Cazaquistão,
ao par da Ucrânia, é um dos países que mais sofreu com o comunismo, a Grande Fome
de 1932 matou praticamente metade da nação, depois aqui se instalaram vários campos
de concentração soviéticos, entre eles Karlag, um dos maiores e mais sinistros entre
todos os campos do GULAG soviético.
Mas hoje
falaremos sobre ALZHIR
«Campo de Akmolinsk de Esposas dos Traidores da Pátria», o maior campo de
concentração feminino soviético, um dos mais sinistros, pois desde início foi
criado para as pessoas absolutamente inocentes.
O
campo ALZHIR se situava cerca de 40 km da atual capital do Cazaquistão, Astana
e durante o seu funcionamento se chamava simplesmente “26º ponto”, recebendo em
1976 o nome light de Malinovka
(algo como Framboeseira); em 2007 foi rebatizado de Akmol (em 1992-1998 a atual capital cazaque se
chamava de Akmola). Nada ficou preservado do campo original, os comunistas tentavam
apagar todos os vestígios dos seus crimes. Em 2012 em Akmol viviam 5.769
pessoas e aqui, na estepe próxima,
em 2005-2007 foi construído memorial para recordar as vítimas
inocentes das repressões comunistas das décadas 1930-1950.
2.
Vagão “teplushka” (literalmente quentinho/a), a torre estilizada de vigia, museu
em forma de um monte de enterro e Arco da Tristeza:
3.
... História do ALZHIR começa em 1937. Em 1926 na URSS foi criado o conceito
penal de ChSIR (“membros da família de traidores da pátria”), que implicava os
membros da família do condenado à morte por razões políticas, que viviam com o
condenado ou eram seus dependentes. Os primeiros ChSIRes eram “apenas” deportados
fora das grandes cidades por um período de cinco anos ou expulsos das
universidades. Em 1937, na URSS começou o Grande Terror soviético, em que foram
fuzilados centenas de milhares de “trotskistas” e “traidores da pátria”. Assim,
em 1938 foi criado o campo de concentração ALZHIR que imediatamente recebeu
cerca de 8.000 mulheres. Mesmo aos padrões do estalinismo, parecia proibitivo: mesmo
se essas mulheres seriam de alguma forma “infectadas” pelas ideias de seus
maridos, filhos e pais, mesmo assim, oficialmente elas não cometeram nenhum
crime. Nem eram acusadas de nenhum crime inventado. Eram enviadas aos campos de
concentração apenas por pertenceram à família de um condenado, mais nada.
4.
Vagão “teplushka”:
5.
Os seus dados técnicos (transportava até 70 prisioneiros de cada vez):
7.
Ao lado está uma seção estilizada do perímetro do campo com a torre de vigia: essa
era construída com antecedência, o resto (incluindo as barracas residenciais), era
erguido pelas próprias prisioneiras.
8.
Pedras memoriais (da esquerda à direita): da Lituânia, Ucrânia, Polónia, Geórgia e Azerbaijão:
9.
Duas esculturas: “Desespero e impotência”, que personifica uma pessoa que
permaneceu livre, mas perdeu a esperança de ajudar aos parentes que são
enviados ao GULAG.
10.
E outra, “Luta e Esperança”, personificando a própria prisioneira, que tem vários
anos terríveis à sua frente, mas a sua sobrevivência está nas mãos dela. Do
ponto de vista filosófico, definitivamente existe alguma verdade nisso – com a
perda da liberdade exterior, a liberdade interior se torna a única arma contra
a servidão.
11. Entrada ao museu. O próprio museu foi criado em forma de
um monte de enterro, entrada – em forma de passagem subterrânea:
12. Visualmente, muito bem feito:
13.
Dentro do museu é proibido tirar as fotos, os que violam essa regra, fazem
isso, quando os funcionários estão ocupados com as visitas escolares:
A
composição em baixo se chama “Flor da Vida”, a de cima é “Liberdade e cativeiro”.
O museu tem dois pisos, o primeiro conta sobre a vida dos cazaques sob o
czarismo russo. O termo “czarismo”, como a fonte de “política colonial”, transitou
silenciosamente de livros soviéticos aos livros didáticos do Cazaquistão
independente...
14.
Numa pequena sala perto das escadas – se conta sobre os problemas do
Cazaquistão na era pós-estalinista: a existência do polígono nuclear de Semipalatinsk,
a morte do Mar de Aral, vários desastres ambientais, desde as tempestades de
poeira nas terras virgens até a queda de foguetões, à descolar do cosmódromo de
Baikonur. Uma escada com retratos que destacam os olhares leva ao segundo
andar, onde está localizada a exposição sobre o GULAG:
15. Mapas, documentos, estatística. Na última foto: as barracas de adobe e um pedaço do
esterco seco e prensado, a principal fonte de aquecimento nas estepes:
17.
Brinquedos que as mães prisioneiras faziam aos seus filhos.
18. Mães e filhos.
19.
Os destinos das crianças também eram diferentes – uns, mais felizardos, iam viver
com parentes mais distantes e desconhecidos, outros eram enviados diretamente
aos orfanatos estatais especiais. Especialmente impressionantes são as cartas
das crianças que estas escreviam às mães prisioneiras:
20. O murro da memória:
22.
Mais um monumento. A estrela vermelha caída, com as grades numa rachadura, um
símbolo especificamente cazaque, usado no país em diversos outros locais memoriais.
Fotos:
Varandej | Texto:
Ucrânia em África.
Bónus
Os
realizadores russos, Daria Violina e Sergey Pavlovskiy, realizaram dois filmes
documentais sobre a problemática destes campos: “Nos viveremos” (We Will Live
On) de 2009 e “Mais longo do que a vida” (Longer Than Life) de outubro de 2013,
ambos podem ser vistos aqui: http://1543.ru/SP/DV/index.htm
1 comentário:
Texto sensacional (apesar da história triste.
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