quarta-feira, setembro 27, 2017

Mitos sobre Estaline adorados pela esquerda totalitária

Estalinismo, ativamente fomentado em alguns países do espaço pós-soviético e outras paragens, se baseia na mitologia do culto de personalidade do ditador que é visto pelos seus fãs como um habilidoso inteligente, génio militar e geralmente um bom chefão. A história de milhões de vidas, por ele arruinadas, é silenciada ou é justificada como “sacrifícios necessários”.

Na verdade, Estaline não era nem inteligente, nem um génio militar – apenas um homem mau e cruel que chegou ao poder derramando o sangue e assim governou até a sua morte.

1. Mito que camarada Estaline era «um grande cientista»

Camarada Estaline não terminou o seminário teológico (que em si não era o topo da instituição educacional da época), após disso, todo o seu tempo livre o jovem Koba gastava nas atividades criminosas (assaltava as estações dos correios) e depois nas ações e na sua carreira dentro do partido bolchevique. Apesar de todo o seu declarado “confronto com a religião”, o camarada Estaline era uma pessoa profundamente religiosa (no sentido mau/ruim da palavra) – ele dividiu todas as pessoas em dois grupos e acreditava firmemente que todas as “pessoas boas” deveriam entrar num lugar mágico chamado “comunismo” (análogo ao paraíso), e todos os “maus” deveriam ser punidos e exterminados.
Estaline criou um “marxismo-leninismo” primário, vulgarizando o marxismo leninista na medida em que o próprio Lenine vulgarizou o marxismo dito clássico. Estaline tentou, de forma sofrível, colocar toda a diversidade do mundo no quadro da “luta de classes”, que segundo ele, apenas se intensificava no caminho ao “socialismo real”. Nas suas obras, ditador soviético defendia que após destruir todos os “kulaks e exploradores”, a URSS viverá otimamente, enquanto isso o país ficava cada vez mais atrasado em relação ao mundo desenvolvido, em grande parte porque uma grande parte da intelligentsia, que não concordava com as ideias do Estaline foi simplesmente exterminada.

A imagem do “Estaline formado” era diligentemente criada pela propaganda soviética – houve tempo em que no Kremlin, à noite, era ligada a luz numa das janelas, afirmando que ali o camarada Estaline estava lendo e trabalhando. Quando ele terminar, país viveria, certamente, como se fosse no comunismo.

2. Mito que «apenas graças ao génio do Estaline a URSS venceu na II G.M.»

Se a URSS estivesse realmente se preparando para uma guerra defensiva (e não à uma “pequena [guerra] vitoriosa no território estrangeiro”), então, no verão de 1941, Hitler não teria chegado às portas de Moscovo e Leninegrado. Estaline pessoalmente é responsável pela decapitação da estrutura de comando supremo do RKKA na década de 1930 e despreparação absoluta à guerra defensiva, em parte por esta razão, no verão de 1941 a URSS sofreu perdas tão terríveis em pessoal e meios.
As suas ações nos anos subsequentes também estavam longe de ser ideais, as táticas soviéticas continuavam se basear em “capturar as colinas e cidades ao qualquer custo”, criando as enormes baixas nas suas forças armadas. Oficialmente, a URSS perdeu na II G.M. 27 milhões de pessoas, embora recentemente apareceram os novos dados que apontam para 41 milhões – dos quais 19 milhões eram militares do Exército Vermelho.

Nunca existiu no Estaline nenhum “génio militar”. Os diversos autores soviéticos chamaram Estaline, nas páginas dos seus diários e obras não publicadas de “canalha generoso”, devido ao facto de que todas as vitórias militares soviéticas eram alcançadas à custa de perdas humanas colossais.

3. Mito de «respeito pela URSS na era Estaline»

Este respeito simplesmente não existia – a União Soviética era vista como um perigoso marginal do bairro, preferindo não o irritar e, de tempos em tempos, tentando o chamar à razão. No final da década de 1920 e início dos anos 1930, o Ocidente ainda olhava com algum interesse no que estava acontecendo na URSS, mas depois do início das repressões e das “purgas” em massa, e principalmente quando s realidade soviética foi descrita por proeminentes pensadores, como Bertrand Russell – tudo ficou mais claro.
Os estalinistas gostam do mito em que Estaline supostamente foi elogiado pelo Churchill – alegadamente no seu discurso no Parlamento britânico em 21 de dezembro de 1959, ele chamou Estaline de “um génio que liderou a Rússia nos anos de provações mais difíceis”. Este discurso é um simples fake, na edição completa dos discursos de Churchill (publicada na enciclopédia Britannica), não existe o tal “discurso”. Em geral, este discurso não poderia existir dado que em 1959 o parlamento britânico se reuniu na sessão plenária em 17 de dezembro, e a próxima reunião foi agendada apenas em 26 de janeiro de 1960.

