sábado, junho 15, 2019

A resistência ucraniana à “polonização” da Ucrânia Ocidental

Em 15 de junho de 1934, 85 anos atrás, em Varsóvia, pela decisão da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), foi executado o ministro do Interior da 2ª república polaca Bronisław Pieracki, conhecido pela sua participação ativa na política de “pacificação” (polonização) da Ucrânia Ocidental na década de 1930. 
Na foto, o cortejo fúnebre do ministro Pieracki nas ruas de Varsóvia em 18 de junho de 1934
O atentado foi executado pelo ativista da OUN Hryhoriy “Honta” Maceiko, que deveria atingir o ministro com uma bomba caseira, mas dado que o explosivo não funcionou, usou um revolver. O próprio Maceiko foi transferido pela OUN para a Checoslováquia e de lá para Argentina, onde residiu até a sua morte natural em 1966, sepultado nos arredores de Buenos Aires.
Hryhoriy Maceiko, cerca de 1940 | Wikipédia
Ministro Pieracki foi o iniciador e líder dos pogroms e perseguições da população ucraniana nas regiões em Lemkivshchyna, Prykarpattia e Polissya, atos pelos quais ele foi condenado à morte pelo tribunal da OUN.

A OUN estava preparando o atentado durante um longo período de tempo. A decisão sobre a ação foi tomada no final de abril de 1933 na reunião da liderança da OUN, chefiada por coronel Yevhen Konovalets. Desde então, a rede clandestina da OUN começou estudar cuidadosamente os hábitos e a rotina do ministro, selecionar o exeutor. (a escolha coube ao chefe do comité executivo regional do OUN, jovem Stepan Bandera).
A “pacificação” polaca/polonesa da Ucrânia Ocidental, 1930 | foto: photo-lviv.in.ua
Durante o outono de 1933 as rotinas do ministro foram estudadas por Mykola Lebed, na primavera de 1934, ele foi apoiado pela sua futura esposa, Daria Hnatkivska. O ministro do Interior tinha uma lista sólida de inimigos, principalmente entre os círculos polacas/poloneses pró-alemães, como grupo proto-fascista Obóz Narodowo-Radykalny (Campo Popular-Radical).

O envolvimento do OUN foi descoberta apenas após a entrega, pela Checoslováquia, à polícia polaca/polonesa do arquivo de OUN conhecido como “arquivo Senik”. Era o arquivo da liderança da OUN, que continha muita informação confidencial, incluindo sobre a liquidação do Pierecki. Com base nos materiais deste arquivo, a investigação polaca/polonesa estabeleceu os organizadores e o executor do ministro.
"Que viva Ucrânia", o cartaz ucraniano dedicado ao processo de Varsóvia
fonte: Wikipédia
O grande processo público em Varsóvia (18 de novembro de 1935 – 13 de janeiro de 1936), contra quase toda a liderança do OUN, terminou numa série de sentenças de morte e prisão perpétua, mas completou vários processos históricos importantes. Primeiro de tudo, após o processo de Varsóvia, a OUN tornou-se claramente um fator influente na vida política da Polónia. Anteriormente, as atividades de nacionalistas ucranianos na Polónia, eram percebidas como um problema regional, após a morte do Pieracki ficou claro – a OUN e suas exigências terão ser consideradas pela 2ª república polaca/polonesa, e ninguém irá se sentir seguro, nem mesmo o todo poderoso chefe da polícia da Polónia.

Os vizinhos da Polónia, como Alemanha, Lituânia ou URSS, vão entender que OUN é um movimento de massas bastante poderoso, com um propósito claro e inequívoco. Como resultado, a Alemanha e Lituânia responderão posteriormente à busca do OUN por um aliado externo e auxiliarão os nacionalistas ucranianos na sua luta contra o inimigo em comum – a 2ª república polaca/polonesa (fonte).

