Em
15 de junho de 1934, 85 anos atrás, em Varsóvia, pela decisão da Organização
dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), foi executado o ministro do Interior da 2ª
república polaca Bronisław
Pieracki, conhecido pela sua participação ativa na política de “pacificação” (polonização) da
Ucrânia Ocidental na década de 1930.
Na foto, o cortejo fúnebre do ministro Pieracki nas ruas de Varsóvia em 18 de junho de 1934 |
O
atentado foi executado pelo ativista da OUN Hryhoriy “Honta” Maceiko, que
deveria atingir o ministro com uma bomba caseira, mas dado que o explosivo não
funcionou, usou um revolver. O próprio Maceiko foi transferido pela OUN para a Checoslováquia
e de lá para Argentina, onde residiu até a sua morte natural em 1966, sepultado
nos arredores de Buenos Aires.
Hryhoriy Maceiko, cerca de 1940 | Wikipédia |
Ministro
Pieracki foi o iniciador e líder dos pogroms
e perseguições da população ucraniana nas regiões em Lemkivshchyna,
Prykarpattia e Polissya, atos pelos quais ele foi condenado à morte pelo
tribunal da OUN.
A
OUN estava preparando o atentado durante um longo período de tempo. A decisão
sobre a ação foi tomada no final de abril de 1933 na reunião da liderança da
OUN, chefiada por coronel Yevhen Konovalets. Desde então, a rede clandestina da
OUN começou estudar cuidadosamente os hábitos e a rotina do ministro, selecionar
o exeutor. (a escolha coube ao chefe do comité executivo regional do OUN, jovem
Stepan Bandera).
A “pacificação” polaca/polonesa da Ucrânia Ocidental, 1930 | foto: photo-lviv.in.ua |
Durante
o outono de 1933 as rotinas do ministro foram estudadas por Mykola Lebed, na
primavera de 1934, ele foi apoiado pela sua futura esposa, Daria Hnatkivska. O
ministro do Interior tinha uma lista sólida de inimigos, principalmente entre os
círculos polacas/poloneses pró-alemães, como grupo proto-fascista Obóz Narodowo-Radykalny (Campo Popular-Radical).
O
envolvimento do OUN foi descoberta apenas após a entrega, pela Checoslováquia, à
polícia polaca/polonesa do arquivo de OUN conhecido como “arquivo Senik”. Era o
arquivo da liderança da OUN, que continha muita informação confidencial,
incluindo sobre a liquidação do Pierecki. Com base nos materiais deste arquivo,
a investigação polaca/polonesa estabeleceu os organizadores e o executor do ministro.
"Que viva Ucrânia", o cartaz ucraniano dedicado ao processo de Varsóvia fonte: Wikipédia |
O
grande processo público em Varsóvia (18 de novembro de 1935 – 13 de janeiro de
1936), contra quase toda a liderança do OUN, terminou numa série de sentenças
de morte e prisão perpétua, mas completou vários processos históricos importantes.
Primeiro de tudo, após o processo de Varsóvia, a OUN tornou-se claramente um
fator influente na vida política da Polónia. Anteriormente, as atividades de
nacionalistas ucranianos na Polónia, eram percebidas como um problema regional,
após a morte do Pieracki ficou claro – a OUN e suas exigências terão ser consideradas
pela 2ª república polaca/polonesa, e ninguém irá se sentir seguro, nem mesmo o todo
poderoso chefe da polícia da Polónia.
Os
vizinhos da Polónia, como Alemanha, Lituânia ou URSS, vão entender que OUN é um
movimento de massas bastante poderoso, com um propósito claro e inequívoco.
Como resultado, a Alemanha e Lituânia responderão posteriormente à busca do OUN
por um aliado externo e auxiliarão os nacionalistas ucranianos na sua luta contra
o inimigo em comum – a 2ª república polaca/polonesa (fonte).
