Em
1940 a União Soviética ocupou e anexou Estónia. Em 1944, expulsou do país os nazis
para de seguida se “esquecer” de sair da Estónia, até a sua independência plena
em 1991.
01.
A primeira etapa da anexação da Estónia ocorreu em 1939-1940 – o governo da
URSS, através de pressão, ameaças e chantagem, conseguiu a permissão dos estónios
de criação no país de bases de um grande contingente militar soviético. De
facto, era início do fim da Estónia como um país independente.
Em
16 de maio de 1940, Molotov apresentou ao embaixador da Estónia em Moscovo o ultimato
em que Estónia foi acusada de violar o “pacto de não-agressão de 1932”, por
concordar com a entrada da Lituânia na União defensiva Estónia-Letã. Além
disso, o governo soviético exigiu o consentimento estónio para a entrada de
mais tropas soviéticas, alegadamente para “impedir os atos provocativos contra as
bases soviéticas”.
No
dia 17 de junho de 1940, nas margens estónios do Mar Báltico, desembarcaram os
fuzileiros navais soviéticos, ao mesmo tempo em Tallinn entraram as colunas dos
blindados e de infantaria do RKKA. Na foto acima – a rua Harju na cidade velha
de Tallinn, em 1940 a via foi usada pelos tanques soviéticos.
02.
A rua Harju é uma das mais antigas de Tallinn e, ao mesmo tempo, uma das mais
danificadas durante a II Guerra Mundial. Muitos edifícios que cederam nos combates
não foram reconstruídos, os edifícios novos, construídos no seu lugar possuem
um estilo arquitectónico bastante diferente do edifícios históricos da rua.
A
entrada do contingente de tropas soviéticas 77 anos atrás na realidade não procurava
defender as suas bases militares, mas a pretendia efetuar a eliminação total da
independência da Estónia. A primeira coisa que as novas autoridades fizeram foi
a proibição das assembleias populares e, de seguida, em 24 horas, foi afetuada
a apreensão total e absoluta de armas de fogo, pertencentes aos cidadãos.
03.
Simultaneamente, os ocupantes liquidaram a autoridade suprema da autonomia
estónia, o seu parlamento. O Parlamento tradicionalmente se situava no edifício
de Riigikogu, especificamente construído em 1920-1922. O prédio foi ocupado,
após o que as novas autoridades soviéticas anunciaram a data das “novas
eleições” – 14 de julho de 1940. No período entre a ocupação soviética e as novas
“eleições”, o país, de facto foi gerido pela embaixada soviética em Tallinn.
As
próprias eleições eram uma farsa. Os cidadãos participantes na votação recebiam
um carimbo especial no passaporte, e o boletim era colocado na urna mão pelo
eleitor, mas por um membro pró-soviético da comissão eleitoral – ou seja, não
houve a eleição secreta. Os candidatos de partidos não comunistas não podiam participar
nas eleições, e o partido pró-soviético “União dos Trabalhadores” recolheu 92,8%
dos votos.
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Comunistas estónios: "Viva Estaline, Molotov e todo Exército Vermelho" |
Assim, o “o povo estoniano entrou voluntariamente e honestamente na
família dos povos soviéticos”, ninguém duvidou disso.
04.
É de notar um detalhe muito importante: a ocupação armada soviética aconteceu mesmo
que o governo estoniano concordou com o ultimato da URSS e estava pronto satisfazer
todas as suas condições. Mas a liderança da União Soviética já tinha tomado a a
decisão de invadir Estónia e o ultimato do Molotov era uma mera formalidade. Antecipadamente,
as tropas do NKVD foram preparadas para receber entre 45 à 70 mil prisioneiros,
e o exército soviético estava se preparando para atravessar a fronteira.
Na
foto acima – o Castelo de Toompea, cujo complexo inclui o edifício do
parlamento da Estónia. Em julho de 1940, a bandeira vermelha foi hasteada na
torre mais alta do castelo chamada “Alto Herman”.
05.
Logo após a entrada das unidades do RKKA em Tallinn e outras cidades da Estónia,
no país entraram as unidades do NKVD, que iniciaram a “limpeza” e deportação de
todos os cidadãos que as autoridades soviéticas consideravam como “desleais”.
No centro de Tallinn, na rua Toompea, se pode visitar um edifício de vidro
chamado Museu de Ocupação, onde se pode conhecer estes eventos mais detalhadamente.
