A
catástrofe tecnogénica na cidade de Armyansk na Crimeia ocupada
(neste momento se fala sobre a preparação da evacuação de várias outras localidades
próximas) coloca a questão do futuro da península e da sobrevivência da sua
população na ordem do dia.
A evacuação da população de Armyansk |
A
cidade de Armyansk está sendo parcialmente evacuada, a prioridade é dada na retirada
das crianças, levadas às outras localidades da Crimeia. Não se sabe o que será feito
dos seus pais, muitos deles trabalham na principal fonte da contaminação – fábrica
“Titânio da Crimeia”, que produz ácido sulfúrico, usado no fabrico de titânio
esponjoso. As autoridades russas de ocupação não informam devidamente a
população sobre os perigos para a saúde, a única fonte disponível de informação
são as redes sociais.
Entrada da fábrica “Titânio da Crimeia” | foto: Reuters |
Em
linhas gerais, em Armyansk vários fatores se sobreporam, criando o “desastre perfeito”.
O gatilho da catástrofe – reservatórios secos de resíduos de produção química da
fábrica “Titânio da Crimeia” (usados desde 1971) e da fábrica de soda, devido à
escassez regional de água e excesso do calor natural. Além disso, na tentativa
de resolver a situação, surgiu uma decisão realmente estúpida de cobrir a
precipitação natural (em forma da neblina ácida) com a soda. Quimicamente
parecia a coisa mais acertada – o ácido é extinguido com álcali. Apenas não foi
levado em conta que quando o ácido é extinguido com soda, é liberado o dióxido
de carbono (CO2). Por sua vez, CO2 provocou a evaporação ácida e a formação de
névoa, que levantou consigo da superfície dos reservatórios todo tipo de lixo químico
depositado no solo. Em resultado, a natureza local morreu em apenas uma semana.
A morte da natureza local: queda total de folhagem |
Além
disso, o serviço de imprensa do Ministério da Defesa da Ucrânia, informou:
“em 13-19 agosto de 2018, no decorrer dos exercícios militares [...] na
fronteira administrativa com a região ucraniana de Kherson, as forças armadas
russas efetuaram disparos nas áreas de reservatórios de resíduos de produção
química das fábricas do titânio e de soda. Devido ao impacto de obuses, estes
objetos foram danificados, o que levou a uma deterioração significativa em
situação ecológica em todo o norte da Crimeia ocupada”.
O
Ministério da Defesa da Ucrânia também observa que administração russa de
ocupação está tentando esconder a dimensão de problemas ambientais e para se
esquivar das suas responsabilidades, está disseminando nos meios de comunicação
as mensagens falsas e distorcidas que desinformam o público sobre o estado real
de riscos ambientais na Crimeia.
A evacuação da população de Armyansk (foto tirada junto à uma escola) |
A fábrica “Titânio da Crimeia” |
A
região vive um forte deficit hídrico, todas as reservas existentes já foram bombeadas
aos reservatórios de “Titânio da Crimeia”. Neste momento o funcionamento da
fábrica foi parado por duas semanas.
O bilionário e oligarca ucraniano Dmytro Firtash |
O
proprietário real da fábrica “Titânio da Crimeia” é bilionário e oligarca
ucraniano Dmytro
Firtash, que nos últimos tempos, tenta, à todo custo, não ser extraditado
aos EUA. Muito recentemente, o Comité americano da Segurança e Cooperação na
Europa (composto por 9 membros do Congresso, 9 – do Senado, 1 – do Departamento
de Estado, 1 – do Ministério da Defesa e 1 – do Ministério do Comércio) endereçou
uma carta, divulgada na imprensa ucraniana, ao Presidente Petró Poroshenko e ao
Primeiro-ministro Volodymyr Groysman, pedindo a remoção do mercado energético
ucraniano dos intermediários, controlados pelo Firtash, ação que introduzira “a
grande medida de transparência e responsabilidade, levará Ucrânia próxima ao
sistema do mercado livre”.
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Neste
momento é simplesmente impossível sanar a catástrofe de Armyansk. São
necessários vários milhões de metros cúbicos de água doce (a salgada água do
mar não serve, pois a sua reação com ácido sulfúrico produzirá compostos
voláteis de cloro, que por sua vez, potencialmente criará um desastre ecológico
muito maior).
Os autocarros destinados à evacuação da população de Armyansk |
Água
doce é necessária para a normalização do funcionamento dos reservatórios de
resíduos da fábrica “Titânio da Crimeia”. Mais alguns milhões adicionais de metros
cúbicos de água doce serão necessários para realizar trabalhos de
descontaminação da área contaminada. Água doce que simplesmente não existe na
Crimeia em quantidades necessárias às operações de emergência. Provavelmente, as
autoridades de ocupação poderão usar água do Mar Negro, o que pode agravar
ainda mais o problema.
