Em
17 de setembro de 1939, a União Soviética comunista, na qualidade
do aliado da Alemanha nazi, invadiu Polónia, violando a sua fronteira leste, apenas
17 dias após a invasão nazi,
que se deu no dia 1 de setembro do mesmo ano. A URSS e 3º Reich de antemão
decidiram as zonas de ocupação e agiam de forma coordenada.
A
versão oficial soviética das razões de invasão foi a suposta “defesa da
população belarussa e ucraniana”, que vivia no território do “estado polaco/polonês
que revelou [a sua] insolvência interna”. Uma série de historiadores consideram
os eventos de 17 de setembro de 1939 inequivocamente como a entrada da URSS na II
Guerra Mundial ao lado do agressor (Alemanha nazi). Os historiadores soviéticos
e alguns pesquisadores russos consideram a invasão da Polónia pela URSS e a II
G.M. como dois eventos separados.
A
postagem de hoje mostra como decorreu a invasão soviética de setembro de 1939,
usando as fotos e depoimentos dos moradores locais.
02. Tudo começou com a
“Nota do Governo da URSS”, apresentada ao embaixador da Polónia em Moscovo na manhã de 17 de setembro de 1939. Prestem atenção às frases, especialmente interessantes foram realçadas em negrito – os argumentos
semelhantes foram usados pela federação russa em 2014 na anexação da Crimeia.
Por sinal, na história, em
geral, é
muito raramente o agressor classificar
as suas ações de “agressão”. Em regra, são “ações destinadas à proteger / prevenir / defender” e assim por diante. Atacar, um país vizinho, para “prevenir a agressão à nascença”.
“Senhor
embaixador,
A guerra polaco-alemã revelou a
inconsistência interna do estado polaco/polonês. Em dez dias de operações militares, Polónia perdeu todas as suas áreas industriais e centros
culturais. Varsóvia, como a capital da Polónia não existe mais. O governo polaco/polonês se desintegrou e não mostra nenhum sinal de vida.
Isso significa que o estado polaco/polonês e seu governo deixaram de existir. Desta
forma, cessaram
a sua vigência os tratados assinados
entre a URSS e a Polónia.
[...]
O governo soviético não pode ficar indiferente ao facto de que os ucranianos e os belarusos de sangue fraterna que residem no território da Polónia, abandonados à mercê do destino, permanecem indefesos. Em vista desta situação, o governo
soviético ordenou ao Comando-geral do Exército Vermelho ordenar às tropas para atravessar a fronteira e tomar sob a
sua proteção a vida e a propriedade da população da
Ucrânia ocidental e da Bielarússia ocidental.
Ao mesmo tempo, o governo
soviético pretende tomar todas as medidas para tirar o povo polaco/polonês da guerra malvada, a que este
foi lançado por seus líderes irracionais e para que este
possa viver uma vida pacífica.
Aceite, senhor embaixador, as garantias do Lhe devido respeito.
Comissário popular
dos Negócios Estrangeiros da
URSS
V. Molotov.”
03. De
facto, imediatamente após
a entrega da nota, as tropas soviéticas entraram rapidamente no território da
Polónia. A União Soviética usou na invasão
as unidades de blindados,
cavalaria, infantaria e artilharia. Na foto – a cavalaria soviética acompanha uma bateria de artilharia.
04. Unidades de infantaria da
URSS na área de fronteira. Atenção aos capacetes de militares – são capacetes soviéticos SSh-36, também conhecidos sob o nome de “khalkingolka”. Estes capacetes foram amplamente utilizados pelas
tropas soviéticas nos momentos iniciais da II Guerra Mundial, mas no cinema soviético quase não aparecem – talvez porque lembram o capacete alemão stahlhelm.
06. Logo após a anexação da
parte oriental da Polónia à URSS, na cidade de Brest (então chamado de
Brest-Litovsk), ocorreu a parada conjunta das tropas da Wehrmacht e do Exército Vermelho
(RKKA), que teve
lugar em 22 de setembro de 1939.
07. A
parada foi programada para celebrar a linha de demarcação entre a URSS e a Alemanha nazi, bem
como o estabelecimento de uma nova fronteira entre dois países
agressores.
