Desde
a subida dos bolcheviques ao poder, a URSS introduziu o sistema de
racionamento de alimentos e bens da primeira necessidade, que, com raras excepções
vigorou desde 1918 até 1991 (e em algumas regiões russas até 1994). O sistema
de “talões”, “cupões” e outros termos semelhantes pretendia, em teoria,
garantir o abastecimento equitativo dos cidadãos leais, castigando os “inimigos
do povo”, que muitas vezes eram excluídos do sistema e condenados à fome e até
a morte.
Durante
toda a vigência da União Soviética
(com exceção do
curto período da NEP) o país vivia numa
economia planificada – o que significa que a economia era controlada pelos burocratas no modo da
gestão manual, “à bombeiro”.
As mercadorias nesta “economia planificada” nunca eram suficientes para todos, por uma variedade de razões – algumas áreas passavam pela superprodução, mas devido à falta de demanda ou devido às problemas da logística os itens ficavam em armazéns, em outras áreas existia o deficit crónico – e
os bens que raramente
apareciam
em venda livre eram momentaneamente comprados
pelos cidadãos, as vezes, duas ou três vezes acima do necessário [para garantir
o acesso ao bem no futuro período incerto da sua falta]. Aliás, este modelo económico tem sido muitas vezes objecto de sátira
soviética (pontualmente
permitida na época pós-Estaline) – vários folhetins televisivos, como “Fitil”
(literalmente Pavio),
nas décadas de 1960-80,
eram dedicados ao deficit crónico do comércio soviético.
Para regular a oferta e demanda num sistema deficiente de nascença, o governo soviético decidiu introduzir o racionamento,
criando sistema de cartões, uma espécie de dinheiro paralelo, sem o qual era impossível a
compra dos bens, limitando também a quantidade de itens
que podiam ser comprados no mesmo acto de compra pelo mesmo cidadão.
02. Ano
1918. Uma parte considerável da Rússia
soviética sofre da febre tifóide, mas o o novo regime comunista promete imediatamente
a chegada inevitável das “amanhas cantantes”. Introduzindo, para já, o sistema
dos cartões de racionamento.
A folha com esses cartões
regulava as quantidades de vende de querosene e sabão no outono de 1918. O texto é digitado segundo as regras da ortografia do «czarismo sangrento»
– com as letras “Ѣ” e “i”; sinal “Ъ”nas terminações dos substantivos masculinos [todos
“saneados” da ortografia russa na reforma de 1918].
03. Também
1918, cartão para a compra de pão.
04. Ano
1919, o cartão-talão que permite graciosamente
ao seu portador comprar um par de sapatos. Emitido pelo Comissariado Popular de
Alimentos, Departamento de Abastecimento da cidade russa de Astrakhan.
05. Mas
após o fim da guerra civil russa de 1918-1919
as
coisas melhoraram substancialmente? As lojas já
estavam abarrotando de bens e alimentos? Não, ainda nem por isso — cartão de compra de pão e de alimentos de 1920:
06. Cartão alimentar infantil de 1920. O documento usa o estilo de impressão “burguês”,
mas não deixa de esconder a realidade terrível da época – a fome.
07. O
cartão infantil não distribuía as guloseimas
ou “o sorvete soviético mais delicioso
do
mundo”. No
seu verso praticamente todas
as células garantiriam apenas a compra de um único alimento – pão.
08. Tudo bem! O ano 1920 não estava muito diferente de 1918, mas certamente no futuro tudo fica bem melhor? Todos os burgueses foram fuzilados, os filósofos deportados à América decadente, agora finalmente chegam
as “amanhas cantantes”, certo?
Errado! Na foto — o
“livro de entrega da MOSPO” [União Provincial de Moscovo das
Sociedades de Consumo],
1928, página com talões para a compra do
pão. Não estamos falar da província, mas da capital do “primeiros estado dos operários e camponeses”, 11 (onze) anos após o golpe bolchevique, o poder comunista ainda
regulamentava a venda do pão.
09. Os
talões de 1925, a chamada “ordem
de mercadoria” – que permitia
ao cidadão a compra de produtos
industriais no valor de uma certa quantia monetária [no caso concreto do cidadão Chertolesov, no valor de apenas 2 rublos]. O
documento é emitido pela “Cooperativa Central Operária” da cidade russa de
Voronezh.
10. Com
a chegada ao poder do camarada Estaline – as coisas seguramente melhoraram e
muito, certo? Os
talões de maio de 1933, sob
o nome de
“cartão de
entrega”. Os talões de racionamento soviético sempre mudavam os seus
nomes, usando
os termos como “cartão de entrega”, “ordem de mercadoria”, “convite para a compra” ou “cartão do pedido” – na realidade ninguém pedia nada e ninguém convidava ninguém à nada – os papéis apenas racionavam a quantidade da mercadoria que poderia
ser comprada por cada comprador.
11. A
venda dos bens era limitada não apenas nas lojas estatais, mas também nos mercados. Na foto – os chamados “cartões de mercado”
da década de 1930, cujo portador
tinha o direito de comprar mercadorias no
valor de 50 copeque
[100 copeque = 1 rublo].
12. O sistema falhava constantemente e teve que ser regulado em “modo manual”. Na foto – o verso dos formulários com cupões
da década de 1930, usados como pedidos de entrega dos bens aos cidadãos, “sob as ordens das autoridades”: “Vender um quilo de açúcar pelo numerário”; “Entregar
ao doente os 3 kg da farinha de semolina”...
13. Os
talões da época da II G.M. [vários países ocidentais também passaram pelo
racionamento, os EUA e a Grã-Bretanha mandava uma parte dos seus alimentos ao aliado
soviético]. O cartão da categoria “B” (operário) de compra de carne, peixe, cereais e macarrão, outubro de 1944.
Carne e peixe 1.800 gr / mês; cereais e macarrão: 1200 gr/mês No caso da perda não é restituído. |
14. Talões
de açúcar e de confeitaria da região russa de Astrakhan em 1950 [a Europa Ocidental inicia a sua época dourada do turismo
internacional].
Açúcar e confeitaria: 25 gramas |
15. Talvez
a situação dos itens manufaturados está melhor? Não. Na foto — os talões para a compra de itens
industriais, emitidos em 1950.
Produtos manufaturados. 10 rublos. 1 trimestre de 1950 |
16. Os talões
foram desaparecendo na década de 1960, mas voltaram novamente na década de 1970; na
época Brejnev foram introduzidos os talões para a compra de carne, manteiga e açúcar, mais tarde – para
vários outros grupos de
bens de consumo.
“Apresente а identificação” |
17. Os talões dos meados da década de 1980 – naquela época, os talões restringiam a venda de bebidas alcoólicas, calçado e
outros produtos manufaturados. O nome de “talão” é disfarçado como o termo de “formulário do pedido”.
Setembro de 1986: “Formulário do pedido de 1 garrafa de produtos de vodca-vinho” |
18. E
finalmente os talões do início da década de 1990 (usados na Rússia e em Belarus). Como podemos
constatar – o
sistema de racionamento existia
praticamente durante toda a existência da URSS, com uma pequena pausa na década de 1960.
Municipalidade de Leninegrado, novembro de 1990, compra de vinho |
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