A ocupação soviética da
Estónia deixou várias marcas sangrentas no tecido social do país. Uma delas é o
massacre de Pirita-Kose,
localidade onde funcionava o Tribunal de Guerra do Distrito Báltico do NKVD.
Entre as suas vítimas estavam civis, políticos, funcionários públicos,
veteranos da guerra de Independência. Todos eles foram perseguidos ao abrigo do
Código Criminal da República Federativa Socialista Soviética da Rússia, de
1926, que interpretava como “atividades contra-revolucionárias” as tarefas dos
funcionários públicos no estabelecimento e na proteção do seu próprio país.
O edifício usado pelo
NKVD em Pirita-Kose pertencia anteriormente ao banqueiro Klaus Scheel e foi
nacionalizado, juntamente com todo o seu património, em 1940. Em 1941, aqui
decorreram as seções secretas do Tribunal Militar do NKVD. Após receberem a
sentença da morte, as vítimas eram executadas no mesmo local e enterrados na
cave do edifício ou no jardim. Os familiares das vítimas não recebiam as
informações sobre o local da detenção dos seus parentes, nem do local da sua
morte.
As actividades do
tribunal do NKVD e o destino dos detidos eram desconhecidos até outubro de 1941,
quando uma vala comum com 9 corpos foi descoberta sob o chão no armazém de
coches. As mãos dos executados estavam amarradas atrás das costas com uma
corda. Em novembro do mesmo ano outra vala comum com 15 corpos foi descoberta
no jardim. As suas mãos também estavam amarradas atrás das costas, as bocas
tapadas e cobertas por ligaduras amarradas nas nucas. Também em novembro, em um
dos edifícios da propriedade foram descobertos mais 16 corpos, cujo estado
avançado de decomposição dificultou a sua identificação. Dos 40 corpos achados
em 1941, apenas 11 foram identificados, entre eles o do tenente-coronel Oskar
Luiga, oficial do exército, que na guerra de independência era comandante de um
comboio blindado.
Em maio de 1942, sob o
chão cimentado de um dos edifícios da propriedade, foram descobertos 38 corpos
das pessoas, que foram executados em abril de 1941, 23 deles foram
identificados. No total, em 1941-42, 78 pessoas executadas foram descobertas na
propriedade, 34 foram identificadas. A identificação também foi dificultada
pelo facto, do que muitos dos parentes dos executados, foram deportados da
Estónia e não podiam participar na identificação dos corpos.
Durante o novo período
da ocupação soviética de 1944 – 1991, o território da propriedade em Pirita-Kose
pertenceu ao exército soviético e todos os dados de arquivo, relativos aos
executados permaneciam secretos. A procuradoria da Estónia Soviética não
investigou o massacre até a década de 1990. Em 1989 o jornalista Mart Laar publicou
no diário “Pilk” o artigo chamado “Massacre em Tallinn-Kose em 1941”. O facto
forçou o KGB da Estónia admitir em janeiro de 1990, pela primeira vez, que os
massacres tiveram o lugar, que o Tribunal Militar do NKVD e a cadeia de
investigação funcionaram na propriedade.
Com ajuda das
testemunhas, os nomes da 31 vítima das 38 descobertas foram identificados.
Arquivos ajudaram a determinar que eles foram executados em três dias
separados, 5, 23 e 24 de abril de 1941. Entre eles os oficiais da polícia da
Estónia:
Helmut Veem, Aleksander
Läve, Hans Pipar, Heinrich Siirma, Paul Malsvell, Eno Tamar, Hans Koitorg,
Julius Palm, Paul Savilind, Märt Maavere, Hugo Pobul e Aleksander Lillimägi.
De acordo com NKVD, o
seu principal “crime” foi a detenção do Viktor Kingissepp e Jaan Kreuks – dois líderes
da clandestinidade comunista que preparavam o golpe de estado, organizado pelo GRU e derrotado em 1924. Entre os executados pelo NKVD estavam vários agentes
dos serviços secretos da Estónia e ex-membro do CC do Partido Comunista, Johannes
Linkhorst (Nõmmik), cujo testemunho ajudou a derrotar a junta comunista.
Em maio – junho de 1941
na propriedade foram executados os oficiais do serviço secreto da Estónia, Vello
Juurvee, Rudolf Ramla, Andres Puri, Albert Huik e Henn Puusepp. O assistente
político da polícia de Narva, Vello Juurvee, oficialmente “estava desaparecido”
desde 18 de novembro de 1940, o seu corpo foi encontrado em novembro de 1941. O
tribunal continuou a funcionar e os massacres persistiam mesmo após o início da
guerra entre Alemanha nazi e a URSS.
O destino exato de
muitos oficiais e funcionários dos Serviços Secretos da Estónia é desconhecido
até hoje. É bem provável que muitos deles foram executados pelo NKVD em 1941 em
Pirita-Kose e sepultados nos locais secretos. Até hoje se desconhecem onde
foram sepultados os ex-chefes do Estado, Jaan Tõnisson e Friedrich Akel. Possivelmente, eles também foram executados naquela
propriedade.
Os corpos descobertos
em Pirita-Kose foram sepultados no cemitério Liiv em Tallinn. Hoje, o cemitério
abriga o memorial das vítimas do Terror Vermelho. O assassinato coletivo de
Pirita-Kose foi o massacre comunista mais sangrento na história da Estónia.
Como tal, deve ser preservado na nossa memória coletiva.
Fonte:
Relatório Anual dos
Serviços Secretos da Estónia de 2011
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