O comando da Organização Militar Ucraniana (UVO, a base da OUN desde 1929), explicou a liquidação do Pieracki nos seguintes termos:

Ação do operativo da UVO, atingiu não apenas Pieracki como pessoa, mas Pieracki como o executor da política de ocupação polaca/polonesa das Terras ucranianas do Ocidente (doravante ZUZ). Quem foi Pieracki? Pieracki – foi um consistente demolidor da vida ucraniana na ZUZ. Pieracki foi um liquidador da vida escolar ucraniana, das instituições culturais e educacionais ucranianas, das sociedades e círculos económicos e desportivos, das cooperativas, foi um colonizador da igreja ucraniana. Pieracki foi o criador e organizador da política polonesa colonial de roubo na ZUZ, a colonização das terras ucranianas pela ocupação polonesa, enchimento de células industriais na ZUZ pelos operários polacos/poloneses. Pieracki é organizador de pogroms de ucranianos na ZUZ por bandos policiais e dos ulanos [cavalaria], expedições punitivas, atiradores, as pacificações bárbaras.
Sala de leitura da sociedade «Prosvita», após o pogrom polaco/polonês, aldeia de Knyahynichi, região de Stanislaviv (atualmente a região de Ivano-Frankivsk), 1930 | foto: foto-lviv.in.ua
Pieracki é o criador das cortes marciais, forcas e tortura dos revolucionários ucranianos. Pieracki é autor de maus-tratos policiais e tortura de presos políticos ucranianos. Pieracki é o criador do sistema de decomposição moral da vida ucraniana pelo [sistema dos] delatores em massa. Pieracki é o autor de profanação e selvageria da memória dos heróis da luta de libertação ucraniana, a escavação de sepulturas, a destruição dos crucifíxos. Pieracki é um dos fundadores de um arsenal policial da ocupação bárbara polaca/polonesa, que estabeleceu como meta a destruição e polonização da vida ucraniana” (fonte).
Blogueiro: aos amigos polacos/poloneses do nosso blogue. Em 1934 a UVO/OUN liquidou um colonizador da Ucrânia Ocidental (Galiza, Volyn, Cárpatos). A resistência nacionalista ucraniana reagiu, dessa forma, ao brutal processo de “pacificação” (polonização das terras e assimilação das populações ucranianas), promovido pela Polónia de então. Nada disso era necessário e tudo era perfeitamente evitável, caso a 2ª república polaca/polonesa não optasse pela criação do estado polaco/polonês mono nacional, objetivo que realmente alcançou durante e após a II G.M., com extermínio de judeus e expulsão dos ucranianos no decorrer da Akcja Wisła.

As autoridades polacas/polonesas justificavam as suas ações punitivas com a luta contra resistência nacionalista ucraniana contra latifundiários polacos/poloneses e execuçao de atos de sabotagem contra infra-estruturas da Polónia, levados ao cabo pela rede clandestina de UVO/OUN. No entanto, em todas as ações de pacificação, absolutamente desproporcionais à resistência ucraniana, as autoridades polacas/polonesas atacavam indiscriminadamente os intelectuais ucranianos (padres, professores, bibliotecários, lojistas e membros de cooperativas), destruíam e saqueavam as igrejas, cemitérios e propriedades ucranianas, ações que nada tinham ver com a resistência e que atualmente podem ser equiparadas aos crimes de guerra.
Sala de leitura e biblioteca da sociedade «Prosvita» após o pogrom polaco/polonês, aldeia de Chizhikiv | foto: foto-lviv.in.ua
As atrocidades polacas/polonesas foram reportadas largamente na imprensa americana, canadense e britânica, apesar da grande tentativa da propaganda polaca/polonesa de negar os acontecimentos e depois, quando isso se tornou impossível, retratar a resistência ucraniana de UVO/OUN, ora como “agentes de Moscovo”, ora como “agentes de Berlim”.

Os relatos da imprensa mundial da época sobre a “pacificação” da Ucrânia Ocidental pela 2ª república polaca/polonesa

Uma Civilização Destruída
Ler o artigo em formato textual
A “pacificação” da Ucrânia por meio destas “expedições punitivas” é, provavelmente, o massacre mais destrutivo já feito contra qualquer das minorias nacionais e é a pior violação de tratamento de minorias [étnicas]. De fa(c)to, é uma civilização inteira e muito evoluída que foi destruída nas últimas três semanas.

