O Holodomor não foi a única
tragédia ucraniana. A segunda maior tragédia é o extermínio da elite da nação.
Se tudo terminaria apenas com o Holodomor, hoje teríamos uma outra Ucrânia.
por: Yuri Vinnychuk
Na antologia de dois
volumes “Musa Crucificada”, dedicada à obra dos poetas ucranianos que morreram vítimas
de violência, é reunido o espólio literário de 322 autores. É um terrível
martirólogo da cultura ucraniana. A enorme tragédia que o povo ucraniano sofreu
durante os anos da ocupação bolchevique até agora não foi verdadeiramente refletida
pela sociedade.
Ao Thyl
Ulenspiegel as cinzas do seu pai, Klaas, batiam no peito. Cada ucraniano
consciente deve sentir as mesmas cinzas dos milhões de vítimas inocentes. Estas
cinzas clamam pela justiça, pedem o novo processo de Nuremberga, requerem que todos
os carrascos sejam chamados pelos seus nomes.
Se compararmos os
regimes do Hitler e do Estaline, notaremos que Estaline matava, não deixava
ninguém a sair (do país) e ainda exortava os emigrantes a voltarem à “Pátria”. Apenas
para depois matar todos estes retornados. Estaline matava quer lhe cantavam as hossanas,
quer o amaldiçoavam. Quase todos os executados se revelaram como os verdadeiros
patriotas do estado soviético. Mas isso não os salvou.
Durante o terror
estalinista foi exterminado cerca de 90% de todos os escritores ucranianos,
pintores, cientistas, sem falar dos professores, intelectuais urbanos e do
campo. Uma pequena pitada ficou em liberdade, outros, que tiveram a sorte de sobreviverem
os campos de concentração soviéticos, mais tarde fugiram para o Ocidente. Outros,
saindo do GULAG já depois da II G.M., na sua maioria, ficaram calados e nunca
mais voltaram à literatura. Existiram ainda os que evitaram as repressões, preferindo
se esconder. Poeta Serhiy Kushnirenko (1913 – 1984), amigo da poetisa Olena Teliha, não morreu
no grupo expedicionário da OUN, como se diz nas enciclopédias. Desde 1946 ele,
juntamente com a família, viveu no interior da província ucraniana de Rivne. Conseguiu
mudar os documentos, queimou o seu passaporte antigo, todas as fotografias, cartas
e até a sua própria coletânea poética. Cortou todos os relacionamentos com os
amigos da juventude. Sendo poliglota, escrevia na biografia que apenas fez o
ensino primário. Trabalhou como contabilista, lojista, operário da fábrica de
tijolos… Nunca mais publicou nada. Apenas 16 anos após a morte, a filha e neta
descobriram os seus manuscritos poéticos, escondidos no sótão da casa.
Dmytro Heródoto
(apelido de nascença Ivashyna) nasceu em 1892. Publicava a poesia e folhetins satíricos.
Fugindo do terror bolchevique, desde 1920 vivia na Roménia, colaborava com o
governo ucraniano no exílio, escrevia para o jornal ucraniano parisiense “Tryzub”.
O seu destino desde 1939 é desconhecido. Na realidade, continuou a viver na
Roménia, evitando a prisão mudou de nome, aparência, deixou crescer a barba. Passou
por diversos empregos, o mais estável foi o caixa numa farmácia.
Clandestinamente visitava a família, morreu em 1975.
As estórias como estas
são muitas. O terror comunista não se limitava ao extermínio físico, pretendia
dominar a esfera espiritual.
A estatística? É bastante
esclarecedora. O regime czarista russo perseguiu até a morte apenas um poeta –
Taras Shevchenko. Durante a vigência do estado ucraniano dos anos 1917 – 1920, os
seguidores do hétman Pavló Skoropadski
executaram dois, os monarquistas russos – quatro e a República
Popular de Ucrânia fuzilou um poeta. Pela colaboração com as autoridades coloniais
polacas a OUN executou o poeta Sydir
Tverdohlib em 1922. A polícia polaca matou dois poetas.
Entre 1918 e 1936 foram
assassinados e morreram nos campos de concentração soviéticos 36 poetas, em
1938-39 – 37, em 1941-45 – 62. Após a II G.M., morreram no GULAG outros oito.
Durante quatro anos da
ocupação nazi foram assassinados 26 poetas ucranianos. Durante mesmos quatro
anos a União Soviética matou dobro, no único 1937 – quadruplo. Estamos a falar
apenas dos poetas, sem mencionar os prosaicos, dramaturgos, críticos
literários, tradutores… Lá, no céu, estão a brilhar nas estralas as suas almas
que ficam perplexas: Lenine e Estaline até agora estão vivos! Parece que o nosso
povo está condenado ao purgatório. Onde o mais próximo é o inferno, muito mais
do que o céu.
Fonte:
Blogueiro
A atual guerra russa contra Ucrânia ainda precisa ser contabilizada em termos de poetas, escritores e tradutores ucranianos que tombaram pela Ucrânia ou foram vítimas do neofascismo russo: de Vitória Amélina ao escitor infantil Volodymyr Vakulenko, executado pelos ocupantes russos pela sua posição ucraniana em 2022.
No dia 6 de janeiro de 2024 na defesa da Ucrânia morreu o voluntário, defensor da Ucrânia, poeta e ativista Maksym «Dali» Kryvtsov (33) - o autor do texto da música «Fita amarela» e de muitos outros poemas famosos sobre a guerra. Glória e memória eternas...
Ler mais sobre o poeta que se tornou o guerreiro... |
Tal, como escreve a ativista ucraniana Tamara Horiha Zernia: «Daqui à 50 anos, uns tantos «bons russos», descendentes daqueles que matam os ucranianos hoje, vão
novamente perguntar - então pá, onde estão os vossos Nobel ucranianos?!»Juntamente com Maksym morreu o seu gato ruivo
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