O
pintor realista russo de origem ucraniana, Ilya Repin, é bem conhecido
pelas suas obras-primas como “Rebocadores do Volga”, “Ivan, o Terrível, e seu
Filho” ou “Cossacos de Zaporizhia escrevem carta ao Sultão turco”. Em
contrapartida, pouco se sabe sobre o esforço tremendo do governo soviético em
conseguir o seu retorno à União Soviética.
"Rebocadores do Volga", óleo sobre tela, (1870-73) |
Em
1918, a propriedade rural de Ilya Repin em Kuokkala (atualmente Repino), junto
com o seu dono e proprietário passou pertencer à Finlândia. E o próprio artista
se tornou um ponto de tensão política nas relações entre os dois países. Para a
Rússia soviética, o facto de Repin permanecer na Finlândia significou um grande
golpe na reputação. Para Finlândia, Repin, apesar de sua fama, era um refugiado
russo, cujas ações eram monitoradas por precaução. O próprio Repin, como
mostram os documentos de arquivos finlandeses estava fora das suspeitas. Mas as
permanentes delegações soviéticas preocupavam a polícia local. No relatório da
Polícia Central Criminal da Finlândia, № 19, composto em 1926, na base de
correspondência, está escrito que a URSS planeia atribuir ao artista o título
de Pintor Popular e uma pensão no valor de 220-300 rublos (na época os 300
rublos eram o valor
máximo de uma reforma/aposentadoria soviética). Os soviéticos prometiam ao
artista de lhe devolver uma parte das suas propriedades.
Ilya Repin em 1909 |
No
arquivo finlandês foi encontrada uma história detalhada de como Repin foi
visitado em 1925 por um casal soviético. Pessoas, ora desconhecidas visitaram o
artista e lhe entregaram o endereço oficial da liderança soviética, prometendo
um apartamento e uma viatura.
"Ivan o Terrível e seu filho Ivan 16 de novembro de 1581", 1885 |
De
acordo com as memórias e cartas, Repin respondeu o seguinte: “Vocês me oferecem
dinheiro, vocês que estão mendigando, totalmente devastado grande Rússia, onde
agora milhões morrem de fome e passam uma existência miserável... Eu não sou
rico, mas não sou tão pobre para receber o vosso dinheiro”.
O
casal partiu com pressa, deixando os presentes, umas maçãs da Rússia, comendo
os quais Repin, sua esposa e filho, se sentiram muito mal. O próprio artista
considerou possível que estes foram envenenados e pediu para que sejam enviadas
para análise, embora nada é sabido sobre os resultados.
Como
a URSS não conseguia persuadir o, os bolcheviques começaram a influenciar seu
filho Iuri e neto Diy (Dmitry).
Iuri Repin (1877-1954) com esposa Praskovia (1883—1929) e seus dois filhos, Guy (1906-1974) e Diy (1907-1935) |
O
neto de Ilya Repin, Diy Repin, fugiu secretamente para a União Soviética no início
de 1935. Durante muito tempo o seu destino permaneceu desconhecido. Somente
após o colapso da URSS se soube que ele foi fuzilado em agosto de 1935 “pela
intenção de realizar ataques terroristas contra a mais alta liderança do
Partido e do Estado soviético e pela violação da fronteira” (Diy foi detido em
28 de fevereiro de 1935 e condenado ao fuzilamento em 10 de junho de 1935). Em
1991, ele foi reabilitado devido à ausência completa de corpus delicti. A razão da sua decisão trágica foi a sede de
conhecimento, ele queria se matricular no Instituto de Arte Proletária de
Leninegrado (mais tarde a Academia Russa de Belas Artes). No passado, lá
estudou e depois deu aulas o seu avô. A instituição receberá o nome do Ilya
Repin em 1937, mas Diy não saberá disso. Ele foi fuzilado exatamente no
aniversário de seu avô, em 5 de agosto de 1935.
Diy (Dmitry) Repin |
Mas o que teria
acontecido com o próprio Ilya Repin se ele tivesse sucumbido aos convites da
liderança soviética e retornado à URSS? Podia ser fuzilado, tal como o neto,
podia ser enviado ao GULAG, mas mais provavelmente iria viver numa “gaiola dourada”,
vigiado 24/24 pelo NKVD e obrigado à produzir as obras ao estilo de “realismo
socialista” e/ou bajular o “grande líder”, Estaline...
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