terça-feira, junho 26, 2018

Os vestígios que recordam o fracasso da URSS na tentativa de ser uma potência mundial

No auge da Guerra Fria, os EUA e a União Soviética competiam por ter os maiores e mais monstruosos veículos militares e as infra-estruturas mais gigantescas. A luta por ser a maior potência mundial transformou-se numa busca desesperada para ser o “mais alto e o mais forte”.
Avião – anfíbio com decolagem vertical VVA14. A URSS construiu apenas dois deles em 1976,
um ficou danificado no seu transporte. Rússia, região de Moscovo, 2013
Prédios residenciais abandonados numa cidade polar abandonada especializada em pesquisa biológica.
Rússia, República de Komi, 2014
Antena troposférica no norte da Rússia – o tipo de tecnologia que se tornou obsoleta.
Havia muitas delas construídas no extremo norte russo, todos abandonadas de momento.
Rússia, região autónoma Yamalo-Nenets, 2014
Antiga cidade mineira que foi abandonada e se tornou o polígono de bombardeamentos militares.
O prédio da foto é antigo centro cultural, um dos objetos de bombardeios. Rússia, República de Komi, 2014
O resultado? Após biliões e triliões rublos gastos (pagos pelos impostos dos cidadãos soviéticos), o fim do comunismo e o desaparecimento da URSS deixou centenas de vestígios abandonados, repartidos pelas antigas repúblicas soviéticas e pelos países comunistas, socialistas e até as “democracias populares” – desde bases secretas aos submarinos encalhados no meio da neve – que foram retratados pelo artista visual russo de origem ucraniana, Danila Tkachenko (1989), na sua coletânea Restricted Areas.
Sistemas de bombagem num campo de petróleo esgotado e abandonado. Rússia, República do Bascortostão, 2014
A cidade russa de Dzerzhinsky, onde URSS produzia os motores de mísseis.
A cidade foi fechada e abandonada antes de 1992. Rússia, 2013
Tela para defesa biológica contra radiação de radar. Cazaquistão, região de Karaganda, 2015
Observatório abandonado. Cazaquistão, região de Almaty, 2015
O próprio Danila Tkachenko explica o sentido do seu projeto assim:

O projeto “Áreas Restritas” é sobre o esforço utópico dos humanos para [chegar] ao progresso tecnológico.
Teste de contaminação da água no lago ao redor da cidade científica secreta antes de 1994: Chelyabinsk-40.
Em 1957, houve a primeira catástrofe nuclear, uma das maiores da história e igual, em escala, ao Chornobyl,
mas que permaneceu secreta. A cidade é cercada pelos lagos que até agora estão contaminados com a radiação.
Rússia, região de Chelyabinsk, 2013
O lugar de teste para mísseis. Cazaquistão, região de Kyzylorda, 2015
Os seres humanos estão sempre tentando possuir cada vez mais do que têm – esta é a fonte do progresso técnico, que foi o meio para criar várias mercadorias, padrões, bem como as ferramentas da violência, a fim de manter o poder sobre os outros. 
O maior submarino a diesel do mundo. Rússia, região de Samara, 2013
Base militar abandonada numa ilha, com bunker subterrâneo. Rússia, região de Leninegrado, 2013
Melhor, maior, mais forte – essas ideais muitas vezes expressam a principal ideologia dos governos, pois esses objetivos estão prontos sacrificar quase tudo. Enquanto o indivíduo deveria se tornar uma ferramenta para alcançar as metas estabelecidas, e receber em troca o maior nível de conforto.
Marco na área de teste de explosões subterrâneas. Cazaquistão, região de Pavlodar, 2015
Antena construída para conexão interplanetária. A União Soviética estava planeando construir
bases em outros planetas, e preparou instalações conexas que nunca foram usadas e agora estão abandonados.
Rússia, região de Arkhangelsk, 2013
Eu viajo em busca de lugares que costumavam ter grande importância para o progresso técnico – e que agora estão desertos. Esses lugares perderam seu significado junto com a ideologia utópica que agora é obsoleta. Cidades secretas que não podem ser encontradas em mapas, triunfos científicos esquecidos, prédios abandonados de complexidade quase inumana. O perfeito futuro tecnocrático que nunca veio.
A cidade secreta Chelyabinsk-40, que não aparecia nos mapas até 1994. A primeira bomba nuclear soviética foi criada lá. Em 1964, houve a primeira catástrofe nuclear, uma das maiores da história e igual em escala ao Chornobyl.
Ficou em segredo graças ao vento soprando para o leste. Ainda hoje é impossível entrar na cidade livremente, a menos que tenha uma permissão especial ou parentes que morem lá. Rússia, região de Chelyabinsk, 2013
Estágios dos foguetes espaciais. Cazaquistão, região de Kyzylorda, 2013
Qualquer progresso chega ao seu fim mais cedo ou mais tarde, pode acontecer devido a diferentes razões – uma guerra nuclear, crise económica ou desastre natural. Para mim, é interessante testemunhar o que resta depois.

©Danila Tkachenko 
Central de aquecimento de um aeródromo abandonado. Cazaquistão, região de Karaganda, 2015
Uma das sedes do partido comunista búlgaro. Bulgária, região de Yugoiztochen, 2015
Armazenamento de resíduos de combustível de foguetes espaciais. Rússia, República de Komi, 2014
Navio "Bulgária" retirado da água, 122 pessoas morreram nele em 2011.
Rússia, República do Tartaristão, 2014
Sarcófago sobre um poço fechado com 4 km de profundidade –  foi um dos poços científicos
mais profundos do mundo na época. Rússia, região de Murmansk, 2013
Hangar no antigo campo de tiro de armas biológicas. Cazaquistão, região de Akmola, 2015
Monumento aos Conquistadores soviéticos do Espaço. O foguete no topo é uma cópia do míssil alemão V-2.
Rússia, cidade de Moscovo, 2015
Armazem científico abandonado no extremo norte. Rússia, República de Komi, 2014
Escavadeira em uma pedreira fechada. Rússia, região de Moscovo, 2015
Sistema de captura de água. Rússia, República do Tartaristão, 2015
Antena para intercepção de sinais. Rússia, região de Samara, 2014
Estação terrestre para controlo de naves espaciais. Cazaquistão, região de Karaganda, 2015
Observatório abandonado localizado na área com as melhores condições para observações espaciais.
Cazaquistão, região de Almaty, 2015
Fábrica abandonada de processamento de carvão. Rússia, República de Komi, 2014
Parte de um porto espacial inacabado e abandonado. Cazaquistão, região de Kyzylorda, 2013
Memorial numa estação nuclear abandonada. Rússia, região de Voronezh, 2015
«Configuração № 9», 2017. Cortesia do autor

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