segunda-feira, setembro 10, 2018

As grandes “linhas vermelhas” da família soviética

Na União Soviética existiam imensas coisas proibidas e “inexistentes” — na família soviética “não havia sexo”, os cidadãos não podiam escolher o futuro dos seus filhos ou se dedicar à auto-realização.

1. A esposa / mulher não pode ser a chefe da família

Apesar da declarada “igualdade dos géneros”, uma mulher da URSS não podia ser a chefe da família no sentido pleno da palavra. A família em que a mulher desempenhava o papel de liderança era considerada “não certa”, o marido era chamado de trapo covarde, dominado debaixo da saia e era alvo da condenação popular. No entanto, certas vezes isso até era verdade – a população masculina soviética era dado ao alcoolismo desenfreado, e muitas vezes toda a carga de ganhar o dinheiro, gestão familiar e educação de crianças era colocada sobre os ombros femininos.
Ao mesmo tempo, na Europa Ocidental, na mesma época (onde as mulheres iam obtendo a igualdade real) a situação em que uma mulher era a chefe da família, foi considerado perfeitamente normal e sociedade aceitava isso.

2. Não era possível ter a empregada(o) / diarista

Na URSS, mesmo uma família mais ou menos abastada não poderia contratar uma empregada ou empregado, para que essa pessoa fizesse a limpeza da casa ou cozinhasse – isso era considerado a “exploração”, pois o cidadão podia trabalhar por um salário baixo na fábrica, mas nunca para algum particular [as excepções eram feitas para alta nomenclatura comunista e para a classe criativa e científica soviética – escritores e académicos]. Por isso, as famílias soviéticas tinham que fazer todo o trabalho doméstico por conta própria.
Na mesma época no mundo Ocidental [em termos muito gerais, Brasil naturalmente incluído] já há muito tempo existia o mercado de governantas/empregadas/diaristas que diante um pagamento razoável cuidavam da casa dos seus patrões, cozinhavam, e assim por diante – de modo que as pessoas podiam dedicar mais tempo para si mesmas.

3. Na família soviética não havia sexo

Sexo naturalmente existia, mas apenas na vida real, fora da vida cultural pública. Nos filmes soviéticos, em geral, não havia nenhum indício de pelo menos alguns erotismo, as mulheres nunca se sentavam no colo de um homem, nem o abraçavam de forma ternurenta. Os “relacionamentos” no cinema soviético eram simples – moça e moço andam de costas retas de mãos dadas entre as bétulas conversando sobre o comunismo, e, em seguida, saem da maternidade, com um bebé rosado, saudável e alegre de uns quatro meses de idade.
Na URSS apenas era permitido a amor do PCUS pelo povo e vice-versa)
O tema do sexo era apagado e abafado, era um tabu. A família soviética transava na escuridade total, debaixo do cobertor, na mesma posição e não mais de dois minutos, e as tais coisas como a sexualidade feminina e orgasmo feminino eram totalmente desconhecidas – na melhor das hipóteses a mulher deveria “simplesmente satisfazer o seu homem”.
O raríssimo momento erótico na comédia soviética "Braço de diamante" (1968) 
No tal Ocidente [Brasil incluindo], a situação era radicalmente diferente, e isso foi particularmente perceptível quando na antiga União Soviética caiu a “cortina de ferro” –a sociedade pós-soviética começou consumir, em grandes quantidades, a literatura, filmes e diversos objetos eróticos, vindos de um mundo completamente novo, interessante e desconhecido.

4. Era impossível escolher educação para os filhos
Na entrada do campo de verão dos pioneiros soviéticos
Na União Soviética não existia o mercado do ensino privado – todas as crianças eram obrigados a frequentar a escola soviética pública (simplesmente não existiam outras), onde desde a primeira infância as crianças eram indoutrinados pela propaganda soviética. Naturalmente, era possível dizer às crianças em casa que tudo que eles aprendem na escola era uma grande mentira – mas a propaganda deixava a sua marca nas mentes dos mais novos. Podemos dizer que o Estado soviético tirava os filhos de seus pais, não lhes dando o direito de escolher o futuro para os seus filhos.
Alunos da escola primária soviética durante algum "sábado comunista"...
Mais uma vez, no Ocidente tudo era diferente – havia muitas escolas e colégios particulares, que ofereciam a educação da qualidade e competiam entre si pelos alunos, oferecendo todos os tipos de programas interessantes. As famílias abastadas até podiam se dar ao luxo de ensinar as crianças em casa – elas simplesmente eram visitadas por professores [escolha atualmente bastante popular nos EUA, mesmo entre as famílias da classe média].

5. As pessoas não podiam se dedicar à auto-realização

Apesar da existência de alguns [bastante raros] bons filmes ou livros, na URSS, uma pessoa dificilmente podia aplicar os seus conhecimentos em algo que pudesse melhorar a sua vida, torná-la mais rica ou trazer à felicidade aos seus próximos – o cidadão apenas podia colecionar alguma coisa inútil, jogar dominó ou montar e desmontar rádios, encontrando novos e incríveis usos para a fita isolante azul.
Basta olhar ao seu redor – paredes, chão, teto. O 99% de tudo usado por si no seu dia-a-dia foi inventado e criado no sistema capitalista, fora da URSS. Na União Soviética, se criavam apenas algumas coisas de aplicação cósmico-militar, uma espécie de “aquela porra complexa da queima de combustão na atmosfera superior”. Todo o resto foi criado em outros países – e os inventores dessas coisas úteis enriqueceram ali.

Mesmo a situação, em que a família simplesmente trabalha no duro até uns 50 anos, ganha capital, e depois outros 30 ou mesmo 40 vive desfrutando da vida e viajando – era absolutamente impossível na URSS. Não havia possibilidade de qualquer auto-realização na URSS – a maioria tinha empregos chatos e desinteressantes, e a segunda metade da vida sobrevivia com uma pensão/reforma bastante magra...

Foto: arquivo | Texto: Maxim Mirovich e [Ucrânia em África]

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