O
comando da Organização Militar Ucraniana (UVO, a base da OUN desde 1929),
explicou a liquidação do Pieracki nos seguintes termos:
“Ação
do operativo da UVO, atingiu não apenas Pieracki como pessoa, mas Pieracki como
o executor da política de ocupação polaca/polonesa das Terras ucranianas do
Ocidente (doravante ZUZ). Quem foi Pieracki? Pieracki – foi um consistente demolidor
da vida ucraniana na ZUZ. Pieracki foi um liquidador da vida escolar ucraniana,
das instituições culturais e educacionais ucranianas, das sociedades e círculos
económicos e desportivos, das cooperativas, foi um colonizador da igreja
ucraniana. Pieracki foi o criador e organizador da política polonesa colonial de
roubo na ZUZ, a colonização das terras ucranianas pela ocupação polonesa,
enchimento de células industriais na ZUZ pelos operários polacos/poloneses. Pieracki
é organizador de pogroms de
ucranianos na ZUZ por bandos policiais e dos ulanos [cavalaria], expedições punitivas,
atiradores, as pacificações bárbaras.
Sala de leitura da sociedade «Prosvita», após o pogrom polaco/polonês, aldeia de Knyahynichi, região de Stanislaviv (atualmente a região de Ivano-Frankivsk), 1930 | foto: foto-lviv.in.ua |
Pieracki
é o criador das cortes marciais, forcas e tortura dos revolucionários
ucranianos. Pieracki é autor de maus-tratos policiais e tortura de presos
políticos ucranianos. Pieracki é o criador do sistema de decomposição moral da
vida ucraniana pelo [sistema dos] delatores em massa. Pieracki é o autor de
profanação e selvageria da memória dos heróis da luta de libertação ucraniana,
a escavação de sepulturas, a destruição dos crucifíxos. Pieracki é um dos
fundadores de um arsenal policial da ocupação bárbara polaca/polonesa, que
estabeleceu como meta a destruição e polonização da vida ucraniana” (fonte).
Blogueiro:
aos amigos polacos/poloneses do nosso blogue. Em 1934 a UVO/OUN liquidou um
colonizador da Ucrânia Ocidental (Galiza, Volyn, Cárpatos). A resistência
nacionalista ucraniana reagiu, dessa forma, ao brutal processo de “pacificação”
(polonização das terras e assimilação das populações ucranianas), promovido pela
Polónia de então. Nada disso era necessário e tudo era perfeitamente evitável,
caso a 2ª república polaca/polonesa não optasse pela criação do estado
polaco/polonês mono nacional, objetivo que realmente alcançou durante e após a
II G.M., com extermínio de judeus e expulsão dos ucranianos no decorrer da Akcja
Wisła.
As
autoridades polacas/polonesas justificavam as suas ações punitivas com a luta
contra resistência nacionalista ucraniana contra latifundiários
polacos/poloneses e execuçao de atos de sabotagem contra infra-estruturas da
Polónia, levados ao cabo pela rede clandestina de UVO/OUN. No entanto, em todas
as ações de pacificação, absolutamente desproporcionais à resistência ucraniana,
as autoridades polacas/polonesas atacavam indiscriminadamente os intelectuais
ucranianos (padres, professores, bibliotecários, lojistas e membros de cooperativas),
destruíam e saqueavam as igrejas, cemitérios e propriedades ucranianas, ações
que nada tinham ver com a resistência e que atualmente podem ser equiparadas
aos crimes de guerra.
Sala de leitura e biblioteca da sociedade «Prosvita» após o pogrom polaco/polonês, aldeia de Chizhikiv | foto: foto-lviv.in.ua |
As
atrocidades polacas/polonesas foram reportadas largamente na imprensa
americana, canadense e britânica, apesar da grande tentativa da propaganda
polaca/polonesa de negar os acontecimentos e depois, quando isso se tornou
impossível, retratar a resistência ucraniana de UVO/OUN, ora como “agentes de
Moscovo”, ora como “agentes de Berlim”.
Os
relatos da imprensa mundial da época sobre a “pacificação” da Ucrânia Ocidental
pela 2ª república polaca/polonesa
Uma
Civilização Destruída
Ler o artigo em formato textual |
A
“pacificação” da Ucrânia por meio destas “expedições punitivas” é,
provavelmente, o massacre mais destrutivo já feito contra qualquer das minorias
nacionais e é a pior violação de tratamento de minorias [étnicas]. De fa(c)to,
é uma civilização inteira e muito evoluída que foi destruída nas últimas três
semanas.
