O caso do jornalista, escritor e informador checo Tomáš Řezáč é um bastante
interessante, pois mostra o modo operativo das secretas comunistas da Checoslováquia
e da União Soviética, StB e KGB respetivamente.
Em 1968, após a ocupação da Checoslováquia pelo Pacto da
Varsóvia e do fim de Primavera de Praga, com a sua esposa, Tomáš Řezáč emigrou
para Suíça. Alguns anos mais tarde, para expiar a sua
“ilusão”, começou a trabalhar como agente da 1ª Diretoria do Ministério Federal
do Interior sob o pseudónimo de Repo. Espiava a elite checoslovaca
emigrada, obtinha as informações ao mando do Ministério de Interior da Checoslováquia.
Em 1975, ele retornou à Checoslováquia, desempenhando o papel
principal em toda uma série de campanhas de desinformação e de propaganda.
Como agente, ele estava sob a jurisdição da contra-inteligência
do StB.
Por ordem da
5ª Direção do KGB da URSS, escreveu o livro “Espiral da traição do Solzhenitsyn”
(depois publicado na Itália e em Cuba), para desacreditar o dissidente e
escritor soviético/russo Alexander Solzhenitsyn. Neste âmbito usou o manuscrito
de um dos amigos de Solzhenitsin, apreendido pelo KGB e sem a permissão do seu autor.
A edição cubana do livro do Řezáč sobre Solzhenitsyn |
Foi uma figura
chave na campanha de desinformação dirigida contra Václav Havel e contra
Carta 77. Em 9 de março
de 1977, Řezáč participou no programa da rádio pública checoslovaca intitulado
“Quem é Václav Havel? Em particular, afirmou que Havel havia recebido apoio
financeiro dos serviços de inteligência da Alemanha Federal e dos Estados
Unidos (na altura Havel estava detido por quatro meses e meio na prisão de
Ruzyne, acusado de “ações de desestabilização”). Através do seu advogado, em 13 de
março de 1977, Havel escreveu aos conselhos editoriais de todos os jornais que
publicaram o texto “Quem é Václav Havel?”, com um pedido de refutar
publicamente as declarações falsas. Não houve reações e, em 17 de março de
1978, Havel entrou com um processo contra Řezáč no Tribunal Distrital de Praga-6 por acusações de
difamação.
Em cartas
datadas de 2 de abril e 2 de junho de 1978, o acusado pediu para adiar a
audiência devido à sua alegada doença. Naquela época, as autoridades comunistas
checoslovacas decidiram que acusações de difamação contra o seu agente eram indesejáveis,
optando por afirmar que os jornais tinham “distorcido o significado daquilo que
foi dito no programa”. O que foi feito – em 7 de agosto de 1978, Řezáč enviou uma carta ao
tribunal, onde afirmou que a sua acusação contra Václav Havel tinha sido
apresentada em uma suposta forma de reserva: “aparentemente, parece que”, etc. Após
disso, Havel retirou a sua queixa e, em 3 de agosto de 1981, o departamento
financeiro do tribunal distrital de Praga-1 ordenou a restituição, ao futuro
presidente da Checoslováquia livre (e depois da República Checa) a quantia de
60 coroas, que este tinha pago como custos judiciais.
O relatório do agente Repo sobre a sua própria estadia na Ucrânia em 1979 | arquivos |
Em 1978 o oficial da 5ª Direcção do KGB soviético, capitão
Andrey Blagovidov (aparentemente o curador soviético do Řezáč) escreveu aos
seus colegas do StB que agente «Repo aceitou as nossas
críticas sobre seu desejo por álcool e na [questão da] gestão financeira».
“Procurados”, a capa da 2ª edição russa de 1988 |
Novamente ao pedido do
KGB, e em co-autoria, Řezáč escreveu o livro “Procurados”,
uma obra propagandista, dirigida contra Ucrânia independente e contra os
nacionalistas ucranianos, publicada, pela primeira vez em Moscovo em 1981 e traduzida para alemão, inglês,
francês e ucraniano (1989).
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