Praticamente
abandonados pela URSS, os POW soviéticos no Afeganistão estavam em constante incerteza
do amanha. Na União Soviética eram tratados como “traidores” (por ter a ousadia
de não morrer em combate), no Afeganistão eram vistos como invasores, por vezes
eram maltratados e alguns deles acabaram morrendo ou foram executados...
1(23). Dois
POW soviéticos, à esquerda russo Valeriy Kiselyov
(22.10.1962) e à direita ucraniano Alexander
Sidelnikov (de 20 anos; chamado na imprensa ocidental de “capitão de
blindados”, o que é bastante improvável, devido à idade; o seu destino posterior é desconhecido),
capturados pela resistência afegã do movimento Hezb-e Islami na província afegã
de Zabul.
A sua foto (em cima), da autoria de AFP/GettyImages é acompanhada pela legenda algo confusa: “The prisoners had told journalists then they would be executed by the Afghan resistance for refusing to covert to Islam to make eligible to be tried by an Islamic court” (Os prisioneiros disseram a jornalistas que eles seriam executados pela resistência afegã por se recusarem a se converter ao islamismo para poderem ser julgados por um tribunal islâmico).
Em 28 (ou 29) de abril de 1982 eles foram apresentados ao grupo de jornalistas ocidentais, iranianos e chineses no campo de treino Allah Jirgha na província de Zabul, à uma distância de apenas 19,3 km da fronteira paquistanesa. Foto (publicada pela l´Unità): AP
2(24).
O soldado da guarda Valeriy Kiselyov, um operador de morteiro, foi acusado pelas
autoridades militares soviéticas de abandonar a sua base na cidade de Bagram (que desde
2001 é usada pelas forças norte-americanas) na província de Parwan em 18 de
fevereiro de 1982. Pela informação disponível, em 22 de agosto de 1984 ele se enforcou
na cadeia do campo prisional de Mobarez (?), no Afeganistão, possivelmente juntamente
com um outro operador do morteiro, POW Sergey Mesheryakov (12/07/1962 – 2/10/1984), pertencente ao
mesmo 345º Regimento especial de pára-quedistas, mas capturado pelos afegãos em 03.06.1982
(outros dados apontam que Sergey
Mesheryakov
morreu no cativeiro afegão vítima da doença).
3(25).
Quatro POW soviéticos capturados pelo movimento da resistência afegã Hezb-e Islami,
a foto foi tirada no campo de treino Allah Jirgha em Zabul (Mesheryakov é primeiro à direita).
Dois
recrutas do Uzbequistão e Sergey
Mesheryakov,
recruta da unidade militar № 53701 da Bagram (o 345º Regimento especial de pára-quedistas),
em 3 de junho de 1982 saiu da sua unidade militar, armado, para visitar a
cidade de Bagram, foram interceptados pela resistência afegã e capturados após
uma troca de tiros.
A
jornalista, escritora e ativista da ONG americana “Freedom House”, a cidadã americana de origem russo-letã Ludmilla Zemels-Thorne contou que em janeiro
de 1983 viu Sergey Mesheryakov
no campo de [Allah Jirgha?], onde a resistência afegã mantinha 14-15 POW cativos. Mesheryakov, reparou no seu crucifixo ortodoxo e começou à gritar: “Ludmilla, eu, tão como você, sou ortodoxo!
Ludmilla, me leve consigo para América, não quero ficar aqui, me salve!”...
4(26).
2/17/83-Nova Iorque: Esses quatro desertores soviéticos sentados foram
entrevistados pela ABC-News numa base rebelde muçulmana no sudeste do Afeganistão. Um dos
soldados explicou a sua entrega: “eu não quero matar mulheres e crianças”. Eles disseram que
a moral nos regimentos soviéticos é baixa e descreveram a existência de armas
químicas, repetidamente negadas por Moscovo. @ABC News 20/20
Em
fevereiro de 1984, o deputado britânico Lord Nicholas Bethell
(um dos primeiros à entrevistar Nelson Mandela na prisão Pollsmoor em 1985), visitou
10 POW soviéticos, mantidos no campo de Mobarez (?). O décimo, Sergey Mesheryakov (na foto em cima primeiro à esquerda), estava muito doente, por isso não conseguiu sair do seu cativeiro.
5(27).
O campo de treino da resistência anticomunista afegã em Badaber, ao sul do Peshawar
no Paquistão, à 25 km da fronteira afegã. A foto foi tirada em agosto-setembro
de 1983.
No
centro da foto – a ativista Ludmilla Zemels-Thorne (14/03/1938 – 15/12/2009),
membro da ONG americana “Freedom House” desde os meados da década de 1970 à 1997.
Ao
seu lado estão os três POW soviéticos, ucraniano Nikolay (Mykola) “Abdurahmon” Shevchenko;
chuvache Vladimir
Shipeev “Abdullo” (1963) e
arménio Mikhail (Micael?) “Islamutdin” Varvaryan (1960), natural da região
ucraniana de Luhansk e POW desde 19 de março de 1982. A figura do ucraniano Mykola
Shevchenko é a mais enigmática de todos. Alegadamente, após a sua captura pela
resistência afegã em 10 de setembro de 1982, na auto-estrada Termez – Herat, ele
foi levado para o Irão, onde, por dois anos, estudou o Alcorão e a língua
persa. Por alguma razão estranha Shevchenko voltou ao Paquistão e estava preso
(em condições bastante sub-humanas), em Badaber. Praticamente, a sua história é
a primeira menção da permanência dos POW soviéticos no território do Irão.
POW soviético, ucraniano Mykola Shevchenko |
Segundo
os dados públicos da sua biografia, Mykola Shevchenko (1956) era natural da
região ucraniana de Sumy, um civil (!) sob contrato, condutor do camião da 5ª
Divisão de infantaria motorizada do 40º exército soviético (chamado pela
propaganda soviética de “contingente limitado” de “militares internacionalistas”
na República Democrática do Afeganistão).
Cartão do registo (posterior) do Mykola Shevchenko |
Em
26-27 de abril de 1985, ele participou ativamente e até liderou a revolta de Badaber, a
rebelião armada dos prisioneiros de guerra soviéticos e afegãos (cerca de 10-12
e até 40, respetivamente) que estavam detidos na fortaleza de Badaber, no Paquistão. Os
prisioneiros lutaram contra o exército paquistanês e os mujahidines afegãos do
partido Jamiat-e Islami, numa tentativa frustrada de escapar do seu cativeiro. Possivelmente,
todos os POW soviéticos e maioria dos afegãos, participantes na rebelião, foram
mortos no cerco que se seguiu e a fortaleza foi destruída numa explosão do stock
de munição que estava armazenado no local.
Ludmilla Thorne: "Soviet POWs in Afghanistan" |
Ludmilla
Thorne: “Fiquei impressionada com as notícias sobre a explosão no campo de
Badaber, que ocorreu menos de dois anos após a minha estadia lá. Abdul Rahim
não me disse logo que os três soldados com quem falei estavam mortos” [fonte].
1 comentário:
Bale da Ucrania se apresenta no Brasil:
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/o-que-fazer-no-distrito-federal/noticia/2018/07/28/bale-da-opera-nacional-da-ucrania-se-apresenta-em-brasilia-neste-domingo.ghtml
Vc sabe se havera a declaracao de independencia da igreja ucraniana
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