As
cooperativas, escolas, bibliotecas e institutos que foram construídos por anos
de trabalho, sacrifício e entusiasmo pelos ucranianos > < quase
inteiramente fora dos seus próprios recursos e em face de imensas dificuldades.
Eles sentem a perda dessas coisas quase tanto quanto seus sofrimentos físicos
desumanos.
Os
polacos/poloneses sem dúvida publicarão as negações oficiais habituais. Uma
investigação imediata e imparcial no cenário da tragédia, acompanhada de
garantias contra a intimidação de testemunhas, é uma necessidade urgente.
“The
Manchester Guardian”, 14 de outubro de 1930.
A loja pertencente à União das Cooperativas, destruída no pogrom polaco/polonês, 1930 | foto: foto-lviv.in.ua |
Onze
camponeses ucranianos, mais terrivelmente espancados pelos polacos/poloneses,
estão aqui em um pequeno hospital ucraniano primitivo. Eles são apenas algumas
das muitas vítimas do que é oficialmente conhecido como “a pacificação da
Galiza Oriental”. É necessário ser bastante franco em lidar com o que é uma das
austeridades mais pavorosas de tempos modernos. Estes onze camponeses foram tão
espancados nas nádegas que a carne foi literalmente despolpada.
Foi
com um senso de horror e mal-estar, e com desculpas pela necessidade de não
encolher a partir da última evidência conclusiva, que eu gentilmente pedi aos
sacerdotes que estavam procurando pelas vítimas maltratadas que me deixassem
ver os ferimentos reais. Em seguida, os curativos e as compressas de algodão
foram removidos e o tom azulado de carne viva espancado até a polpa, quatro ou
cinco semanas atrás foi exposto à minha vista. Fotografias das lesões estão na
minha posse.
É
significativo que quando as autoridades polonesas aqui em Lwow [Lviv] ouviram
falar da existência dessas fotografias eles não procuraram apenas no hospital
ucraniano, mas também a casa de todos os médicos ucranianos. Eles não
perguntaram quem eram os onze pacientes. Os polacos/poloneses negaram que
houvesse espancamentos. Tudo o que eles queriam era destruir as evidências
destas fotos. De fa(c)to, as precauções para manter tanto o público polaco/polonês
quanto o mundo em geral na ignorância do que aconteceu na Ucrânia é prodigiosa.
“The
Manchester Guardian”, 17 de novembro de 1930.
Alguns
outros artigos sobre o tema que podem ser consultados nos arquivos / na Internet:
TRAVELER TELLS OF TERROR
REIGN IN EAST GALICIA.
Dr. William Borak Back From
Trip, Relates 'Pacification'
The New York Herald Tribune,
October 21, 1930
TESTIMONY OF A CANADIAN WHO
VISITED THE LAND OF TERROR.
FORMER WINNIPEG PHYSICIAN
TELLS OF POLISH TERRORISM.
Winnipeg
Tribune, January 8, 1931
1 comentário:
Meus antepassados eram poloneses! E isso não me impede de apoiar e amar Ucrânia. Admito que Polska foi muito agressiva e injusta contra o povo ucraniano e até mereceu ser castigada por conta dessas injustiças (tentativa de destruir a língua, a literatura e a cultura ucraniana). Na luta política não existe bonzinhos e nem malvados. Os patriotas ucranianos (Bandera, Konovalets e outros) são como os poloneses (Pilsudskiy e Haller) que em 1921 venceram a Rússia Soviética. Hoje a Polônia precisa de uma Ucrânia forte contra a Rússia!
Muitos admiradores de Bandera, entre eles o conselheiro do Exército, Dmitro Yarosh, querem cooperar com Polska contra os muscovitas.
Vamos deixar de lado nossas inimizades e nos unir: polacos, ucranianos, lituanos, bielorrussos, estonianos, letões, croatas, romenos, chechenos, tártaros, carélios, finlandeses, pomores e outros contra o Kremlin.
Enviar um comentário