Recentemente,
o 1º canal da TV russa mostrou um ucraniano “desapontado com Maydan”. A
identidade real da personagem foi estabelecida muito rapidamente: cidadão belaruso,
morador de Minsk, funcionário de uma produtora televisiva.
Como
todos os ucranianos ficaram congelados
Para
celebrar o 5º aniversário da Revolução da Dignidade (movimento EuroMaydan), o 1º
canal da TV russa exibiu a reportagem em que um alegado ucraniano, alegadamente
chamado Kirill Chubenko, transmitiu a seguinte tese: “Euromaidan não me deu
nada pessoalmente! Olha, onde estamos! Devíamos olhar ao futuro e, no futuro,
ficamos sem calor, com energia cara, e não está claro quando tudo isso
terminará! Como sobreviver ao inverno, como mandar as crianças para a escola?”
Imagem: printscrean do 1º Canal da TV russa |
Declamando
o texto propagandista russo, o nosso “Chubenko”, nem sequer reparou num
pormenor curioso, na sua idade de “ligeiramente acima de 20 anos”, ainda é cedo
demais para ter as crianças da idade escolar.
Os "voluntários" russos voltavam para casa em viaturas refrigeradoras | verão de 2014 |
A
reportagem foi, claramente, dirigida aos telespetadores russos (como o resto da
propaganda do 1º canal russo) – na Rússia não é transmitido nenhum canal de TV
ucraniana, e todas as notícias sobre Ucrânia são apresentadas sob o prisma
propagandista. Graças à este tipo de propaganda, em 2014, os amantes da URSS do
interior da Rússia se alistavam, na escala industrial, às fileiras da “milícia
de Novorossia”, após disso voltavam para casa em viaturas refrigeradoras (foto acima).
Desmentido
absoluto. Pedido de desculpas
Muito
rapidamente se soube que o papel do ucraniano “Chubenko” foi desempenhado pelo belaruso de
Minsk – Vitaly Iurchenko – ele foi localizado nas redes sociais. Vitaly entrou
em contato com a página belarusa Nasha Niva e contou a sua história:
Vitaliy Yurchenko ja na base de dados Myrotvorets |
“Trabalhei
numa empresa belarusa que serve de intermediário entre os canais de TV e cameramans
em todo o mundo. Por exemplo, algures acontece um terremoto – os canais de TV
precisam de um vídeo do local, então procuramos um cameraman. Recebemos um
pedido do 1º Canal russo para filmar uma família ou uma pessoa na cidade [ucraniana]
de Kryviy Rih que sofre de falta de gás e do aquecimento caro”.
Vitaliy
assegura que a reportagem em Kryviy Rih foi supostamente filmada, mas tinha má
qualidade de som e, supostamente por isso, a produtora belarusa decidiu fazer
um novo vídeo, com Vitaly no papel principal, se fazendo passar por um
ucraniano da Ucrânia.
Vitaly
pediu desculpas à Ucrânia e aos ucranianos: “Eu não tinha o direito moral de participar
nisso. Isso contradiz todas as minhas opiniões, estou infinitamente
envergonhado, é uma vergonha”.
O
que foi tudo isso?
Vitaliy
Yurchenko, após ser descoberto, entrou na base de dados da página ucraniana Myrotvorets
(Pacificador) como participante da guerra de informação contra Ucrânia – uma decisão
absolutamente certa, pois Vitaly estava plenamente consciente do que estava
fazendo.
Formado
na faculdade de direito da Universidade Estatal da Belarus (BDU), não podia não
entender as consequências das suas ações.
Yulia Tymoshenko | imagem: printscrean da TV |
Mas
mais interessante é outra coisa – por que a propaganda russa fez essa
reportagem e porque agora? Possivelmente devido às próximas eleições presidenciais
na Ucrânia em março de 2019 – onde um dos candidatos é Yulia Tymoshenko. A
candidata populista promete “devolver tudo o que era de bom” e fala
incessantemente sobre gás e sobre as tarifas de gás. Ela promete reduzir os
preços do gás em 2 vezes [embora com letrinhas menores explica que a promessa
se aplica somente ao gás produzido na Ucrânia e somente ao consumo da população] – aos níveis de preços de gás praticados
na Rússia, para o consumo interno das populações. Tymoshenko não especifica como
pretende conseguir essa redução – possivelmente ao preço de algum tipo de
acordo colonial, assinado com a Rússia.
Foto: Etcetera Media |
Ou
seja, como brincam os ucranianos – com Yulia Tymoshenko um dólar na Ucrânia não custará 8 hryvnias, mas 67 rublos. E mais provável, que Tymoshenko será nas
próximas eleições o tal candidato pró-russo, com a agenda baseada no gás e no tarifário,
comprovado, indiretamente, pelos vídeos em que Vitaly Iurchenko se estrelou.
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