quinta-feira, junho 06, 2019

A página afro-ucraniana de Chornobyl


Recentemente a guionista britânica Karla Marie Sweet reclamou a ausência, na série anglo-americana “Chernobyl”, dos atores que a própria classificou como “PoC” ou seja “people of color”. Sem nenhuma razão para essa afirmação.
Um dos chamados liquidadores do desastre de Chornobyl era Ihor Hiryak (Igor Hiriak). Nascido em 1967 na Ucrânia, filho de mãe solteira [isso é indicado pelo seu apelido/sobrenome ucraniano, pois a regra soviética proibia a atribuição do apelido/sobrenome e do nome paterno às crianças, filhos dos pais estrangeiros, caso os seus progenitores não eram oficialmente casados). Aos 10 anos ele, pressupõe-se que com a mãe, se mudou para a cidade russa de Cherepovets. Em 1985 Igor foi chamado à cumprir o serviço militar obrigatório (SMO), que ele serviu na 210ª Birgada de pontões e pontes — a unidade de exército de engenharia, que estava aquartelado em Kyiv, na Ucrânia ainda soviética. A unidade militar № 75110, onde servia Ihor fazia parte desta Brigada, escreve a página ucraniana The Babel.com.ua
foto: Ihor Hiryak, rede VK
Os militares da brigada participaram na liquidação das consequências da catástrofe de Chornobyl desde dia 27 de abril de 1986 até o novembro de 1990.
foto: Ihor Hiryak, rede VK
Já no dia 26 de abril de 1986 o tenente-general Osipov ordenou que a unidade se mova em direção de Chornobyl, com a tarefa de erguer o pontão sobre o rio Pripyat, que alegadamente serviria para evacuação dos 47.500 moradores da cidade de Pripyat [possivelmente serviria para garantir a chegada dos equipamentos passados à Chornobyl]. Desarmado, munido de apenas máscaras antigás, a unidade se aquartelou à uma distância de apenas 4 km da estação de energia de Chornobyl. Na noite de 2 de maio a passagem de pontão estava pronta (possivelmente já não serviu para evacuação dos moradores da cidade, pois estes começaram ser evacuados ainda no dia 27 de abril de 1986). O comandante da unidade, coronel Ivan Yazoovskih condecorou Ihor Hiryak com uma carta de agradecimento pelo «desempenho exemplar do dever para com a Pátria».
imagem: Ihor Hiryak, rede VK
Após cumprir o SMO; Ihor voltou para Cherepovets, onde vive até hoje. Nas vésperas do 30º aniversário da catástrofe de Chornobyl, em 2016, ele colocou no seu perfil da rede social “VK” várias fotos relativas ao seu serviço em Chornobyl.
foto: Ihor Hiryak, rede VK
À julgar pelas fotos do seu perfil, Ihor participa nas atividades de reconstruções históricas, em 2014 participou, como ator, no filme russo de baixo orçamento «Feitiço de Veles». Ihor também faz a comédia stendup com a equipa russa Amsterdam, vive numa casa privada nos arredores da cidade, onde possui uma pequena propriedade semi-rural. No dia 21 de abril de 2019 ele postou uma foto sua, onde aparece com calças de tipo militar, envolto na bandeira ucraniana.
foto: Ihor Hiryak, rede VK
Ele não está muito ativo na rede social “VK”, mas um dos blogueiros ucranianos relata que Ihor lhe tinha dito numa conversa online: “estive em Chornobyl desde o dia 27 de abril de 1986”.
foto: Ihor Hiryak, rede VK
Voltando ao nosso tema, a série “Chernobyl” conta com pelo menos um ator que seguramente podemos considerar como um PoC, o sueco-libanês Fares Fares (personagem Bacho, na foto em baixo à esquerda), no 4º episódio (“The Happiness of All Mankind”), ele interpreta um sargento azeri (?), designado, juntamente com personagens de Alexej Manvelov (Arménio) e Barry Keoghan (Pavel) de abater os animais domésticos, que as ucranianos tiveram que deixar na zona de exclusão.
Fares Fares (Bacho) e Barry Keoghan (Pavel) em "Chernobyl" (2019), HBO

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