O soldado Gomes Richard Ferreira da 128ª Brigada de Assalto na Montanha é um afro-ucraniano, filho de uma ucraniana de origem russa e do pai angolano, fala fluentemente ucraniano, odeia os ocupantes russos e se considera um verdadeiro ucraniano.
A história de Richard é um exemplo de como a rússia transforma até mesmo aqueles que antes lhe eram leais em seus inimigos.
Os pais de Richard se conheceram no Instituto Politécnico de Kyiv. O pai, cidadão angolano, representante da etnia ovimbundu, estudou engenharia informática, e a mãe, ucraniana de etnia russa, estudou o design.
A jovem família não resistiu ao teste dos difíceis anos 1990 e se separou logo após o nascimento da criança. O pai partiu para sua terra natal, mas não perdeu o contato com o filho.
— Estamos em constante comunicação, já estive várias vezes em Angola, — conta Richard. — O meu pai vive em Luanda, trabalha como um dos principais gestores de um banco de investimento e tornou-se um homem rico. Possui imóveis em vários países europeus e uma frota de caros de luxo.
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Com o pai em Portugal |
Richard foi criado por sua mãe e avó, que, após a separação da família, mudou-se para Sokyryany em Bukovyna (região de Chernivtsi).
Desde a adolescência, Richard se envolveu seriamente em artes marciais — aikido, judô, boxe, praticava o futebol. Aos 16 anos, conquistou a Taça da Ucrânia de boxe e recebeu o título de mestre do desporto, para poder se defender. Mas ele nunca usou os punhos para se afirmar.
Após o ginásio, o graduado ingressou na prestigiosa Universidade Nacional de Educação Física e Desporto da Ucrânia, em Kyiv. De onde foi expulso meio ano antes da defesa de sua tese de bacharelado por... faltas injustificadas.
— Trabalhei e viajei muito: ganhava a vida vendendo carros dos EUA, fui corretor, trabalhei para uma empresa de marketing e até fotógrafo em um navio de cruzeiro — explica Richard.
A história de Richard é uma ilustração de como as atrocidades dos russos mudam drasticamente a visão de uma pessoa apolítica, transformando-a em um patriota da Ucrânia.
— Desde tenra idade, meu ambiente consistia em russos étnicos — diz Richard. — Assistíamos principalmente aos canais de TV russos e sempre ouvíamos as saudações de putin pelo Ano Novo. E isso influenciou muito nossa perspectiva.
Quando os russos tomaram a Crimeia em 2014 e as hostilidades começaram na Donbas, eu realmente acreditei que a razão para isso eram os residentes locais, rebeldes que queriam estar com a rússia. Apesar de minha mãe ter assumido imediatamente uma posição radicalmente pró-ucraniana, ela entendeu o que estava acontecendo. E eu ainda era um estudante na época e não sabia muito sobre política...
— Estudei e trabalhei muito ao mesmo tempo — explica Richard. - E aí veio o covid com todas as restrições, e perdi meu emprego. Tanto meu pai quanto meus amigos me convenceram a me mudar para o exterior — para os EUA ou a Europa. Eu planeava fazer isso, mas primeiro decidi servir nas Forças Armadas da Ucrânia.
No verão de 2020, Richard inesperadamente assinou um contrato de três anos com as FAU.
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Com colegas no exército |
— No Comissariado Militar, perguntaram onde eu queria servir — nas serras ou na cidade — lembra Richard. — Escolhi as montanhas — visitei os Cárpatos muitas vezes em reuniões desportivas. Foi assim que ele entrou na 128ª Brigada Transcarpática separada de Assalto da Montanha.
Os pais ficaram, para dizer o mínimo, desapontados com a decisão do filho.
— Mãe ficou com raiva, pai ficou muito desapontado — diz Richard. — Ele tinha certeza que eu me mudaria para ele em Portugal em setembro, e eu já estava servindo na brigada em junho.
Não era bravata juvenil, algo assim: se você quer ser homem de verdade, tem que servir no exército. Não, dei um passo consciente.
Anteriormente, representei a Ucrânia no boxe e decidi que tinha certas obrigações para com meu país. Eu pensei assim: eu serviria, e então estaria livre e poderia ir pelo menos nas quatro direções.
Até o momento, o soldado Gomes serviu nas Forças Armadas por 2,5 anos. Mesmo antes da invasão em grande escala, ele serviu uma rotação completa na região de Donetsk e recebeu o status de combatente.
Mas se a guerra não terminar em seis meses, você terá que cumprir mais tempo, apesar do término formal do contrato.
— Eu sou um civil, então no começo era meio perdido no exército, — lembra Richard. — Aqui depende muito do humor do comandante, e quando levantaram a voz para mim, reagia como um pugilista. Com o tempo, fui ficando mais tranquilo quanto a isso.
E com o início de uma invasão em grande escala, tudo mudou, principalmente a relação entre comandantes e soldados. Muitas pessoas mobilizadas vieram até nós. Veteranos sérios que lutaram em 2014-2015 e pessoas totalmente inexperientes.
Mas mesmo os iniciantes entendem onde chegaram e encontram seu nicho, aprendem uma nova especialização. Alguns com armas, alguns com equipamento militar, alguns com drones.
O exército não é muito confortável em termos de qualidade de vida. Mas a tropa não é o lugar para procurar conforto. Em geral, pelo ano 2022, eu daria as FAU a pontuação mais alta.
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