sábado, dezembro 22, 2018

Entrega do Prémio Sakharov 2018 – o vazio da cadeira do laureado

Oleg Sentsov, acusado de alegadas “actividades terroristas” foi, depois de um julgamento de farsa num tribunal militar russo, condenado a uma pena de prisão de 20 anos que cumpre actualmente na colónia penal de Labitnangi no norte da Rússia.

por: Jóse Inácio Faria, eurodeputado português
Foto: FB do eurodeputado português José Inácio Faria
Activista contra a anexação ilegal da Península da Crimeia pela Rússia, viu a sua coragem e determinação serem reconhecidas pelo Parlamento Europeu, que lhe atribuiu o Prémio Andrey Sakharov 2018 para a Liberdade de Pensamento.

Sem surpresa, e apesar dos inúmeros apelos para a sua libertação, a cadeira que lhe estava destinada na cerimónia de entrega que decorreu hoje no Parlamento Europeu em Estrasburgo ficou vazia.
Em representação de Oleg Sentsov, a sua prima, Natalya Kaplan, e o seu advogado, Dmitriy Dinze,
com o Presidente do PE, Antonio Tajani
A sua luta pela liberdade de pensamento e de expressão e pela libertação dos prisioneiros políticos em todo o mundo, incluindo os outros três laureados com o Prémio Sakharov que estão neste momento detidos (Raif Badawi na Arábia Saudita, Leopoldo López em prisão domiciliária na Venezuela e Nasrin Sotude no Irão, cuja libertação imediata pedi através de três cartas assinadas com outros colegas e endereçadas ao Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, à Alta Representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, e ao Presidente do Conselho, Donald Tusk) mostram à evidência que, comemorados há dois dias os setenta anos da aprovação da Declaração Universal de Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o ideal de universalidade dos direitos humanos continua longe de ser alcançado!

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Oleg Sentsov não esteve presente no Parlamento Europeu (PE) para receber pessoalmente o prémio na quarta-feira, 12 de dezembro, porque permanece preso na Sibéria, cumprindo uma pena de 20 anos por “planear atos de terrorismo” contra a permanência “de facto” russa na Crimeia.

A sua prima, Natalya Kaplan, e o seu advogado, Dmitriy Dinze, representaram-no na cerimónia realizada no hemiciclo do PE, em Estrasburgo.

Ao entregar o prémio, o presidente do PE, Antonio Tajani, disse: “Oleg Sentsov foi laureado pelo seu protesto pacífico contra a ocupação ilegal de sua terra-natal, a Crimeia. Mas também pela sua coragem, determinação e convicções no apoio da dignidade humana, democracia, Estado de direito e direitos humanos. Estes são os valores sobre os quais assenta a nossa União, ainda mais depois do terrível ataque de ontem, valores que este Parlamento preza, defende e promove”.
“A greve de fome de Sentsov e a sua corajosa postura pública fizeram dele um símbolo da luta pela libertação dos prisioneiros políticos que ainda se encontram detidos na Rússia e em todo o mundo”, acrescentou. Observando que o prémio é entregue num momento de graves tensões entre a Rússia e a Ucrânia, Tajani pediu uma atenuação da escalada do conflito e reiterou o apoio à integridade territorial da Ucrânia.

O presidente do PE apelou à libertação imediata e incondicional de Oleg Sentsov e de todos os outros cidadãos ucranianos detidos ilegalmente na Rússia e na Península da Crimeia, bem como a de outros galardoados que se encontram detidos: “O Prémio Sakharov não é apenas um prémio. É um compromisso. Continuamos a acompanhar de perto os nossos laureados”.

Quando Natalya Kaplan recebeu, das mãos de Tajani, a distinção, descreveu de uma forma muito vívida a vida, as ações levadas a cabo durante a anexação da Crimeia e as torturas e espancamentos pelos quais o seu primo passou quando foi preso e condenado por actos que nunca havia cometido. “Oleg é uma pessoa que não pode desistir e apenas ficar sentado em silêncio. Ele é um lutador por natureza”.
“Graças ao seu acto [greve de fome] o mundo inteiro falou sobre as repressões da Rússia –
e isso é uma vitória”, afirmou Natalya Kaplan.
Ao descrever a greve de fome que Sentsov fez pela libertação de todos os prisioneiros políticos ucranianos, Natalya Kaplan disse que, durante esse período “de 145 dias, nenhum prisioneiro político foi libertado, mas isso não significa que ele perdeu – graças a seu ato o mundo inteiro falou sobre as repressões da Rússia – e isso é uma vitória”.

A familiar do cineasta ucraniano concluiu a sua intervenção com uma mensagem do próprio: “Não posso estar presente nesta sala, mas vocês podem ouvir as minhas palavras. Mesmo que outra pessoa esteja a dizer que a palavra é a principal ferramenta de alguém e, muitas vezes, a sua também, especialmente quando tudo o resto foi retirado dele”.
Oleg Sentsov, laureado do Prémio Sakharov de 2018
[...] O anúncio de que o Prémio Sakharov 2018 para a Liberdade de Pensamento seria atribuído a Oleg Sentsov foi feito pelo presidente do PE no dia 25 de outubro.

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