Os
homens na URSS eram tudo menos independentes, confiando quase todos os aspetos
da sua vida aos cuidados do Estado soviético, em troca, trabalhando toda a sua vida,
em alguma fábrica, kolkhoz ou escritório, recebendo um salário de miséria. O
cinema soviético mostra perfeitamente este tique do homo
sovieticus através de um discurso naїve, que nunca levanta qualquer questão política ou social realmente cortante.
Coisas
inerentes aos homens na/da URSS:
1.
Trabalho verdadeiramente duro
Em
contraste com atualidade, na URSS, com o seu culto da indústria pesada e da
falta de linhas automatizadas, uma grande parte dos homens foi forçada a
trabalhar no duro em diversos tipos de produção, muitas vezes muito prejudiciais à
saúde: nos altos-fornos, junto às substâncias químicas ou nas minas não
adaptadas para este fim. Na União Soviética muitas vezes não existiam, ou não
eram seguidas as normas de proteção ao trabalho.
Hoje,
com o desenvolvimento tecnológico e do empreendedorismo privado, os homens não precisam de trabalhar nas indústrias pesadas e prejudiciais, é possível trabalhar na
Internet, criar o seu próprio negócio e decidir de forma independente o ritmo
do seu trabalho.
2.
Alcoolismo comum
Na
União Soviética bebiam todos e bastante, se um homem não bebia um copo de vodca
numa festa – era considerado como “anormal”, e posteriormente poderia ser
vítima de ostracismo social: não era convidado para a pesca no fim-de-semana,
não lhe contavam as anedotas e geralmente o tentavam à evitar. Não beber era possível apenas no caso
de “doença”, neste caso o cidadão até era tratado com simpatia – “é, pá, o gajo não
sabe o que perde”, diziam todos os outros.
[Muito
possivelmente, esta postura tinha na URSS a sua própria lógica e razão. Quem não bebia socialmente numa companhia, possivelmente era um sexot, delator dos serviços especiais, desde o
ministério do interior ao KGB (ou no mínimo uma pessoa fechada, não dada ao “coletivo”).
Naturalmente, ninguém gostaria de beber (e se abrir, bebendo) na sua companhia. Já quem bebia, claramente
pertencia ao coletivo. Este homem também iria se rir e contar as piadas “políticas” e
como tal, no fim, muito possivelmente não denunciaria ninguém em particular
(isso é, se realmente era um delator), pois estaria ele próprio no grupo dos
culpados].
Na
União Soviética não existia nem a cultura de consumo de bebidas alcoólicas, e
mesmo um bom vinho de mesa era uma raridade cara. Por isso os homens soviéticos
bebiam principalmente a vodca de má qualidade ou qualquer outra zurrapa. Nas
fábricas e locais de construção civil, especialmente nas épocas das diversas “leis
secas” soviéticas, se bebia qualquer coisa química que ardesse: desde álcool
até a cola BF (feita na base do fenol e muito apreciada nas cadeias soviéticas).
3.
Tabagismo total
Leonid Brejnev, o Secretário-geral do PCUS e chefe do estado soviético entre 8 de abril de 1966 — 10 de novembro de 1982 |
Na
URSS fumava a maioria absoluta dos homens – cerca de 70 à 80%, se não mais.
Não fumavam apenas os desportistas (e mesmo assim, apenas durante a sua carreira desportiva)
e algumas poucos indivíduos, que entendiam os danos do tabagismo. Fumavam
em todos os lugares – em casas, cafés, corredores e unidades fabris, nas ruas e
nos parques. Fumavam até mesmo nos aviões – o informe luminoso “não fumar”
ficou nos aparelhos desde aquela época.
Entre
crianças e jovens, o tabagismo era considerado um sinal “cool” e sinónimo da
idade adulta. Os jovens começavam à fumar aos 13-15 anos, ainda na escola,
tentando copiar os estudantes mais velhos do secundário. E, mais
frequentemente, fumavam por causa de fome, em vez de comer, no intervalo de lanche e nas pausas para o almoço – o tabagismo diminuía a fome.
4. Hobbies inúteis
A coleção dos maços de cigarros produzidos e/ou vendidos na URSS | forum.guns.ru |
Na
União Soviética cidadão não podia fazer negócios, não podia participar na
política, no comércio, praticamente não podia viajar ao estrangeiro, era muito
difícil conseguir construir a sua própria casa [coisa permitida apenas nas
zonas rurais], não era possível ler os livros da sua própria escolha e havia
poucas razões para se desenvolver (uma vez que este conhecimento não podia ser
posto em prática em termos de melhorar a sua própria vida) – por causa disso
tudo os homens na União Soviética tinham um monte de hobbies e passatempos inúteis
que preenchiam o seu tempo livre.
Peixões porta-velas e peixinhos-copos, objeto do desejo na década de 1970-80 |
Aqui
podemos incluir pesca e caça [embora parcialmente], filatelia, criação de
coleções de calendários e coisas parecidas – atividades que em nada ajudavam ao
desenvolvimento intelectual, não traziam qualquer rendimento adicional, e os
benefícios relativos de saúde (passeios na natureza, enquanto se caçava ou
pescava) eram anulados pelo consumo excessivo de álcool no decorrer destas mesmas
campanhas.
