símbolo sionista» no brinquedo «Cometa».

A venda de «Cometas» foi interrompida. A fábrica de Terebovlya, na região de Ternopil, onde foi feito o brinquedo «destrutivo», foi investigada pelo departamento local do KGB. Os agentes descobriram onde foram entregues as decorações de Ano Novo e enviaram informações aos colegas de outras regiões.

Um dos sites de classificados está a vender um brinquedo soviético «Cometa» com uma estrela de seis pontas. Talvez os produtos da fábrica de Terebovlya que indignaram os habitantes de Shakhtarsk fossem exatamente iguais.

3. A fábrica de chocolate «Svitoch», de Lviv, opera há quase um século e meio. Para celebrar o aniversário da revolução bolchevique de outubro de 1917, em 1967 a fábrica lançou um lote especial de doces «Leite de pássaro». Os rebuçados com o novo design de caixa foram chamadas «Fogo de artifício festivo». Estaria tudo bem, até que alguém (não se sabe se foi o próprio KGB ou «cidadãos vigilantes») reparou que o desenho no pacote repetia o desenho de um selo postal israelita. 

Se comparar duas fotos do ficheiro, a semelhança não é óbvia. Mas tudo isto é uma cópia a preto e branco de baixa qualidade. Se encontrar o mesmo selo na Internet, torna-se claro: a imagem de fogo de artifício é realmente a mesma. 

O design de doces (à esquerda) e o selo Israelita (à direita)

O selo original foi emitido pelos Correios de Israel em 1966 para o Dia da Independência. Foi uma série inteira desenhada pelo famoso artista israelita Eliezer Weishoff. Ele é autor de centenas de cartazes, postais e selos, moedas e notas, logótipos, ilustrações para livros infantis, monumentos e esculturas. Weishoff ainda está vivo, tem 87 anos. 

 Fontes: fineartamerica.com, cafepress.com

É o trabalho deste artista que vimos na editora, chamado «Fogo de artifício sobre Tel Aviv». Está numa base de dados de imagens que várias empresas comerciais podem imprimir na sua t-shirt, almofada, caneca e assim por diante. 

Há uma outra ligação ténue entre Weishoff à Ucrânia. É coautor do desenho da nota de 50 shekels de 1985. A nota retrata o escritor e Prémio Nobel Shmuel Yosef Agnon, que nasceu em Buchach, vila na atual região ucraniana de Ternopil. 

O Prémio Nobel Shmuel Yosef Agnon, natural de Buchach,
região de Ternopil, é destacado na nota de 50 shekels. Imagem: wikipedia

Mas voltemos à Direcção do KGB de Lviv. O artista desenhador da caixa de doces, Petró Chekanov, foi trazido ao KGB, onde confessou tudo: sim, um amigo judeu polaco enviou-lhe exatamente este selo israelita para a sua coleção. O artista gostou do desenho e decidiu pedi-lo «emprestado». Exclusivamente com fins lucrativos e, como consta no documento, «sem qualquer intenção». 

Qual poderá ser a tal «intenção» neste caso? Porque razão o caso interessou ao KGB em primeiro lugar? Seguramente o KGB não estava preocupado com os direitos de propriedade intelectual de Eliezer Weishoff. Obviamente, a questão era que o selo não era um selo qualquer, mas sim, um selo israelita. Embora não existia nenhuma imagem «criminosa» como a estrela de seis pontas no desenho, o KGB mesmo assim teve de perguntar se Chekanov estava de alguma forma secretamente a pretender promover ideias sionistas. Aparentemente, o artista de Lviv não foi mais afetado neste caso. Ao contrário de Weishoff, a Google não sabe nada sobre o destino posterior do Chekanov. 

4. Os postais israelitas que vinham de Israel para cidadãos soviéticos. Em 1970, os funcionários do KGB, que violavam o segredo da correspondência nas estações de correio, reuniram uma «colecção» inteira de panfletos «de natureza militarista, exortando o poder do exército israelita». 

Informe do KGB sobre os «postais de caráter militarista» com anexo de 18 postais

Um dos postais, retirados, ilegalmente, pelo KGB do correio

A maioria delas são fotos a cores de desfiles militares e de soldados das Tsahal/FDI na Velha Jerusalém, de que Israel assumiu o controlo muito recentemente — durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. O conjunto incluía ainda um postal americano com a inscrição impressa: «Dos judeus dos EUA para os judeus da URSS. Não nos esquecemos de vós e não vos esqueceremos.» No verso, há sobretudo saudações escritas à mão por familiares, histórias sobre a vida em Israel e comentários sobre as fotos. Os originais destes postais estão armazenados no arquivo do SBU — o que significa que, na altura, não chegaram aos seus destinatários. 

«Querida Anna, Syoma e Khayechka!»

5. O judaísmo não foi formalmente proibido na URSS, mas os fiéis e o clero estavam constantemente sob pressão das autoridades. A propaganda soviética rotulou a religião judaica de «base ideológica do sionismo». 

