O
realizador russo Aleksey
Krasovskiy apresentou ao público o trecho da sua comédia negra «Prazdnik»
(Festa), o enredo da qual decorre em Leninegrado, numa festa do Ano Novo, no decorrer do cerco nazi da
cidade, marcado pela fome generalizada e extrema da sua população.
Os
personagens principais do filme, membros da família privilegiada do cientista
Voskresensky, comemoram o Ano Novo numa casa de campo. Convidados inesperados juntam-se
à festa: o filho dos Voskresensky traz para casa a sua namorada que não está
acostumada ao luxo que goza a família, e a filha trouxe o noivo que acaba de
voltar da linha da frente. Os Voskresensky têm que esconder a sua vida de privilégios,
porque os outros moradores de Leninegrado estão, literalmente, morrendo de
fome.
As filmagens do Prazdnik |
O
realizador arrecadou o dinheiro para fazer o filme com a ajuda do crowdfunding. Ele recebeu várias ameaças
pelo telefone e nas redes sociais, devido ao facto de fazer uma comédia sobre
Leninegrado sitiado. O filme, sem sequer ser visto, foi chamado pelos críticos do
regime de “blasfémia”; acusando os seus criadores de “pisotear o tema sagrado”.
Krasovskiy se recusou a receber a licença estatal para exibição do seu filme – decidindo,
simplesmente, colocar a película, de forma livre, no seu canal no YouTube.
Ler a entrevista do realizador (em russo) |
Blogueiro:
o cerco a Leninegrado
pelos exércitos alemão, finlandês e espanhol, durou longos 872 dias. Cerco resultou,
diretamente, na morte de 641.000 pessoas e milhares de outros morreram fora da
cidade, já após a sua evacuação.
Por
outro lado, a cidade sitiada recebia comida, quer por caminho-de-ferro (que na
realidade nunca foi cortado pelos alemães), quer por via aérea, mas que claro,
não chegava e nem era distribuída para todos. Na cidade circulavam os talões e cabazes
especiais, acessíveis à elite soviética militar, científica e do NKVD. Um grande
número desses documentos históricos está nos arquivos, no Museu do Cerco da
cidade, que até hoje não podem ser exibidos publicamente (fonte).
No
período mais terrível do inverno de 1941-42 (a temperatura caiu abaixo de – 30ºC),
um operário recebia 250 g de pão por dia e os cidadãos “improdutivos” apenas 150
g. No entanto, na cidade existia o sempre presente mercado negro de alimentos e
foram registados diversos atos de canibalismo (segundo arquivos do NKVD-MGB em
Leninegrado foram detidos cerca 2.000 praticantes do canibilismo, 586 deles foram
executados. Anne Reid,
“Leningrad: The Epic Siege of World War II, 1941-1944”).
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