Em 2 de junho de 1962, na cidade de Novocherkassk, na região russa de Rostov, as autoridades soviéticas abriram fogo real contra uma
manifestação pacífica de operários. Os cidadãos exigiam a melhoria das
condições sociais: aumento de salários e melhoramento das condições de
trabalho. Em resposta, 26 deles foram mortos, 7 fuzilados e 105 (114) condenados
aos campos de concentração e cadeias soviéticas.
Em
1962 em conexão com a difícil situação económica, na União Soviética começou se
sentir a escassez de alimentos. O governo soviético aumentou os preços dos
produtos da primeira necessidade. Os operários da Fábrica de Locomotivas
Elétricas de Novocherkassk viram as suas normas aumentadas em cerca de um terço
e os salários, pelo contrário, diminuirem.
Na
manhã do dia 1 de junho, cerca de 200 trabalhadores da unidade de aço aderiram
à manif improvisada com a demanda de aumentar os salários. Os manifestantes
foram acompanhados por trabalhadores de outras unidades fabris. Como resultado,
milhares de operários se juntaram nas portas da direção da fábrica. A greve foi
sentida em toda a cidade e durou o dia todo, o número de manifestantes chegou aos
cerca de cinco mil pessoas. O líder soviético Nikita Khrushchev foi imediatamente informado sobre
o caso. Ele exigiu o uso de todos os meios possíveis para suprimir as
manifestações, enviado ao Novocherkassk os membros da cúpula (Presidium) do Comité
Central do PCUS.
Um dos cartazes reais dos manifestantes: "carne, manteiga, aumento salarial!" |
Na
noite de 2 de Junho, na cidade entraram vários tanques, veículos blindados e unidades
de infantaria. Eles ocuparam todos os locais importantes, do Gosbank (Banco do
Estado) foram retirados e transferidos todos os valores. De manhã, uma multidão
de operários e suas famílias marchou até o centro da cidade: homens, mulheres e
crianças. Na ponte sobre o rio Tuzlov que divide a cidade, eles foram
bloqueados por unidades do exército, que, no entanto, não os deteve, sem recorrer à força. O vice-comandante do Distrito Militar do Norte
do Cáucaso, tenente-general Matvey Shaposhnikov,
recusou-se ao usar os blindados contra a população, desobedecendo uma ordem
direta do seu chefe superior, declarando: “Eu não vejo um inimigo que deve ser
atacado por nossos tanques”.
Uma das raras fotos reais da manif, 2/06/1962 |
O chefe do Comité Executivo da cidade de Novocherkassk se dirigiu à multidão com exigência
de parar o comício e voltar aos seus postos de trabalho. Os operários
responderam-lhe atirando paus e pedras. Ao edifício do Comité executivo chegou
o chefe da guarnição de Novocherkassk major Oleshko com cerca de 50 soldados
armados. Oleshko apelou à multidão para se dispersar. De seguida os soldados
abriram fogo ao ar.
Local da manifestação, filmagem operativa do KGB |
Depois
disso, eles começaram o fogo contra a multidão (existe a versão de que os
soldados realmente disparavam ao ar, e a multidão foi vítima do fogo dos
franco-atiradores do KGB). Oficialmente, 26 manifestantes desarmados morreram e
87 ficaram feridos (os mortos foram sepultados em segredo nos túmulos alheios e
em três localidades diferentes). Embora as testemunhas oculares dizem que viram
os cadáveres de crianças, os documentos oficiais não mencionam as vítimas
infantis.
De
acordo com as testemunhas, toda a praça central da cidade estava coberta de
sangue. As autoridades tentaram lavar vestígios de sangue com água, depois simplesmente
a asfaltaram. Apesar das mortes, as manifestações na cidade continuaram. Mas
logo começaram as prisões em massa, as autoridades comunistas colocaram a culpa
do uso de munição real em “elementos hulíganes”.
Na
sequência da manifestação as autoridades soviéticas detiveram 240 pessoas,
colocando as em julgamentos “abertos ao público”. Os 7 ativistas mais
importantes foram fuzilados e outras 105 (ou 114) pessoas foram condenadaos às
penas entre 10 à 15 anos.
O
caso do morte dos cidadãos em Novocherkassk foi classificado até o colapso da
União Soviética. Só em 1992 foi aberto um processo criminal contra Khrushchev e
alguns líderes do CC do PCUS, fechado de seguida “devido a morte dos acusados”.
A reabilitação de manifestantes condenados em Novocherkassk ocorreu apenas em
1996.
Em
1966, o tenente-general Shaposhnikov foi demitido do exército. Em janeiro de
1967, ele foi expulso do PCUS. 26 de agosto de 1967 o KGB da região de Rostov o
acusou formalmente de propaganda anti-soviética (Artigo 70 do Código Penal da
Rússia Soviética). Em 23 de dezembro de 1967 o caso foi encerrado à troca do “arrependimento”
do general, que foi reabilitado e readmitido no PCUS em 6 de dezembro de 1988
(morreu em 28 de junho de 1994).
O tenente-general Matvey K. Shaposhnikov |
1 comentário:
O canal Spotniks é um canal bem-intencionado, se está copiando descaradamente o conteúdo do nosso blogue, isso é mau, deveriam mencionar a autoria, o nosso blogue sempre faz isso. Vamos divulgar o vídeo deles:
https://www.youtube.com/watch?v=GbQwr6DZ7Lg
Já o Cristiano Lima, o nosso querido ex-empregado de McDonalds, traumatizado pela sua experiência capitalista, e que se considera um grande anti-imperialista, enfim, quem mais é que seria o amigo íntimo do Cristiano Alves?
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