As cooperativas, escolas, bibliotecas e institutos que foram construídos por anos de trabalho, sacrifício e entusiasmo pelos ucranianos > < quase inteiramente fora dos seus próprios recursos e em face de imensas dificuldades. Eles sentem a perda dessas coisas quase tanto quanto seus sofrimentos físicos desumanos.

Os polacos/poloneses sem dúvida publicarão as negações oficiais habituais. Uma investigação imediata e imparcial no cenário da tragédia, acompanhada de garantias contra a intimidação de testemunhas, é uma necessidade urgente.

“The Manchester Guardian”, 14 de outubro de 1930.
A loja pertencente à União das Cooperativas, destruída no pogrom polaco/polonês, 1930 | foto: foto-lviv.in.ua
Onze camponeses ucranianos, mais terrivelmente espancados pelos polacos/poloneses, estão aqui em um pequeno hospital ucraniano primitivo. Eles são apenas algumas das muitas vítimas do que é oficialmente conhecido como “a pacificação da Galiza Oriental”. É necessário ser bastante franco em lidar com o que é uma das austeridades mais pavorosas de tempos modernos. Estes onze camponeses foram tão espancados nas nádegas que a carne foi literalmente despolpada.

Foi com um senso de horror e mal-estar, e com desculpas pela necessidade de não encolher a partir da última evidência conclusiva, que eu gentilmente pedi aos sacerdotes que estavam procurando pelas vítimas maltratadas que me deixassem ver os ferimentos reais. Em seguida, os curativos e as compressas de algodão foram removidos e o tom azulado de carne viva espancado até a polpa, quatro ou cinco semanas atrás foi exposto à minha vista. Fotografias das lesões estão na minha posse.

É significativo que quando as autoridades polonesas aqui em Lwow [Lviv] ouviram falar da existência dessas fotografias eles não procuraram apenas no hospital ucraniano, mas também a casa de todos os médicos ucranianos. Eles não perguntaram quem eram os onze pacientes. Os polacos/poloneses negaram que houvesse espancamentos. Tudo o que eles queriam era destruir as evidências destas fotos. De fa(c)to, as precauções para manter tanto o público polaco/polonês quanto o mundo em geral na ignorância do que aconteceu na Ucrânia é prodigiosa.

“The Manchester Guardian”, 17 de novembro de 1930.

Alguns outros artigos sobre o tema que podem ser consultados nos arquivos / na Internet:  

TRAVELER TELLS OF TERROR REIGN IN EAST GALICIA.
Dr. William Borak Back From Trip, Relates 'Pacification'
The New York Herald Tribune, October 21, 1930

TESTIMONY OF A CANADIAN WHO VISITED THE LAND OF TERROR.
FORMER WINNIPEG PHYSICIAN TELLS OF POLISH TERRORISM.
Winnipeg Tribune, January 8, 1931

Ler mais em arquivo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Meus antepassados eram poloneses! E isso não me impede de apoiar e amar Ucrânia. Admito que Polska foi muito agressiva e injusta contra o povo ucraniano e até mereceu ser castigada por conta dessas injustiças (tentativa de destruir a língua, a literatura e a cultura ucraniana). Na luta política não existe bonzinhos e nem malvados. Os patriotas ucranianos (Bandera, Konovalets e outros) são como os poloneses (Pilsudskiy e Haller) que em 1921 venceram a Rússia Soviética. Hoje a Polônia precisa de uma Ucrânia forte contra a Rússia!
Muitos admiradores de Bandera, entre eles o conselheiro do Exército, Dmitro Yarosh, querem cooperar com Polska contra os muscovitas.
Vamos deixar de lado nossas inimizades e nos unir: polacos, ucranianos, lituanos, bielorrussos, estonianos, letões, croatas, romenos, chechenos, tártaros, carélios, finlandeses, pomores e outros contra o Kremlin.