«O judaísmo, tal como o sionismo, é uma ideologia reaccionária e nacionalista, imbuída de misticismo e dirigida contra as tarefas revolucionárias internacionais do proletariado», escreveu o publicista e candidato a ciências filosóficas Trokhym Kichko no seu livro «Judaísmo sem adornos» (1963). 

Na mesma obra, o autor queixa-se de que «a imprensa burguesa está a fazer alarido sobre o anti-semitismo fabricado e o encerramento 'administrativo' de sinagogas na União Soviética». 

Embora, foi precisamente este encerramento administrativo da sinagoga que ocorreu na cidade ucraniana de Mykolaiv em 1962. Era a única sinagoga em funcionamento em toda a região. O comité executivo regional cancelou o registo da comunidade religiosa.

Informe do KGB sobre cancelamento do registo da comunidade judaica de Mykolaiv

O relatório do KGB enfatizou que os membros da comunidade «apoiavam os fundamentos reacionários do judaísmo e incitavam tendências nacionalistas entre uma certa parte da população judaica». Durante vários anos consecutivos, os judeus de Mykolaiv tentaram devolver o registo da comunidade e retomar o funcionamento da sinagoga, mas tudo em vão. Depois, começam a reunir-se para orações nas casas dos representantes da comunidade. 

Tais reuniões (no judaísmo são designadas por minyans, e nos documentos do KGB eram designadas pelo termo pejorativo de «encontrões») eram, obviamente, proibidas na URSS. Além disso, como observam os chekistas, alguns dos participantes dos «encontrões» comentavam a política soviética no Médio Oriente sob «posições ideologicamente prejudiciais». 

Um dia, em 1968, a polícia e as autoridades locais organizam uma rusga numa «sinagoga ilegal». Estavam no local 35 pessoas. O ficheiro do SBU contém imagens das filmagens operacionais da rusga. 

Minyan na sinagoga de Mykolaiv

Os autores do documento realçam dois pontos. Primeiro, a comunidade recolheu donativos, que foram gastos (sem qualquer controlo estatal) para ajudar aos judeus necessitados. A criação de um fundo de caridade deste tipo, como consta no documento, supostamente enfatizava a separação dos judeus e «incitava neles tendências nacionalistas». Em segundo lugar, alguns dos participantes nos «encontrões» não eram crentes, pelo que a «sinagoga clandestina» era, ao mesmo tempo, uma espécie de «clube nacional». 

Informe do KGB sobre a «sinagoga clandestina»

Quatro organizadores dos «encontrões» (todos anciões com idades superiores aos 70 anos) foram responsabilizados administrativamente por «violar a legislação soviética sobre a separação entre a Igreja e o Estado». 

Como esclarece o investigador Viktor Voynalovych no seu artigo «Pressão às comunidades judaicas na Ucrânia nas décadas de 1950 e 1960», todos os quatro receberam multas de 50 rublos cada (valor equivalente aos 84,74 dólares americanos ao câmbio oficial soviético). O dinheiro e os bens apreendidos foram confiscados. A imprensa local escreveu sobre a exposição do «grupo de elementos clericais». 

O historiador Volodymyr Shchukin escreve que, no início da década de 1970, o minyan continuaram sendo organizados durante algum tempo, apesar da perseguição. Entretanto, devido à pressão e intimidação das autoridades por parte de familiares dos seus membros activos, as reuniões para orações conjuntas foram gradualmente cessando por completo. 

A sinagoga de Mykolaiv retomou as suas atividades em 1992, já após a proclamação da Independência da Ucrânia.

GUR atinge a ferrovia russa ao longo da costa do Mar Azov

Imagens espetaculares de uma operação de combate no território temporariamente ocupado da região de Zaporizhia - na noite de 24 de maio de 2025, os drones de ataque das unidades de operações ativas da GUR do Ministério da Defesa da Ucrânia seguiram e atingiram um comboio/trêm de ocupantes russos, que transportava o combustível. 

GUR mostrou, de forma brilhante o que já foi dito mil vezes: o caminho-de-feroo / a ferrovia ao longo da costa do Mar de Azov não é a melhor alternativa à Ponte da Crimeia. O lado positivo para os russos é que os tanques a explodirem e o combustível em chamas não destroem os vãos da ponte. Por outro lado, atacar um comboio/trêm aqui é muito mais barato e mais fácil. Antes, eram necessários mísseis, agora bastam os drones. 

Este comboio já foi queimado, tragam mais! 

Os ataques direcionados a uma instalação logística das forças russas de ocupação foram realizados diretamente durante o movimento do comboio/trêm no troço ferroviário Verkhniy Tokmak-Molochansk-Fedorivka. Pelo menos três cisternas de combustível foram destruídos. O fornecimento ferroviário das forças de ocupação russas nos territórios temporariamente ocupados da região de Zaporizhia e da Crimeia foi interrompido. 

