Ao
longo do século XX, milhões de pessoas foram presas e deportadas para campos de
concentração na União Soviética. Entre eles estavam muitos artistas e
escritores, vários dos quais partilharam a sua experiência em obras que vieram
para a posteridade. A censura que sofreram, por parte da esquerda europeia, impediu
muitos deles de ver as suas obras publicadas.
Gustaw Herling-Grudziński
(Kielce, 20 de maio de 1919 – Nápoles, 4 de julho de 2000) é escritor,
ensaísta, jornalista, crítico literário e sobrevivente do GULAG. Foi o primeiro
intelectual ocidental a denunciar a existência do GULAG soviético.
Foi
libertado do GULAG em janeiro de 1942 para se juntar ao exército polaco do
general Anders em março do mesmo ano. Participou, com o Segundo Corpo Polaco/Polonês
na Campanha da Itália, nomeadamente na batalha de Monte Casino.
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Em
1951, a editora londrina Heinemann publicou o seu livro “Um Mundo à Parte” em
inglês, com prólogo de Bertrand Russell. Foi um dos primeiros testemunhos de
horror do GULAG soviético, se tornando o objeto de uma autêntica caça às bruxas
pela esquerda europeia, que negava a existência dos campos de concentração na
URSS. Na França, nenhum editor teve a coragem de publicá-lo, apesar de os
direitos foram adquiridos várias vezes e que próprio Albert Camus recomendou o
livro a várias editoras, o livro demorasse mais de trinta anos para ser
publicado em francês. Em 1990, livro foi publicado na URSS e na Polónia, onde
por décadas liderou o índice de livros banidos pelo regime comunista (fonte).
Pavel
Floresnky (Azerbaijão, Yevlakh, 22
de janeiro de 1882 – GULAG, † 8 de dezembro de 1937), pensador e cientista
russo, reconhecido pelo seu poliédrico interesse no campo do conhecimento, foi
um dos defensores da necessidade de um pensamento capaz de aproximar e
descrever o real em sua multiforme complexidade. O eloquente e convincente
testemunho deste pensamento é a sua copiosa e ampla produção
filosófico-teológica e científica.
Em 1933, quando regime soviético decidiu
levar Florensky para a prisão em GULAG, as cartas escritas aos familiares tornaram-se
ocasião para que ele pudesse refletir pela última vez sobre aquelas intuições
originais que estavam na base do seu projeto sobre o “pensamento integral” (fonte).
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Mais
tarde, as suas cartas foram publicadas em espanhol sob o título “Cartas de la
Prisión y de los Campos” (ler
mais sobre o autor em português).
Karlo Štajner (15 de
janeiro de 1902 – 1 de março de 1992) foi um ativista comunista austro-jugoslavo
e um proeminente sobrevivente do GULAG. Štajner nasceu em Viena, onde ingressou
na Juventude Comunista da Áustria, mas emigrou para o Reino dos Sérvios,
Croatas e Eslovenos em 1922 sob a ordem da Juventude Internacional Comunista para
ajudar ao recém-criado Partido Comunista da Jugoslávia.
Karlo Štajner em 1988 | Wikipédia |
Em 1932 se estabeleceu na
União Soviética, onde trabalhou na editora Comintern em Moscovo. Durante o
Grande Terror em 1936, Štajner foi preso e passou os 17 anos seguintes em
prisões e campos de concentração, e mais três anos no exílio na Sibéria. Ele
foi libertado em 1956 e após ser reabilitado voltou para a Jugoslávia. Passou o
resto de sua vida em Zagreb com sua esposa Sonya, com quem se casou em Moscovo
na década de 1930.
Em
1971, Štajner publicou um livro intitulado “Sete Mil Dias na Sibéria” sobre
suas experiências. O livro foi um best-seller na Jugoslávia e foi nomeado o “livro
do ano de 1972” pelo jornal Vjesnik.
Ante Ciliga (20 de
fevereiro de 1898 – 21 de outubro de 1992) foi um político, escritor e editor
croata, um dos fundadores do Partido Comunista da Jugoslávia (KPJ).
Ante Ciliga | foto: cartoliste |
Em
1930, Ciliga ensinou na Universidade Comunista de Leninegrado. Preso pela OGPU,
acusado de trotskismo, foi enviado para um campo de GULAG na Sibéria. Pelo
resto de sua vida, Ciliga viveu na França e na Itália. Já expulso do Partido
Comunista Jugoslavo em 1929, ele mais tarde renunciou à sua posição. Devido à
sua cidadania italiana conseguiu sair da URSS em 1935.
Em
1936-1937 em Paris, ele escreveu o livro “No país da Grande Mentira”. Livro foi
publicado em 1938. É uma história sobre a sua permanência na URSS e uma análise
política do regime comunista, que Ciliga definiu como “capitalismo de estado”.
Em seguida, este trabalho foi complementado, a sua versão final foi intitulada “Dez
anos no país da Grande Mentira” (En el país de la mentira desconcertante).
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Em agosto de 1941, ele completou o segundo
volume de suas memórias “Sibéria. Terra da deportação e de industrialização” (“The
Russian Enigma”).
