terça-feira, junho 05, 2018

Piloto soviético achado no Afeganistão: no mínimo quatro nomes possíveis

No Afeganistão foi encontrado vivo o piloto militar soviético, desaparecido em combate na década de 1980. A informação surgiu graças aos militares americanos, no âmbito da comissão mista americano-russa dos POW e MIA. 
Esquadrão dos MiG-17 soviéticos no Afeganistão, década de 1980, Kandahar (?)
foto: RR
O nome do piloto não foi mencionado publicamente, alegadamente por questões de privacidade. Agência russa TASS considera que o piloto é Alexander Mironov. O seu MiG-21R foi abatido em 13 de agosto de 1982 nos arredores de Cabul, o seu corpo nunca foi encontrado.
Esquadrão dos MiG-17 soviéticos no Afeganistão, Kandahar, 5/02/1980
foto © theatlantic.com / TASS
Quatro aviões militares soviéticos estavam bombardear as posições da resistência anticomunista afegã à uma distância de apenas 35 km da capital Cabul, quando o MiG-21R do Mironov explodiu, colidindo com a terra. Os helicópteros soviéticos do serviço do resgate (PSO), começaram bombardear o local da queda de aparelho, alegadamente para impedir a captura do piloto, na realidade para impedir que o piloto seja capturado vivo. Um dos aparelhos aterrou e os militares soviéticos acharam o assento de ejeção ensanguentado, mas vazio, com cintos de segurança cortados. Isso indicava que o piloto foi ferido, mas poderia sobreviver. 
Pilotos soviéticos no Afeganistão | foto TASS
O comando soviético tentou contactar os representantes dos mujahedines, mas sem sucesso. Alguns meses mais tarde, já em 1983, a imprensa paquistanesa publicou um artigo com a fotografia de um piloto soviético, que alegadamente se entregou à resistência. Os oficiais do KGB interrogaram um dos colegas que conhecia bem Mironov, para a sua identificação, mas este negou categoricamente que esta estava na foto.
Helicóptero soviético abatido no Afeganistão | foto RR
Outro piloto soviético, de facto, desaparecido no Afeganistão, era o chefe de inteligência do 378º Regimento Separado de Aviação de Assalto, capitão Alexander Plyusnin (1955). O seu avião foi atingido por um mandpad (possivelmente FIM-92 Stinger) em 26 de dezembro de 1987, à noite, nos arredores da localidade de Abdibay, na província de Parwan. O piloto foi dado como morto. O seu avião caiu à uma distância de seis quilómetros do aeródromo, mas ninguém viu o momento da morte do capitão, nem o seu corpo foi encontrado, já que o território era rigidamente controlado pela resistência afegã [fonte].
Afegão com um manpad FIM-92 Stinger
O piloto achado também pode ser o capitão Vitaly Lishenkov, cujo Su-17, pertencente ao 217º Regimento de aviação de bombardeiros (baseado no aeródromo de Shindand), não voltou de uma missão de combate em 8 de setembro de 1981. As circunstâncias do caso nunca foram esclarecidas, não existe nenhuma informação sobre o destino do piloto [fonte]. 

POW soviéticos no Afeganistão, a primeira imagém é do moldovo Leonid Vilcu “Azizullah” e 2º homem no depoimento é ucraniano Victor Nazarov “Mohhamd Islam” de Mariupol (voltou à Ucrânia independente 9 anos após a sua captura, em 1993):

O jornal russo Kommersant pensa que o piloto é Sergey Pantelyuk — único piloto soviético que oficialmente é tido como desaparecido em combate em 1987.
Ucraniano étnico, Pantelyuk nasceu em 19 de agosto de 1962 na cidade russa de Zelenograd, nos arredores de Rostov-no-Don. Era filho da gente pobre, pai era operário, mãe trabalhava numa cantina.

No 4º ano da academia, ele foi transferido para o grupo de inteligência tática – fotografia aérea dos campos de batalha. Em maio de 1987 ele foi colocado no Afeganistão, no 263º Esquadrão separado de reconhecimento aéreo. A sua esposa Irina estava grávida no 7º mês de gestação.

Pertencentes à elite do exército soviético, os pilotos oficiais viviam em condições melhores de que simples soldados da infantaria: «Temporariamente vivemos no prédio, quando os colegas vão embora – vamos morar em módulos. Lá há geleiras/geladeiras, e televisores, e rádio-gravadores e até mesmo o ar condicionado. Em suma, se pode viver, servir também. Hoje recebemos os macacões/fatos-macacos.…»


Até o seu desaparecimento em 28 de outubro de 1987 Pantelyuk efetuou 118 missões de combate. Naquele dia, após o tempo piorar, ele e o seu par receberam a ordem de retornar a base. Logo depois, o seu Su-17 desapareceu do radar, algures na província de Kunar; o rádio também não funcionou. O avião nunca foi encontrado, as suas fotos foram entregues aos agentes de contra-inteligência afegã, inseridos nas unidades dos mujahedines, mas essas buscas também não resultaram em nada.
Livro russo sobre Afeganistão, com artigo dedicado ao Pantelyuk
A sua mãe ainda está viva, agora com 80 anos ela continua à espera do filho. Sua filha Larissa, agora tem 31 anos, a sua esposa Irina nunca mais se casou, o assunto do desaparecimento do marido e pai era tabu até Larissa completar os 16 anos.

