sexta-feira, junho 14, 2019

Tomáš Řezáč: agente duplo do StB e do KGB

O caso do jornalista, escritor e informador checo Tomáš Řezáč é um bastante interessante, pois mostra o modo operativo das secretas comunistas da Checoslováquia e da União Soviética, StB e KGB respetivamente.

Em 1968, após a ocupação da Checoslováquia pelo Pacto da Varsóvia e do fim de Primavera de Praga, com a sua esposa, Tomáš Řezáč emigrou para Suíça. Alguns anos mais tarde, para expiar a sua “ilusão”, começou a trabalhar como agente da 1ª Diretoria do Ministério Federal do Interior sob o pseudónimo de Repo. Espiava a elite checoslovaca emigrada, obtinha as informações ao mando do Ministério de Interior da Checoslováquia. Em 1975, ele retornou à Checoslováquia, desempenhando o papel principal em toda uma série de campanhas de desinformação e de propaganda. Como agente, ele estava sob a jurisdição da contra-inteligência do StB.

Por ordem da 5ª Direção do KGB da URSS, escreveu o livro “Espiral da traição do Solzhenitsyn” (depois publicado na Itália e em Cuba), para desacreditar o dissidente e escritor soviético/russo Alexander Solzhenitsyn. Neste âmbito usou o manuscrito de um dos amigos de Solzhenitsin, apreendido pelo KGB e sem a permissão do seu autor.
A edição cubana do livro do Řezáč sobre Solzhenitsyn
Foi uma figura chave na campanha de desinformação dirigida contra Václav Havel e contra Carta 77. Em 9 de março de 1977, Řezáč participou no programa da rádio pública checoslovaca intitulado “Quem é Václav Havel? Em particular, afirmou que Havel havia recebido apoio financeiro dos serviços de inteligência da Alemanha Federal e dos Estados Unidos (na altura Havel estava detido por quatro meses e meio na prisão de Ruzyne, acusado de “ações de desestabilização”). Através do seu advogado, em 13 de março de 1977, Havel escreveu aos conselhos editoriais de todos os jornais que publicaram o texto “Quem é Václav Havel?”, com um pedido de refutar publicamente as declarações falsas. Não houve reações e, em 17 de março de 1978, Havel entrou com um processo contra Řezáč no Tribunal Distrital de Praga-6 por acusações de difamação.

Em cartas datadas de 2 de abril e 2 de junho de 1978, o acusado pediu para adiar a audiência devido à sua alegada doença. Naquela época, as autoridades comunistas checoslovacas decidiram que acusações de difamação contra o seu agente eram indesejáveis, optando por afirmar que os jornais tinham “distorcido o significado daquilo que foi dito no programa”. O que foi feito – em 7 de agosto de 1978, Řezáč enviou uma carta ao tribunal, onde afirmou que a sua acusação contra Václav Havel tinha sido apresentada em uma suposta forma de reserva: “aparentemente, parece que”, etc. Após disso, Havel retirou a sua queixa e, em 3 de agosto de 1981, o departamento financeiro do tribunal distrital de Praga-1 ordenou a restituição, ao futuro presidente da Checoslováquia livre (e depois da República Checa) a quantia de 60 coroas, que este tinha pago como custos judiciais.
O relatório do agente Repo sobre a sua própria estadia na Ucrânia  em 1979 | arquivos
Em 1978 o oficial da 5ª Direcção do KGB soviético, capitão Andrey Blagovidov (aparentemente o curador soviético do Řezáč) escreveu aos seus colegas do StB que agente «Repo aceitou as nossas críticas sobre seu desejo por álcool e na [questão da] gestão financeira».
“Procurados”, a capa da 2ª edição russa de 1988
Novamente ao pedido do KGB, e em co-autoria, Řezáč escreveu o livro “Procurados”, uma obra propagandista, dirigida contra Ucrânia independente e contra os nacionalistas ucranianos, publicada, pela primeira vez em Moscovo em 1981 e traduzida para alemão, inglês,  francês e ucraniano (1989).

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