Ucrânia
publicou uma nova colectânea de documentos secretos do KGB, dedicados ao
Chornobyl. O nosso blogue já publicava a informação do KGB sobre a estação
nuclear antes de 1986, os novos documentos pertencem ao período do pós-acidente.
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No
dia 6 de junho em Kyiv foi apresentada a colectânea “Dossier do KGB de
Chernobyl” — que reúne e sistematiza os documentos da secreta soviética sobre o
período após 26 de abril de 1986 — uma parte destes documentos foi consultada pelos
criadores da série “Chernobyl”. Os documentos mostram claramente toda a
falsidade do regime comunista e sistema político soviético, a sua atitude de desprezo total para com
as pessoas e, de fa(c)to, ajudam à responder a questão principal da série – “Qual
é o preço de uma mentira”?
O
dossier online foi preparado e publicado pela Current
Time.tv
1.
As roupas de crianças da manif de 1
de maio de 1986 em Kyiv eram altamente radiotivas
Este
episódio deveria entrar, mas não entrou na série.
Kyiv, avenida Khreschatyk, manif do 1 de maio, 1/05/1986 | arquivo |
“Durante
o período de preparação para a manifestação do 1 de maio, os alunos das escolas
receberam roupas nas quais ensaiaram o programa [nos dias] 27, 28, 29 [de
abril]. De 5 à 8 de maio, essas roupas foram devolvidas às escolas. A roupa possui
o nível [radioativo] bastante alto. As escolas pretendem entregar roupas ao
Palácio dos Pioneiros. É necessária a descontaminação”.
Do
informe do 6º Departamento do KGB de Kyiv e da região (oblast) de Kyiv sobre a situação operacional na capital da Ucrânia
e nos locais de colocação dos evacuados, 8 de maio de 1986.
2.
Estrangeiros foram impedidos de deixar a URSS
Os
cidadãos estrangeiros que estavam em Kyiv durante a tragédia de Chornobyl em
visita turística, de fa(c)to se tornaram reféns da União Soviética – não foi permitida
a sua saída do país, eles até foram forçados a participar nas “excursões
programadas”. Imediatamente após acidente no Chornobyl os estudantes do Iraque,
Serra Leoa, Quénia e outros países quiseram deixar Kyiv, mas os operativos do
KGB os “persuadiam” à permanecer na cidade:
“Os
turistas do grupo dos Estados Unidos (31 pessoas), nota I-4812, morando no
hotel “Rus”, tentaram conseguir ingressos para Leninegrado para sair de Kyiv antecipadamente,
na manhã de 29 de abril de 1986, pressionando a administração do hotel. Pelas
medidas tomadas pelo ODR [“oficial da reserva funcional”, ex-oficial do KGB na
reserva] e pelos agentes, a situação foi normalizada, o grupo saiu à uma
excursão”.
Do
informe do 2º Departamento do KGB da Ucrânia Soviética de Kyiv e da região (oblast) de Kyiv sobre a situação entre
os estrangeiros em Kyiv, 29 de abril de 1986.
3.
Os médicos soviéticos efetuavam os diagnósticos falsos
Isso
foi feito, provavelmente, sob as ordens do KGB, já que de acordo com a falsa versão
soviética do acidente, apenas o operador sénior da bomba circular do IV reator nuclear Valeriy Khodemchuk [cujo corpo nunca
foi recuperado] foi considerado oficialmente morto no acidente, o resto morreu
por “problemas de saúde”. Os propagandistas soviéticos tentaram de todas as
formas minimizar e esconder as reais consequências do acidente e, portanto,
forçaram os médicos soviéticos a escrever todo tipo de diagnósticos falsos nos processos
médicos dos doentes. O número exato de pessoas mortas e contaminadas durante
esse tratamento inadequado ainda é desconhecido:
“Segundo
os dados da Direcção Distrital do KGB, a administração do Hospital regional de
Kyiv e de 25 hospitais, referindo-se às instruções do Ministério da Saúde da
URSS (alegadamente a ordem № 24s de 11 de maio de 1986), nos casos de pacientes
com sinais de doença de radiação, indicam no diagnóstico a “distonia vascular”.