A coleção dos modelos de viaturas produzidas na URSS | almetevsk.buyreklama.ru |
Hoje
os homens no seu tempo livre praticam coisas muito mais interessantes – aprendem
línguas estrangeiras, tecnologia, lêem livros sobre os negócios, etc. Nas férias
também existem atividades mais interessantes e úteis: como ciclismo, turismo ao
exterior, turismo industrial ou airsoft, entre outras.
5. O culto do exército
soviético
Na
URSS existia o verdadeiro culto do exército soviético, expresso numa só frase: “não
serviu no exército – não és um homem!” [embora como alternativa, um “verdadeiro
homem soviético” poderia cumprir um termo prisional]. Na URSS todo e qualquer
cidadão de género/gênero masculino deveria cumprir o SMO durante 2 (na marinha
durante 3) anos (e até o final dos anos 1960 – 3 e 4 respetivamente). No
exército os jovens soviéticos faziam de tudo, desde trabalhar, de graça, na
safra nos kolkhozes até praticarem e serem vítimas de bulling.
A propaganda soviética indoutrinava: “URSS possui um exército verdadeiramente
popular, enquanto os marditos capitalistas usam os mercenários”.
O
culto do exército é constantemente alimentado e propalado pelos meios de
comunicação soviéticos – contando o quão é cool/legal servir no exército, que
os oficiais são muitíssimo protetores e muito cuidadosos para com os seus
soldados e até como é saborosa a comida no exército soviético e as moças esperam
durante dois anos pelos recrutas voltarem do Exército, escreveu-lhes as cartas
e dizendo que se ele for um mau soldado – então ela nunca se casará com ele.
Na
realidade o serviço militar soviético era um desperdício de 2 anos da sua vida,
num ambiente que não era nada propício para o desenvolvimento mental.
6.
Pobreza
A
maioria dos homens soviéticos (quer os chefes de família, quer os solteiros)
era pobre. O salário médio na URSS era de cerca de 140 rublos (237 dólares ao
câmbio oficial soviético), e quase todo esse dinheiro ia para os alimentos e
pequenas compras. Para a compra de móveis o dinheiro era poupada durante anos, as
vezes décadas, a compra de uma viatura era a questão de 10 à 15 anos (lista de
espera + acumulação de dinheiro), e mesmo os sapatos / roupa nova não eram
comprados com muita frequência.
Na
URSS era impossível mudar essa situação, era impossível influenciá-la de
qualquer forma. Mesmo se um operário fazer algum tipo de trabalho extra no seu
tempo livre – em vez de ganhar 140 rublos, irá ganhar 180 – o que não afetará o
seu bem-estar de uma forma global.
Hoje
em dia, qualquer homem pode organizar o seu próprio negócio ou algum tipo de
projeto próprio – e ganhar tanto, quanto permitir a sua criatividade e as
habilidades, praticamente sem restrições.
7.
Falta de hábito de cuidar da sua aparência
Estamos
falar do desporto, jogging, fitness e de uma aparência elegante. Se na escola e no ensino
médio e superior os homens ainda eram forçados à se envolver em educação
física, então após entrar no emprego, raramente faziam algum desporto ou
mesmo os exercícios físicos para manter a sua figura e a saúde. Com raras
exceções, faziam algum tipo de “exercício matinal” de três saltinhos e dois
bate-palminhas, que, em geral, não melhorava nem a saúde, nem a aparência.
Aos
40-45 o homem soviético adquiria a aparência canónica acabada – ou uma figura
magra com mãos-macarrão, ou uma constituição inchada com uma barriga de
cerveja. Essa forma era conservada por cerca de 20 anos, após disso acontecia um
rápido afrouxamento e curvatura das costas. Na URSS não havia cultura de
academias, práticas do desporto, apenas um pequeno número de entusiastas fazia o verdadeiro
treino diário.
Hoje
muitos homens entendem a importância de praticar desporto e manter boa forma
física e saúde até à velhice.
8.
Ausência de possibilidade de influenciar o seu futuro
Na
URSS não existia o sistema real de eleições [o sistema soviético apresentava
aos eleitores um único candidato aprovado pelos estruturas do PCUS, o chamado
sistema de “eleições sem alternativa”] e o domínio do governo soviético e do partido
comunista estava fixado no 6º artigo da “constituição” – aqui está o único e verdadeiro
caminho para o futuro das “amanhas cantantes” e temos o seguir, todos os que
não concordam – são inimigos. Na URSS não existia nenhuma liberdade política, e
todas as relações entre o governo e o povo consistiam no facto de o governo ler
ao povo os decretos e leis, de como este mesmo povo deveria viver.
Desde
a queda do comunismo em 1991, na maior parte do espaço pós-soviético é possível
criar partidos, movimentos políticos, concorrer aos cargos públicos e tentar
mudar o seu país na direção política e social que lhe parece mais adequada. É
verdade que na Rússia, em Belarus, na Arménia
[até mais recentemente] e ainda esporadicamente na Ucrânia, as autoridades
estão dificultando esse movimento “de base” – mas essa é uma história
completamente diferente.
2 comentários:
Oiii, pelo o que eu vi seu texto não cita fontes, por favor, tem a capacidade de me enviar as fontes do texto?
Estimado, Josué Ritter,
uma parte do texto nem sequer pode ter as fontes, dado que são reflexões das pessoas que nasceram e cresceram na URSS, no entanto, as estatísticas sobre tabagismo, alcoolismo, suicídios na URSS existem, parcialmente podem ser vistos aqui: http://ucrania-mozambique.blogspot.com/2011/10/urss-que-humanidade-perdeu.html
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