08. Vários
historiadores chamam essa ação não
de
“parada conjunta”, mas de um “desfile solene”, na essência nada muda. O general Guderian queria realizar uma parada conjunta de plena
funcionalidade, mas acabou
por concordar
com a proposta do comandante da 29ª Brigada Blindada do RKKA, Semion Krivoshein, que dizia: “Às 16.00 partes do vosso corpo [alemão] em coluna de marcha, com as bandeiras [içadas] em frente, deixam a cidade, as minhas unidades [RKKA], também em coluna de marcha, entram na cidade, param nas ruas onde desfilam os regimentos alemães e saúdam,
com as suas bandeiras, as unidades
que passam. As orquestras tocam as marchas militares”.
O que isso é, se não uma parada?
09. As
conversações nazi-soviéticas sobre a nova fronteira, cidade de Brest-Litovsk, setembro de 1939:
10. A
nova fronteira:
11. Os
operadores de blindados, nazis e soviéticos em confraternização:
12. Os
oficiais, alemão e soviético:
13. Imediatamente após
a chegada
às “terras libertadas”, as unidades soviéticas lançaram a propaganda comunista. Nas ruas foram instalados os
stands com a informação sobre as forças armadas soviéticas e as vantagens de
viver na URSS.
14. De
imediato, muitos moradores
locais saudaram o Exército Vermelho com alegria, mas mais tarde vários
deles mudaram as ideias sobre os “visitantes do leste”. Começaram as “limpezas” sociais e as deportações
de pessoas para a Sibéria, havia casos em que uma pessoa era fuzilada apenas porque não tinha calos nas mãos – as
autoridades soviéticas argumentavam que se tratava de “um elemento improdutivo”, “o explorador”.
O
que contaram sobre as tropas
soviéticas de 1939
os habitantes da cidade belarussa de Mir, as citações do livro “Mir: a história da vila, contada pelos seus habitantes” (texto
em PDF; 248 páginas),
traduzido ao português pelo nosso blogue:
“A
primeira coisa que surpreendeu os moradores é a aparência dos militares do
Exército Vermelho, que para eles eram os primeiros representantes do “paraíso
socialista”. Quando vieram os soviéticos, foi imediatamente claro como as
pessoas vivem lá. As roupas eram más. Quando eles viram um “escravo” do conde, pensaram
que era o próprio conde, queriam o prender. Tão bem este estava vestido – um fato/terno
e chapéu. Goncharikova e Manya (Maria) Razvodovsky caminhavam com os seus casacos
longos, os soldados começaram à apontar nelas e diziam que são as “filhas do latifundiário”.
Hitler e Estaline num cartoon britânico da época |
“Logo
após a entrada das tropas começaram as “mudanças socialistas”. Foi introduzido
o sistema fiscal. Os impostos eram altos, alguns não eram capazes de pagá-los,
e aqueles que pagavam – ficavam sem nada. O dinheiro polaco foi se depreciando
em um dia. Nos vendemos a vaca, e no dia seguinte conseguimos comprar apenas
2-3 metros de tecido e sapatinhos. A liquidação do comércio privado levou à um
déficit de praticamente todos os bens de consumo. Quando vieram as tropas
soviéticas, no início todos ficaram felizes, mas quando surgiram as filas
noturnas para comprar o pão – entendemos que tudo era mau/ruim”.
“Nós não sabíamos como as pessoas vivem na Rússia [Soviética].
Quando chegaram os soviéticos ai
acabamos por saber. Fomos
felizes pela [chegada] dos soviéticos. Mas quando vivemos sob os soviéticos – estávamos em um horror. Começaram chamar as pessoas. Imputavam algo à uma pessoa e a deportavam. Os homens eram presos
e a
sua família ficava sozinha. Todos os que foram deportados — não voltaram”.
Atrocidades soviéticas na Ucrânia Ocidental, cidade de Lviv, cadeia na Lonckoho, julho de 1941 |
E
você, o nosso querido leitor, como avalia estes acontecimentos? Gostaria de
experimentar um pouco de “mudanças socialistas”?
Fotos
@GettyImages | Internet | Texto @Maxim
Mirovich
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