quarta-feira, setembro 12, 2018

ALZHIR: campo de concentração soviético destinado unicamente aos inocentes

Cazaquistão, ao par da Ucrânia, é um dos países que mais sofreu com o comunismo, a Grande Fome de 1932 matou praticamente metade da nação, depois aqui se instalaram vários campos de concentração soviéticos, entre eles Karlag, um dos maiores e mais sinistros entre todos os campos do GULAG soviético.

Mas hoje falaremos sobre ALZHIR «Campo de Akmolinsk de Esposas dos Traidores da Pátria», o maior campo de concentração feminino soviético, um dos mais sinistros, pois desde início foi criado para as pessoas absolutamente inocentes.

O campo ALZHIR se situava cerca de 40 km da atual capital do Cazaquistão, Astana e durante o seu funcionamento se chamava simplesmente “26º ponto”, recebendo em 1976 o nome light de Malinovka (algo como Framboeseira); em 2007 foi rebatizado de Akmol (em 1992-1998 a atual capital cazaque se chamava de Akmola). Nada ficou preservado do campo original, os comunistas tentavam apagar todos os vestígios dos seus crimes. Em 2012 em Akmol viviam 5.769 pessoas e aqui, na estepe próxima, em 2005-2007 foi construído memorial para recordar as vítimas inocentes das repressões comunistas das décadas 1930-1950.

2. Vagão “teplushka” (literalmente quentinho/a), a torre estilizada de vigia, museu em forma de um monte de enterro e Arco da Tristeza:

3. ... História do ALZHIR começa em 1937. Em 1926 na URSS foi criado o conceito penal de ChSIR (“membros da família de traidores da pátria”), que implicava os membros da família do condenado à morte por razões políticas, que viviam com o condenado ou eram seus dependentes. Os primeiros ChSIRes eram “apenas” deportados fora das grandes cidades por um período de cinco anos ou expulsos das universidades. Em 1937, na URSS começou o Grande Terror soviético, em que foram fuzilados centenas de milhares de “trotskistas” e “traidores da pátria”. Assim, em 1938 foi criado o campo de concentração ALZHIR que imediatamente recebeu cerca de 8.000 mulheres. Mesmo aos padrões do estalinismo, parecia proibitivo: mesmo se essas mulheres seriam de alguma forma “infectadas” pelas ideias de seus maridos, filhos e pais, mesmo assim, oficialmente elas não cometeram nenhum crime. Nem eram acusadas de nenhum crime inventado. Eram enviadas aos campos de concentração apenas por pertenceram à família de um condenado, mais nada.

4. Vagão “teplushka”:

5. Os seus dados técnicos (transportava até 70 prisioneiros de cada vez):

6. Os seus interiores:

7. Ao lado está uma seção estilizada do perímetro do campo com a torre de vigia: essa era construída com antecedência, o resto (incluindo as barracas residenciais), era erguido pelas próprias prisioneiras.

8. Pedras memoriais (da esquerda à direita): da Lituânia, Ucrânia, Polónia, Geórgia e Azerbaijão:

9. Duas esculturas: “Desespero e impotência”, que personifica uma pessoa que permaneceu livre, mas perdeu a esperança de ajudar aos parentes que são enviados ao GULAG.

10. E outra, “Luta e Esperança”, personificando a própria prisioneira, que tem vários anos terríveis à sua frente, mas a sua sobrevivência está nas mãos dela. Do ponto de vista filosófico, definitivamente existe alguma verdade nisso – com a perda da liberdade exterior, a liberdade interior se torna a única arma contra a servidão.

11. Entrada ao museu. O próprio museu foi criado em forma de um monte de enterro, entrada – em forma de passagem subterrânea:

12. Visualmente, muito bem feito:

13. Dentro do museu é proibido tirar as fotos, os que violam essa regra, fazem isso, quando os funcionários estão ocupados com as visitas escolares:
A composição em baixo se chama “Flor da Vida”, a de cima é “Liberdade e cativeiro”. O museu tem dois pisos, o primeiro conta sobre a vida dos cazaques sob o czarismo russo. O termo “czarismo”, como a fonte de “política colonial”, transitou silenciosamente de livros soviéticos aos livros didáticos do Cazaquistão independente...

14. Numa pequena sala perto das escadas – se conta sobre os problemas do Cazaquistão na era pós-estalinista: a existência do polígono nuclear de Semipalatinsk, a morte do Mar de Aral, vários desastres ambientais, desde as tempestades de poeira nas terras virgens até a queda de foguetões, à descolar do cosmódromo de Baikonur. Uma escada com retratos que destacam os olhares leva ao segundo andar, onde está localizada a exposição sobre o GULAG:

15. Mapas, documentos, estatística. Na última foto: as barracas de adobe e um pedaço do esterco seco e prensado, a principal fonte de aquecimento nas estepes:

16. Fotos das prisioneiras – a maioria delas claramente eram intelectuais.

17. Brinquedos que as mães prisioneiras faziam aos seus filhos.

18. Mães e filhos.

19. Os destinos das crianças também eram diferentes – uns, mais felizardos, iam viver com parentes mais distantes e desconhecidos, outros eram enviados diretamente aos orfanatos estatais especiais. Especialmente impressionantes são as cartas das crianças que estas escreviam às mães prisioneiras:

20. O murro da memória:

21. ALZHIR «Campo de Akmolinsk de Esposas dos Traidores da Pátria» (1937-1953):

22. Mais um monumento. A estrela vermelha caída, com as grades numa rachadura, um símbolo especificamente cazaque, usado no país em diversos outros locais memoriais.

Fotos: Varandej | Texto: Ucrânia em África.

Bónus

Os realizadores russos, Daria Violina e Sergey Pavlovskiy, realizaram dois filmes documentais sobre a problemática destes campos: “Nos viveremos” (We Will Live On) de 2009 e “Mais longo do que a vida” (Longer Than Life) de outubro de 2013, ambos podem ser vistos aqui: http://1543.ru/SP/DV/index.htm



1 comentário:

Unknown disse...

Texto sensacional (apesar da história triste.