No
dia 1 de setembro de 1983, o caça soviético Su-15, abateu o Boeing-747
sul-coreano, voo KAL007,
que seguia de Nova Iorque ao Seul. O aparelho caiu sobre o Mar de Okhotsk, ao
sudoeste da Ilha de Sacalina, todas as 269 pessoas ao bordo (23 tripulantes e
246 passageiros), morreram.
Na
sua rota, o avião entrou no espaço aéreo soviético por engano, devido ao erro
de programação do piloto automático, cerca de 12º ao leste da rota internacional
que deveria seguir segundo o seu plano de voo (versão definitivamente confirmada
por ICAO em 1993). Recebendo o comando, o piloto soviético Gennady Osipovich
disparou dois mísseis guiados ar-ar R-98 (AA-3 Anab) contra o transatlântico. Em
resultado morreram todas as pessoas ao bordo, incluindo o congressista dos EUA,
Larry McDonald, que iria concorrer à presidência dos Estados Unidos.
Congressista Larry McDonald | foto: Wikipédia |
Em
1983 o mundo vivia uma fase quente da Guerra Fria, desencadeada pela invasão
soviética do Afeganistão, ou, segundo a propaganda soviética, “oferecendo ao
povo afegão uma ajuda de solidariedade internacional”.
Mapa dos acontecimentos | Wikipédia |
Boeing-747—230B
(número do registo HL7442), pertencente à sul-coreana Korean Air, efetuava um
voo regular Nova Iorque — Seul. Avião se descolou da Nova Iorque em 31 de
agosto de 1983, fez um pouso de reabastecimento em Anchorage, na Alasca, descolando
às 3h00 hora local (13:00 GMT) rumo ao Seul. A rota de voo deveria passar pelo
Oceano Pacífico, ao leste da península de Kamchatka, depois sobrevoando Japão,
contornando o território da URSS. No entanto, quase desde o início do voo, a
aeronave começou a desviar-se da rota definida para oeste. Boeing KAL007 entrou
no espaço aéreo da URSS, sobrevoou a península de Kamchatka, deixou o espaço
aéreo soviético e, sobrevoando o Mar de Okhotsk, entrou novamente no espaço
aéreo da URSS sobre a ilha de Sacalina. O desvio máximo da rota programada chegou
aos cerca de 500 quilómetros (312,5 milhas ou 12º).
Reação
mundial
As
ações da União Soviética causaram uma onda de indignação e protestos no mundo
livre. O presidente americano Ronald Reagan classificou o incidente como “um
crime contra a humanidade que nunca deveria ser esquecido” e “um ato de
barbárie e crueldade desumana”, chamando a URSS do “império do mal”.
Posteriormente,
a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, Federal Aviation
Administration) proibiu os voos da companhia aérea soviética, Aeroflot, aos EUA.
A proibição permaneceu em vigor até abril de 1986. O Presidente Reagan disse
ainda que, após a sua conclusão, o sistema de navegação GPS estará disponível
gratuitamente para fins civis, como a navegação aérea.
A
posição soviética
Primeiro,
a URSS não reconheceu o abate do Boeing sul-coreano no território soviético. Depois,
as autoridades soviéticas apresentaram aos pilotos de caças soviéticos que
participaram no abate como heróis, que alegadamente cumpriram o seu dever,
derrubando uma “aeronave inimiga”.
No
dia 3 de setembro de 1983, a agência soviética TASS divulgou a informação sobre
a violação dao espaço aéreo soviético, afirmando que após tendo deixado o
espaço aéreo da URSS, o intruso “desapareceu dos radares”.
No
dia 9 de setembro, o marechal Nikolai V. Ogarkov apresentou a posição oficial soviética,
afirmando que a entrada no espaço aéreo da URSS foi “uma ação de inteligência
planeada”, cujo objetivo de “estudar o sistema soviético da defesa aérea” naquela
área. Como prova, os soviéticos demonstravam os dados de radar, que alegadamente
deveriam provar que o voo KAL007 em algum momento se aproximou do avião de
reconhecimento da FA americana RC-135, de modo que as suas marcas nas telas do
radar fundiram. Depois disso, a Boeing-747 entrou ao território da URSS, e a
RC-135 – se manteve ao longo de uma rota próxima à rota aérea internacional.
Foi alegado que o Boeing-747 sul-coreano foi confundido com o RC-135.
A
posição do piloto soviético
Nas
suas memórias, o piloto do Su-15 Gennady Osipovich (tenente-coronel na reforma)
reconhece que os tiros de advertência foram feitos com a munição perfurante e
não a tracejante (o seu Su-15 simplesmente não a tinha), e os pilotos podiam
não ver, nem perceber os disparos. Osipovich também confirma que não tentou
contatar o Boeing KAL007 via rádio – isso exigia a mudança para uma outra frequência
da rádio. O piloto confessou que nem sequer conseguiu identificar o Boeing-747:
“não estudamos os aparelhos civis de empresas estrangeiras”.
Osipovich
também conta que informou os seus superiores que aparelho “intruso” era civil,
nomeadamente comunicou via rádio que as luzes de navegação do aparelho estavam ligados,
informou que aparelho tinha duas filas de janelas, todas com as luzes acesas (as suas comunicações com a terra, foram “corrigidas” posteriormente, para suprimir essa informação).
Ao
mesmíssimo tempo, o ex-piloto soviético diz que ele acha, que o avião que ele próprio abateu era um “avião-espião” e
que “estava [voar] apenas com a sua tripulação e naturalmente, com os espiões” e que que o verdadeiro aparelho civil com os passageiros, na realidade abateram
“os americanos” (Sic!)
Gennadiy Osipovich com a foto coletiva das suas vítimas, 1993 |
A
sua reforma militar russa em novembro de 2013 era ligeiramente superior aos 5.000 rublos (cerca de 150 dólares em 2013, aquivale aos cerca de 75 em 2018). Ex-piloto
conta que deixou de beber, costuma ler os livros policiais e ajuda a esposa e
filhos nas tarefas caseiras. A única questão que o incomoda, questão que ele
gostaria colocar às suas chefias, a questão que lhe “arde a pele”: Muitos dos
nossos receberam salários à dobrar devido ao avião abatido por mim. Todos menos
eu. Existe a justiça? E nem quero falar sobre a ordem [militar]! Foi entregue um
ano depois! “Pelos sucessos na preparação militar e política” [...] a Ordem da
Estrela Vermelha, que é dada para todos! Mas eu executei a missão de combate!”
Em
1992, o presidente russo Boris Yeltsin entregou à Coreia do Sul as caixas negras
do Boeing abatido (que foram recuperados pela URSS ainda em 1983). O seu
conteúdo confirmou que a violação do espaço aéreo soviético foi acidental. Antes
e depois disso, surgiram várias teorias de conspiração, que não mudam o facto
de que a URSS derrubou absolutamente intencionalmente o avião civil de passageiros
(fonte).
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