Em
setembro de 1947, a popular atriz soviética Zoya Fyodorova foi
condenada aos 25 anos de GULAG por causa da sua ligação amorosa ao adido
militar da embaixada americana em Moscovo, o futuro vice-almirante da marinha dos
EUA, Jackson Tate.
Jackson Tate e Zoya Fyodorova em 1945 @Wikipédia |
Atriz
conheceu capitão Tate em 1945 numa recepção oficial e aos 13 de janeiro de 1946
(quando o adido já foi declarado a pessoa non-grata e teve que abandonar a
URSS) desta relação amorosa nasceu a futura atriz Victoria Fyodorova (1946-2012).
Na época, a legislação soviética proibia aos cidadãos soviéticos de se casar
com estrangeiros, por isso, tentando esconder a paternidade, atriz se casou com
o compositor Alexander Ryazanov.
Zoya Fyodorova num dos papéis no cinema soviético |
Apesar
disso, em 27 de dezembro de 1946 Zoya Fyodorova foi detida e após a prisão
preventiva nas cadeias de Lyubianka e Lefortovo (onde recebia das autoridades o tratamento
bastante desumano e humilhante), foi condenada pela “espionagem” aos 25 anos de prisão severa no
GULAG (substituída pela prisão na cadeia central da cidade russa de Vladimir). Entre as hipóteses prováveis deste tratamento todo, dado ao regime soviético à atriz, cita-se a recusa da Zoya Fyodorova de satisfazer os avanços sexuais de todo-poderoso Lavreniy Beria, na altura o chefe máximo do NKVD-MGB. Além
disso, o tribunal decidiu o confisco de todos os seus bens e a deportação de
todos os seus familiares. A sua irmã Alexandra foi condenada à deportação intemporal
junto com os seus filhos (Nina e Yuri) e a sobrinha Victoria; a irmã Maria foi
condenada aos trabalhos forçados numa fábrica de tijolos na cidade de Vorkuta,
onde morreu em 1952.
Zoya Fyodorova na sua casa na década de 1970 (?) |
Zoya
Fyodorova foi libertada da cadeia em 1955, já após a morte do Estaline, cumprindo 8 anos
de condenação simplesmente absurda, em fevereiro de 1955 ele se reuniu com a
filha Victoria e até conseguiu voltar ao cinema, onde nas décadas de 1960-1970
teve vários papéis pequenos, mas marcantes.
Victoria Fyodorova |
Em
1976 as autoridades soviéticas deram a permissão para que Zoya Fyodorova visite
os EUA, onde ela novamente se reuniu com o seu amado Jackson Tate. Após a morte
do Tate em 1978 ela mais duas viajou aos EUA, onde visitou a filha Victoria,
que emigrou da URSS em 1975, atriz também tinha planeado deixar a União
Soviética para sempre.
A edição americana do livro biográfico da Victoria Fyodorova (1979) |
Aos 11 de dezembro de 1981
Zoya Fyodorova foi executada na sua casa no centro de Moscovo com um disparo na
nuca da pistola alemã Sauer (a sua filha Victoria não recebeu a permissão do governo soviético de visitar o funeral da mãe). O ex-investigador dos casos particularmente
importantes da Procuradoria-geral da URSS (1980-1992), mais tarde advogado, o jurista
soviético e russo de origem ucraniana, Vladimir Kalinichenko, considera
que a responsabilidade maior na morte da atriz cabe ao Ministro do Interior da
URSS de então, Nikolai
Shchelokov, que por sua vez se suicidou em dezembro de 1984. O caso do
assassinato da Zoya Fyodorova não foi desvendado até hoje...
2 comentários:
Tinha um decreto criado em finais dos anos 40 que impedia o casamento de soviéticos com cidadãos estrangeiros. Impossível não fazer um paralelo com a Jim Crow nos EUA, Apartheid na África do Sul e Leis de Nuremberg na Alemanha Nazi. Um certo cara que foi deportado da Rússia iria se decepcionar muito com essa lei))).
https://www.pnp.ru/social/73-goda-nazad-v-sovetskom-soyuze-byli-zapreshheny-internacionalnye-braki.html
Se ainda existe racismo no Leste Europeu muito se deve à URSS. Nem precisa citar a visão que os soviéticos tinham do Brasil "onde vivem muitos macacos selvagens"?
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