A luta armada que visa dificultar e paralisar a logística militar dos ocupantes moscovitas continua.

Glória à Ucrânia!

...e a resposta russa

Nas últimas duas noites (24 e 25 de maio), a rússia lançou quase 90 mísseis balísticos e de cruzeiro e mais de 500 drones contra Ucrânia.

Os ataques tiveram como alvo Kyiv, Dnipro, Odesa, Zaporizhzhia, Kharkiv, vilas na região de Donetsk e outras cidades e regiões. A Força Aérea Ucraniana, as unidades de Defesa Aérea, da guerra eletrónica e os grupos de fogo móvel trabalharam incansavelmente para defender os céus do país.

Moscovo/ou prolonga diariamente esta guerra, continuando a matar e a destruir. Cada um destes ataques terroristas é uma razão clara para novas e mais duras sanções contra a rússia.

sábado, maio 24, 2025

Cônsul da Polónia na Ucrânia que foi raptado e executado pelo NKVD

Em 17 de setembro de 1939, a URSS atacou a Polónia pelas costas. Até 30 de setembro, o Cônsul polaco na Ucrânia, Jerzy Matusiński, ainda se encontrava em Kyiv. Seguindo as instruções de Khrushchev, foi realizada uma operação especial do NKVD para o deter e raptar.

Telegrama codificado ao Béria sobre detenção do Cônsul


Nikolay Horlinsky, o 2º vice-chefe do NKVD da Ucrânia soviética
informa Béria sobre a detenção do Cônsul Jerzy Matusiński

Após a agressão soviética contra a Polónia, a 30 de setembro de 1939, às 23h00, poucos dias antes da evacuação prevista para Moscovo, Cônsul foi convocado para se apresentar com urgência à delegação do Comissariado do Povo para os Negócios Estrangeiros (Narkomindel) da URSS. Saiu por volta das 2 da manhã, levando consigo dois motoristas porque já era tarde. Nunca mais voltou ao consulado. Informado sobre o facto, o embaixador italiano Augusto Rosso – vice-reitor do corpo diplomático– interveio alguns dias depois junto do Comissário do Povo para os Negócios Estrangeiros da URSS, Vyacheslav Molotov, que fingiu estar surpreendido e respondeu que o Cônsul tinha evidentemente fugido para um dos países vizinhos. Após o restabelecimento das relações diplomáticas, entre a URSS e a Polónia em 1941, os diplomatas polacos intervieram repetidamente no assunto acima referido, mas receberam a resposta de que o Cônsul Matusiński não estava nas mãos soviéticas.

Viatura do Cônsul deixada ao abandono pela NKVD em Kyiv

Entretanto, um dos motoristas do Cônsul, Andrzej Orszyński, sobreviveu e conseguiu entrar para as fileiras do Exército Polaco, formado na URSS. Testemunhou para registo que todos os três foram detidos pela NKVD em frente à sede do Narkomindel e levados para uma prisão em Kyiv, de onde, a 8 de Outubro do mesmo ano, foram transportados de comboio (cada um num compartimento separado) para Moscovo. Orszyński afirma que viu Matusiński a entrar no comboio, o que contradiz as afirmações de Molotov.

Consulado Geral da Polónia em Kyiv na década de 1930

Preseupõe-se que Cônsul Jerzy Matusiński foi levado para a prisão moscovita de Lubyanka, habitualmente usada pelo NKVD, onde, muito possivelmente, foi executado ou morreu devido a tortura e maus-tratos. Os soviéticos interrogavam o Cônsul, um diplomata de carreira, pretendendo conhecer os nomes e os contactos dos agentes da secreta polaca no território da URSS. Todos os 26 mandantes soviéticos, que sabiam desta operação de NKVD foram obrigados à assinar uma promessa de confidencialidade.

A lista com os nomes dos 26 mandantes soviéticos que
«sabiam ou participavam» na operação ilegal do NKVD



«Promessa de confidencilidade»

Em 1941-1943, as autoridades polacas fizeram várias tentativas para descobrir o destino do Cônsul Jerzy Matusiński e do seu motorista Józef Łyczek, mas sem sucesso. Este último foi libertado sob amnistia em 1941 e morreu no território da URSS em circunstâncias não esclarecidas. Depois de a verdade sobre a execução de Katyn ter vindo a público em 1943, tornou-se claro que o Cônsul provavelmente morreu às mãos dos algozes de Estaline, e os seus restos mortais foram enterrados numa das valas comuns.

Desde maio de 1926 Jerzy Matusiński trabalhava ao serviço diplomático no Ministério dos Negócios Estrangeiros polaco. Serviu como Cônsul-Geral em Pittsburgh (1933–1935), Nova Iorque (1935), Lille (1935–1937) e Kyiv (1937–1939).

Fonte documental: Arquivo Setorial do SBU