Os
bombeiros de Chornobyl, do turno que enfrentou o incêndio de Chornobyl na noite
de 26 de abril de 1986, tiveram as sortes diferentes, uma parte foi levada para
Moscovo e tratada pelo método do Dr. Robert Gale, todos
eles morreram. Os bombeiros do mesmo turno tratados na Ucrânia sobreviveram todos.
Os
primeiros 13 bombeiros de Chornobyl, foram levados de avião ao Moscovo, para
serem tratados no 6º hospital clínico da capital soviética. Os sortudos receberiam
o tratamento inovador do Dr. Gale, médico americano que veio à URSS para testar o seu método progressista.
Outros
11 bombeiros tiveram sorte menor — foram levados ao Instituto de Radiologia e
Oncologia da Ucrânia em Kyiv, instituição liderada pelo Professor Leonid Kindzelsky.
A
doença da radiação aguda é uma morte lenta e dolorosa, quando as células sanguíneas
morrem dentro de um curto período de tempo após a contaminação, depois cedem os
órgãos internos, etc.
Moscovo
optou por método do Gale: decorria a Perestroika e os médicos estrangeiros, muito
mais americanos, eram especialmente bem aceites. O método de Gale envolvia o
transplante de medula óssea: ao paciente procuravam um doador compatível,
“matavam” a sua própria medula óssea e esperavam que a medula óssea do doador
criasse raízes no novo corpo.
Dr. Robert Gale no 6º hospital em Moscovo opera uma das vítimas do desastre de Chornobyl foto: fakty.ua |
Em
1986, os radiologistas ucranianos não podiam entrar em conflito aberto com os
colegas de Moscovo, a vantagem sempre estaria do lado moscovita. Apesar disso,
Kyiv agiu de forma diferente. Professor Kindzelsky era um homem com caráter. Contra
fortes “recomendações” de Moscovo, ele se recusou abertamente a usar o método
do Dr. Gale, o professor ucraniano reparou que o tratamento da doença da
radiação aguda coincide completamente com o tratamento da leucemia aguda após a
radioterapia.
Após
diagnosticar, além de irradiação gama, a radiação alfa e beta, Prof. Kindzelsky
usou um método de tratamento diametralmente diferente: ele injetava a medula
óssea por via intravenosa, NÃO matando a medula óssea dos pacientes. Dessa
forma, o processo de plantio – lançamento – rejeição da medula óssea do doador
passava pelo ciclo especial, o seu próprio sistema sanguíneo recebia um tempo
de “descanso”, após o qual começava a funcionar por conta própria.
Além
havia mais uma diferença fundamental no tratamento. Como conta Anna Gubareva,
médica oncologista de Kyiv: «…Nós os lavamos. Não como em Moscovo, apenas no
chuveiro, mas lavávamo-los por via intravenosa, durante dias, lavando e
absorvendo do sangue deles tudo o que era possível lavar e absorver»...
***
—
Dos 13 bombeiros de Chornobyl, tratados
em Moscovo, 11 morreram até o dia 16 de maio de 1986.
—
Dos 11 bombeiros do mesmo turno, mas tratados em Kyiv, por Prof. Kindzelsky, sobreviveram
todos.
Oficialmente
foi dito: «Os pacientes de Kyiv receberam doses muito menores de radiação». O
que era uma inverdade absoluta: todos os bombeiros pertenciam ao mesmo turno, a
unidade heróica do Volodymyr
Pravik.
***
A
biografia do Dr. Gale na Wikipédia e em vários outros recursos é imaculada. Dr.
Gale participou ainda, de forma oficial ou privada, na coordenação dos esforços de socorro
médico no acidente de Goiânia (1987), acidentes nucleares de Tokaimura (1999) e
Fukushima (2011).
No
entanto, no relatório divulgado no verão de 1986, após o acidente de Chornobyl,
as autoridades médicas soviéticas concluíram que os transplantes de medula
óssea do Dr. Gale tinham pouco valor prático e provavelmente apressaram a morte
de pelo menos dois pacientes. Em futuros acidentes nucleares, concluíram os
médicos soviéticos, os transplantes de medula óssea beneficiariam apenas um
pequeno número de pacientes expostos a uma faixa estreita de doses de radiação.
Na
sua defesa, em 1988, Dr. Gale dizia que a viagem à União Soviética foi tanto
uma missão política quanto um resgate médico – a primeira vez que um médico
ocidental foi convidado pela União Soviética para ajudar a lidar com um
desastre desde a II G.M. Dr. Gale afirmava que o relatório soviético ignorava o
fa(c)to de que o tratamento foi dado apenas aos pacientes que não tinham chance
de sobreviver sem ele. Ao todo, de acordo com médicos soviéticos, apenas 13
transplantes de medula óssea e seis transplantes de células de fígado fetais
foram feitos e alguns deles foram concluídos antes mesmo de Gale e seus colegas
chegarem. Mas Gorbachev agradeceu pessoalmente ao Gale (LA
Times, edição de 5 de maio de 1988).
Já
o professor ucraniano, Leonid Kindzelsky tornou-se um herói desconhecido, raramente
se escreveu sobre ele. Apesar de milhares de pacientes passarem por sua clínica
em 1986, apenas um dos liquidadores não sobreviveu – engenheiro Oleksandr
Lilichenko, que entrou na clínica de Kyiv após ser exposto à uma dose letal de
radiação, 6 dias após a contaminação.
Após
a explosão em Pripyat, Eng. Lilichenko desceu debaixo do IV blogo energético de
Chornobyl para retirar o hidrogénio da camisa de resfriamento do gerador (usado
para resfriar o turbogerador do reator), produzido numa estação especial de
hidrólise.
O
Estado soviético “agradeceu” Prof. Kindzelsky, o despensando da posição do
radiologista-chefe da Ucrânia Soviética. Começou o clima de perseguição, o Professor
foi acusado de nunca passar pela zona de Chornobyl.
Prof.
Kindzelsky morreu em 19 de abril de 1999, aos 68 anos de idade.
Todos
os anos, no aniversário da sua morte, em 19 de abril, os sobreviventes dos
liquidadores de Chornobyl se reúnem no seu túmulo e lhe dizem – OBRIGADO.
É
uma das suas poucas fotografias conhecidas.
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