O
caos é a nova estratégia que o Kremlin persegue na sua guerra política: o general
russo Valery Gerasimov especifica que o objetivo da estratégia é alcançar um
ambiente de inquietação permanente e conflito dentro de um Estado inimigo. Provavelmente
está sendo usada em você.
Em
fevereiro de 2013, o general Valery Gerasimov – o chefe do Estado Maior do
Exército russo publicou na revista russa “Correio Militar-Industrial” um
artigo chamado “O valor da ciência está na Previsão”. Gerasimov adotou as
táticas desenvolvidas pelos soviéticos, misturou-as com o pensamento militar
estratégico sobre a guerra total e estabeleceu uma nova teoria da guerra
moderna – que se assemelha mais ao hackear a sociedade do inimigo do que
atacá-lo em frente [da batalha]. Ele escreveu: “As próprias 'regras de guerra'
mudaram. O papel dos meios não militares de alcançar objetivos políticos e
estratégicos cresceu e, em muitos casos, eles excederam o poder da força das
armas em sua eficácia. … Tudo isso é complementado por meios militares de
caráter oculto”.
O
artigo é considerado por muitos como a articulação mais útil da estratégia
moderna da Rússia, uma visão da guerra total que coloca a política e a guerra
dentro do mesmo espectro de atividades – filosoficamente, mas também
logisticamente. A abordagem é de guerrilha e travada em todas as frentes com
uma gama de atores e ferramentas – por exemplo, hackers, mídia, empresários,
vazamentos [informativos] e, sim, notícias falsas, assim como meios militares
convencionais e assimétricos. Graças à Internet e às redes sociais, os tipos de
operações de que as equipas/es soviéticas de psy-ops / psy-war apenas
podiam sonhar – subvertendo os assuntos domésticos [de nações] apenas com
informações – são agora plausíveis. A Doutrina Gerasimov cria uma estrutura para
essas novas ferramentas e declara que as táticas não militares já não são
auxiliares do uso da força, mas se tornam a maneira preferida de vencer. Que
eles são, na verdade, a guerra real. O caos é a estratégia que o Kremlin
persegue: Gerasimov especifica que o objetivo é alcançar um ambiente de
inquietação permanente e conflito dentro de um Estado inimigo.
França: os "coletes amerelos" destroem a placa do Centro Cultural e Informativo da Ucrânia em Paris |
Na
Ucrânia, a Rússia vem implantando a Doutrina Gerasimov nos últimos anos.
Durante os protestos de 2014, o Kremlin apoiou extremistas de ambos os lados da
luta – forças pró-russas e ultranacionalistas ucranianos – alimentando
conflitos que o Kremlin usou como pretexto para ocupar a Crimeia e lançar a
guerra no leste da Ucrânia. Acrescente uma dose pesada de guerra de informações
e esse ambiente confuso – no qual ninguém tem certeza dos motivos de ninguém e
praticamente ninguém é um herói – é aquele em que o Kremlin pode prontamente
exercer controlo/e. Esta é a Doutrina Gerasimov na prática.
Os
Estados Unidos são o alvo mais recente. O estado autoritário russo define a
América como o principal adversário. Os russos sabem que não podem competir com
a gente [EUA] – economicamente, militarmente, tecnologicamente – então eles
criam novos campos de batalha. Eles não pretendem se tornar mais fortes que nós
[EUA], mas enfraquecer nós até que sejamos equivalentes.
* Molly
K. McKew, especialista em guerra de informação, aconselha governos e partidos
políticos sobre política externa e comunicações estratégicas. Foi conselheira do
governo do presidente da Geórgia, Mikheil Saakashvili, de 2009 a 2013, e do
ex-primeiro ministro da República da Molova, Vlad Filat, em 2014-15.
Ler
o texto integral em inglês.
Bónus
O uso prático da doutrina Gerasimov nos protestos de “coletes amarelos” em Paris
Dois
homens que seguram, nas ruas de Paris, a bandeira dos separatistas de Donbas foram identificados
como cidadãos franceses Fabrice Sorlin e Xavier Moreau.
ler mais |
Fabrice
Sorlin (marcado à amarelo) é o líder da organização de extrema-direita Dies Irae, fã do “Mundo russo”,
membro da “Frente Nacional”, ex-líder da organização “Associação França –
Europa – Rússia”, chefe do centro Katehon (um dos membros do seu conselho
diretivo é neofascista russo Alexander Dugin, com as conexões óbvias com a
secreta militar russa GRU).
Xavier Moreau (marcado à vermelho) visitou
ilegalmente os territórios ocupados de Donbas, foi um dos “observadores internacionais”
no dito processo eleitoral nas ditas repúblicas populares” de Donbas. Após
disso, produziu uma série de colunas pró-russas na mídia francesa. Vive e
trabalha em Moscovo.
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