Em
1991 a União Soviética colapsou para sempre, surgiu a “época de mudanças” — de
repente foi permitido quase tudo aquilo que ainda recentemente era
categoricamente proibido ou pelo menos fortemente desaconselhado. Os países do espaço
pós-soviético começaram o seu próprio desenvolvimento, aprendendo a ganhar e a
contar o dinheiro e viver em sintonia com o resto do mundo civilizado.
Alguns
países conseguiram essa transformação mais rapidamente que outros, os cidadãos também,
uns agarravam as novas oportunidades e prosperavam, outros consideravam o
acontecido de tragédia e não conseguiram se enquadrar na nova realidade. No
entanto, de forma visual a vida não mudou bruscamente, o design de lojas, automóveis
nas ruas, interior dos prédios e aparência dos cidadãos continuaram bastante “soviéticas”
durante toda a década de 1990.
01.
Tornou-se permitido quase tudo daquilo o que não era possível fazer antes.
Todos começaram a falar em voz alta sobre o que anteriormente diziam apenas em sussurros
nas cozinhas ou que simplesmente era calado. De repente, descobriu-se que quase
ninguém apoiava o governo soviético, mas apenas fingia para não perder o
emprego / avançar na carreira / não ir para a cadeia. Na foto – a manif em
memória das vítimas de Chornobyl em Minsk/Mensk em 1991, quando, pela primeira vez surgiu
a informação de que em 1986, às ordens de Moscovo, as nuvens radioativas eram
transformadas em chuva, de forma deliberada, no território da Belarus para não
atingirem a cidade de Moscovo.
02.
Abertura das igrejas, liberdade da fé e da religião. Na década de 1990 surge
uma onda de interesse em diversos cultos religiosos, tradicionais e nem tanto. Igrejas
começaram a funcionar oficialmente, agora ninguém era preso ou ridicularizado
por ir às missas. De repente, se descobriu que metade dos antigos membros do PC
realmente eram muito religiosos e não iam às igrejas apenas porque tinham medo
de perder o seu emprego / estatuto / não crescer na carreira / entrar na prisão
[casos dos crentes da Igreja Grego-Católica Ucraniana; Testemunhas de Jeová;
algumas ramificações da igreja batista, etc.]
Juntamente
com as religiões oficiais, começaram a aparecer alguns freaks e loucos urbanos –
eles criavam seus próprios cultos pequenos ou previam os fins do mundo.
03.
Comícios comunistas. Em 1991, os partidos comunistas foram removidos do poder, [mesmo
proibidos em vários países] e se encontraram em um papel bastante incomum para
si mesmos – no papel da oposição. A taxa de aprovação dos comunistas, numa
sociedade farta das promessas vazias era baixa, os PC´s não tinham muita escolha
senão protestar nas ruas. De repente, se descobriu que as ações de rua poderiam
não ser necessariamente “pagas pelo Departamento de Estado”, “organizadas pelos
inimigos externos” e “ser uma preparação para derrubar as autoridades legítimas”,
mas também representar os interesses das pessoas comuns – pelo menos, assim
diziam os líderes comunistas nas suas manifestações.
1992
– as viaturas de polícia numa manif comunista.
04.
Assistência alimentar da UE e dos EUA. No início da década de 1990, os países
da ex-URSS começaram à receber ajuda humanitária ocidental em massa. De
repente, se descobriu que “os países do socialismo vitorioso”, cujo governo
havia contado durante anos sobre as vacas gordas, campos germinados e produção
de leite em crescimento, são mendigos e estão à beira da fome. Ajuda humanitária
daqueles anos foi lembrada por muitos sob o nome geral de “coxinhas de Bush” – sob
este nome no espaço pós-soviético eram conhecidos as coxas de frango congelado,
enviados aos países da ex-URSS pelos Estados Unidos da América.
Em
geral, a assistência dos EUA e da UE consistiu não apenas em coxas de frango,
mas também em muitos outros produtos – principalmente alimentos enlatados e
produtos de fast food, como papas/mingau seco ou puré. Alguma coisa foi
distribuída gratuitamente, outros produtos vinham até às lojas sob a forma de
mercadorias. Na foto de fevereiro de 1992, as lojas vendem a carne ocidental.
05.
