A Unidade №
54777 da GRU, conhecida como o 72º Centro de Serviços Especiais, é o
centro de guerra psicológica dos militares russos, que
usa diversas fachadas, tais como supostos hackers CyberCaliphate,
escreve
The Washington Post.
A
estudante russa Nina Loguntsova (17)
da 11ª classe da escola № 1101 da cidade de
Moscovo, faz parte de um
programa de educação militar em expansão nas escolas públicas de Moscovo, que visa incutir nos alunos
o respeito pelos serviços de
segurança russos e
aumentar o conhecimento matemático e computacional de potenciais recrutas.
Nina Loguntsova, foto Mary Gelman para The Washington Post |
Um dos parceiros do programa é
a agência de inteligência militar russa GRU – cujas impressões digitais
são cada vez mais encontradas em operações suspeitas do
Kremlin em todo o mundo.
GRU na sala de aula
O poder da GRU é reforçado por um aumento do apoio público às
forças armadas russas e suas agências de inteligência – com
foco no patriotismo russo e no conflito com Ocidente, que é um tema recorrente na imprensa
estatal russa. A GRU em si, mostram os registos, está agora envolvida na promoção dos serviços de inteligência nas escolas
públicas
russas.
Documentos publicados na
página da escola mostram, que a sua classe de cadetes é patrocinada pelo Serviço Federal de Segurança
(FSB), e pela unidade militar №
26165, o departamento de guerra cibernética da GRU, também chamada de APT28 ou Fancy Bear por pesquisadores americanos.
Ver os originais dos documentos |
A unidade 26165 ajudou a
projetar o currículo na escola de Nina Loguntsova e em pelo menos seis outras
em Moscovo nos últimos anos, segundo “acordos de cooperação” publicados nas páginas oficiais das escolas. Embora a GRU parece funcionar, em grande parte, em segundo plano.
O complexo militar em Moscovo que abriga a Unidade 26165. Foto: Mary Gelman para The Washington Post |
O acordo de cooperação entre os
serviços de segurança e a escola de Loguntsova é assinado pelo comandante da
Unidade 26165, Viktor Netyksho. Em julho de 2018, ele foi acusado oficialmente pelos EUA de liderar o esforço da GRU para hackear as contas de e-mail de funcionários da
campanha democrata e da Hillary
Clinton.
Centro de gravidade secreto
Em fevereiro de 2015, quando o
conflito no leste da Ucrânia se arrastou para o segundo ano
consecutivo, uma dúzia de
senadores dos EUA recebeu um e-mail de alguém pretendendo pertencer a um grupo
chamado “Patriots of Ukraine”. O e-mail continha um link para uma petição para salvar
Ucrânia, cujo governo pró-ocidental luta contra os separatistas pró-russos.
Em
um inglês
básico
a petição implorava aos senadores americanos, que pareciam ser escolhidos apenas em virtude de seus apelidos/sobrenomes, já que eram a primeira dúzia ou mais por
ordem alfabética – a enviar “oficiais ocidentais à Ucrânia para o controlo
direto de nossas Forças Armadas”
para substituir o alto
comando militar ucraniano.
O e-mail aparentemente não criou
nenhum impacto em Washington.
Mas foi o primeiro esforço conhecido, embora um tanto
grosseiro, da principal divisão de operações psicológicas da GRU a influenciar os políticos dos EUA.
Analistas ocidentais da
inteligência viram essa campanha com dois objetivos geminados, desmoralizar os ucranianos e semear confusão entre os
formuladores de políticas dos EUA – para fazê-los acreditar que os próprios
ucranianos haviam perdido a fé em suas forças armadas.
A unidade da GRU por trás dos e-mails, conhecida como Unidade 54777,
ou o 72º Centro de Serviços Especiais, é o centro de guerra psicológica e
das operações psicológicas dos
militares russos.
Em
novembro de 2018, quando os
navios da guarda-fronteira russa (parte do FSB) atacaram a aprisionaram três
navios ucranianos no Mar Negro, jovens de uma região fronteiriça ucraniana receberam as
SMS para se
apresentarem ao serviço militar.
As mensagens de texto, segundo uma agência de inteligência ocidental, foram enviadas pela
unidade de psy-war russa –
uma avaliação anteriormente não conhecida.
A Unidade 54777 tem várias
organizações de fachada que são financiadas através de subsídios do governo russo
como organizações de diplomacia pública, mas são
secretamente administradas pela GRU e focados nos expatriados russos. Dois dos mais significativos são
agência InfoRos e o
Instituto da Diáspora Russa. Em fevereiro de 2014, por exemplo, pouco antes de
a Rússia anexar a Crimeia à Ucrânia, o instituto e a
InfoRos lançaram um apelo, supostamente em nome de organizações russas na
Ucrânia, pedindo a Putin que interviesse no país.
Hacker “solitário romeno” Guccifer 2.0 é oficial do GRU russo |
A Unidade 54777 também é
considerada pela inteligência ocidental como o pólo que trabalha com outras unidades de
operações psicológicas e cibernéticas,
como o CyberCaliphate, um grupo de supostos hackers, que se apresenta como apoiante do Daesh/Estado Islâmico, mas que faz parte da mesma unidade da GRU, que penetrou no servidor dos Partido
Democrata
dos
EUA em 2016.
Ucrânia como campo de testes
De muitas maneiras, o conflito
na Ucrânia forneceu a base de teste para as operações de informação e
ciberguerra da GRU, dizem os analistas.
Os espiões dirigidos pela
Unidade 54777 criavam personagens falsas e postavam comentários em plataformas de redes
sociais em russo, ucraniano e em inglês, bem como em artigos em publicações
ocidentais, de acordo com a agência de inteligência ocidental. Frequentemente, eles procuravam estimular as divisões entre os
ucranianos. Em dezembro de 2015, hackers da GRU atacaram a rede elétrica da Ucrânia. Foi o primeiro ciberataque
conhecido a resultar em uma queda de energia.
Unidades de GRU também são
suspeitas de implantar um vírus de computador altamente perturbador, lançado em 28 de junho de 2017 – o Dia da Constituição da Ucrânia. O vírus atacou os
computadores de bancos, empresas de energia, altos funcionários do governo e um
aeroporto na Ucrânia, mas também afetou computadores na Dinamarca, na Índia e nos
Estados Unidos. A Casa Branca chamou isso de “o ataque cibernético mais destrutivo e caro da história”. Em resposta, os Estados Unidos impuseram, em março de
2018, as sanções contra
os seis funcionários da GRU.
“A Ucrânia é [o local] da guerra híbrida do século XXI, tal como a Espanha foi na década de 1930 para técnicas blitzkrieg de campo de batalha – o
lugar onde os bandidos experimentam o que podem usar
contra nós mais tarde”, diz Daniel Fried, ex-funcionário do Departamento de Estado que ajudou
liderar a resposta do Ocidente à agressão de Moscovo contra Ucrânia.