No dia 23 de outubro de 2018, a rapper ucraniana Alyona Alyona, colocou no YouTube a sua composição «Rybky 2» (Peixinhos 2) — vídeo musical, que mistura a paródia de um programa infantil com um rápido
hip-hop.
Momentaneamente nasceu uma nova estrela.
O
marketing viral funcionou e Alyona
Alyona divulgou
mais quatro vídeos, cada um conseguindo mais de um milhão de visualizações
e dezenas de comentários, maioria em russo, à dizer que isso é muito melhor do
que todo o hip-hop russo. Até
recentemente, Alena Savranenko (27) era educadora no jardim-de-infância na pequena
cidade de Baryshevka, na região de Kyiv.
Terminei
a escola e fui trabalhar. Comecei aos 15 anos, em Kyiv no mercado de Troeschyna,
vendia malas e sapatos numa barraca de um chinês. Depois trabalhei como a
caixa, coletora, faxinheira nos centros comerciais, vendedora. Foi formada em
psicologia e comecei trabalhar como assistente social. Dava as consultas às
pessoas que necessitavam: jovens mães, mulheres de famílias problemáticas,
pessoas que foram libertadas das cadeias, toxicodependentes, alcoólicos/alcoólatras.
Comecei
trabalhar no jardim-de-infância, como educadora, por lá não existir a vaga de
psicóloga. Adorei e me formei em educação de infância, trabalhei por cinco anos,
no meu segundo jardim-de-infância cheguei à ser diretora — me
despedi apenas no início de dezembro deste ano.
Gostava
de trabalhar lá, gosto de fazer aplicações, desenhar, as crianças me oiçam,
gostam de mim. Ensinar as crianças coisas boas, ser pessoas boas. Criança, digamos,
partiu um galho, explicava que assim a árvore não irá crescer, passarinho
ficará com fome, esquilo também. As
crianças aprendem ter a compaixão, amar, não fazer mal. Isso é muito importante.
Desde
os meus 12 anos
escrevia poesia, depois
ouvi rap e entendi — assim
é possível contar toda a história num único texto. Aprendi os programas
musicais para escrever os beats. Tínhamos
um grupo, com mais duas meninas. Mas elas foram embora e eu continuei. Dentro da comunidade rap ucraniana era conhecida
como a rapper, fora dela ninguém sabia de mim.
Escrevia
textos para ser aceite no meio do rap, sobre as coisas que nada tinham ver com
a minha vida. Depois
esqueci tudo isso e comecei escrever sobre a minha vida, comecei ler hip-hop de
forma rápida, algo desprezado no meio do rap ucraniano.
Cerca
de 10 anos atrás fiz a minha primeira faixa em ucraniano, depois comecei ler em russo, experimentei o inglês. Mas queria usar a língua ucraniana, isso
é meu. Comecei ler a nova prosa ucraniana — hoje em dia composta por muitas obras
interessantes. Como
educadora eu usava a língua ucraniana — assim
o meu vocabulário aumentou ainda mais. Eu penso, quase sempre, em ucraniano.
Além disso, a estrutura da língua ucraniana é ligeiramente mais simples de que
a língua russa é a língua mais melódica, mais fofa e poética, não é à toa que
se chama “a língua do rouxinol”.
Porque
as minhas composições obtiveram o sucesso? Primeiro porque eu me encontrei. Em segundo lugar, há muitas
pessoas que vivem nas províncias, de uma forma
parecida com a minha vida, as suas
histórias são semelhantes às minhas. Além disso, o fato de eu ser uma educadora de infância desempenha um papel, é uma coisa
bastante incomum.
Eu
não tinha (e não tenho) nenhuma ideia de promover a ideia do “corpo positivo”. Sou
do jeito que sou. Eu não aceitei isso de imediato – somente após completar os
meus 20 anos, na universidade. Decidi que as coisas que eu amo [à fazer] são mais
importantes para mim do que o meu corpo. Deixei de usar as mais diversas dietas.
Temos que encarar tudo isso de forma mais fácil – então a vida se torna muito
mais bonita e elegante.
Eu
quero desenvolver a música ucraniana. Na Ucrânia, o hip-hop é ainda difícil –
mas acho que tudo vai mudar muito em breve. E também gostaria de preparar [a
sociedade ucraniana para que] aceite pessoas como eu, normalmente. Eu não pretendo
perder 40 quilos – e se eu puder dar [às pessoas] através da música a
oportunidade de acreditar em si mesmo, se sentir mais livres, desenterrar algum
talento seu, algures, eu farei isso.
[Quando os meus
alunos do jardim-de-infância viam os meus vídeos], eles diziam: Alena Olegivna, você é tão linda! As crianças
gostam da minha música. Eu não
digo
palavrões nos textos. Me mandam os vídeos de crianças à dançarem sob
as minhas
músicas. Os pais aparecem e dizem – coloquei a sua faixa para a minha criança, nós gostamos tanto!
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