Enquanto
o mundo está se entretido com a bola, na Síria decorrem os processos, interessantíssimos
em todos os aspetos. Os EUA e Israel funcionam como uma espécie de exterminador
implacável, enquanto Irão e Rússia se desentendem profundamente.
No
dia 22 de junho nos arredores de Al-Tanf decorreu um
combate direto entre o exército do regime sírio e militares americanos. Dois
militares sírios foram abatidos, sem baixas à registar do lado americano.
Os
americanos publicaram oficialmente a sua exigência de parar quaisquer ações
militares na zona sul de desescalonamento. Assad apostou tudo no assalto
contra a cidade de Daraa,
mas a Rússia não pretende participar nisso, pelo menos até o fim do Campeonato / da
Copa, e assim, os sírios estão tentados à usarem as forças da EGRI,
situação absolutamente intolerável por parte dos EUA e principalmente pelo
Israel.
Mas
antes disso, vamos recuar até 15-16 de junho...
As
lutas internas entre os militares do regime
Nos
dias 15-16 de junho na cidade de Tartus decorreram os combates esporádicos
entre a Guarda Republicana síria e Forças Tigre (Qawat
Al-Nimr). Os desentendimentos (possivelmente em resultado do conflito interno
das alas pró-russa e pró-iraniana das forças sírias), resultaram em 15 mortos e
10 feridos, entre os mortos o comandante da 4ª Divisão mecanizada do EAS
major-general Ahmed Milad.
Major-general Ahmed Milad |
As
áreas sírias que ainda podem ser saqueadas encolheram drasticamente, consequentemente,
as lutas entre vários bandos rivais ficam severamente endurecidas. Nem se sabe como
se pode controlar toda essa situação...
Os
arredores de Daraa: 16/06
Os
aviões “desconhecidos” atacaram as forças do regime sírio ao norte da Daraa.
Nas vésperas, a coligação/coalização anti-Assad emitiu um comunicado avisando
Damasco contra quaisquer ações militares na zona de desescalonamento em Daraa. Hezbollah
ficou indignado, a cidade de Daraa está na sua zona de interesses. Coligação/coalizão
e Israel estão decididos, caso os proxies iranianos avançarem, serão alvos da sua
defesa ativa, isso é, aniquilados com auxílio da artilharia e aviação.
Irão
não quer deixar as zonas da Síria sob o seu controlo (toda a parte ocidental e
parcialmente a central). Os proxies iranianos se recusam abandonar os locais
sob o seu controlo, já foram registados os conflitos entre eles e a polícia
militar russa, até agora sem as contabilizar as vítimas mortais.
Abu
Camal: 18/06
O
regime sírio mandou para a Daraa cerca de 50 blindados e cerca de 30 canhões
autopropulsados Msta-S, pertencentes às Forças Tigre. Aviação russa
se recusou à participar na operação e Damasco optou por “esperteza
militar”: as unidades de Hezbollah e proxies iranianos vestiram uniformes do
exército regular do regime sírio.
Na
resposta, na área de Abu Camal
os aviões “desconhecidos” (possivelmente da Força Aérea de Israel) efetuaram os
ataques em larga escala contra os mercenários xiitas, militares sírios e proxies
iranianos: se fala entre 38 à algumas centenas de mortos. No vídeo divulgado
pelos próprios xiitas se pode ver a destruição maciça e dezenas de crateras
profundas.
Bashar
al-Assad se arrisca ao máximo. Colocando no sul da Síria, numa pequena área,
quase todas as suas forças capazes, no caso de um ataque maciço da coligação/coalizão
e/ou da aviação israelita/israelense, a escala de perdas pode ser catastrófica.
Limpeza étnica “light”
O
coordenador regional da ONU na questão da crise síria, Panos Mumtsis, disse recentemente
em Genebra que desde início de 2018 (dados dos primeiro semestre) foi registada
a deslocação de 920.000 cidadãos sírios, que de facto, se tornaram refugiados. É
a maior taxa desde o início da guerra em 2011. Espera-se que no futuro próximo os
deslocados internos se tornem outros 2,5 milhões de pessoas, além dos 4,5
milhões atuais.
Bashar
al-Assad executa a política de deportação em massa de cidadãos “desleais” das
zonas de ocupação do Irão e da Rússia aos territórios ocupados pela Turquia e pelos
Estados Unidos. A maioria dos moradores locais é levada para o Idlib. Seu lugar
é gradualmente ocupado por imigrantes de outros países, principalmente xiitas. Acreditando
nas estatísticas da ONU, no futuro próximo Assad pretende expulsar do “seu” território
cerca de 10% da população síria pré-guerra. Sem contar com 4,5 milhões de
sírios que já se tornaram refugiados desde 2011.
