Estalinismo,
ativamente fomentado em alguns países do espaço pós-soviético e outras paragens, se baseia na mitologia do culto de personalidade do ditador que é visto
pelos seus fãs como um habilidoso inteligente, génio militar e geralmente um bom
chefão. A história de milhões de vidas, por ele arruinadas, é silenciada ou é
justificada como “sacrifícios necessários”.
Na
verdade, Estaline não era nem inteligente, nem um génio militar – apenas um
homem mau e cruel que chegou ao poder derramando o sangue e assim governou até
a sua morte.
1.
Mito que camarada Estaline era «um grande cientista»
Camarada
Estaline não terminou o seminário teológico (que em si não era o topo da
instituição educacional da época), após disso, todo o seu tempo livre o jovem Koba
gastava nas atividades criminosas (assaltava as estações dos correios) e depois
nas ações e na sua carreira dentro do partido bolchevique. Apesar de todo o seu
declarado “confronto com a religião”, o camarada Estaline era uma pessoa
profundamente religiosa (no sentido mau/ruim da palavra) – ele dividiu todas as
pessoas em dois grupos e acreditava firmemente que todas as “pessoas boas” deveriam
entrar num lugar mágico chamado “comunismo” (análogo ao paraíso), e todos os “maus”
deveriam ser punidos e exterminados.
Estaline
criou um “marxismo-leninismo” primário, vulgarizando o marxismo leninista na
medida em que o próprio Lenine vulgarizou o marxismo dito clássico. Estaline tentou,
de forma sofrível, colocar toda a diversidade do mundo no quadro da “luta de
classes”, que segundo ele, apenas se intensificava no caminho ao “socialismo
real”. Nas suas obras, ditador soviético defendia que após destruir todos os “kulaks
e exploradores”, a URSS viverá otimamente, enquanto isso o país ficava cada vez
mais atrasado em relação ao mundo desenvolvido, em grande parte porque uma
grande parte da intelligentsia, que não concordava com as ideias do Estaline foi
simplesmente exterminada.
A
imagem do “Estaline formado” era diligentemente criada pela propaganda
soviética – houve tempo em que no Kremlin, à noite, era ligada a luz numa das janelas,
afirmando que ali o camarada Estaline estava lendo e trabalhando. Quando ele
terminar, país viveria, certamente, como se fosse no comunismo.
2.
Mito que «apenas graças ao génio do Estaline a URSS venceu na II G.M.»
Se
a URSS estivesse realmente se preparando para uma guerra defensiva (e não à uma
“pequena [guerra] vitoriosa no território estrangeiro”), então, no verão de
1941, Hitler não teria chegado às portas de Moscovo e Leninegrado. Estaline pessoalmente
é responsável pela decapitação da estrutura de comando supremo do RKKA na
década de 1930 e despreparação absoluta à guerra defensiva, em parte por esta
razão, no verão de 1941 a URSS sofreu perdas tão terríveis em pessoal e meios.
As
suas ações nos anos subsequentes também estavam longe de ser ideais, as táticas
soviéticas continuavam se basear em “capturar as colinas e cidades ao qualquer
custo”, criando as enormes baixas nas suas forças armadas. Oficialmente, a URSS
perdeu na II G.M. 27 milhões de pessoas, embora recentemente apareceram os
novos dados que apontam para 41 milhões – dos quais 19 milhões eram militares do
Exército Vermelho.
Nunca
existiu no Estaline nenhum “génio militar”. Os diversos autores soviéticos chamaram
Estaline, nas páginas dos seus diários e obras não publicadas de “canalha
generoso”, devido ao facto de que todas as vitórias militares soviéticas eram alcançadas
à custa de perdas humanas colossais.
3.
Mito de «respeito pela URSS na era Estaline»
Este
respeito simplesmente não existia – a União Soviética era vista como um perigoso
marginal do bairro, preferindo não o irritar e, de tempos em tempos, tentando o
chamar à razão. No final da década de 1920 e início dos anos 1930, o Ocidente
ainda olhava com algum interesse no que estava acontecendo na URSS, mas depois
do início das repressões e das “purgas” em massa, e principalmente quando s
realidade soviética foi descrita por proeminentes pensadores, como Bertrand Russell –
tudo ficou mais claro.
