Em
1967, a União Soviética participa na Expo-1967, organizada na cidade canadense
de Montreal. O KGB recebe do Estado soviético a tarefa titânica de fazer tudo
para que a Diáspora ucraniana no Canada e nos EUA não se manifeste, no decorrer
do certame, à favor da Ucrânia livre.
Contactos do KGB com agência de inteligênci canadense |
Os chekistas
soviéticos estimam o número dos potenciais ativistas ucranianos em cerca de
7.000 pessoas. São residentes da Diáspora ucraniana nas várias cidades do
Canada principalmente do Toronto e de Winnipeg (prefeito da qual era um ucraniano
étnico) e dos Estados Unidos (Nova Iorque, Chicago e Filadélfia). Nos seus
memorandos secretos KGB fala em comboios
especiais dos “banderistas” e até de um plano ucraniano de alugar uma aeronave
desportiva para espalhar os cartazes anti-soviéticos.
O alegado plano ucraniano de alugar uma aeronave desportiva |
Para
baralhar os planos ucranianos, as autoridades soviéticas adiaram, por 6 dias a inauguração
do Dia da Ucrânia Soviética. Além disso, KGB estava executar o trabalho
titânico. Eles negociaram com as autoridades locais, com a polícia e com agências
de inteligência canadenses (que naturalmente preferiam evitar todos os
possíveis escândalos na Expo), estavam em negociações com as diásporas russa, lituana
e arménia, e com as organizações ucraniano-canadenses “progressistas”, isso é, de
tendência comunista e leais à União Soviética (por exemplo, a AUUC/TOUK) e até mesmo também
com os que não eram muito leais).
Contatos entre KGB e as organizações ucraniano-canadenses “progressistas” |
KGB
usava os mais diversos truques para afastar do pavilhão soviético todo os
ucranianos da Diáspora, que URSS considerava como nacionalistas.
Por
exemplo, no dia 22 de agosto de 1967, quando no pavilhão soviético se celebrava
o dia da Ucrânia Soviética, os membros das organizações ucraniano-canadenses de
inspiração comunista (AUUC)
e também os emigrantes lituanos, letões e arménios receberam 500 convites para
participarem nas “ações em massa, organizadas na Expo”.
As perguntas favoráveis à URSS, “inspiradas” por KGB (marcadas à vermelho) |
O
KGB previa que nas tribunas do Pavilhão de Nações haverá pouca gente favorável
à URSS e à sua ideologia comunista, por isso e para “garantir uma atmosfera favorável”,
decidiu enviar o máximo de cidadãos soviéticos (“funcionários do pavilhão, dos pontos
de venda, os marinheiros soviéticos”) para preencher os lugares nas tribunas,
impedindo aos ucranianos de participar ativamente e de se manifestar em apoio à
Ucrânia livre.
As perguntas favoráveis à URSS, “inspiradas” por KGB (marcadas à vermelho) |
Na
conferência de imprensa, o KGB usou os seus “laranjas” para estes fazerem as perguntas
favoráveis, “inspiradas por nos”. Apesar disso, vários os jornalistas fazem
perguntas incómodas e diretas: “Porque Ucrânia, sendo membro da ONU [desde 1945]
não possui as suas representações no exterior?”; “Como está a questão do ensino
da língua ucraniana em outras repúblicas soviéticas?”; “Porque os escritores
ucranianos detidos [dissidentes] estão cumprir os seus termos prisionais na Rússia
Soviética e não na Ucrânia Soviética?”; “Porque o Ministério da Educação [da
Ucrânia Soviética] foi transferido de Kyiv para Moscovo?”; “Se vocês estão tão
preocupados em honrar a memória dos mortos na [II] guerra [mundial], porque não
se preocupam em preservar a memória dos escritores [ucranianos] que morreram
nos anos da vigência de culto de personalidade do Estaline?”, entre outras.
Para
garantir a cooperação policial e dos serviços de inteligência canadenses, a
União Soviética oferece 2.500 bilhetes grátis aos membros destas forças, para
um concerto musical soviético em Montreal no dia 21 de agosto de 1967. Em
troca, os polícias prometem enviar 500 agentes trajados à civil, para que no
dia seguinte, 22 de agosto, estes se passem por público, preenchendo os lugares
nas tribunas, nos locais que KGB considera como “mais preocupantes”.