Vasily Grossman (Berdichiv, Ucrânia, 12 de dezembro de 1905 – Moscovo,
14 de setembro de 1964), foi um proeminente escritor e jornalista soviético, de
origem judaica-ucraniana.
Embora
Grossman nunca tenha sido preso pelas autoridades soviéticas, suas duas
obras-primas (“Vida e Destino” e “Tudo Passa”) foram censuradas na URSS como
obras anti-soviéticas. O principal ideólogo da URSS, Mikhail Suslov disse ao
Grossman que o seu livro “Vida e Destino” não poderia ser publicado em duzentos
ou trezentos anos.
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No livro “Tudo Passa” o autor descreve a vida Ivan
Grigórievitch, um sobrevivente do GULAG, que passou nos campos de concentração
sovieticos os últimos trinta anos da sua vida. Posto em liberdade após a morte
de Estaline, descobre que os anos de terror impuseram uma escravidão moral
coletiva... Quando Grossman morreu em 1964, as suas obras permaneceram inéditas.
Foram publicadas na União Soviética apenas após a proclamação das reformas
Mikhail Gorbachev. A Vida e Destino rapidamente alcançou enorme sucesso e
chegou a ser saudado como uma das maiores obras literárias do século XX.
Victor Serge (pseudónimo do Victor Kibalchich), (Bruxelas, 1890 – México DF, 1947), foi um
anarquista, político, escritor, desde 1919 funcionário do Comintern como jornalista, editor e tradutor. Crítico aberto
do estalinismo, obrigado a abandonar a União Soviética fugindo à repressão,
faleceu no exílio mexicano.
Victor Serge | Wikipédia |
Em
1928, Serge é expulso do Partido Comunista e inabilitado para trabalhar para o
Governo. Nos anos seguintes, escreve O ano I da Revolução Russa (1930 – existe
tradução brasileira, da Editora Ensaio) e dois romances: Homens em Prisão
(1930) e O nascimento do nosso poder (1931), além de traduzir para francês as
Memórias de Vera Figner. Todas essas obras são banidas da União Soviética e
publicadas na França e Espanha.
Victor Serge no GULAG |
Serge
é detido e levado a prisão em 1933. A maior parte da Oposição de Esquerda
acabou por ser executada, mas Serge conseguiu abandonar o país graças às
pressões e protestos de sectores políticos em França, Bélgica e Espanha.
No
seu conto “O longo crepúsculo” ele conta a história de um professor soviético,
detido pelo NKVD e acusado de ser contra-revolucionário devido à um comentário seu
sobre a revolução francesa.
Varlam Shalamov (Vologda,
Rússia, 18 de junho de 1907 — Tushino, URSS, 17 de janeiro de 1982) foi um
escritor, jornalista, poeta, dissidente e prisioneiro político, sobrevivente do GULAG soviético.
Varlam Shalamov na cadeia de NKVD | Wikipédia |
Shalamov
passou dezoito anos preso nos campos de concentração soviéticos, cumprindo três
condenações quase consecutivas por “atividades contra-revolucionárias”. Em 1956
foi reabilitado e retoma a sua atividade literária em Moscovo.
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Em conjunto com
a obra de Soljenítsin, a sua obra “Contos de Kolimá” é um dos melhores retratos
da vida nos campos de concentração soviéticos, principalmente na Sibéria, em
condições desumanas, com temperaturas baixíssimas que, como relata, “era tão
frio que não era possível pensar em nada”.
Aleksandr Tvardovsky
(08/21 de junho de 1910 – 18 de dezembro de 1971) foi poeta e escritor
soviético, editor-chefe da revista literária (de cariz liberal) Novy Mir (Novo
Mundo) de 1950 à 1954 e de 1958 à 1970.
Tvardovsky
publicou o romance de Alexander Soljenítsin “Um dia da Vida do Ivan Denissovich”,
verso de Leonid Kiselev, dirigido contra a política agressiva dos czares russos
na Ucrânia (“Os Czares”), obra do Ivan Dziuba, já banida na Ucrânia Soviética.
Tvardovsky se tornou um dos “desviados” da linha do partido comunista,
principalmente após a publicação no Ocidente do seu poema “Por direito de
memória (1968), e no início de 1970 foi
removido do cargo de editor-chefe da revista.
Oleg Sentsov (Simferopol,
Crimeia, 13 de Julho de 1976). Após a ocupação e anexação da península da Crimeia pela Rússia, o cineasta
ucraniano Oleg Sentsov foi preso, condenado e colocado numa prisão russa no Ártico sob acusações de “terrorismo”
que foram denunciadas como amplamente exageradas ou fabricadas por motivos
políticos.
A
12 de Dezembro de 2018 Oleg Sentsov recebeu (do Parlamento Europeu) o Prémio Andrey
Sakharov para a Liberdade de Pensamento, em reconhecimento e solidariedade para
com a sua luta. Na ocasião o Parlamento Europeu apelou à libertação imediata de
Oleg Sentsov, descrevendo-o como um símbolo da luta pela libertação de todos os
prisioneiros políticos na Rússia.
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