Os
estalinistas gostam do mito em que Estaline supostamente foi elogiado pelo
Churchill – alegadamente no seu discurso no Parlamento britânico em 21 de
dezembro de 1959, ele chamou Estaline de “um génio que liderou a Rússia nos
anos de provações mais difíceis”. Este discurso é um simples fake, na edição
completa dos discursos de Churchill (publicada na enciclopédia Britannica), não
existe o tal “discurso”. Em geral, este discurso não poderia existir dado que em
1959 o parlamento britânico se reuniu na sessão plenária em 17 de dezembro, e a
próxima reunião foi agendada apenas em 26 de janeiro de 1960.
A
URSS era encarada como uma ditadura perigosa e tóxica, sem liberdades e
direitos humanos mais elementares, e todas as suas “realizações e feitios” eram
direcionadas apenas à esfera militar e, como consequência, em expansão da sua
influência e do seu território.
4.
Mito que «Estaline era um altruísta absoluto»
Em
todos os seus textos, estalinistas repetem a máxima que quando Estaline morreu,
deixou apenas as suas botas, cachimbo, uniforme, alguns objetos pessoais sem
valor e nenhuma poupança. É sempre servido juntamente com a frase: “olham aos
oligarcas modernos, quanto eles roubaram”, etc.
Naturalmente
surge uma pergunta – para que precisava do dinheiro a pessoa que já possuía o
país inteiro em regime de uma ditadura absoluta? Ele simplesmente não precisa do
dinheiro – fazia o que queria, pois não existia na URSS nenhum poder que o controlasse
minimalmente que seja. Além disso, Estaline vivia em mansões e apartamentos com
criados, usava as casas de campo e limusines com motoristas pessoais, comia os
melhores alimentos e bebia melhores bebidas alcoólicas, era protegido 24/24 horas
por vários batalhões do NKVD.
O
camarada Estaline custava ao estado soviético milhões de rublos por ano, o que
ele não pagava, pois simplesmente era o criador deste sistema. O fato de que
ele “nunca pagou nada em dinheiro” significa apenas que ele estava completamente
fora do controlo, fazendo tudo o que queria, usando ao seu belo prazer o
dinheiro do orçamento do Estado.
5.
Mito que «Estaline recebeu a Rússia com arado e deixou com uma bomba atómica»
A
frase também atribuída ao Churchill no mesmo “discurso no Parlamento” – que nunca
tinha acontecido. O autor da citação compara coisas incomparáveis, criando uma
falsa aparência de algum tipo de “progresso” soviético. As bombas atómicas que
apareceram na URSS não tiveram nada a ver com a qualidade de vida dos cidadãos –
os camponeses que estavam arando com arado – continuavam a arar. E não apenas com
um arado, mas com um arado puxado pela vaca – já que muitas vezes aos camponeses
kolkhozianos era proibido ter o seu próprio cavalo, algo considerado como “sinal
de riqueza”.
Nas
cidades soviéticas eram construídos os novos apartamentos mais confortáveis, conhecidos
como “stalinkas” e destinados à nomenclatura estatal e partidária, e nas
aldeias havia uma pobreza terrível e falta absoluta de direitos – os camponeses
não possuíam documentos de identificação até a década de 1960 [para impedir a
sua fuga do interior] e, de fato, eram escravos estatais. Os mesmos escravos
eram trabalhadores fabris – não tinham direitos, não possuíam sindicatos livres
e podiam expressar suas opiniões apenas no âmbito do “modelo socialista de
construção estatal”.
Nos
comentários os nossos queridos leitores pode escrever que outros mitos sobre Estaline
conhecem, de repente algum foi esquecido.
Foto
@GettyImages | Texto Maxim
Mirovich e [@Ucrânia em África]
Bónus
O
historiador russo, de origem ucraniana, Oleg Khlevniuk, grande
conhecedor da época estalinista descreve este período de seguinte forma:
“—
A era Estaline foi o terror em massa. [...] A maioria absoluta dos prisioneiros
eram pessoas comuns. A falta de proteção social. Numa população de 170 milhões
de pessoas antes da II G.M., na URSS havia apenas 4 milhões de reformados/pensionistas.
Somente pessoas selecionadas receberam a reforma/pensão. Nas vésperas da morte
de Estaline cada cidadão soviético possuía 4,5 metros quadrados de espaço
vital. Ou seja, num qualquer quarto de 18 m², viviam quatro pessoas. Durante
todo o período do governo de Estaline, desde final da década de 1920 à 1953,
não houve um único ano em que não houve fome. Houve períodos de fome em massa –
como em 1932-1933, 1936, 1946 -1947, mas, além disso, todos os anos, pelo menos
em alguma região havia fome. E o deficit de alimentos (para não falar dos
produtos manufaturados) era um companheiro constante da maioria da população do
país” (fonte).
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