A evacuação da população de Armyansk |
Para
salvar os moradores da Crimeia é necessário os evacuar da área e criar uma zona
de exclusão, como foi feito na Ucrânia após a catástrofe de Chornobyl. Até as
operações de descontaminação, a zona atingida é imprópria para viver nela. Naturalmente,
essa decisão teria que ser tomada em Moscovo, pois, mais uma vez, toda a
responsabilidade cabe à entidade ocupante.
A evacuação da população juvenil de Armyansk |
Na
verdade, o desastre começou há três semanas. A questão foi discutida
intensamente nas redes sociais pelos moradores da região. As autoridades russas
de ocupação da Crimeia fingiam que nada estava acontecendo, produzindo as
respostas formais e culpando as “provocações ucranianas”. Começaram agir apenas
quando o número de vítimas de queimaduras químicas igualou o número de
moradores da cidade e da área circundante e a paisagem começou a se assemelhar à
paisagem na área de Chornobyl após o desastre de 1986. O vento constantemente leva
para Armyansk e outras localidades próximas, a poeira com óxido e evaporações
de enxofre, a humidade atmosférica natural as transforma em ácido. Uso de soda não
deu o resultado desejável. O ar respirável possui o alto teor de cloreto de hidrogénio,
que em mistura com a humidade do ar, produz ácido clorídrico. Além do já
existente ácido sulfúrico.
A evacuação da população de Armyansk |
A morte da natureza local: as folhas de uva totalmente amarelas e murchas |
Ocupando
militarmente e anexando a Crimeia em 2014, o regime russo ou não tive em conta a
questão de água e de fornecimento de energia eletrica à península, ou possivelmente
contava com uma situação política ucraniana e internacional mais favorável, o que
atesta o seu nível da inteligência e de previsão estratégica.
O
uso de fontes artesianas também não resolve o problema, uma vez que leva à sua
rápida depleção, salinização dos solos e também a penetração da água do mar em
reservatórios subterrâneos, o que levará à inutilização futura destas fontes de
água doce. Além disso, as necessidades hídricas da Fábrica da Soda da Crimeia e
da “Titânio da Crimeia” obrigam os seus proprietários a explorar as fontes
subterrâneas disponíveis. Isso já levou à salinização do solo e ao esgotamento
de fontes subterrâneas que não são reabastecidas da superfície.
Para
a Crimeia, a configuração da situação atual significa o retorno às realidades
pré-II G.M. – não há e não haverá água. Mas a população da Crimeia hoje é 2,5
vezes maior do que em 1939-1959, e esta população nunca mais terá nenhuma
chance de uma vida normal, devido à falta perpétua de água. A transferência de
água da Rússia continental através do estreito de Kerch é impossível – do lado
russo simplesmente não há água disponível. Para resolver a questão energética,
as autoridades russas a desviaram das regiões de Rostov e de Krasnodar, que
neste momento estão no nível crítico – praticamente sem reservas. A única água
abundante e realmente disponível é água ucraniana do rio Dnipro. Praticamente
ninguém na Ucrânia estará disponível à fornecer água aos ocupantes do seu
próprio território. Além disso, segundo o direito internacional, a
responsabilidade de providenciar as necessidades aos territórios ocupados está
sempre ao cargo de forças de ocupação.
Canal que alimentava a Crimeia com água doce do rio Dnipro |
A
água já não é suficiente e não há reservas. A situação irá apenas piorar. E
então as consequências serão ainda mais severas. É possível prever que nos
próximos dois à três anos, o norte da Crimeia se transformará num deserto sem
vida, e se antes era apenas o deserto natural, agora será um deserto pós-apocalíptico
da catástrofe tecnogénica.
A população de Armyansk |
A agência ucraniana UNIAN informou que na noite de 23 para 24 de agosto no norte da Crimeia houve a liberação massificada
de uma substância desconhecida. Os mais afetados foram os moradores da cidade
de Armyansk e da vila Perekop – nas suas casas todos os objetos metálicos foram
atingidos por uma ferrugem pegajosa e as colheitas agrícolas foram perdidas.
Os objetos metálicos foram atingidos por uma ferrugem pegajosa... |
Como
informa a TV Crimeia24, o “ministro da saúde da Crimeia”, Alexander Golenko
disse que nas últimas 24 horas o número de entradas nos hospitais de Armyansk
aumentou. Os pacientes queixam-se de problemas da pele e nas membranas mucosas.
Os queixosos são geralmente diagnosticados com conjuntivite alérgica ou
faringite e mandados para casa, “não foram registadas situações que exigem o
internamento” disse o “ministro”.
Os autocarros destinados à evacuação da população de Armyansk |
Naturalmente,
a mudança da direção do vento também poderá afetar as localidades ucranianas
próximas, situadas na região sulista de Kherson.
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