Os
adeptos da URSS e do comunismo costumam usar as fotos ou mesmo os desenhos da
propaganda soviética como a prova de vida farta no país do “socialismo
científico”. Afinal, nem todos sabem a diferença entre a realidade e a
propaganda. Parece o caso da comédia soviética “Os cossacos de Kuban” (1949)
que mostrava os campos fartos e celeiros cheios, quando na realidade aquela
região passava pela fome e pobreza.
A
postagem de hoje mostra a realidade da vida na URSS através das fotografias, na
sua maioria tiradas pelos cidadãos soviéticos, com as câmaras amadoras. Este tipo
de fotos podia criar aos seus autores diversos problemas, na pior hipótese os fotógrafos
poderiam ser acusados de “denegrir o modo de vida socialista”.
02.
Pequena mercearia soviética, nada além de pobreza, foto de 1959.
03.
A fila para comprar maças, comércio oficial de rua, inverno de 1965.
04. Departamento de mercearia de uma loja de alimentos, 1972. A sensação de “abundância de bens”
é criada com um truque simples: as prateleiras parecem estar cheias, mas, se
olhar de perto, há apenas 2-3 tipos de alimentos enlatados e as garrafas de 0,7
com um líquido escuro, pode ser óleo não refinado malcheiroso ou algum álcool barato.
05. As zonas rurais. A foto mostra a “escolha farta” de um “Selpo”
— assim eram chamadas as lojas da sociedade de consumo rural. “Devemos organizar
o comércio soviético sem capitalistas – pequenos e grandes, o comércio sem
especuladores – pequenos e grandes”, escreveu numa de suas obras, o camarada Estaline.
O
comércio foi eventualmente organizado “sem capitalistas”, e também sem carne,
peixe, doces, vegetais, frutas, produtos lácteos e tudo o que deveria
constituir uma dieta diária equilibrada de uma pessoa. Na maioria das vezes, na
dita “Silpo” só se podia comprar pão azedo conhecido como “tijolo”, sal,
fósforos, velas, sabão económico, cigarros “Pamir” – baratos e de má qualidade,
baldes galvanizados e nada mais.
06.
Foto de 1980, da época “dourada” de Brejnev, fila no departamento da carne.
As compradoras, na sua maioria mulheres de 3ª idade cansadas da via, pretendem
comprar alguma mortadela, de 1-2 tipos disponíveis. As compradoras não estão
ver o produto, tapado pelas costas da vendedora, a vendedora corta a mortadela,
a coloca na balança – “pegue isso, ou não terá nada!”
07.
A foto que mostra muito bem o paradigma do comércio soviético. É difícil dizer
exatamente o que está sendo vendido, mas o mais importante é a maneira como isso
decorre. Os produtos são vendidos através de uma pequena janelinha, atrás da
qual está posicionada uma fila, a janela pode ser fechada ao qualquer momento.
Isso cria um sentimento de “admissão graciosa à um recurso particularmente
valioso”, que em si só mostra muito bem o tratamento dado ao cidadão comum na
URSS.
O
comprador apresenta à vendedora algo muito parecido com os crachás (ou talvez o
cartão que comprova a sua residência em uma determinada cidade, em Leninegrado eram
emitidos os documentos semelhantes). Os bens (seja lá o que for) eram provavelmente
vendidos aos funcionários de uma determinada empresa (ou residentes de uma
determinada cidade), não mais do que uma certa quantidade por pessoa, por isso
o comprador mostra dois cartões, provavelmente o seu e da sua esposa.
08.
Letreiro diz: “apresente o documento” [de identificação]:
09.
Enquanto as mulheres tentavam comprar alguns alimentos, os homens estavam nas
filas de álcool, início da década de 1980:
10.
Os homens também recolhiam e vendiam vasilhame,
X garrafas vazias permitiam comprar uma certa quantidade de álcool:
11.
A fila enorme para comprar álcool, possivelmente numa pequena cidade:
12.
Junto ao quiosque, provavelmente de venda da cerveja:
13.
As mulheres também estavam nas filas para comprar álcool, 1985-87.
14.
Os clientes cativos de uma cervejaria soviética com a vendedora que
simultaneamente servia as mesas.
15. Igualdade laboral soviética. “Nos países capitalistas, uma mulher é
apenas um objeto de exploração capitalista do imperialismo ocidental, e somente
no nosso grande estado socialista a mulher recebeu o direito de escolha”. Resumindo,
podia cavar com uma pá ou então usar a picareta.
16.
Fast food soviético. Os malditos McDonald's capitalistas, onde era usada a
carne natural de frangos, explorados sem piedade pelos capitalistas, certamente
não existiam na URSS, e os trabalhadores lanchavam com o leite e pão, sentados
em uma paragem/parada de autocarro/ônibus e colocando em cima de joelhos algum
jornal soviético.
17.
Votando às mercearias. Na década de 1980, a situação com os bens da primeira
necessidade tornou-se cada vez pior, e as vendedoras eram forçadas à todo o
tipo de truques, como o merchandising à soviética, ou “como colocar na montra,
de forma criativa, dois tipos de alimentos enlatados, para recriar a sensação
de permanência da abundância alimentar”.
18.
E agora as prateleiras completamente vazias. Tais fotos foram publicadas na
imprensa soviética apenas à partir de 1987, quando a URSS ficou horrorizada com
a situação real do comércio soviético (e em outras esferas da vida também). No
entanto, quase todo mundo sabia disso, simplesmente não se falava sobre o
assunto em voz alta.
19.
“Fardamento dos pioneiros”.
20.
Fim da década de 1980, comércio oficial de rua:
21.
1990, os últimos meses da existência da URSS e um resultado lógico da “economia
planificada à soviética” – prateleiras vazias e novos impostos.
Em
geral, como se pode ver, a vida real na URSS era completamente diferente do que
era mostrado nos periódicos daqueles anos, e apenas nas fotografias de
fotógrafos amadores era possível ver como realmente se vivia naquele país.
Gostaria
de voltar à essa URSS? O que você faria lá?
Fotos
@Internet | Texto Maxim
Mirovich
1 comentário:
Gostaria das fotos das fotos e de fontes extras. por favor.
Grato!
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