As tribunas preenchidas por “organizações emigrantes progressistas” |
No
dia 22 de agosto de 1967, duas horas antes do início das actividades do Dia da
Ucrânia Soviética, todas as tribunas na Praça das Nações foram preenchidas, com
supervisão do KGB pelos “organizações emigrantes progressistas, ucranianas e
outras, representantes da colónia local arménia, funcionários da embaixada
soviética e turistas soviéticos, representantes do poder e da polícia
canadenses”.
“Um turno executava as suas tarefas normais e outro turno, estava apenas vigiando os visitantes” |
No
dia 22 de agosto de 1967 os funcionários soviéticos do Pavilhão Soviético
trabalhavam em dois turnos, “um turno executava as suas tarefas normais e outro
turno, estava apenas vigiando os
visitantes”. Devido às dificuldades criadas pelas autoridades canadenses (ao
mando do KGB e da embaixada soviética) em divulgar os panfletos, as
organizações ucranianas simplesmente publicaram, pelo menos, por duas vezes, este
material informativo nos jornais de Montreal.
Os da diáspora arménia e lituana “forneceram um apoio considerável” ao KGB e ao “pessoal soviético” |
Os
representantes da diáspora arménia e lituana, “forneceram um apoio considerável”
ao KGB e ao “pessoal soviético”, nomeadamente, “levaram à praça das Nações um
grande número das pessoas, apesar de que os eventos decorreram num dia de
trabalho no horário de expediente”.
No
fim, o chefe do KGB da Ucrânia Soviética, general Vitali Nikitczenko
(que tinha a fama de ser um “liberal”), enumera os benefícios do trabalho árduo
dos seus chekistas:
Se
pode prever que o complexo de ações, realizados em conexão com a preparação e
execução do dia da Ucrânia Soviética, irá exercer uma certa influência sobre os
ucranianos locais, reacender neles o interesse pela Ucrânia Soviética,
aumentará as tendências de trocas culturais com Ucrânia Soviética, levará à
separação continia dos curcuitos da emigração ucraniana.
Bónus
Ucraniano chefe dos moicanos |
Na
mesma Expo-67, decorriam os Dias da cultura soviética, atendidas pelo dançarino
checheno Mahmud Esambaev, que mais tarde quis ver as danças dos índios canadenses. Numa das reservas
indígenas ele foi recebido por um homem alto e forte de pele clara, embora
pintado e vestido ao preceito tribal. Ao lado dele estava uma bela mulher
índia. O índio fez a vénia e disse: “Bem vindo! Por favor, entre na minha
cabana”. Tudo isso em língua ucraniana. Assistindo a incredulidade do Esambaev,
o índio explicou que ele é ucraniano, natural da região de Poltava e se chama
Ivan Datsenko, mas que na tribo é conhecido pelo nome de Piercing Fire ou
Pocking Fire (Aquele Que Furou o Fogo). Naquele encontro Ivan Datsenko
mostrou-se grande apreciador do canto, cantou várias músicas populares
ucranianas, incluindo “Rozpriahayte, hloptsi, koney”. Mais tarde ucraniano e
checheno se tornaram amigos, chegaram à trocar a correspondência.
Nove
anos depois, em 27 de julho de 1976, na partida de semifinal dos Jogos
Olímpicos, entre as seleções da RDA e da União Soviética (2:1), à decorrer no
mesmo Montreal, o campo foi “invadido” pelo jovem ucraniano, trajado de camisa
bordada ucraniana vyshyvanka, ele dançou
hopak, agitou a bandeira ucraniana e
gritou “Liberdade à Ucrânia!”.
A bandeira ucraniana no jogo RDA – URSS em 1976 |
Era
Danylo Myhal (na altura com 20 anos de idade e hoje com cerca de 62), membro da
União da Juventude Ucraniana (SUM) de Thunder Bay (Ontário). Uma hora após a sua
detenção pela polícia canadense ele foi libertado sem nenhuma acusação. Danylo fazia
parte dos cerca 150 jovens ucranianos que colocaram nas tribunas uma grande
bandeira ucraniana, de cerca de 9 metros e vestiam as camisas bordadas com o
slogan: “Liberdade à Ucrânia”.
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