Recentemente a guionista britânica Karla Marie Sweet
reclamou a ausência, na série anglo-americana “Chernobyl”, dos atores que a
própria classificou como “PoC” ou seja “people of color”.
Sem nenhuma razão para essa afirmação.
Um dos chamados liquidadores do desastre de Chornobyl era
Ihor Hiryak (Igor Hiriak). Nascido em 1967 na Ucrânia, filho de mãe solteira [isso
é indicado pelo seu apelido/sobrenome ucraniano, pois a regra soviética proibia
a atribuição do apelido/sobrenome e do nome paterno às crianças, filhos dos pais
estrangeiros, caso os seus progenitores não eram oficialmente casados). Aos 10
anos ele, pressupõe-se que com a mãe, se mudou para a cidade russa de
Cherepovets. Em 1985 Igor foi chamado à cumprir o serviço militar obrigatório
(SMO), que ele serviu na 210ª Birgada de pontões e pontes — a unidade de
exército de engenharia, que estava aquartelado em Kyiv, na Ucrânia ainda
soviética. A unidade militar № 75110, onde servia Ihor fazia parte desta
Brigada, escreve a página ucraniana The Babel.com.ua
Os militares da brigada participaram na liquidação das
consequências da catástrofe de Chornobyl desde dia 27 de abril de 1986 até o
novembro de 1990.
Já no dia 26 de abril de 1986 o tenente-general Osipov
ordenou que a unidade se mova em direção de Chornobyl, com a tarefa de erguer o
pontão sobre o rio Pripyat, que alegadamente serviria para evacuação dos 47.500
moradores da cidade de Pripyat [possivelmente serviria para garantir a chegada
dos equipamentos passados à Chornobyl]. Desarmado, munido de apenas máscaras
antigás, a unidade se aquartelou à uma distância de apenas 4 km da estação de
energia de Chornobyl. Na noite de 2 de maio a passagem de pontão estava pronta
(possivelmente já não serviu para evacuação dos moradores da cidade, pois estes
começaram ser evacuados ainda no dia 27 de abril de 1986). O comandante da
unidade, coronel Ivan Yazoovskih condecorou Ihor Hiryak com uma carta de
agradecimento pelo «desempenho exemplar do dever para com a Pátria».
Após cumprir o SMO; Ihor voltou para Cherepovets, onde
vive até hoje. Nas vésperas do 30º aniversário da catástrofe de Chornobyl, em 2016,
ele colocou no seu perfil da rede social “VK” várias fotos relativas ao seu
serviço em Chornobyl.
À julgar pelas fotos do seu perfil, Ihor participa nas
atividades de reconstruções históricas, em 2014 participou, como ator, no filme
russo de baixo orçamento «Feitiço de Veles». Ihor também faz a comédia stendup com a equipa russa Amsterdam, vive numa casa privada nos
arredores da cidade, onde possui uma pequena propriedade semi-rural. No dia 21
de abril de 2019 ele postou uma foto sua, onde aparece com calças de tipo
militar, envolto na bandeira ucraniana.
Ele não está muito ativo na rede social “VK”, mas um dos
blogueiros ucranianos relata que Ihor lhe tinha dito numa conversa online:
“estive em Chornobyl desde o dia 27 de abril de 1986”.
Voltando ao nosso tema, a série “Chernobyl” conta com pelo menos um ator que seguramente podemos considerar como um PoC, o sueco-libanês Fares Fares (personagem Bacho, na foto em baixo à esquerda), no 4º episódio (“The Happiness of All Mankind”), ele interpreta um sargento azeri (?), designado, juntamente com personagens de Alexej Manvelov (Arménio) e Barry Keoghan (Pavel) de abater os animais domésticos, que as ucranianos tiveram que deixar na zona de exclusão.
foto: Ihor Hiryak, rede VK |
Fares Fares (Bacho) e Barry Keoghan (Pavel) em "Chernobyl" (2019), HBO |
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