Na
Ucrânia e Belarus começou a época de apanha de cogumelos. As páginas do Facebook
estão cheias de fotos de cogumelos, as pessoas contam as suas histórias, mostram
a colheita, se vangloriam pela quantidade, qualidade e exemplares mais
vistosos. O blogueiro belaruso Maxim Mirovich
visitou a zona de exclusão de Chornobyl e voltou vivo para mostrar o que
viu.
Ele
próprio, está contra a apanha de cogumelos “selvagens” em todo o território da
Belarus (especialmente na sua parte sul). Em 1986, a contaminação por radiação
afetou [uma parte da Ucrânia] e quase toda a Belarus sob a forma de precipitação
radioativa, carregada de sais de radioisótopos césio-137 e estrôncio-90, bem
como muitos elementos transuranianos, como plutónio e amerício. Mesmo os
territórios que são considerados “limpos”, receberam pelo menos uma pequena dose
de poluição. Os radioisótopos geralmente estão no solo, e se as árvores ou
arbustos os absorvem em menor quantidade, então o musgo e os cogumelos são um
acumulador absoluto de radiação – se houver, pelo menos, a menor partícula radioativa
na zona, o micélio necessariamente o absorverá.
A
postagem de hoje é dedicada aos cogumelos de Chornobyl e mostrará as evidências
que confirmam: os cogumelos daquela região não são para apanhar, nem para
comer.
01.
O passeio pela zona de exclusão começa na cidade abandonada de Pripyat. Em muitos
locais da cidade o dosímetro mostra o ar praticamente livre de radiação, mas
tudo que cresce da terra, por exemplo, o musgo pode mostrar níveis excessivos
bastante significativos.
02.
Não foram encontrados os cogumelos em Pripyat, então aqui vêm as fotos inéditas
que nunca foram publicadas antes: ponto de propaganda eleitoral soviético “agitpunkt”
no centro cultural e recreativo “Energetik” (em maio de 1986 em Pripyat, deveriam
se realizar algumas eleições locais):
03.
A saída de emergência do centro “Energetik”, com um guarda-roupa público para
guardar os paletós e casacos:
04.
Cabines de observação da roda-gigante no parque da cidade. No parque também não
se vêem cogumelos – todo o território é asfaltado.
05.
Para observar os cogumelos, se viajou até o objeto “Chornobyl-2”
– são antenas gigantes de 150 metros de altura – um objeto soviético secreto –
o sistema de vigilância de radar além do horizonte, chamado “Duga”.
Simplificando, essas antenas possibilitavam o rastreamento do lançamento de
mísseis nucleares intercontinentais por parte do “inimigo provável”. Na entrada
os viajantes podem ver os sinais rodoviários todos enferrujados:
06.
Posto de controlo abandonado. Aqui estão os locais mais favoráveis ao
crescimento dos cogumelos: mata seca, musgo e folhas de pinheiro em forma acicular.
07.
As próprias antenas são um complexo gigante de várias centenas de metros de
comprimento e 150 metros de altura.
08.
Mais uma vez, o dosímetro mostra os níveis quase normais de radiação, medidas “no
ar”, ultrapassando a norma apenas ligeiramente. O amador poderá considerar que
é seguro apanhar os cogumelos aqui, mas isso não é verdade.
09.
As antenas são uma estrutura de metal gigante, que em si é um acumulador de
radiação. Em 1986, quando a poucos quilómetros do “Duga” ardia e fumegava o 4º reator
da estação nuclear de Chornobyl, as antenas atraíram e absorveram bastantes radionuclídeos.
Depois disso, as chuvas que caiam naquela área, por muitos anos lavavam o pó
radioativo até ao solo.
10.
Os locais mais ricos em cogumelos são os mesmos, onde, durante anos, caia a água
das antenas:
11.
É verdade – muitos cogumelos diferentes podem ser encontrados debaixo dos
pinheiros, tanto comestíveis, como venenosos. Olha, que bonitão!
12.
Um pequeno cogumelo. O dosímetro mostra 0,34 mSv/h (norma é 0,5 mSv/h), em vez
de 0,15-0,20/h do ar.
13.
Durante a sua vida curta, os cogumelos conseguem literalmente, “como uma
esponja”, absorver todo o tipo de radionuclídeos. Um cogumelo um pouco maior – 0,35 mSv/h.
14.
Um cogumelo maior ainda – 0,44 mSv/h.
15.
Um cogumelo velho e respeitado, vários dias mais velho do que os seus coirmãos.
“Sua Majestade” mostra quase 1,00 mSv/h. Não é mais um cogumelo, é um depósito
de lixo radioativo sólido de baixo nível de emissão, na sua posse, o turista
será barrado no desembarque no aeroporto, por exemplo. Tenham em mente que
estas são apenas medições rápidas e feitas por um amador, com auxílio de um
dosímetro doméstico. Se este cogumelo for esmagado e medido no laboratório em
termos reais de raios beta e gama, a sua contaminação radioativa real será
algumas vezes maior.
Como
podem ver – com os indicadores de radiação de fundo (do ar) bastante “seguros”,
os cogumelos absorvem, com sucesso, tudo o tipo de radioatividade que conseguem
achar na natureza. Portanto, não recomendamos apanhar os cogumelos “selvagens”
na zona de Chornobyl – melhor comprar um pacote no supermercado.
E
vocês, queridos leitores do nosso blogue, costumam apanhar os cogumelos? O que
depois fazem com eles?
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