quinta-feira, junho 28, 2018

A disputa pela compensação monetária do mercenário russo morto na Síria

Na Rússia decorreu a primeira disputa judicial sobre a compensação monetária que EMP russa grupo Vagner paga aos seus efetivos feridos e mortos. Os pais de um mercenário morto processaram a viúva que se recusava à partilhar o “bolo” com os sogros por estes “serem velhos e com pouco tempo de vida”, informa o serviço russo da rádio BBC.

O russo Andrei Litvinov vivia na província de Chelyabinsk, trabalhava como estivador-expeditor no supermercado local, depois como o guarda. No verão de 2017 foi para Síria, mas antes disso fez o curso de preparação na base da EMP “grupo Vagner” na localidade de Molkino, na região russa de Krasnodar.
Tanques T-72 no polígono de Molkino na região russa de Krasnodar. 18 de março de 2017
foto: Vitaly Timkiv / TASS / Vida Press
Os pais velhos não sabiam da sua decisão, a segunda esposa sabia e três vezes recebei o salário do marido: «Não tinha dívidas, não tinha créditos por pagar. Podia viver ao seu belo prazer. Mas queria construir um curral e comprar a viatura nova» — conta a mãe.
Mãe com retrato do filho
Andrei Litvinov e pelo menos outros cinco cidadãos russos morreram num único combate no dia 28 de setembro de 2017 nos arredores da cidade de Tais na província de Homs. O seu atestado de óbito diz: «carbonização do corpo». A «carga-200» chegou à Rússia em Outubro, na cidade de Rostov-on-Don a viúva e irmão receberam o caixão, as “medalhas” não oficiais (sem nenhum valor legal) e compensação pela morte do mercenário: 5 milhões de rublos, mais o salário e subsídio de enterro, no total equivalente aos cerca de 83.560,36 dólares americanos.
Atestado de óbito emitido pelo Consulado russo em Damasco
Cerca de 40 dias depois os pais velhos do mercenário abordaram a viúva, exigindo 1 milhão de rublos (cerca de 15.886,00 dólares): “para comprar uma viatura ao marido, construir a cerca, arranjar os nossos dentes e colocar o resto na conta da sua filha do primeiro casamento até a idade adulta”, explica  a mãe, Nadezhda Litvinova. Mas a viúva respondeu: “Vocês são velhos, não tem muito que viver, para que precisam de dinheiro”.

Mãe até se queixou telefonicamente ao “EMP Vagner”. Explicou que a nora ficou com todo o valor e disse aos velhos: “fuck you”.

Em abril de 2018, os pais de Litvinov entraram na justiça russa com uma ação judicial contra a nora – exigindo que os cinco milhões da EMP “grupo Vagner” sejam colocados no “bolo” geral da herança do mercenário, para ser partilhado entre todos os herdeiros. Esta é a primeira vez na história russa que um tribunal tinha que lidar com a “compensação paralela” – as autoridades russas simplesmente não reconhecem oficialmente a existência da EMP “grupo Vagner”.
O comandante da EMP "grupo Vagner" Dmitry Utkin no Kremlin
 
O Comissariado Militar de Chelyabinsk não tem dados
de como os russos param na Síria e como morrem lá...
Na secção do julgamento, que decorreu no dia 22 de junho, os pais do mercenário explicavam que o seu filho trabalhava para uma empresa militar privada (EMP) e combateu na Síria. O juiz pediu para confirmar essa alegação de forma documental e aconselhou aos velhos assistir menos a TV, dado ele próprio não encontrou no registo de entidades jurídicas russas nenhuma EMP “grupo Vagner”. A advogada da viúva explicou que Andrei Litvinov trabalhou na Síria na plantação, “na coleta de frutas e vegetais”, e que os cinco milhões de rublos é apenas um presente que não é obrigatório à compartilhar com outros herdeiros. O tribunal indeferiu a ação dos pais.
Dado que oficialmente a EMP grupo Vagner não existe na Rússia,
a procuradoria militar não investiga a morte dos seus combatentes
Bem, você mesmo acredita que ele foi lá para coletar fruta?” – novamente interferiu a mãe do mercenário falecido. “Considero que sim”, respondeu a advogada. — As pessoas viajam para outros países e mesmo para a África, podem ir ao qualquer país para ganhar dinheiro. Uma pessoa física ou jurídica ofereceu à ela [viúva] este dinheiro. Não é necessariamente por causa de uma morte qualquer”.
Cartoon soviético de 1987. O burocrata ao veterano soviético do Afeganistão:
"Eu não mandei você para lá..."
No fim da secção, após a sua ação for indeferida, os pais do mercenário falecido saíram à vazia rua central que se estende por toda a sua localidade: “chegará a hora, e o governo reconhece que nossos meninos estavam lá e eram verdadeiros patriotas”, diz Nadezhda Litvinova na despedida...

Blogueiro: neste momento não existe a informação sobre a possível participação do Andrei V. Litvinov (07.01.1976 – 28.09.2017) nas atividades terroristas russas no leste da Ucrânia.

1 comentário:

Rubens Bulad disse...

Oficialmente, "nada existe" e "eles não estão lá"... Morreu, ou foi capturado, se vire sozinho.