O
museu é dedicado às várias ocupações – a primeira ocupação soviética de 1940, a
ocupação alemã entre 1941 e 1944 e a segunda ocupação soviética entre 1944 e
1991. Surpreendentemente, nenhum alemão protesta, na Internet ou nas redes
sociais, contra a existência do museu, já os diversos usuários russos escrevem
algo como “apenas um idiota completo poderia criar o tal lugar”.
06.
Os tais “idiotas perdidos” contam, por exemplo, como decorriam as deportações soviéticas
na Estónia – na maioria das vezes deportavam as pessoas alvos de uma denúncia,
ou aqueles que simplesmente eram considerados “desleais”, após um julgamento curto
eram enviados aos distantes cantos asiáticos da URSS. Era permitido levar
apenas uma única mala, que os deportados tentavam preencher o máximo possível,
já que muitas vezes as pessoas eram literalmente atiradas dos comboios/trêm de
deportações nos campos abertos.
Essas
pequenas malas, que se tornaram praticamente impossíveis de carregar –
tornaram-se parte do design de entrada do museu.
07.
Os painéis que contam sobre o museu são feitos de alguns cartazes de propaganda
soviética.
08.
As mesmas malas, mas já reais, podem ser vistas no próprio museu. Com uma
dessas malas (na melhor das hipóteses), o deportado era desembarcado em algum inóspito
nas estepes do Cazaquistão ou na região dos Urais.
As
repressões de massa começaram em 6 de novembro de 1940, quando Moscovo aprovou um
decreto para que os “crimes” cometidos nos estados bálticos antes da sua ocupação
sejam julgados de acordo com a legislação soviética. A lei recebeu o efeito
retroativo – se cidadão viver na Estónia antes de 1940 e fosse acusado de ser
“burguês” sob as leis soviéticas, então era julgado por isso.
09.
Antes da anexação da URSS, Moscovo promoveu e apoiou os comunistas estónios locais,
do partido “União do Povo Trabalhador”, a base do novo parlamento após a
ocupação. Após a anexação tanto aos quadros do novo “parlamento independente”,
quanto de cidadãos estónios foram surpreendidos pelos planos da URSS em anexar a
Estónia na União Soviética, acabando de vez com a sua independência, naturalmente
antes de 1940 ninguém falou sobre isso.
Em
21 de julho, na presença de militares soviéticos (Sic!), o parlamento “votou
unanimemente” para que a Estónia se junte à URSS. No mesmo dia, o presidente Konstantin Päts
foi forçado à apresentar a sua demissão, sendo deportado para região russa de
Bashkortostão [em 1942 foi colocado no hospital psiquiátrico da prisão de Kazan
sem nenhuma acusação formal; somente em 1952, Konstantin Päts foi condenado aos
25 anos de prisão com confisco de todos os bens, morreu em 18 de janeiro de
1956 em uma clínica psiquiátrica na
Rússia
Soviética].
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Konstantin Päts presidente |
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e prisioneiro de NKVD em 1941 |
É
muito importante entender como a URSS atuou na anexação de territórios
estrangeiros – primeiro uma declaração sobre “perseguições” e uma declaração com
desejo expresso de colocar no país as suas tropas. Então, com a ajuda de
simpatizantes locais, é criado um “governo” supostamente “independente”, leal à
URSS, que, com a “ajuda e apoio” de militares soviéticos, toma o poder. Depois
disso, se realiza o controlo direto do país e todos aqueles que têm tempo para
se surpreender são fuzilados ou deportados para GULAG.
10.
Museu de ocupação tem na sua exposição diversos objetos do quotidiano soviético,
pertencentes aos diversos estágios da sovietização da Estónia. Aqui, por
exemplo, são reunidos as placas dos quartéis do exército soviético, que estavam
localizados no território da recém-criada Estónia Soviética.
11.
A edição soviética pós II G.M. do manual de censura intitulado “A lista de
informações proibidas à publicação pública”. A informação proibida incluía, por
exemplo, as estatísticas reais nas áreas de cultura e economia, qualquer
informação recebida fora dos “órgãos oficiais da imprensa soviética”. A
distribuição de edições de samizdat era sancionada com a prisão efetiva.
12.