Quer
o regime do Damasco, quer o Irão estão interessados em mudança populacional do país
e na criação de um “cinturão xiita”: deportando e expulsando os sunitas sírios,
os substituindo pelos iranianos e xiitas de toda a região. Ao longo prazo é a maneira
mais realista de controlar e defender o território sírio leal ao atual regime de
Damasco.
No
decorrer da guerra atual, Irão e o seu mentor, Qasem Soleimani,
tentam “queimar” e dispersar a população marginal e mais desfavorecida iraniana
e xiita (a tática muito semelhante usada pela Rússia na guerra russo-ucraniana
em curso). Naturalmente, o território precisa de ser conquistado e desprovido
da população local.
O
Daesh/EI, tentou ao máximo se opor à essa estratégia iraniana, concentrando-se
em causar os danos máximos às forças xiitas, mas mesmo as perdas dez vezes superiores
nas fileiras xiitas se mostraram insuficiente para parar o seu avanço.
Naturalmente,
quer Israel, quer outros países da região estão preocupados com expansão iraniana/xiita.
Por um lago, ninguém quer chegar à uma guerra convencional às suas portas, por outro
lado ninguém quer permitir a vitória iraniana. Como tal, podemos esperar o uso
de força cada vez mais brutalmente persuasiva por parte dos EUA e do Israel, para
parar EGRI e Soleimani.
Conflito
Irão – Rússia: “Putin é um canalha burlador”
Ler mais |
No
fim do maio de 2018, o Ministro dos Negócios Estrangeiros / das Relações
Exteriores russo, Sergey Lavrov, disse que “todos os exércitos estrangeiros
devem sair da Síria”. Irão, percebendo muito bem que Moscovo falava do Hezbollah
e dos proxies iranianos, respondeu que Rússia interfere cada vez mais
ativamente nos assuntos internos da Síria e se as suas ações prejudicarão os
interesses do Irão, o Teerão, terá que responder.
O jornal iraniano reformista (!) Ghanoon Daily chama Putin de "canalha burlador" (edição de 3/06/2018) |
Naturalmente
Irão não quer saber dos interesses sírios, a sua reação dura foi a resposta às
medidas do Kremlin para aniquilar a ala pró-iraniana do regime do Assad e transformá-lo
em um fantoche exclusivo do Kremlin. Consequentemente, o Irão não gostou da medida.
Daraa: 19-20/06
Os duelos da artilharia entre as forças pró e anti-Damasco |
Começou
a operação terrestre. O Exército Livre de Síria e as forças do Assas trocaram o
fogo de artilharia. Os proxies iranianos não abandonam a região, aviação e
infantaria russa se recusou à participar na operação. As forças de Damasco
sofreram primeiras baixas significativas em resultado de já citados duelos de
artilharia.
Em
Daraa, a situação é agravada pelo facto de que no flanco leste do grupo em
avanço está a zona de zona de desescalonamento de Al-Tanf, onde está
concentrada a oposição síria moderada e as forças de coligação/coalizão. Houve
pelo menos dois episódios, em que as forças americanas da zona atingiram alvos dentro
do território sírio, usando sistemas HIMARS. O que naturalmente pode
ser repetido mais vezes.
Daraa:
22-21/06
Mais
uma vez as aeronaves “desconhecidas” atacaram uma coluna de mercenário pró-Assad
nas proximidades da zona de desescalonamento de Al-Tanf. Desta vez,
provavelmente, atacou a coligação/coalizão – os xiitas foram informados sobre a
proibição dos movimentos de quaisquer unidades armadas dentro da zona de exclusão
de 30 km ao redor da zona proibida. Aparentemente, as formações iranianas, como
sempre, ignoraram a ameaça, pelo que imediatamente pagaram um preço.
As
forças russas continuam à recusar se envolver na operação em Daraa, as forças
anti-Assad lançaram cerca de 600 mísseis de sistemas de fogo simultâneo do tipo
“Grad”, atingindo a inteira divisão anti-aérea síria, aniquilando quase a
totalidade dos seus equipamentos e pessoal. Baixas diárias entre a infantaria pró-Damasco
chegam aos 50 combatentes mortos.
Daesh/EI
continua ser ativo no deserto, atacando as comunicações e infra-estrutura, se
engajando na tradicional guerra de guerrilha.
A
oposição moderada síria recebeu dos EUA um número significativo de mísseis
manpad portáteis “Stinger” da 2ª geração, capazes de atingir alvos nas altitudes de até 8.000 metros. O facto que desencoraja a participação da aviação
russa nestes eventos – existe uma probabilidade bastante alta de perder um
avião ou um helicóptero.
Aumenta
cada vez mais a possibilidade de os EUA usarem a força definitiva contra o
regime sírio. O sul da Síria claramente está em crise e a crise terá que ser
resolvida. A guerra da Síria continua no seu 7º ano consecutivo...
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