De forma oficial e completamente legal foi permitido fazer os negócios. Alguns
progressos neste domínio foram esboçados na URSS ainda em 1987, quando o foi
permitido o empreendedorismo privado e as cooperativas, mas, completamente e
finalmente, o negócio foi legalizado somente após 1991. Muitos começaram
imediatamente os seus negócios, ocupando os nichos no mercado, que simplesmente
não existiam na URSS. De repente, ficou claro que os terríveis trajes
soviéticos e os sapatos de couro – “pisa-merdas” já não têm nenhuma saída –
todos começou à se vestir nos mercados de roupas onde era possível comprar diversas
belas roupas importadas.
06.
A TV começou à mostrar tudo. O início dos anos 1990, sem exagero, tornou-se o
pico do desenvolvimento da televisão como tal. Após o colapso da União
Soviética, a censura desapareceu, e muitos excelentes programas começaram a
aparecer na TV: analíticos, intelectuais, de diversão. Foram se revelando os
diversos jornalistas talentosos que na URSS vegetavam em algum lugar nos papéis
secundários. De repente, ficou claro que a televisão soviética com os
trabalhadores de kolkhozes, relatórios intermináveis de ordenha e de superação
do plano de fabrico de ferro fundido há muito tempo se tornaram nojentos; a
nova televisão tornou-se brilhante, suculenta, inesperada e interessante.
07.
Ficaram por resolver os problemas habitacionais, muitas famílias continuaram à
viver em apartamentos
comunais ou simplesmente 2-3 gerações da mesma família em pequenos apartamentos
T0 e T1. De repente se descobriu que durante os mais de 70 anos da existência
da União Soviética, o país não conseguiu fornecer à cada família um apartamento
separado – mesmo os edifícios populares do projeto chamado “khrushovka”, com
paredes de péssimo isolamento sonoro e quartos minúsculos eram considerados
quase um luxo. Até os dias de hoje o problema não foi resolvido na sua
totalidade em Belarus, na Rússia e alguns outros países da ex-URSS.
08.
Tornou-se possível viajar ao exterior e emigrar. Após o colapso da União
Soviética, a “cortina de ferro” se levantou e centenas de milhares de pessoas foram
ao exterior – alguns apenas para ver como vivem os países do “inferno capitalista
em decomposição”, outros para lá trabalhar e também para viver permanentemente.
De repente, descobriu-se que as fronteiras fechadas na URSS não existiam para “proteger
as conquistas do socialismo” (como mentiam aos cidadãos soviéticos crédulos e desinformados
na imprensa comunista), mas simplesmente para evitar a fuga geral das pessoas oriundos
do país da prosperidade universal socialista.
Na
foto de 1992 – uma família de alemães étnicos se prepara para se mudar à sua
pátria histórica, Alemanha Federal.
09.
Após o colapso da URSS, no início dos anos 1990, nos países recém-criados, o
dinheiro soviético ainda era usado por algum nas transações comerciais. Na Belarus
e na Ucrânia as novas notas foram introduzidos em 1992. Em Belarus, os rublos
soviéticos eram aceitos à par das novas notas belarusas até 1993, na região
separatista de Moldova – Transnístria, este processo demorou mais tampo. Ao
mesmo tempo, tornou-se real o valor do rublo soviético: esquecido o câmbio soviético
de um dólar valer 59 copeque, em 1991-92, por alguns 5-10 mil dólares era
possível comprar um apartamento em Moscovo, Kyiv ou Mensk.
10.
No início da década de 1990, filmes e cartoons estrangeiros vieram
massivamente. Na TV começou a mostrar filmes de ação, comédias e melodramas
ocidentais, as senhoras começaram gostar das novelas, como “Los ricos también lloran”
(“Os Ricos também Choram”), “Santa Barbara” ou “Rei do Gado”, e as crianças se
apaixonaram pelos desenhos animados da Disney. De repente, descobriu-se que os
filmes sobre agentes secretos soviéticos, a vitória na guerra e a infinitos programas
pseudo-documentalistas soviéticos, há muito tempo se tornaram aborrecidos para
todos, e as pessoas queriam algo fresco e novo.
Na
década de 1990, muita gente começou à viver muito melhor do que na época
soviética, pois havia muitas novas oportunidades – era possível viajar ao
exterior livremente, organizar as empresas mistas com estrangeiros, ganhar em moeda
convertível. Essa década foi marcada por um grande número de pessoas
inteligentes e empreendedoras, que durante os tempos soviéticos foram forçados
a na qualidade de assistentes de laboratório e pesquisadores científicos, e
depois do fim do comunismo soviético ganharam rapidamente as suas fortunas com a
mente e talentos.
Fotos
GettyImages | Texto @Maxim
Mirovich e [@Ucrânia em África]
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