O stand dedicado ao início dos anos 1980 e à Perestroika – o retrato de Leonid Brejnev,
cartões de racionamento de alimentos, moeda-papel soviética e um uniforme de
combate usado pelo Exército Soviético no Afeganistão com um conjunto completo
de emblemas do pára-quedista (geralmente eram cinco) e algumas condecorações
militares. Acima do exposto é colocada a pergunta simples: para que os estónios
precisariam tudo isto?
13.
As portas das celas de prisão, onde eram mantidos os prisioneiros políticos.
14.
Olho da porta. Era usado pelos guardas para verificar se os prisioneiros
estavam mantendo o regime da detenção – por exemplo, em algumas celas era proibido
de se deitar durante o dia, os prisioneiros podiam apenas ficar de pé ou
sentar.
15.
A exposição mostra o equipamento de espionagem, que foi amplamente utilizado
para escutas telefónicas dos cidadãos “não confiáveis”, e também para monitorar
cidadãos estrangeiros que chegavam à Estónia Soviética.
16.
O equipamento era instalado, regra geral, em uma sala especial em um grande
hotel – geralmente um agente do KGB estava permanentemente presente, mantendo
os registos das conversas mantidas.
17.
Um desses hotéis é atual e moderno “Sokos”, que na época soviética era chamado
de “Hotel Viru”. Os estrangeiros eram alojados nos andares superiores sob o
pretexto de supostamente obterem “uma bela vista da cidade”, na realidade,
nestes andares eram instalados os dispositivos de escutas.
18.
São os tais andares superiores nos quais KGB realizava as escutas e vigilância.
Todos os dispositivos de escuta estavam escondidos e colocados nos quartos, ainda
durante a construção do hotel.
19.
O principal período de repressão e diversas “purgas” em massa contra os dissidentes
ocorreram na Estónia na década de 1940-50. Entre a data de ocupação soviética até
o verão de 1941, cerca de 9.500 estónios foram presos e deportados ao GULAG,
várias centenas foram executadas. Para a pequena Estónia foi uma grande
tragédia – na verdade, foi exterminado todo o estrato cultural da intelectualidade
estónia. Aqueles que não foram exilados — foram silenciados.
Na
rua Pagari № 1 em Tallinn está situado um grande edifício antigo, construído em
1912 – durante a ocupação soviética nas caves deste prédio estava situada uma
prisão do NKVD, e mais tarde do KGB.
20.
No interior da cave existem as portas duplas, são originais desde então – a primeira
porta da rua, dissimula o complexo em forma de uma cave comum. A segunda,
interna – são enormes portas de prisão, trancadas com trincos ferrolhos pesados.
21.
Mais recentemente, as caves da prisão do KGB da Estónia foram abertas ao público
em forma de visitas gratuitas – antes disso, as instalações estavam
simplesmente fechadas.
22.
A prisão propriamente dita funcionou aqui de 1940 à 1959. Essa era aparência de
uma cela prisional:
23.
Uma outra cela. Aparentemente, os ferros na parede seguravam o segundo nível de
beliches dos prisioneiros.
24.
Lavatório enferrujado:
25.
Em algumas celas se pode ver a exposição dos retratos de pessoas que foram vítimas
de repressões soviéticas nestas mesmas paredes – muitos dos que foram levados pelos
oficiais de NKVD / KGB nunca mais voltaram deste lugar.
26.
As portas das celas.
27.
Corredor prisional.
28.
Cela de interrogações.
29.
Nos pisos superiores da casa № 1 na rua Pagari, estão ligadas as luzes – agora é
um prédio habitacional. Será que eles sabem o que já estava localizado na cave de
sua casa? Seguramente nem todos.
30.
A pedra da última foto, de fato, marca o fim de ocupação soviética soviético da
Estónia – 20 de agosto de 1991, a pedra protegia a entrada do Conselho Supremo
da Estónia Soviética, que decidiu restaurar a independência.
Ironicamente,
a pedra está no mesmo lugar, pisado em 1940 pelos tanques soviéticos.
Blogueiro:
os argumentos preferenciais de esquerda mais ou menos totalitária e dos
saudosistas do império russo/soviético tentam desculpar a ocupação soviética
pela necessidade de “salvar Estónia dos nazis” e “se não for URSS, vocês ainda
hoje falassem alemão”. Quando se questiona por que a ocupação decorreu em 1940,
quando URSS e Alemanha nazi eram aliados e porque a URSS ficou no país após
1944, geralmente não há respostas...
E
vocês, queridos leitores do nosso blogue, o que acham desta história soviética?