sexta-feira, setembro 29, 2017

25 anos de GULAG por amar um americano

Em setembro de 1947, a popular atriz soviética Zoya Fyodorova foi condenada aos 25 anos de GULAG por causa da sua ligação amorosa ao adido militar da embaixada americana em Moscovo, o futuro vice-almirante da marinha dos EUA, Jackson Tate.
Jackson Tate e Zoya Fyodorova em 1945 @Wikipédia
Atriz conheceu capitão Tate em 1945 numa recepção oficial e aos 13 de janeiro de 1946 (quando o adido já foi declarado a pessoa non-grata e teve que abandonar a URSS) desta relação amorosa nasceu a futura atriz Victoria Fyodorova (1946-2012). Na época, a legislação soviética proibia aos cidadãos soviéticos de se casar com estrangeiros, por isso, tentando esconder a paternidade, atriz se casou com o compositor Alexander Ryazanov.
Zoya Fyodorova num dos papéis no cinema soviético
Apesar disso, em 27 de dezembro de 1946 Zoya Fyodorova foi detida e após a prisão preventiva nas cadeias de Lyubianka e Lefortovo (onde recebia das autoridades o tratamento bastante desumano e humilhante), foi condenada pela “espionagem” aos 25 anos de prisão severa no GULAG (substituída pela prisão na cadeia central da cidade russa de Vladimir). Entre as hipóteses prováveis deste tratamento todo, dado ao regime soviético à atriz, cita-se a recusa da Zoya Fyodorova de satisfazer os avanços sexuais de todo-poderoso Lavreniy Beria, na altura o chefe máximo do NKVD-MGB. Além disso, o tribunal decidiu o confisco de todos os seus bens e a deportação de todos os seus familiares. A sua irmã Alexandra foi condenada à deportação intemporal junto com os seus filhos (Nina e Yuri) e a sobrinha Victoria; a irmã Maria foi condenada aos trabalhos forçados numa fábrica de tijolos na cidade de Vorkuta, onde morreu em 1952.
Zoya Fyodorova na sua casa na década de 1970 (?)
Zoya Fyodorova foi libertada da cadeia em 1955, já após a morte do Estaline, cumprindo 8 anos de condenação simplesmente absurda, em fevereiro de 1955 ele se reuniu com a filha Victoria e até conseguiu voltar ao cinema, onde nas décadas de 1960-1970 teve vários papéis pequenos, mas marcantes.
Victoria Fyodorova
Em 1976 as autoridades soviéticas deram a permissão para que Zoya Fyodorova visite os EUA, onde ela novamente se reuniu com o seu amado Jackson Tate. Após a morte do Tate em 1978 ela mais duas viajou aos EUA, onde visitou a filha Victoria, que emigrou da URSS em 1975, atriz também tinha planeado deixar a União Soviética para sempre.
A edição americana do livro biográfico da Victoria Fyodorova (1979)
Aos 11 de dezembro de 1981 Zoya Fyodorova foi executada na sua casa no centro de Moscovo com um disparo na nuca da pistola alemã Sauer (a sua filha Victoria não recebeu a permissão do governo soviético de visitar o funeral da mãe). O ex-investigador dos casos particularmente importantes da Procuradoria-geral da URSS (1980-1992), mais tarde advogado, o jurista soviético e russo de origem ucraniana, Vladimir Kalinichenko, considera que a responsabilidade maior na morte da atriz cabe ao Ministro do Interior da URSS de então, Nikolai Shchelokov, que por sua vez se suicidou em dezembro de 1984. O caso do assassinato da Zoya Fyodorova não foi desvendado até hoje...

2 comentários:

Anónimo disse...

Tinha um decreto criado em finais dos anos 40 que impedia o casamento de soviéticos com cidadãos estrangeiros. Impossível não fazer um paralelo com a Jim Crow nos EUA, Apartheid na África do Sul e Leis de Nuremberg na Alemanha Nazi. Um certo cara que foi deportado da Rússia iria se decepcionar muito com essa lei))).

https://www.pnp.ru/social/73-goda-nazad-v-sovetskom-soyuze-byli-zapreshheny-internacionalnye-braki.html

Anónimo disse...

Se ainda existe racismo no Leste Europeu muito se deve à URSS. Nem precisa citar a visão que os soviéticos tinham do Brasil "onde vivem muitos macacos selvagens"?