A história de Richard é um exemplo de como a rússia transforma até mesmo aqueles que antes lhe eram leais em seus inimigos.
Os pais de Richard se conheceram no Instituto Politécnico de Kyiv. O pai, cidadão angolano, representante da etnia ovimbundu, estudou engenharia informática, e a mãe, ucraniana de etnia russa, estudou o design.
A jovem família não resistiu ao teste dos difíceis anos 1990 e se separou logo após o nascimento da criança. O pai partiu para sua terra natal, mas não perdeu o contato com o filho.
— Estamos em constante comunicação, já estive várias vezes em Angola, — conta Richard. — O meu pai vive em Luanda, trabalha como um dos principais gestores de um banco de investimento e tornou-se um homem rico. Possui imóveis em vários países europeus e uma frota de caros de luxo.
Com o pai em Portugal |
Richard foi criado por sua mãe e avó, que, após a separação da família, mudou-se para Sokyryany em Bukovyna (região de Chernivtsi).
Desde a adolescência, Richard se envolveu seriamente em artes marciais — aikido, judô, boxe, praticava o futebol. Aos 16 anos, conquistou a Taça da Ucrânia de boxe e recebeu o título de mestre do desporto, para poder se defender. Mas ele nunca usou os punhos para se afirmar.
Após o ginásio, o graduado ingressou na prestigiosa Universidade Nacional de Educação Física e Desporto da Ucrânia, em Kyiv. De onde foi expulso meio ano antes da defesa de sua tese de bacharelado por... faltas injustificadas.
— Trabalhei e viajei muito: ganhava a vida vendendo carros dos EUA, fui corretor, trabalhei para uma empresa de marketing e até fotógrafo em um navio de cruzeiro — explica Richard.
A história de Richard é uma ilustração de como as atrocidades dos russos mudam drasticamente a visão de uma pessoa apolítica, transformando-a em um patriota da Ucrânia.
— Desde tenra idade, meu ambiente consistia em russos étnicos — diz Richard. — Assistíamos principalmente aos canais de TV russos e sempre ouvíamos as saudações de putin pelo Ano Novo. E isso influenciou muito nossa perspectiva.
Quando os russos tomaram a Crimeia em 2014 e as hostilidades começaram na Donbas, eu realmente acreditei que a razão para isso eram os residentes locais, rebeldes que queriam estar com a rússia. Apesar de minha mãe ter assumido imediatamente uma posição radicalmente pró-ucraniana, ela entendeu o que estava acontecendo. E eu ainda era um estudante na época e não sabia muito sobre política...
— Estudei e trabalhei muito ao mesmo tempo — explica Richard. - E aí veio o covid com todas as restrições, e perdi meu emprego. Tanto meu pai quanto meus amigos me convenceram a me mudar para o exterior — para os EUA ou a Europa. Eu planeava fazer isso, mas primeiro decidi servir nas Forças Armadas da Ucrânia.
No verão de 2020, Richard inesperadamente assinou um contrato de três anos com as FAU.
Com colegas no exército |
— No Comissariado Militar, perguntaram onde eu queria servir — nas serras ou na cidade — lembra Richard. — Escolhi as montanhas — visitei os Cárpatos muitas vezes em reuniões desportivas. Foi assim que ele entrou na 128ª Brigada Transcarpática separada de Assalto da Montanha.
Os pais ficaram, para dizer o mínimo, desapontados com a decisão do filho.
— Mãe ficou com raiva, pai ficou muito desapontado — diz Richard. — Ele tinha certeza que eu me mudaria para ele em Portugal em setembro, e eu já estava servindo na brigada em junho.
Não era bravata juvenil, algo assim: se você quer ser homem de verdade, tem que servir no exército. Não, dei um passo consciente.
Anteriormente, representei a Ucrânia no boxe e decidi que tinha certas obrigações para com meu país. Eu pensei assim: eu serviria, e então estaria livre e poderia ir pelo menos nas quatro direções.
Até o momento, o soldado Gomes serviu nas Forças Armadas por 2,5 anos. Mesmo antes da invasão em grande escala, ele serviu uma rotação completa na região de Donetsk e recebeu o status de combatente.
Mas se a guerra não terminar em seis meses, você terá que cumprir mais tempo, apesar do término formal do contrato.
— Eu sou um civil, então no começo era meio perdido no exército, — lembra Richard. — Aqui depende muito do humor do comandante, e quando levantaram a voz para mim, reagia como um pugilista. Com o tempo, fui ficando mais tranquilo quanto a isso.
E com o início de uma invasão em grande escala, tudo mudou, principalmente a relação entre comandantes e soldados. Muitas pessoas mobilizadas vieram até nós. Veteranos sérios que lutaram em 2014-2015 e pessoas totalmente inexperientes.
Mas mesmo os iniciantes entendem onde chegaram e encontram seu nicho, aprendem uma nova especialização. Alguns com armas, alguns com equipamento militar, alguns com drones.
O exército não é muito confortável em termos de qualidade de vida. Mas a tropa não é o lugar para procurar conforto. Em geral, pelo ano 2022, eu daria as FAU a pontuação mais alta.
Ler o texto integral: https://www.pravda.com.ua/articles/2023/03/26/7395097
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