Na
União Soviética existiam imensas coisas proibidas e “inexistentes” — na família
soviética “não havia sexo”, os cidadãos não podiam escolher o futuro dos seus filhos
ou se dedicar à auto-realização.
1.
A esposa / mulher não pode ser a chefe da família
Apesar
da declarada “igualdade dos géneros”, uma mulher da URSS não podia ser a chefe da
família no sentido pleno da palavra. A família em que a mulher desempenhava o
papel de liderança era considerada “não certa”, o marido era chamado de trapo covarde,
dominado debaixo da saia e era alvo da condenação popular. No entanto, certas
vezes isso até era verdade – a população masculina soviética era dado ao
alcoolismo desenfreado, e muitas vezes toda a carga de ganhar o dinheiro, gestão
familiar e educação de crianças era colocada sobre os ombros femininos.
Ao
mesmo tempo, na Europa Ocidental, na mesma época (onde as mulheres iam obtendo
a igualdade real) a situação em que uma mulher era a chefe da família, foi
considerado perfeitamente normal e sociedade aceitava isso.
2.
Não era possível ter a empregada(o) / diarista
Na
URSS, mesmo uma família mais ou menos abastada não poderia contratar uma empregada
ou empregado, para que essa pessoa fizesse a limpeza da casa ou cozinhasse – isso
era considerado a “exploração”, pois o cidadão podia trabalhar por um salário
baixo na fábrica, mas nunca para algum particular [as excepções eram feitas para alta nomenclatura comunista e para a
classe criativa e científica soviética – escritores e académicos]. Por
isso, as famílias soviéticas tinham que fazer todo o trabalho doméstico por
conta própria.
Na
mesma época no mundo Ocidental [em termos
muito gerais, Brasil naturalmente incluído] já há muito tempo existia o mercado
de governantas/empregadas/diaristas que diante um pagamento razoável cuidavam
da casa dos seus patrões, cozinhavam, e assim por diante – de modo que as
pessoas podiam dedicar mais tempo para si mesmas.
3.
Na família soviética não havia sexo
Sexo
naturalmente existia, mas apenas na vida real, fora da vida cultural pública. Nos
filmes soviéticos, em geral, não havia nenhum indício de pelo menos alguns erotismo,
as mulheres nunca se sentavam no colo de um homem, nem o abraçavam de forma
ternurenta. Os “relacionamentos” no cinema soviético eram simples – moça e moço
andam de costas retas de mãos dadas entre as bétulas conversando sobre o
comunismo, e, em seguida, saem da maternidade, com um bebé rosado, saudável e
alegre de uns quatro meses de idade.
Na URSS apenas era permitido a amor do PCUS pelo povo e vice-versa) |
O
tema do sexo era apagado e abafado, era um tabu. A família soviética transava
na escuridade total, debaixo do cobertor, na mesma posição e não mais de dois
minutos, e as tais coisas como a sexualidade feminina e orgasmo feminino eram
totalmente desconhecidas – na melhor das hipóteses a mulher deveria “simplesmente
satisfazer o seu homem”.
O raríssimo momento erótico na comédia soviética "Braço de diamante" (1968) |
No
tal Ocidente [Brasil incluindo], a
situação era radicalmente diferente, e isso foi particularmente perceptível
quando na antiga União Soviética caiu a “cortina de ferro” –a sociedade
pós-soviética começou consumir, em grandes quantidades, a literatura, filmes e diversos
objetos eróticos, vindos de um mundo completamente novo, interessante e
desconhecido.
4.
Era impossível escolher educação para os filhos
Na entrada do campo de verão dos pioneiros soviéticos |
Na
União Soviética não existia o mercado do ensino privado – todas as crianças
eram obrigados a frequentar a escola soviética pública (simplesmente não
existiam outras), onde desde a primeira infância as crianças eram indoutrinados
pela propaganda soviética. Naturalmente, era possível dizer às crianças em casa
que tudo que eles aprendem na escola era uma grande mentira – mas a propaganda deixava
a sua marca nas mentes dos mais novos. Podemos dizer que o Estado soviético tirava
os filhos de seus pais, não lhes dando o direito de escolher o futuro para os seus
filhos.
Alunos da escola primária soviética durante algum "sábado comunista"... |
Mais
uma vez, no Ocidente tudo era diferente – havia muitas escolas e colégios particulares,
que ofereciam a educação da qualidade e competiam entre si pelos alunos,
oferecendo todos os tipos de programas interessantes. As famílias abastadas até
podiam se dar ao luxo de ensinar as crianças em casa – elas simplesmente eram visitadas
por professores [escolha atualmente bastante
popular nos EUA, mesmo entre as famílias da classe média].
5.
As pessoas não podiam se dedicar à auto-realização
Apesar
da existência de alguns [bastante raros]
bons filmes ou livros, na URSS, uma pessoa dificilmente podia aplicar os seus conhecimentos
em algo que pudesse melhorar a sua vida, torná-la mais rica ou trazer à
felicidade aos seus próximos – o cidadão apenas podia colecionar alguma coisa
inútil, jogar dominó ou montar e desmontar rádios, encontrando novos e
incríveis usos para a fita isolante azul.
Basta
olhar ao seu redor – paredes, chão, teto. O 99% de tudo usado por si no seu
dia-a-dia foi inventado e criado no sistema capitalista, fora da URSS. Na União
Soviética, se criavam apenas algumas coisas de aplicação cósmico-militar, uma
espécie de “aquela porra complexa da queima de combustão na atmosfera superior”.
Todo o resto foi criado em outros países – e os inventores dessas coisas úteis
enriqueceram ali.
Mesmo
a situação, em que a família simplesmente trabalha no duro até uns 50 anos,
ganha capital, e depois outros 30 ou mesmo 40 vive desfrutando da vida e
viajando – era absolutamente impossível na URSS. Não havia possibilidade de qualquer
auto-realização na URSS – a maioria tinha empregos chatos e desinteressantes, e
a segunda metade da vida sobrevivia com uma pensão/reforma bastante magra...
Foto:
arquivo | Texto: Maxim
Mirovich e [Ucrânia em África]
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