Segundo o médico-chefe do hospital regional, Klymenko A.M., tal questão, pode,
mais tarde, levar à confusão na prescrição dos tratamentos, no diagnóstico e na
decisão sobre a questão da deficiência e do estabelecimento de uma reforma/pensão”.
Do
informe do 6º Departamento do KGB de Kyiv e da região (oblast) de Kyiv, 11 de maio de 1986.
4.
Os dosímetros soviéticos mentiam
Tragicómico
– mas na URSS mentiam não apenas as pessoas, mas também as máquinas. A série “Chernobyl”
mostra com precisão que os dosímetros disponíveis na estação nuclear (apenas um
par de peças) mostraram apenas o “limite superior de seu padrão de medição” –
3,6 Röntgen / hora. É
o mesmo que fabricar um termómetro com um “limite superior” de 36,6 Cº. Mais
tarde, quando chegaram os dosímetros militares descobriu-se que o nível de
radiação nos arredores do IV bloco energético chegava aos cerca de 15.000 Röntgen / hora.
“Segundo
o agente “Mokvichev”, os instrumentos dosimétricos utilizados pelas sedes da Defesa
Civil (GO) não estão alinhados, o que leva a uma diferença de indicações. Há casos
da entrega de dispositivos defeituosos”.
5.
Mentiras e desinformação total
Os
mentirosos da propaganda soviética que cobriam o acidente de Chornobyl
começaram a mentir para sua própria população – o acidente, cujas consequências
já eram conhecidas ao segundo dia após o desastre (a cidade de Pripyat foi
evacuada em 27 de abril), foi chamado na imprensa/mídia soviética de “um
pequeno incidente quase eliminado sob a liderança do Partido e do Governo”, os
cidadãos não foram informados sobre as medidas de precaução – o que ajudaria a
evitar milhares de mortes por cancro/câncer.
Os
mentirosos da propaganda soviética também fizeram de tudo para enganar os jornalistas
estrangeiros – o que é descrito diretamente nos novos documentos
desclassificados. Os oficiais da inteligência soviética se faziam passar pelos “simples
citadinos de Kyiv”, falando com os correspondentes estrangeiros e impedindo que
estes falem com a população real.
“Dado
que, imediatamente após o acidente de Chornobyl, os correspondentes
estrangeiros mostram uma certa desconfiança dos relatórios oficiais, em 1987,
quando visitaram a zona [de exclusão de 30 km em redor do Chornobyl], a ênfase
foi colocada na criação de uma aparência de liberdade de movimentos, ações,
contatos, num clima de total confiança”.
Do
relatório do Chefe do Departamento do KGB de Kyiv e da região (oblast) de Kyiv
Yuriy Shramko [dirigido] ao Primeiro Secretário do Comité Regional do Partido
Comunista de Kyiv, G. Revenko, sobre os resultados do trabalho em proporcionar
um impacto positivo aos estrangeiros que visitam a zona da Central Nuclear de
Chornobyl em 18 de Fevereiro de 1988.
“Em
outubro de 1987, Jean-Pierre Vaudon, repórter do jornal francês L’Humanité, recolheu,
com artimanhas, as amostras de solo e água na área “Abrigo”, na cidade de
Pripyat, e também ao longo de caminho na área de aldeia de Priborsk (50 km da
central de Chornobyl). Durante a execução do evento “D” (busca e verificação não
oficial), as amostras colhidas pelo estrangeiro foram encontradas e
secretamente substituídas por radioativamente limpas”.
Um dos artigos do Jean-Pierre Vaudon no jornal L'Humanité sobre Chornobyl |
Da
orientação do vice-presidente da KGB da Ucrânia
Soviética Yuriy Petrov ao chefe do 6º Departamento do KGB da Ucrânia Soviética
de Kyiv e da região (oblast) de Kyiv S[erhiy] Nahiba sobre as aspirações
identificadas do inimigo (Sic!) às questões de eliminação das consequências do
acidente na central nuclear de Chornobyl, 8 de julho de 1988.
Texto:
Maxim Mirovich e [Ucrânia
em África]
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