terça-feira, dezembro 25, 2018

Alyona Alyona, a nova estrela do rap ucraniano

No dia 23 de outubro de 2018, a rapper ucraniana Alyona Alyona, colocou no YouTube a sua composição «Rybky 2» (Peixinhos 2) — vídeo musical, que mistura a paródia de um programa infantil com um rápido hip-hop. Momentaneamente nasceu uma nova estrela.

O marketing viral funcionou e Alyona Alyona divulgou mais quatro vídeos, cada um conseguindo mais de um milhão de visualizações e dezenas de comentários, maioria em russo, à dizer que isso é muito melhor do que todo o hip-hop russo. Até recentemente, Alena Savranenko (27) era educadora no jardim-de-infância na pequena cidade de Baryshevka, na região de Kyiv.

Alyona Alyona por Alena Savranenko (Meduza.io, versão curta)

Terminei a escola e fui trabalhar. Comecei aos 15 anos, em Kyiv no mercado de Troeschyna, vendia malas e sapatos numa barraca de um chinês. Depois trabalhei como a caixa, coletora, faxinheira nos centros comerciais, vendedora. Foi formada em psicologia e comecei trabalhar como assistente social. Dava as consultas às pessoas que necessitavam: jovens mães, mulheres de famílias problemáticas, pessoas que foram libertadas das cadeias, toxicodependentes, alcoólicos/alcoólatras.  

Comecei trabalhar no jardim-de-infância, como educadora, por lá não existir a vaga de psicóloga. Adorei e me formei em educação de infância, trabalhei por cinco anos, no meu segundo jardim-de-infância cheguei à ser diretora  me despedi apenas no início de dezembro deste ano.

Gostava de trabalhar lá, gosto de fazer aplicações, desenhar, as crianças me oiçam, gostam de mim. Ensinar as crianças coisas boas, ser pessoas boas. Criança, digamos, partiu um galho, explicava que assim a árvore não irá crescer, passarinho ficará com fome, esquilo também. As crianças aprendem ter a compaixão, amar, não fazer mal. Isso é muito importante.

Desde os meus 12 anos escrevia poesia, depois ouvi rap e entendiassim é possível contar toda a história num único texto. Aprendi os programas musicais para escrever os beats. Tínhamos um grupo, com mais duas meninas. Mas elas foram embora e eu continuei. Dentro da comunidade rap ucraniana era conhecida como a rapper, fora dela ninguém sabia de mim.
Escrevia textos para ser aceite no meio do rap, sobre as coisas que nada tinham ver com a minha vida. Depois esqueci tudo isso e comecei escrever sobre a minha vida, comecei ler hip-hop de forma rápida, algo desprezado no meio do rap ucraniano.

Cerca de 10 anos atrás fiz a minha primeira faixa em ucraniano, depois comecei ler em russo, experimentei o inglês. Mas queria usar a língua ucraniana, isso é meu. Comecei ler a nova prosa ucraniana hoje em dia composta por muitas obras interessantes. Como educadora eu usava a língua ucraniana assim o meu vocabulário aumentou ainda mais. Eu penso, quase sempre, em ucraniano. Além disso, a estrutura da língua ucraniana é ligeiramente mais simples de que a língua russa é a língua mais melódica, mais fofa e poética, não é à toa que se chama “a língua do rouxinol”.

Porque as minhas composições obtiveram o sucesso? Primeiro porque eu me encontrei. Em segundo lugar, há muitas pessoas que vivem nas províncias, de uma forma parecida com a minha vida, as suas histórias são semelhantes às minhas. Além disso, o fato de eu ser uma educadora de infância desempenha um papel, é uma coisa bastante incomum.

Eu não tinha (e não tenho) nenhuma ideia de promover a ideia do “corpo positivo”. Sou do jeito que sou. Eu não aceitei isso de imediato – somente após completar os meus 20 anos, na universidade. Decidi que as coisas que eu amo [à fazer] são mais importantes para mim do que o meu corpo. Deixei de usar as mais diversas dietas. Temos que encarar tudo isso de forma mais fácil – então a vida se torna muito mais bonita e elegante.
Eu quero desenvolver a música ucraniana. Na Ucrânia, o hip-hop é ainda difícil – mas acho que tudo vai mudar muito em breve. E também gostaria de preparar [a sociedade ucraniana para que] aceite pessoas como eu, normalmente. Eu não pretendo perder 40 quilos – e se eu puder dar [às pessoas] através da música a oportunidade de acreditar em si mesmo, se sentir mais livres, desenterrar algum talento seu, algures, eu farei isso.

[Quando os meus alunos do jardim-de-infância viam os meus vídeos], eles diziam: Alena Olegivna, você é tão linda! As crianças gostam da minha música. Eu não digo palavrões nos textos. Me mandam os vídeos de crianças à dançarem sob as minhas músicas. Os pais aparecem e dizem coloquei a sua faixa para a minha criança, nós gostamos tanto!

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