Pelos dados oficiais, entre 1979 à 1989, pelo Afeganistão passaram quase 620.000 soldados e oficiais soviéticos, mais de 15.000 deles morreram, a força aérea soviética perdeu no conflito 125 aparelhos, entre aviões e helicópteros.
Os mujahedines da «Sociedade Islâmica do Afeganistão» com a metralhadora pesada soviética
DShK, Afeganistão, 1987. Foto: Commons.wikimedia.org/ Erwin Franzen
Os números dos MIA soviéticos são avaliados entre cerca de 300 (29-27 deles ainda estão vivos, 22 deles retornaram ao espaço pós-soviético) e apenas 54 ex-militares. Alguns POW soviéticos foram levados do Afeganistão para as zonas tribais do Paquistão. Em abril de 1985, um grupo de militares soviéticos (cerca de 13-15) e afegãos (cerca de 40) participaram na revolta de Badaber, que terminou com a morte dos militares revoltosos. Um dos líderes da revolta foi soldado sob contrato, ucraniano Nikolai/Mykola “Abdurahman” Shevchenko (1956), morto em resultado de explosão de um armazém de munições.   
Alguns dos ex-militares soviéticos passaram ao islão e se casaram (alguns têm mais que uma esposa). Muitos desertaram por causa de dedovshina, outros, fugido do exército soviético, “causaram estragos”. Eles permaneceram no Afeganistão, temendo processos criminais.
POW´s para sempre
O fotógrafo russo Alexei Nikolaev, tentou, em 2015 arrecadar os fundos através do crowdfunding, para publicar um documentário fotográfico sobre ex-militares soviéticos que se tornaram POW no Afeganistão. Ele encontrou vários homens no Afeganistão que decidiram não retornar, primeiro à URSS e depois ao espaço pós-soviético. Um deles fugiu da sua unidade em 1985 e foi capturado pelos mujahedines. Logo se casou com uma moça local – e ainda hoje vive na mesma aldeia.
Ucraniano Gennady Tsevma, de Donetsk, foi capturado em 1983 e passou seis anos no cativeiro afegão, foi forçado à lutar contra as tropas soviéticas. Ele se converteu ao islão a adotou o nome de Negmamad; mora em Kunduz com sua esposa e tem quatro filhos (no vídeo em baixo, Gennadiy Tsevma encontra o seu irmão, que viajou para o Afeganistão, 30 anos depois da separação):
Finalmente, em 2013, Gennadiy Tsevma viajou para Ucrânia, onde encontrou a sua família, irmã, tia, mas já não conseguiu ver a sua mãe que durante vários anos esperava pelo filho...
Faça click para ver vídeo
Uzbeque Bahretdin Khakimov de Samarkand foi capturado em 1980, gravemente ferido na cabeça. Os afegãos o salvaram, hoje ele vive no museu da jihad afegão [fonte].

No total, de acordo com os dados OSINT, entre 1979 e 1989, a força aérea soviética perdeu no Afeganistão 125 aeronaves: 36 aparelhos Su-25; 34 caças-bombardeiros Su-17 (um dos regimentos Su-17 estava estacionado em Shindand), 21 caças MiG-21.
Aviões soviéticos no céu sobre Cabul, 1987 © Valery Zufarov, Boris Kavashkin / TASS
O Estatuto de serviço interno das Forças Armadas da URSS (aprovado por Decreto do Presídio do Soviete Supremo da URSS de 30 de julho de 1975; com adendas e modificações em 01.08.1977; 13.04.1979; 16.10.1980; 24.12.1980 e 26.04.1984), diz no seu artigo 1º:

OS MILITARES E AS RELAÇÕES ENTRE ELES
Deveres gerais dos militares
3. [...] Ele é obrigado a cumprir o seu dever militar para com a Pátria Soviética até o fim. Nada, incluindo a ameaça de morte, deverá fazer um militar das Forças Armadas da URSS se render.
A traição à Pátria é o crime mais grave diante do povo soviético [fonte].

Talvez este ponto explica, de forma suficientemente clara, a razão porque tantos militares soviéticos não tinham nenhuma pressa de regressar à “pátria socialista”, preferindo a morte ou a vida do exílio forçado e quase eterno, que em alguns casos já dura mais de 30 anos...

1 comentário:

Anónimo disse...

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