quarta-feira, março 29, 2023

O sistema de favores ou serviços sexuais do exército russo

O conceito de VPZh («as mulheres da guerra e do campo») surgiu na União Soviética na II G.M., floresceu na guerra do Afeganistão e continuou nas duas guerras chechenas. Parece que está voltar em força na guerra da agressão russa contra Ucrânia.

Trata-se de mulheres que são coagidas, de várias formas, de prestar os favores / serviços sexuais aos oficiais, à troca de protecção, comida e outras comodidades, que podem ser bastante escassas no exército, principalmente no período, quando o país está em guerra.

Por quase dois meses, Margarita, uma militar sob contrato, que foi para a guerra na Ucrânia, está em reabilitação. Ela visita um psicólogo, toma antidepressivos fortes, tentando esquecer o que aconteceu com ela ultimamente. Mas não consegue esquecer. Acima de tudo, Margarita tem medo de voltar ao seu regimento, onde, segundo seu depoimento, mulheres da companhia médica foram persuadidas por ameaças a manter relações sexuais com oficiais. Ela contou isso ao correspondente da Sever.Realii.

Margarita foi convidada a assinar o contrato com exército russo no verão de 2022, em 2017, após 11 anos do serviço militar ela já era a aposentada militar. Diz que queria ajudar aos filhos e pagar as dívidas ao banco. Ela não foi aceite como a responsável de comunicações, sua profissão militar, mas aceitaram na unidade médica como ordenança do setor hospitalar. Teve que aprender tudo muito rápido, porque não havia tempo para pensar.

Mas Margarita não entrou imediatamente na unidade médica. Segundo ela, o coronel, que gostou dela, a nomeou ao quartel-general. E quando fui para a sede trabalhar, foi lhe dito pelos funcionários dos RH: «Coronel está de olho em você. Provavelmente você será a sua esposa de campo». Margarida perguntou como seria, e eles disseram: «cozinhar, lavar e oferecer os favores sexuais».

Percebendo que Margarita não iria se tornar uma esposa de campo voluntariamente, coronel ordenou criar-lhe as condições de vida insuportáveis para que ela cedesse.

«Por um mês dormi na rua. Enquanto outros pernoitavam em tendas e casas, eu dormia no chão, perto da estrada, numa pequena floresta. Junto com ratos do campo. Tentei me manter aquecida, é claro. Mas quando você está com frio, você nunca vai dormir. Você também pode deixar com fome».

Sobreviveu, recusou às ofertas e foi imediatamente colocada na unidade de artilharia, na linha da frente. Por ordem do coronel, talvez pensado que ia morrer ali.

Segundo Margarita, havia sete mulheres de 23 a 38 anos com ela na unidade médica, e todas elas foram «colocadas» sob algum oficial de pelotão. 

Uma foi para reconhecimento, outra para os tanques, a terceira para a infantaria. Entenderam que não havia como voltar atrás. –  Eu vi com meus próprios olhos como um oficial de pelotão atirou na «sua namorada», Svetlana. Eles bebiam ali, ou era algum tipo de ciúme, não sei, conta Margarida. –  Oficialmente foi dito como se fosse um ataque dos ucranianos. Oficial deu um tiro no próprio braço, como se estivesse defendendo Svetlana, e três semanas depois voltou do hospital.

Como resultado, quase todas as meninas, por meio de ameaças ou bullying que tornam a vida insuportável, foram quebradas e forçadas a oferecer os serviços sexuais. Algumas delas, segundo Margarita, chegaram a dormir com vários homens. Mas ninguém as condenou por essa decisão, porque elas só precisavam sobreviver de alguma forma.

– Alina foi entregue em setembro de 2022. Oficiais apenas a colocam perante uma decisão tomada - você ficará com aquele, ele gostou de você. Ela também é da minha cidade. Eu tinha um homem lá, um motorista que sempre andava comigo, estava por perto. O motorista sussurrou para mim em segredo que oficiais simplesmente a usaram bastante e, portanto, coronel não a manda de volta à unidade, tudo ficou  conveniente lá. A moça aceitou. Na maioria das vezes, as meninas estavam resignadas. Decidiram que é melhor viver no paraíso nesta guerra –  alimentadas e com cigarros. Certa vez, um oficial me disse: «Vendemos Alina, mas vamos vender você também!» Mas eu olhei para ele, de forma que ele imediatamente acrescentou: «Ok, estou brincando».

As mulheres não tentaram fugir para a rússia, porque simplesmente não teriam permissão para cruzar a fronteira, diz Margarita. As próprias, segundo ela, poderiam ser facilmente baleados por isso.

Maxim Arzamastsev, professor associado da Escola Superior de Economia de São Petersburgo, em seu trabalho científico sobre assédio sexual, cita estatísticas segundo as quais uma em cada quatro mulheres soldados do exército russo foi submetida a assédio sexual de uma forma ou de outra.

A secretária do Comité de Mães de Soldados da rússia, Valentina Melnikova, diz que não só as mulheres, mas também os homens são vítimas de assédio sexual no exército russo, uma vez que existem predadores homossexuais em unidades militares «ao nível de capitães e majores». E o problema das relações homossexuais nas fileiras do exército existia mesmo nos tempos soviéticos.

– Nós (o Comité das Mães dos Soldados) trabalhamos desde 1989. Na era do Gorbachev, foi criada uma comissão para investigar as causas de morte e ferimentos no exército. E eu trabalhei nisso. Durante sua existência, quase quatro mil pessoas vieram até nós.

1 comentário:

Anónimo disse...

https://youtu.be/GfmXVJvyYNg