A URSS era encarada como uma ditadura perigosa e tóxica, sem liberdades e direitos humanos mais elementares, e todas as suas “realizações e feitios” eram direcionadas apenas à esfera militar e, como consequência, em expansão da sua influência e do seu território.

4. Mito que «Estaline era um altruísta absoluto»

Em todos os seus textos, estalinistas repetem a máxima que quando Estaline morreu, deixou apenas as suas botas, cachimbo, uniforme, alguns objetos pessoais sem valor e nenhuma poupança. É sempre servido juntamente com a frase: “olham aos oligarcas modernos, quanto eles roubaram”, etc.
Naturalmente surge uma pergunta – para que precisava do dinheiro a pessoa que já possuía o país inteiro em regime de uma ditadura absoluta? Ele simplesmente não precisa do dinheiro – fazia o que queria, pois não existia na URSS nenhum poder que o controlasse minimalmente que seja. Além disso, Estaline vivia em mansões e apartamentos com criados, usava as casas de campo e limusines com motoristas pessoais, comia os melhores alimentos e bebia melhores bebidas alcoólicas, era protegido 24/24 horas por vários batalhões do NKVD.

O camarada Estaline custava ao estado soviético milhões de rublos por ano, o que ele não pagava, pois simplesmente era o criador deste sistema. O fato de que ele “nunca pagou nada em dinheiro” significa apenas que ele estava completamente fora do controlo, fazendo tudo o que queria, usando ao seu belo prazer o dinheiro do orçamento do Estado.

5. Mito que «Estaline recebeu a Rússia com arado e deixou com uma bomba atómica»

A frase também atribuída ao Churchill no mesmo “discurso no Parlamento” – que nunca tinha acontecido. O autor da citação compara coisas incomparáveis, criando uma falsa aparência de algum tipo de “progresso” soviético. As bombas atómicas que apareceram na URSS não tiveram nada a ver com a qualidade de vida dos cidadãos – os camponeses que estavam arando com arado – continuavam a arar. E não apenas com um arado, mas com um arado puxado pela vaca – já que muitas vezes aos camponeses kolkhozianos era proibido ter o seu próprio cavalo, algo considerado como “sinal de riqueza”.
Nas cidades soviéticas eram construídos os novos apartamentos mais confortáveis, conhecidos como “stalinkas” e destinados à nomenclatura estatal e partidária, e nas aldeias havia uma pobreza terrível e falta absoluta de direitos – os camponeses não possuíam documentos de identificação até a década de 1960 [para impedir a sua fuga do interior] e, de fato, eram escravos estatais. Os mesmos escravos eram trabalhadores fabris – não tinham direitos, não possuíam sindicatos livres e podiam expressar suas opiniões apenas no âmbito do “modelo socialista de construção estatal”.

Nos comentários os nossos queridos leitores pode escrever que outros mitos sobre Estaline conhecem, de repente algum foi esquecido.

Foto @GettyImages | Texto Maxim Mirovich e [@Ucrânia em África]

Bónus

O historiador russo, de origem ucraniana, Oleg Khlevniuk, grande conhecedor da época estalinista descreve este período de seguinte forma:

“— A era Estaline foi o terror em massa. [...] A maioria absoluta dos prisioneiros eram pessoas comuns. A falta de proteção social. Numa população de 170 milhões de pessoas antes da II G.M., na URSS havia apenas 4 milhões de reformados/pensionistas. Somente pessoas selecionadas receberam a reforma/pensão. Nas vésperas da morte de Estaline cada cidadão soviético possuía 4,5 metros quadrados de espaço vital. Ou seja, num qualquer quarto de 18 m², viviam quatro pessoas. Durante todo o período do governo de Estaline, desde final da década de 1920 à 1953, não houve um único ano em que não houve fome. Houve períodos de fome em massa – como em 1932-1933, 1936, 1946 -1947, mas, além disso, todos os anos, pelo menos em alguma região havia fome. E o deficit de alimentos (para não falar dos produtos manufaturados) era um companheiro constante da maioria da população do país” (fonte).

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