Se
a Rússia continuar a humilhar [Ucrânia] com operações como aquela que ocorreu
no Estreito de Kerch, Kyiv pode mesmo optar por uma solução [nuclear] para a qual possui
capacidade [em] recursos e tecnologia.
por:
José Milhazes, Observador.pt
Até
agora, a Rússia tem conseguido humilhar a Ucrânia com a ajuda do seu poderio
militar, mas essa situação pode mudar radicalmente se Kyiv decidir voltar a ter
armas nucleares. Como diz um ditado russo: “o problema da salvação daquele que
se está a afogar é dele”.
Após
o incidente militar no Estreito de Kerch, os Estados Unidos e a União Europeia
voltaram a condenar o Kremlin por mais uma violação grosseira do Direito
Internacional, mas pouco ou nada podem fazer para resolver o problema.
Os
dirigentes ucranianos começam a compreender que o seu país não deve esperar
apoio decisivo de fora e podem tomar medidas que realmente arrefeçam o desejo
expansionista de Vladimir Putin.
A
solução poderá estar na bomba nuclear enquanto arma de contenção. Isto pode
parecer uma ideia descabida, mas é defendida, entre outros, por Leonid Kuchma,
antigo Presidente da Ucrânia que assinou o Tratado de Budapeste em 1994.
É
de recordar que a Ucrânia teve o terceiro maior potencial nuclear do mundo
entre o fim da União Soviética, em 1991, e a assinatura desse tratado. Em troca
da entrega das armas nucleares à Rússia e da garantia de que a Ucrânia aderiria
ao sistema de não difusão de armas nucleares, os ucranianos receberam a
garantia da sua integridade territorial por parte da Rússia e de outras
potências nucleares.
Ora,
como é sabido, Moscovo atirou esse documento para o caixote do lixo ao invadir
a Crimeia e ao ocupar parte do território da Ucrânia do Leste. Só pessoas
mal-intencionadas podem ainda negar que os separatistas não são, na sua grande
maioria, soldados e mercenários russos.
Nesta
situação Kyiv tem todo o direito de deixar de respeitar o Tratado de Budapeste
e reaver o seu estatuto de potência nuclear.
Por
um lado, o fabrico de armas nucleares exigiria um esforço económico e
financeiro do Estado e do povo ucranianos e, como sabemos, o país atravessa uma
pesada e séria crise. Mas, se a Rússia continuar a humilhar o país vizinho com
operações como aquela que ocorreu no Estreito de Kerch, Kyiv pode mesmo optar
por essa solução.
Como
é sabido, a Ucrânia herdou um grande potencial industrial e técnico-científico
da União Soviética e tem quadros suficientemente preparados para começarem o
fabrico dessas armas. Além disso, não nos devemos esquecer que a Ucrânia detém
reservas de urânio suficientes para fabricar armas nucleares, nomeadamente de
urânio enriquecido.
Quanto
ao fabrico de mísseis que possam transportar essas bombas até território russo,
é preciso ter em conta que os cientistas ucranianos têm muita experiência nesse
campo. O já citado ex-Presidente da Ucrânia foi, entre 1986-1992, director da
empresa Yuzhmash, que fabrica motores para foguetões e mísseis. Esta e outras
empresas do ramo, não obstante a crise, continuam a produzir.
E,
mais um pormenor, a Rússia ficaria ao alcance de mísseis ucranianos de curto e
médio alcance, não seria preciso gastar dinheiro em portadores de armas de
longo alcance.
Claro
que esta saída parece ser a mais indesejável para resolver os problemas entre
os dois países vizinhos, mas a paciência dos ucranianos tem limites. Eles podem
considerar que essa será a única forma de travar o avanço do Kremlin.
P.S.
Enquanto estes países combatem entre si, os políticos esquecem-se cada vez mais
dos seus cidadãos e das suas mais elementares necessidades. Segundo um estudo
da Organização Mundial da Saúde a Rússia ocupa o primeiro lugar quanto ao
número de pessoas infectadas com SIDA, seguida da Ucrânia e Belarus. Em 2017,
foram detectados 160 mil novos casos na Europa, 130 mil dos quais na parte
oriental do continente. A Rússia registou 104 mil novos casos!
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Blogueiro: 130.000 (Europa Oriental) –
104.000 (Rússia) = 26.000 (divididos entre todos os outros países da Europa Oriental). Ao mesmo tempo, Portugal é o 2º país da UE em
que a SIDA mais mata. Dados de 2017 mostram que Portugal também está no topo da
lista de novos casos de VIH-SIDA/HIV-AIDS por 100 mil habitantes.
1 comentário:
Pode não ser a solução ideal, mas com certeza seria a mais eficiente...
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